11/05 – Palestra “Obama é muçulmano, Dilma é sapatão e outras distorções: Contágio de ódio na era das redes sociais”

Em novembro de 2008, Barack Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, a nação mais poderosa do planeta; dois anos mais tarde, em novembro de 2010, Dilma Rousseff foi eleita a primeira mulher a governar a maior nação (e a mais importante economicamente) da América Latina. No contexto do racismo e do sexismo prevalentes, respectivamente, nas sociedades dos Estados Unidos e do Brasil, a ascensão desses dois políticos à Presidência representou um evento histórico único.

Tony Sampson explica a eleição de Obama como um “contágio”, uma mudança da “epidemia microbial de medo e pânico” causada pelos ataques terroristas de 11 de setembro e a violência crescente do Oriente Médio para um “passageiro encontro alegre e empático”. Sua teoria do contágio social foca nas redes de fluxos relacionais, considerando processos de subjetividades que emergem do social com base em encontros relacionais, forjando, assim, “eventos de desejo”. Sampson entende memes como elementos desse contágio social, no qual o afeto desempenha papel crucial na produção e reprodução de referências retóricas. Os temas de mudança e esperança da eleição de Obama tinham um apelo universal, forjando uma “política da empatia” (Sampson), que atingia as emoções dos eleitores de forma a despertar sentimentos positivos.

A “política de empatia” de Obama despertou um “contágio de amor mundial” que se opunha à violência emergente dos grupos neoconservadores. Desse modo, o “Obama-love”, como Sampson o chama, representava fluxos afetivos que rejeitavam a homogeneidade e celebravam a diferença, que revelou o lado positivo da globalização em relação à questão racial. Usando as ideias de Sampson, pode-se argumentar que o “contágio amoroso” esteve presente também na eleição de Dilma Rousseff no Brasil; em outras palavras, eleitores identificavam o tema do gênero como um elemento positivo e progressista na política, consequentemente produzindo uma contraparte brasileira, o “amor-Dilma”. O “amor-Dilma” celebrava o empoderamento das mulheres e rejeitava o sexismo num país que lutou para elevar as mulheres a posições de poder.

Nesta apresentação, a professora Emanuelle Oliveira-Monte (Universidade de Vanderbilt) sugere que o contágio amoroso produziu uma contra-reação imediata, o contágio de ódio, no qual forças conservadoras circulavam imagens racistas e sexistas pela internet. Nos EUA e no Brasil, o conceito político de amor viral rapidamente deu lugar ao ódio viral. Com essa finalidade, a pesquisadora enfatiza neste estudo como as mídias sociais são eficientes em espalhar intolerância. Ela também analisa diversos memes para ilustrar como Obama e Dilma foram erroneamente representados, tendo seu gênero e raça usados negativamente, e, assim, relevando forças de ódio que sustentam e promovem valores conservadores.

11/05 – Palestra “Obama é muçulmano, Dilma é sapatão e outras distorções: Contágio de ódio na era das redes sociais”

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