NUDERG promove seminário sobre violência de gênero
Evento aconteceu na Uerj e recebeu a presença de diversos órgãos sociais e de movimentos feministas
Por: Ana Cândida
O Núcleo de Estudos sobre Desigualdades Contemporâneas e Relações de Gênero (NUDERG), com o apoio do ICS-Uerj (Instituto de Ciências Sociais) e o PPCIS-Uerj (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais), promoveu o Seminário “Campanhas e ações de prevenção à violência de gênero no Brasil 2000-2018”, visando ao lançamento da pesquisa sobre a análise de campanhas e ações de prevenção feitas no Brasil. O seminário reuniu mulheres de diferentes setores acadêmicos e sociais, além de especialistas no assunto. As palestras aconteceram nos dias 6 e 7 de julho no 9º andar da Uerj e proporcionaram um debate acerca da prevenção de violência contra mulheres.
O seminário foi idealizado desde o começo da elaboração do projeto pela NUDERG, pois a equipe tinha em mente que precisava fazer algum evento que promovesse o debate tanto com os movimentos sociais quanto com a academia. Em suma, era importante levar o estudo acadêmico feito dentro da universidade para o ambiente externo, distribuindo informações. O seminário teve como objetivo entender a dinâmica e elaboração das campanhas feitas no Brasil que visam à prevenção à violência de gênero, e pensar de maneira coletiva em formas de realizar ações mais eficazes. O projeto ressalta que as campanhas existentes não perderam seu valor durante o tempo, mas através da pesquisa foi notada a possibilidade de uma melhoria nessas iniciativas públicas e sociais.
No primeiro dia do seminário, 6 de julho, foi iniciado com a mesa “Campanhas e ações de prevenção à violência de gênero no Brasil 2000 – 2018) – resultados gerais”, em seguida foi abordado o tema “Governos nacionais, estaduais e municipais” e por último aconteceu um debate sobre “Sistema de justiça criminal e segurança pública”. No segundo dia, 7 de julho, a primeira mesa foi “Organizações feministas e movimentos sociais”, em seguida o debate foi sobre “Sindicatos, partidos políticos e instituições do poder legislativo” e por fim houve uma mesa sobre o “Panorama Brasil e Espanha: Ações Políticas”.
A coordenadora geral do NUDERG/PPCIS/ICS/Uerj, Maira Covre-Sussai, destacou que apesar do seminário ter tido a Uerj como palco, ele contou com a presença de pessoas da comunidade externa e outras parcerias. “As mulheres se interessaram mais, entendemos que os lugares são para serem ocupados de maneira igualitária. Porém, priorizamos as mulheres por estarmos em desvantagem, trata-se de uma questão de políticas afirmativas.”, explicou a coordenadora. O seminário teve como convidados (as) gestores de políticas públicas de todas as esferas de governo, membros de movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos.
Atualmente, no Brasil, uma mulher é vítima de violência a cada quatro horas. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro lideram os índices com quase 60% do total dos casos. Dados como esses demonstram que a maneira e a linguagem usadas em campanhas preventivas são mais do que importantes para prevenir o aumento desses casos. Durante a pesquisa do seminário destacou-se que as ações de prevenção tinham foco na violência geral e sexual, além disso buscavam a mudança de uma atitude social através da condenação da violência apelando para o lado sensível e consciente do público-alvo. A coleta também mostrou que o foco na violência contra mulheres LGBTQIA+ era baixa.
Um fator importante debatido no segundo dia do seminário foi a mentalidade coletiva, de que maneira as pessoas podem prevenir certas violências começando por uma mudança interna. Foi dito que por décadas as mulheres foram retratadas como submissas e que não deviam fazer nada caso sofressem algum tipo de repressão. Essa mentalidade enraizada na sociedade precisa ser constantemente mudada e erradicada. É necessário que as mulheres tenham acesso às informações que as ajudem a enfrentar essas situações, caso precisem. Essa é uma mudança feita gradativamente, mas que ao longo dos anos cada vez mais pessoas se tornem capazes de mudar seus comportamentos acerca da violência. O incentivo contra a violência de gênero é uma pauta que deve começar desde cedo para pessoas de todos os gêneros e faixa etária.
A pesquisa também chamou atenção para a maneira que os agressores, em sua maioria homens, eram retratados durante as campanhas e ações. Retratados de forma indeterminada, muita das vezes eles eram colocados como “pessoas não reais”, sem aparência física. Apesar do seminário ter sido composto principalmente por mulheres, tanto na audiência como nas palestras, destacou-se a importância da presença de homens em espaços de conscientização da violência. Não basta conscientizar apenas as vítimas, mas também é preciso ter parte do foco voltado para os agressores em potencial, fazendo com que eles entendam o motivo de possíveis atitudes problemáticas.
Um dos destaques do segundo dia do seminário foi a palestra de Eleutéria Amora, coordenadora da Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA). Eleutéria discursou sobre o trabalho da organização na produção de campanhas que previnem a violência contra as mulheres e mostrou para o público presente uma cartilha criada especificamente para o assunto. A cartilha foi distribuída no final do seminário e apresenta informações jurídicas e sociais sobre a violência de gênero. A CAMTRA é uma organização feminista que visa ir ao encontro de outras mulheres com a perspectiva de colaborar para o fortalecimento de sua autonomia e direitos, construindo então uma sociedade igualitária.
O seminário “Campanhas e ações de prevenção à violência de gênero no Brasil 2000 – 2018” é um projeto financiado pela CAPES PrInt-Uerj, programa de internacionalização da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que visa oferecer bolsas que contribuem em pesquisas de doutorado e pós-doutorado no exterior. A pesquisa também possui parceria com a Universidade de Manizales, na Colômbia, Universidade de Lisboa e com a Universidade Complutense de Madri. Os resultados preliminares da pesquisa foram apresentados em Madri, no final de 2019. O projeto era comparativo com Portugal, Espanha e Colômbia, o que resultou na ida da equipe do NUDERG até a Espanha para realizar uma apresentação e discutir protocolos.