Pesquisadores indígenas se reúnem na Uerj para discutir diversidade nas universidades
Estudante relata desafios do ambiente acadêmico e cita importância de coletivo
Por: Leonardo Siqueira e Manoela Oliveira
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) promoveu o Congresso Intercultural de Resistência Marakanã, um encontro internacional que contou com a presença de líderes de povos originários do México e do Brasil. O evento, realizado no dia 13 de novembro, teve como tema a autonomia indígena nas universidades brasileiras.
O encontro da Aldeia Marakanã discutiu o atraso das universidades no Brasil em criar políticas de inclusão para estudantes e servidores indígenas. Os desafios incluem a falta de reconhecimento por instituições governamentais e a necessidade de redes de apoio na Uerj.
A expectativa dos palestrantes para o futuro é a criação de uma universidade inteiramente indígena, melhorias no sistema de cotas raciais e a implementação de línguas indígenas na grade curricular da Uerj. Por meio de uma apresentação, Kaê Guajajara também pediu mais valorização e visibilidade para as comunidades indígenas.
Segundo Tãngwa Matu Puri, aluno de História na Uerj, a universidade ainda é um ambiente desafiador para os indígenas. De acordo com dados do Censo Demográfico de 2022, o número de estudantes autodeclarados indígenas no ensino superior aumentou em 374% de 2011 para 2021. No entanto, esse número ainda representa apenas 0,5% do total dos universitários no país. Diante desse cenário, para o estudante, a presença indígena nas universidades e nos mais diferentes lugares da sociedade é uma extensão da resistência e luta ao longo dos 500 anos, e ressalta que esse movimento é importante para evitar que narrativas brancas sigam moldando a imagem dos indígenas e suas histórias.
Tãngwa Matu Puri é membro do coletivo Yandé Iwí Mimbira (“Nós, filhos da terra”, em língua Nheengatu), da Uerj, e que hoje, segundo ele, conta com cerca de dez integrantes. Para o estudante, o coletivo é um lugar de acolhimento e luta por direitos dentro do ambiente acadêmico, mas destaca: “Esse acolhimento é mais entre a gente do que por parte da própria faculdade. O coletivo é um movimento de resistência e existência indígenamente acadêmico, mas a universidade continua sendo predominantemente branca.”
O congresso foi organizado por Camila Jourdan, professora de filosofia da Uerj, Nadson Souza, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Cefet/RJ, e Danielle Bastos, procientista da Uerj.