Tainá de Paula fala sobre sustentabilidade em palestra na Uerj
A secretária do Meio Ambiente e Clima discute a crise climática no Rio de Janeiro
Por: Manoela Oliveira e Samira Santos
Na última quinta-feira, dia 21 de março, o evento “Ágora do IFHT, Série: Sustentabilidade no Território” reuniu figuras importantes da área da saúde e do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias da Uerj (IFHT). A palestra foi ministrada por Tainá de Paula, Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, que compartilhou sua experiência sobre o tema “Crise climática, políticas públicas e sustentabilidade no território”. Além disso, para mediar o debate tivemos a presença do professor Carlos Alberto de Oliveira, diretor do IFHT. A mesa também contou com a participação de Bruno Neves, coordenador do Programa de Extensão, Desenvolvimento e Educação, Theotonio dos Santos (ProDEd-TS), e Gislaine Matheus, superintendente de vigilância em saúde.
A palestra foi transmitida ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto, e abordou questões importantes acerca da preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, refletindo sobre o papel das políticas públicas na mitigação dos impactos da crise climática. O evento teve início às 16h30 e terminou às 18h, proporcionando um espaço para discussões relevantes sobre questões ambientais e a urgência na implementação de políticas públicas efetivas.
Desigualdade Climática: Negacionismo e suas Consequências
“No Rio de Janeiro, a desigualdade climática não é mais uma realidade que pode ser negada”. Essa foi a afirmação de Tainá de Paula, feita durante a discussão sobre as políticas públicas que precisam priorizar os mais pobres. Para a secretária, o negacionismo adotado por alguns prefeitos do estado pode resultar em perdas significativas para a população de baixa renda. “Sem os devidos alertas de emergência sobre as chuvas, essas pessoas correm o risco de permanecer em suas casas, mesmo diante de situações perigosas. O problema se agrava quando a responsabilidade pelos alagamentos é injustamente atribuída aos mais pobres, como se eles fossem os principais culpados”, disse Tainá.
Segundo ela, a educação ambiental e a gestão pública são fundamentais para lidar com os desafios causados pelas chuvas. Tainá afirmou que o processo de macrodrenagem, microdrenagem e limpeza urbana não é responsabilidade apenas do indivíduo, mas sim de toda a comunidade e das autoridades governamentais. Além disso, segundo a secretária, é preciso reconhecer que as mudanças climáticas não são causadas apenas localmente, mas sim por ações globais, como o desmatamento e a poluição industrial.
A pesquisa da organização não governamental Oxfam de 2015 revelou que os 50% mais pobres da população são responsáveis por uma menor emissão de gases de efeito estufa, enquanto os 10% mais ricos produzem uma quantidade significativamente maior. Portanto, a partir das considerações de Tainá de Paula, não é justo comparar a responsabilidade de um indivíduo que não pratica a coleta seletiva de lixo com a responsabilidade de grandes empresas multinacionais.
O Brasil é um dos protagonistas no cenário mundial das mudanças climáticas, sendo um dos países que mais emite gases de efeito estufa. Segundo o Sistema de Monitoramento das Mudanças Climáticas (PCRJ), em 2023, o país figurava entre os maiores emissores do mundo. No território brasileiro, as grandes cidades têm um papel crucial nesse panorama. Entre as cidades brasileiras, das dez maiores emissoras de gases de efeito estufa, duas estão localizadas no Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, o Oeste brasileiro abriga as oito maiores cidades emissoras desses gases.
De acordo com a secretária, o impacto das mudanças climáticas não se limita apenas ao meio ambiente, mas também afeta diretamente a vida das pessoas. “O preço da cesta básica está ligado às crises climáticas que enfrentamos. O calor extremo, por exemplo, pode resultar na perda de colheitas inteiras de nossos principais grãos, como o arroz, que não sobrevive em condições de calor extremo. Por isso, é fundamental compreender que eventos climáticos como o El Niño não são eventos isolados, mas sim parte de um contexto maior de mudanças climáticas globais”.
Tainá de Paula enfatizou como as diferentes classes econômicas são afetadas pelas mudanças climáticas, devido às vulnerabilidades locais existentes no Rio de Janeiro. De acordo com a secretária: “Quanto mais você é vulnerável na cidade, mais suscetível você está às mudanças climáticas”, disse Tainá. Ela reafirmou que pessoas enquadradas na escala de extrema pobreza estão mais expostas a problemas como o deslizamento de terra, o calor extremo e as enchentes. O Rio de Janeiro é o terceiro estado mais desigual do Brasil, perdendo apenas para Roraima e Paraíba, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2023.
Tainá disse que a secretaria de Meio Ambiente e Clima, com a colaboração da secretaria de Saúde, possuía o interesse de instituir estratégias para melhorar as condições de vulnerabilidade social e de estabelecer critérios para mapear os riscos graves. Por isso, foi criado o Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Cidade do Rio de Janeiro, responsável por definir as áreas prioritárias para a inserção de políticas públicas. Segundo o levantamento, o complexo do Alemão, Bangu, Ramos, Complexo da Maré e Pavuna foram as localidades mais impactadas pelos perigos climáticos.
Projetos de sustentabilidade
A palestra apresentou 12 projetos governamentais de sustentabilidade incentivados por Tainá de Paula e Eduardo Paes, atual prefeito do Rio de Janeiro. Os principais programas foram o “Cada Favela, Uma Floresta” e o “Jovens Negociadores pelo Clima”. O primeiro possui o objetivo de reflorestar cinco comunidades do Rio de Janeiro para diminuir a sensação térmica desses locais. Também foi destacado por Tainá a necessidade de abordar os estigmas das favelas na universidade. Porque, segundo ela: “Até a Uerj foi construída em cima de uma remoção de favela”.
O projeto “Jovens Negociadores pelo Clima” capacita jovens cariocas para representar as urgências da juventude na Agenda do Clima do Brasil e da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com as informações fornecidas por Tainá, dos 400 inscritos, apenas 50 pessoas foram escolhidas e participaram de uma capacitação de 36 horas.