Mulheres se destacam em projetos de jornalismo comunitário
Produção local busca novas abordagens sobre regiões periféricas e contesta “jornalismo de helicóptero”
Por: Davi Guedes
Mesa de lideranças femininas no jornalismo comunitário, 3i. Reprodução: Freepik
O jornalismo comunitário está se tornando cada vez mais um mecanismo de divulgação de informação sobre locais que não recebem cobertura dos veículos tradicionais. Em 2023, de acordo com os dados do Atlas da Notícia, 227 municípios passaram a ser informados ativamente sobre questões internas graças a portais criados e mantidos pela própria comunidade que ele busca atender.
Em palestra no Festival 3i, realizado no Rio de Janeiro, três lideranças femininas de veículos comunitários trataram do assunto. Ana Cipriano, do PPG Informativo, Martiene Oliveira, do Sargento Perifa, e Gabrielle Guide, do Entre Becos, falaram de dificuldades e conquistas no cotidiano do jornalismo comunitário.
Para as três comunicadoras, a produção de conteúdo local é fundamental na construção de uma imagem de comunidade que não esteja atrelada às conotações usuais de violência e pobreza. As três concordam que seus portais trazem como diferencial não o “jornalismo de helicóptero”, que produz a notícia muitas vezes de forma afastada e incompleta, mas sim uma apuração interna, feita por pessoas que vivem nesses espaços.
O portal Sargento Perifa, coordenado por Martiene, localizado em Córrego do Sargento, na capital Recife, é um veículo de notícias desta comunidade, escrito por moradores da própria. Segundo ela, o fato do morador da comunidade se enxergar na notícia é imprescindível para a captação e fidelização do público leitor. “Se eu estou falando da história de dona Luiza, uma idosa de 82 anos que mora no Córrego do Sargento, logo a sua filha vai ver, que vai compartilhar para as netas e assim por diante.”
Martiene defende que a mídia não deve fazer as pessoas se enxergarem em um retrato de violência, para que assim elas possam buscar consumir e se identificar com um conteúdo diferente do que é apresentado na grande mídia.
As relações construídas entre jornais comunitários são importantes para a sua existência mútua. Os portais de notícia comunitários devem formar um “ecossistema” de trocas e de informação de incentivo mútuo, defende Martiene. “Através dessa relação que nós nos fortalecemos”, afirmou ela. A jornalista defende que essa é uma das formas para subsistir com um financiamento limitado.
Ana Cipriano, jornalista do PPG Informativo, situado na zona sul do RJ, na comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho defendeu que a existência de jornais periféricos é importante inclusive para a própria grande mídia. Segunda ela, os jornais locais são um dos meios pelo qual os grandes portais são capazes de penetrar nas comunidades para a produção de reportagens. “Eles também precisam de nós”, argumenta ela.