Cansaço e sobrecarga: uma realidade no mundo educacional

Cansaço e sobrecarga: uma realidade no mundo educacional

Professores apontam as principais dificuldades dos docentes no meio profissional

Por: Manoela Oliveira e Vinícius Rodrigues

 

Imagem: Adobe Photos

Cerca de 60% dos professores relatam enfrentar sentimentos intensos de ansiedade, além de cansaço extremo e baixo rendimento, segundo o estudo “A Saúde Mental dos Educadores 2022”, realizado pela Nova Escola. A saúde mental dos docentes foi fortemente impactada no período pós-pandemia, e isso não afeta apenas eles, mas também os alunos. De acordo com uma pesquisa da Fiocruz de 2022, 60% dos 5.985 estudantes da pós-graduação disseram sentir dificuldade para dormir e o aparecimento de crises de ansiedade.

Imagem: As percepções dos estudantes de pós-graduação brasileiros sobre o impacto da Covid-19 no seu bem-estar e desempenho acadêmico / Reprodução: Fiocruz

O esvaziamento da profissão e a hiper responsabilização da escola são fatores que colaboram para a piora da saúde mental dos docentes, afirma Leonardo Maia, professor na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Isso tudo vira uma carga enorme para os professores e os alunos”, ressalta. 

Para Laura Quadros, professora do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), outro fator que contribui para a desvalorização dos professores é a falta de recomposição salarial, que resulta em profissionais sobrecarregados em mais de um emprego. “A experiência da docência tem sofrido muitos desgastes nos últimos tempos, tanto no que tange às  mudanças nas relações em sala de aula, quanto na histórica e crescente desvalorização da profissão”, completa. O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que o Brasil tem o menor salário inicial para professores dos anos finais do ensino fundamental entre os 40 países analisados.

A desvalorização da educação como um todo, tanto na graduação quanto no ensino básico, vem acompanhada de um nível elevado de exigência e cobrança, especialmente no campo da produção acadêmica, segundo Zamara Araujo, professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e responsável pelo dossiê “Bem-estar / Mal-estar do alunado e do professorado: saúde do corpo e da mente no ambiente formativo”. 

A professora relata: “ao mesmo tempo que vivemos um esvaziamento da profissão, vivemos uma sobrecarga muito grande”. Um levantamento realizado pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) mostra que cerca de 71% dos professores brasileiros estão estressados devido à sobrecarga de trabalho.

Para mitigar tais efeitos no esgotamento mental dos docentes, Laura Quadros sugere uma programação para criar espaços mais prazerosos para os profissionais ensinarem: “Pode ser interessante que escolas e universidades ofereçam momentos de cuidado para docentes com práticas de autocuidado como meditação, ginástica laboral e expressão artística. Laura propõe a criação de espaços de discussão para o desenvolvimento de estratégias coletivas sustentáveis que possam melhorar a experiência institucional tanto em sala de aula quanto na gestão educacional.

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