A vida depois dos desastres climáticos
Na Cúpula do G20 Social, ativistas discutiram impactos dos eventos climáticos extremos no Brasil; Movimento dos Atingidos por Barragens alertou para dificuldades de acesso a políticas públicas após tragédias como a de Mariana, em Minas Gerais
Por Everton Victor e Julia Lima
Na Cúpula do G20 Social, ativistas discutiram impactos dos eventos climáticos extremos no Brasil; Movimento dos Atingidos por Barragens alertou para dificuldades de acesso a políticas públicas após tragédias como a de Mariana, em Minas Gerais
Pior seca registrada dos rios da Bacia Amazônica, enchentes no Rio Grande do Sul, deslizamento em São Sebastião, tempestades de areia no interior de São Paulo. Todos esses fenômenos – cada vez mais intensos e recorrentes – estão relacionados a uma mesma crise: a climática. Este foi um dos temas discutidos durante a Cúpula do G20 Social, iniciada nesta quinta-feira (14) no Rio. O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) fez um alerta sobre as vítimas desses desastres. Segundo o MAB, não existe responsabilização dos culpados nem facilidade no acesso a políticas públicas emergenciais.
Sara Regina Cordeiro (46), residente há mais de 30 anos do município de São Sebastião, litoral de São Paulo, foi uma das vítimas dos deslizamentos e enchentes na cidade em fevereiro de 2023. Segundo ela, eventos como esses não são raros na região, a diferença é o aumento da intensidade, com a repetição dessas catástrofes. “Em 2009, 2016, 2019, houve deslizamentos, enchentes e mortes”, afirma. A diferença desses desastres para o de 2023 é o tamanho da destruição: no ano passado foram 65 mortos, sendo 64 apenas no município de São Sebastião.
Quase dois anos depois, a tragédia ainda deixa marcas na cidade. Apesar da construção de mais de 500 moradias pelo governo de São Paulo para os atingidos pelas enchentes, Sara diz que as ações foram insuficientes e que os efeitos perduram até hoje. Segundo ela, os vizinhos que se deslocaram para os apartamentos populares oferecidos pelo governo ainda continuam sofrendo com enchentes em seus apartamentos.
Os efeitos de eventos como esses não estão restritos ao litoral paulista, nem ao Brasil. De acordo com levantamento realizado pela ONU em 2021, desastres climáticos já mataram mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 91% das vítimas viviam em países em desenvolvimento – grupo do qual o Brasil faz parte.
O MAB se inscreveu no G20 Social por meio da plataforma oferecida para a sociedade civil e realizou uma atividade sobre os desafios das populações atingidas por desastres. A mesa discutiu a responsabilidade dos mais ricos – países, mas também pessoas – na produção de gases de efeito estufa. Pesquisa da instituição britânica Oxfam aponta que, em 90 minutos, um bilionário produz a quantidade de gás carbônico que uma pessoa “normal” levaria uma vida inteira para produzir.
O Brasil não foi isento de sua responsabilidade: o país é o 6º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Cerca de 50% dessa emissão provém do desmatamento, e 25% da agropecuária.
Atingidos por barragens
A mesa também discutiu a situação de pessoas atingidas por barragens. Apesar de não serem desastres climáticos por si só, os rompimentos de barragens causam desequilíbrios ambientais extremos, como “morte” dos rios, impossibilidade do consumo de água e contaminação do solo. Há também os efeitos na população, como perda de moradias e fontes de renda, além de mortes.
O movimento criticou a falta de punição para os responsáveis pelas barragens rompidas e pela não-adaptação à nova realidade climática. E anunciou que recorrerá da decisão judicial que absolveu as empresas BHP, Samarco e Vale pelo rompimento da barragem em Mariana (MG) em 2015 – quando 19 pessoas morreram. “Tem famílias que continuam na área de risco, continuam sofrendo e não tiveram indenizações ou apoio psicológico”, exemplifica Sara.
A Cúpula do G20 Social termina no dia 16 de novembro, sábado.