Descoberta de novo dinossauro brasileiro amplia debates sobre expropriação de fósseis nacionais

Descoberta de novo dinossauro brasileiro amplia debates sobre expropriação de fósseis nacionais

Achados arqueológicos brasileiros estão em vários museus do mundo; pesquisadores cobram valorização do patrimônio

Por: Davi Guedes

Reprodução de Tiamat valdecci, com base nos fósseis descobertos. Créditos: Ilustração criada por Luciano Vidal – Cedida pela pesquisadora Kamila Bandeira

Pesquisadores da Uerj, UFRJ e UFG descobriram uma nova espécie de dinossauro que habitou a região hoje equivalente à Caatinga nordestina. O animal, do  gênero saurópode, foi batizada de Tiamat valdecii, em homenagem a uma deusa da mitologia babilônica, semelhante a um dragão.O grupo dos saurópodes inclui  dinossauros com corpos robustos, pescoços e caudas longas e cabeças achatadas, como o tiranossauro ou o brontossauro

Os fósseis foram encontrados na região fronteiriça dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A descoberta foi publicada no periódico Zoological Journal of the Linnean Society, da Universidade de Oxford, e foi assinada por Paulo Pereira, Kamila Bandeira, Luciano Vidal, Theo Ribeiro, Carlos Candeiro e Lilian Bergqvist.

 

Ossos de Tiamat valdecii desenterrados no estudo. Créditos: Kamila Bandeira

Em maio deste ano, Kamila Bandeira, pós-graduanda em paleontologia da Uerj, participou da pesquisa responsável pela descoberta da espécie Tietassauro, que teve repercussão em publicações estrangeiras. Em um intervalo de três meses, o dinossauro da caatinga é a segunda descoberta de relevância internacional oriunda de pesquisas das quais ela participou. Os achados são responsáveis por trazer um destaque ao Brasil no cenário internacional nessa área, o que leva a outras discussões sobre o que fazer com outros fósseis brasileiros hoje no exterior.

O Brasil conta com algumas peças nativas em exposição no exterior. Esse tópico vem sendo alvo de discussões sobre a soberania que o país deveria ter sobre as suas peças arqueológicas e sobre seu direito de construção de conhecimento e identidade em cima desses achados. Um levantamento feito no Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, indicou a existência de ao menos 90 fósseis retirados ilegalmente do Brasil ao longo do tempo e que compõem o acervo desse museu. Em julho do ano passado, um dos fósseis foi devolvido.

O professor Alex Gonçalves, do Departamento de História da Uerj, especialista em história da geociência, afirma que descobertas dessa natureza são importantes para dar destaque ao Brasil não somente em relevância científica, mas também para demonstrar a robustez e a preciosidade das peças e das pesquisas nacionais.

Gonçalves defende que o Brasil crie um acervo tipicamente nacional e que obtenha peças do exterior, porém alerta que isso envolve responsabilidades. “Se o Estado tem recursos e o direito de reivindicar uma peça nacional do exterior, acho legal que o faça, mas ele deve se comprometer a mantê-la preservada”.

Projetos apostam em games para inovar em sala de aula

Projetos apostam em games para inovar em sala de aula

Na RiW, especialistas discutem formas de usar tecnologia como aliada do ensino

Por: Davi Guedes

Palestra no RiW sobre ensino e tecnologia, com o educador Jones Brandão. Reprodução: Davi Guedes

 

Como fazer da tecnologia uma aliada da educação? Quem foi à Rio Innovation Week (RiW) de 2024, realizada na semana passada no Centro da cidade, pôde conhecer debates e projetos sobre o ensino e os novos paradigmas tecnológicos. A principal questão foi sobre como conciliar esses dois universos que, por muitas vezes, são tratados como antagônicos.

Um debate central foi como fazer do ambiente digital um local seguro e produtivo ao estudante, lidando com as novas tecnologias. O professor de matemática Jones Brandão, fundador da Catalise Educação, empresa focada no desenvolvimento de gestão e estratégias educacionais, afirmou que o uso de celulares e dispositivos deve passar a ser encarado com naturalidade e maturidade e não com represália e afastamento. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma das competências necessárias para os alunos de nível fundamental é justamente a fluência em meios digitais. Então, na avaliação dele, a proibição do uso do celular é de pouca valia.

Brandão acredita que cabe aos alunos aproveitar dos benefícios que as novas tecnologias trazem. Ele defende que processos como o de letramento digital devem ser estimulados em sala de aula, com atividades dinâmicas que mirem um domínio do ambiente digital, ao mesmo tempo que dialogam com as disciplinas ministradas.

O professor dá um exemplo dentro do seu campo: “Em uma aula de matemática, por exemplo, é possível passar uma habilidade em que o aluno precise fazer uma planilha ou gráficos, e realize cálculos em programas como o Excel”. Ele defende também que, para além do domínio das habilidades digitais já requeridas pela BNCC, o uso adequado dos meios digitais pode aprimorar o desenvolvimento de outras competências previstas, como raciocínio e comunicação.

Brandão afirma, contudo, que é necessário impor limites ao uso diário de telinhas, e que famílias e docentes precisam ser ativos nesse processo. 

A Sociedade Brasileira de Pediatria conta com um manual que estipula os seguintes limites no uso diário, a depender da idade:

Menores de 2 anos: evitar a exposição às telas, mesmo que passivamente;

Entre 2 e 5 anos: no máximo uma hora por dia, sempre com supervisão de adultos;

Entre 6 e 10 anos: no máximo de 1 a 2 horas por dia, sempre com supervisão de responsáveis;

Entre 11 e 18 anos: limitar o tempo de telas (o que inclui os videogames) a 2-3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando.

Para Brandão, a tecnologia jamais entrará como substituto da atividade dos professores, mas sim como mediadora e ampliadora dos horizontes educacionais. “Cabe à pedagogia adaptar-se ao avanço técnico. Na medida em que eu nego a tecnologia como um agente, eu estou negando ao meu aluno uma visão de mundo ampla”, complementa.

Em parceria com startups e associações, a RiW também abriu espaço para a divulgação de projetos que levam tecnologias contemporâneas para a sala de aula, de maneira pedagógica. Um deles é o projeto Engenhoka, uma realização do Instituto Burburinho Cultural, núcleo de produção cultural e gestão criativa, que busca explorar as potencialidades do desenvolvimento de jogos eletrônicos com crianças a partir dos 10 anos. O projeto é uma parceria do Google e de empresas de tecnologia com a rede pública de ensino de seis cidades, incluindo o Rio de Janeiro.

O Engenhoka aborda dois principais eixos com os estudantes: instruir o aluno a um letramento digital desde cedo, por meio das habilidades requeridas na produção dos jogos; usar aprendizados da criação de videogames na formação de saberes importantes na juventude, como história da arte, design e narrativa.

O projeto NAVE (Núcleo Avançado em Educação) também marcou presença no festival. O projeto atua como um laboratório integrado para alunos do ensino médio, em parceria com escolas, em parceria com a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. E usa a criação de games para ampliar o repertório cultural, tecnológico e social dos estudantes. 

Participaram da mesa o professor Igor Moreno, a gestora de comunicação do NAVE, Aline Almeida, e o presidente da ACJOGOS-RJ (Associação dos Criadores de Jogos do Rio de Janeiro), Marcio Filho. Eles afirmaram que o mercado de games é o segundo mais rentável da indústria de entretenimento (receita estimada em 396 bilhões de dólares em 2023, segundo o Statista). E também estimula habilidades sociais e digitais desenvolvidas durante o processo de criação.

Para especialistas, lobbies e concentração midiática ameaçam a existência do jornalismo

Para especialistas, lobbies e concentração midiática ameaçam a existência do jornalismo

Mesa do Festival 3i debate alternativas para o fomento da atividade jornalística e levanta desafios para o futuro

Por: Davi Guedes

Mesa de debates de modelo de política pública no jornalismo; Festival 3i. Créditos: Davi Guedes

Como exercer jornalismo em tempos de tantas mudanças e incertezas? Uma das mesas do Festival 3i tratou desse tema, discutindo a influência de lobbies internacionais e a concentração intensa de veículos de mídia pelo mundo – questões que, para as participantes, chegam mesmo a ameaçar a existência do jornalismo tal como conhecemos.  A palestra, realizada no dia 16 de junho, também discutiu alternativas para fazer frente a essas ameaças.

Participaram do debate Laura Becanna, coordenadora auxiliar do Global Forum of Media Development (GFMD), organização supranacional de pesquisa e suporte ao jornalismo, Anna Burgman, do Rebuild Local News, instituto de fomento ao jornalismo local dos EUA, e Giovana Tiziani, da Secretaria de Políticas Digitais da Secom (Secretaria de Comunicação Social).

Laura Becanna alertou para a presença de lobbies de grandes companhias e interesses, que, em sua avaliação, capturam grandes veículos de mídia. Defendeu também a descentralização midiática como forma de diluição dessa influência. Ela argumentou que é impossível produzir um jornalismo de interesse público, quando este está preso a interesses externos. No caso da organização em que trabalha, a GFMD na Europa, ela destaca a importância do investimento em pesquisas para entender mais precisamente os riscos e influências que o jornalismo enfrenta, e recomenda que essas ações sejam tomadas em cada região do planeta, para o entendimento das suas questões particulares.

“São muitos os elementos que ameaçam a existência do jornalismo para o futuro”, afirma Laura. Segundo ela, o investimento em educação midiática é importante num cenário marcado pelo aumento da circulação de conteúdos de desinformação. Ela afirmou que países nórdicos, como a Dinamarca, já investem nessa proposta, com o objetivo de salientar a importância do jornalismo e do uso correto das ferramentas de acesso à informação a fim de garantir qualidade informacional – tudo isso em um futuro no qual a forma do jornalismo e o avanço tecnológico ainda são incertos.

Anna Burgman observou que, nos Estados Unidos, o processo de produção de notícias de portais independentes está se tornando algo cada vez mais de interesse da esfera estadual norte-americana. Ela defendeu que, com órgãos públicos estaduais investindo em jornalismo local, os processos de fomento tendem a ser mais capacitados e estimulados, pela proximidade maior com questões locais. Anna disse ainda que, no começo de um portal, o maior desafio é a obtenção de leitores para sustentar um jornal, e afirmou que  trabalhar com pautas locais pode ser um meio de contornar esse problema.

Para o Brasil, Giovana Tiziane, da Secom, criticou a concentração midiática e defendeu a importância da descentralização. O último relatório do Media Ownership Monitor, órgão internacional que faz levantamentos sobre o mercado de mídia, apontou que 4 emissoras concentram 70% da audiência nacional. Vale ressaltar que o Brasil não tem uma regulação sobre o fato de uma mesma companhia possuir diversos canais (jornal, portal, canal, rádio, etc.) jornalísticos de uma vez, como há em outros países, a exemplo dos EUA.

Ainda que reconhecendo a importância da descentralização, a especialista da Secom falou da dificuldade na obtenção de fomento, tanto público, quanto privado, para promover iniciativas independentes de modo satisfatório. E complementou dizendo ser muito importante que o governo brasileiro ancore suas leis e propostas em modelos internacionais, aderindo ao que for cabível nacionalmente, a fim de estimular a promoção de um jornalismo mais plural e livre.

 

Mulheres se destacam em projetos de jornalismo comunitário

Mulheres se destacam em projetos de jornalismo comunitário

Produção local busca novas abordagens sobre regiões periféricas e contesta “jornalismo de helicóptero”

Por: Davi Guedes

 

Mesa de lideranças femininas no jornalismo comunitário, 3i.  Reprodução: Freepik

O jornalismo comunitário está se tornando cada vez mais um mecanismo de divulgação de informação sobre locais que não recebem cobertura dos veículos tradicionais. Em 2023, de acordo com os dados do Atlas da Notícia, 227 municípios passaram a ser informados ativamente sobre questões internas graças a portais criados e mantidos pela própria comunidade que ele busca atender.

Em palestra no Festival 3i, realizado no Rio de Janeiro, três lideranças femininas de veículos comunitários trataram do assunto. Ana Cipriano, do PPG Informativo, Martiene Oliveira, do Sargento Perifa,  e Gabrielle Guide, do Entre Becos, falaram de dificuldades e conquistas no cotidiano do jornalismo comunitário.

Para as três comunicadoras, a produção de conteúdo local é fundamental na construção de uma imagem de comunidade que não esteja atrelada às conotações usuais de violência e pobreza. As três concordam que seus portais trazem como diferencial não o “jornalismo de helicóptero”, que produz a notícia muitas vezes de forma  afastada e incompleta, mas sim uma apuração interna, feita por pessoas que vivem nesses espaços.

O portal Sargento Perifa, coordenado por Martiene, localizado em Córrego do Sargento, na capital Recife, é um veículo de notícias desta comunidade, escrito por moradores da própria. Segundo ela, o fato do morador da comunidade se enxergar na notícia é imprescindível para a captação e fidelização do público leitor. “Se eu estou falando da história de dona Luiza, uma idosa de 82 anos que mora no Córrego do Sargento, logo a sua filha vai ver, que vai compartilhar para as netas e assim por diante.”

Martiene defende que a mídia não deve fazer as pessoas se enxergarem em um retrato de violência, para que assim elas possam buscar consumir e se identificar com um conteúdo diferente do que é apresentado na grande mídia.

As relações construídas entre jornais comunitários são importantes para a sua existência mútua. Os portais de notícia comunitários devem formar um “ecossistema” de trocas e de informação de incentivo mútuo, defende Martiene. “Através dessa relação que nós nos fortalecemos”, afirmou ela. A jornalista defende que essa é uma das formas para subsistir com um financiamento limitado.

Ana Cipriano, jornalista do PPG Informativo, situado na zona sul do RJ, na comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho defendeu que a existência de jornais periféricos é importante inclusive para a própria grande mídia. Segunda ela, os jornais locais são um dos meios pelo qual os grandes portais são capazes de penetrar nas comunidades para a produção de reportagens. “Eles também precisam de nós”, argumenta ela.

 

Jornalismo de território ganha força para combater desertos de notícia

Jornalismo de território ganha força para combater desertos de notícia

Metade dos municípios brasileiros não conta com veículos locais, e região Nordeste é proporcionalmente a mais afetada

Por: Davi Guedes

                                                                                          Reprodução: Freepik

Quase metade dos municípios brasileiros são desertos de notícia, aponta o levantamento de 2023 do Atlas da Notícia. Desertos de notícia são regiões onde não há veículos de imprensa locais, em nenhum formato, para cobrir acontecimentos regionais. Por se tratarem de localidades com baixa população e, muitas vezes, afastadas das capitais, grandes veículos praticamente nunca fazem cobertura dessas regiões.

O Festival 3i, realizado semana passada no Rio, destacou experiências valiosas para combater os desertos de notícias: as iniciativas de jornalismo local, com projetos realizados fora dos grandes centros, por jornalistas independentes.

Algumas dessas iniciativas foram apresentadas na mesa “Ambiente Informacional da Amazônia”, do festival 3i . Vanessa Vieira, palestrante da mesa e idealizadora do jornal digital Correio do Lavrado, de Roraima – onde dois terços dos municípios em situação de deserto de notícias –  afirmou que a falta de cobertura midiática na maior parte do estado abre espaço para práticas ilegais passarem impunes. Disse também que a ausência de jornalismo local afeta a própria percepção dos cidadãos dessas regiões de si próprios. Segundo  Vanessa, sem portais locais específicos, mesmo a produção de reportagens de veículos maiores exteriores, quando raramente acontecem, é muito dificultada, pela falta de apurações básicas preexistentes.

Vanessa relata que há muitas dificuldades em manter jornais independentes, e a maior delas é financeira. Com a falta de incentivos, faltam também iniciativas, ainda que essa seja a modalidade dominante no número absoluto de veículos regionais. 

“A gente não consegue se manter financeiramente sendo jornalista independente, estamos sempre atrás de editais”, completa.

Mais dados sobre deserto de notícia

A região Nordeste lidera o ranking dos desertos de notícia, com  56,7% dos seus municípios nessa situação. Os estados do Piauí e do Rio Grande do Norte encontram-se nas piores situações, com mais de 70% dos municípios sem cobertura local.

O Rio de Janeiro tem 7 de seus 92 municípios nessa situação, sendo o estado com o menor índice de desertos no Brasil. Em todo o país, em números brutos, há 26,7 milhões de pessoas vivendo em desertos de notícias (13,2% da população).

O Atlas da Notícia também propõe a classificação de “quase desertos de notícia”, que diz respeito a locais com até dois veículos regionais, os quais muitas vezes são mais vulneráveis a serem fechados ou a passarem por uma interferência política ou empresarial externa. Somando-se desertos e quase desertos, 77,48% dos municípios brasileiros estão em uma dessas duas situações.

A boa notícia, apesar dos números ainda expressivos, é que o total de municípios sem portais locais vem em contínua queda. Pela primeira vez desde o início do levantamento (2017),  a proporção de não-desertos é maior que a de desertos.

                                                                                        Fonte: Atlas da Notícia

                                                       Gráfico comparativo dos últimos quatro levantamentos

Os principais motivos para a redução dos desertos de notícia são a catalogação de portais não mapeados anteriormente, além do surgimento de veículos digitais e de iniciativas na área do rádio, como podcasts. Ambas as modalidades são dominantes numericamente no total de veículos locais de comunicação.

O batizado de Tietasaura

O batizado de Tietasaura

Como cientistas da Uerj misturaram literatura e paleontologia para nomear novo dinossauro

Modelo de Tietasauro derbyana, criado a partir dos fósseis. Créditos: Kamila Bandeira

Cientistas da Uerj identificaram uma nova espécie de dinossauro que viveu na região do atual recôncavo baiano, cuja descoberta é especialmente relevante no campo da paleontologia. A espécie foi denominada Tietasauro derbyana. O achado foi anunciado no periódico Historical Biology.

O nome do dinossauro faz referência a Tieta, protagonista do romance “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, ambientado na região na mesma região onde foi identificado o dinossauro. O nome do animal também alude ao geólogo Orville A. Derby, um dos pioneiros da paleontologia brasileira. Com isso, o nome do novo dinossauro homenageia ao mesmo tempo a literatura e a ciência brasileiras.                          

Kamila Bandeira e Valéria Gallo, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), coordenaram a equipe responsável por essa descoberta. Os fósseis foram identificados por Kamila ao final do seu mestrado, no Museu de História Natural de Londres em 2016. Em 2020, após uma análise minuciosa dos registros, percebeu-se que eles podiam se tratar de exemplares perdidos, coletados entre 1859 e 1906. Por meio de uma análise comparativa com fósseis semelhantes, os pesquisadores constataram que eles continham particularidades biológicas, o que indica a descoberta de uma nova espécie. 

O achado também comprova a existência de dinossauros do tipo Ornithischia – uma ordem de herbívoros – nas Américas. Antes disso, somente evidências indiretas, como pegadas, indicavam a existências desse grupo nessa região. Com o achado dos fósseis confirma-se que eles efetivamente habitavam o continente. 

Segunda as pesquisadoras, os registros também são especialmente raros, pois datam de cerca de 130 milhões de anos atrás, época de uma era geológica conhecida como Pré-Barremiano. O achado de novas espécies desse período é bastante incomum. A pesquisa recebeu financiamento de instituições como a Capes, CNPQ e Faperj.

Aplicativo cria mercado livre para comprar e vender água tratada de esgoto

Aplicativo cria mercado livre para comprar e vender água tratada de esgoto

Ferramenta criado por engenheiros da Uerj permite comércio de reservas de água que seriam descartadas

Por: Davi Guedes

Reprodução: Freepik

 

Você já imaginou comprar água do esgoto? E, mais ainda, reutilizar essa água? É essa a proposta de um grupo de engenheiros do CESA (Curso de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental) da Uerj. Com um aplicativo de celular chamado Reusa, eles querem criar um mercado virtual de água não potável, mas utilizável para outros fins.

A água vem principalmente de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e – repetindo – já foi tratada. Pode ser usada em geração de energia, irrigação agrícola, para limpeza e combate a incêndios.

O Reusa ainda está em fase de testes. A ideia é que ele funcione como uma espécie de marketplace, que pode ser usado por interessados na compra e na venda da água não potável para reutilização. Companhias, empresas, condomínios, agências ou quaisquer outros grupos interessadas nos usos da água podem cadastrar-se como compradores no aplicativo. Os potenciais clientes passam por verificação e confirmação dos dados, tudo feito no próprio sistema do aplicativo.

Os vendedores, por sua vez, são principalmente concessionárias de saneamento, como as Estações de Tratamento de Esgoto, que já armazenam água para reutilização. Elas também passam por verificação a fim de checar se estão dentro das normas sanitárias.

Com tudo conferido, começam as negociações. Os interessados em comprar recebem informações sobre tipo, quantidade, qualidade e preço da água disponível.

 

Reprodução: Instituto de Engenharia

A ideia do Reusa surgiu por volta de 2019, graças a um TCC que discutia a racionalização do uso da água não potável e a baixa quantidade de pesquisa envolvendo o assunto. Em 2020, a dissertação de mestrado de André Alcântara de Faria, defendida na Faculdade de Engenharia, mapeou a demanda por água potencialmente reutilizável na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e mostrou que era viável pensar num mercado para esse recurso. No Brasil, reutilizar água não potável ainda é algo raro, e a maior parte dessa água acaba por ser despejada em baías, rios ou no oceano.

O coordenador do Reusa, Marcelo Obraczka, disse que o aplicativo contou inicialmente com fomento do InovUerj. Depois, foi incubado pela startup Sai do Papel e contou posteriormente com fomento do Sebrae. No entanto, as verbas fornecidas por esses órgãos acabaram, e agora o Reusa busca novas fontes de financiamento. Os pesquisadores buscam ainda um programador capacitado para finalizar o desenvolvimento do aplicativo.


Além do financiamento, outra dificuldade é a barreira cultural no uso da água tratada de esgoto. “Para a implementação do Reusa, as dificuldades estão muito relacionadas à falta de conhecimento da população e uma certa barreira cultural no uso de uma água que já foi esgoto… as pessoas precisam vencer essa barreira”, relata Obraczka.

Atualmente, o Reusa está em fase final de testes, que devem terminar no segundo semestre deste ano. A expectativa é que o aplicativo esteja disponível para uso geral em 2025.

Capacitismo: o que é e como evitar esse tipo de preconceito

Capacitismo: o que é e como evitar esse tipo de preconceito

Um guia simples para escrever sobre pessoas com deficiência sem cair em estereótipos

Por: Davi Guedes, Lucas Vianna, Richard Gabriel, Nuno Melo e Diogo Lourival

Reprodução: Freepik

O Brasil tem cerca de 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, mostram os dados do IBGE para o ano de 2022. Isso representa cerca de 8,9% da população do país. E só 1% dessas pessoas ocupam vagas de emprego formal.

Esse é só um exemplo de capacitismo – a discriminação contra pessoas com deficiência. O capacitismo ganhou espaço no debate público nos últimos anos, mas ainda provoca muitas dúvidas. 

Entenda o significado do termo e por que ele é importante para a sociedade e o jornalismo.

O QUE É CAPACITISMO?

Capacitismo é o preconceito ou discriminação contra pessoas com deficiência, e se manifesta na maneira como elas são tratadas pelo conjunto da sociedade. Muitas vezes, pessoas com deficiência são vistas como incapazes de realizar atividades de forma independente. O capacitismo também se reflete na falta de acessibilidade e de oportunidades no mercado de trabalho e no sistema de educação.

CAPACITISMO É CRIME?

Sim, o capacitismo é crime previsto na Lei de nº 13.146 de 2015, em seu artigo 88:

“Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência: 

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. “

De acordo com a lei, a pena aumenta em um terço se a vítima estiver sob cuidado ou responsabilidade do agressor ou se o crime for cometido por intermédio dos meios de comunicação.

QUAIS OS TIPOS DE CAPACITISMO?

De acordo com o Guia Anti Capacitista, escrito por Ivan Baron, influenciador e ativista formado em pedagogia, existem três tipos de capacitismo: 

Capacitismo médico: quando alguém se refere às pessoas com deficiência como se fossem ou estivessem doentes.

Capacitismo recreativo: é o mais comum; se refere àquelas brincadeiras de mau gosto envolvendo deficiências.

Capacitismo institucional:  acontece quando as organizações contratam apenas uma cota de pessoas com deficiência, sem oferecer de fato equidade em relação aos colaboradores sem deficiência. Isso também é percebido na falta de acessibilidade presente nestes lugares.

Reprodução: Ivan Baron, ativista anti capacitista. (Reprodução: Instagram – @ivanbaron)

COMO O CAPACITISMO SE TRADUZ EM PALAVRAS?

O capacitismo está presente em expressões pejorativas usadas no cotidiano.

A seguir, termos capacitistas a serem evitados:

  • “Dar uma de João sem braço”;
  • “Você é retardado/a”;
  • “Que mancada”;
  • “Você está cego?”
  • “Não se finja de surdo”;
  • “Mais perdido que cego em tiroteio”
  • “Pensei que você era normal”
  • “Será que seus filhos vão nascer normais?”
  • “Como você consegue fazer isso tendo deficiência?” 
  • “Apesar de PCD, você parece uma pessoa feliz”

Tais expressões, ainda que muitas vezes possam soar inofensivas, na verdade mostram preconceito contra pessoas com deficiência. 

COMO O CAPACITISMO SE TRADUZ EM AÇÕES?

Uma atitude capacitista, por exemplo, é encontrar uma pessoa cega praticando alguma atividade e concluir que ela precisa de ajuda – sem nem perguntar se ela necessita. 

Outra atitude capacitista é se dirigir sempre ao acompanhante da pessoa com deficiência, ignorando a pessoa em si. Mesmo um elogio pode soar capacitista, se transmitir a impressão de que a pessoa com deficiência é incrível apenas por realizar atividades cotidianas, como se ela fosse incapaz disso.

O QUE É A MEDICALIZAÇÃO DA DEFICIÊNCIA?

É sempre se referir à condição de um PCD como um problema de saúde a ser tratado. Segundo essa perspectiva, ser deficiente é enfrentar uma doença, lesão ou síndrome que requer tratamento. Dessa maneira, pessoas com deficiência são percebidas como enfermas, o que coloca sobre elas a pressão de buscar incessantemente a cura ou a reversão do problema.

Muitas vezes a imprensa, em coberturas que envolvem pessoas com deficiência ou neurodivergentes, toma as próprias condições das pessoas como ponto de partida (o que reforça a discriminação) ou baseia a pauta em uma “história sobre superação e heroísmo” (as pessoas com deficiência, muitas vezes, são associadas a “anjos”). São infantilizadas ao serem romantizadas.

POR QUE O TERMO PORTADOR É CAPACITISTA?

A nomenclatura “pessoa com deficiência” é a mais correta hoje. “Portador de deficiência” é um termo capacitista, já que quem porta algo tem a opção de não portar mais em algum momento. Quando usamos a expressão pessoa com deficiência, enfatizamos a pessoa e não sua condição.

HÁ FORMAS DE COMBATER O CAPACITISMO?

Sim, o combate ao capacitismo deve ocorrer tanto por meios legais como em práticas cotidianas.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência garante direitos equânimes às PCD ‘s. A Lei Nº 8.213, de 24 de julho de 1991, obriga empresas com mais de 100 funcionários a destinarem uma porcentagem de seus cargos para PCD’ s. 

Na mídia, uma das formas de fugir do capacitismo é evitar os estereótipos de “heroi” e “coitado”, que desrespeitam ou infantilizam a pessoa com deficiência.

 

*Esta reportagem se origina de um trabalho escrito pelos autores para a disciplina Linguagem Jornalística 2, da professora Fernanda da Escossia.