A Faculdade de Comunicação Social (FCS) da UERJ é reconhecida pela excelência em seus cursos e pela formação de profissionais críticos e éticos. Destaca-se como a única universidade pública do Rio a oferecer Relações Públicas e tem um prestigiado curso de Jornalismo, com egressos amplamente recomendados no mercado.
Reinaugurado após quatro anos fechado, desde o início da pandemia de COVID-19, o Ziembinski quer democratizar o acesso à cultura na zona norte do Rio
Por Samira Santos e Vinicius Rodrigues
Teatro Municipal Ziembinski (Reprodução: Vinicius Rodrigues)
Localizado no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, o Teatro Municipal Ziembinski está com uma programação intensa e diversificada, que tem atraído o público adulto e infantil da região. Espetáculos premiados como “Calango Deu! Os causos da Dona Zaninha”, que está há 12 anos em cartaz nos teatros pelo Brasil, pode ser visto no Ziembinski até o dia 27 de outubro.
O teatro passou por 6 meses de obras e reformulações pela prefeitura do Rio, a partir de dezembro de 2023,que contaram com acessibilidade física tanto para o público quanto para os artistas, e as obras reformularam também o entorno do teatro, como a praça na qual estásituado, que fica próximo da estação de metrô São Francisco Xavier. A reinauguração do Ziembinski ocorreu entre julho e agosto de 2024, após passar quatro anos fechado, desde o início da pandemia de COVID-19, em 2020.
Construído em 1988, pelo ator Walmor Chagas, o nome do teatro presta homenagem ao ator e diretor polonês Zbigniew Ziembinski, que revolucionou o teatro brasileiro com sua introdução ao papel do encenador, por destacar a iluminação cênica, e valorizar o trabalho dos atores como um processo de investigação técnica e inventiva.
O gestor do Ziembinski, Luiz Fernando Pinto, destaca a importância do espaço teatral para difusão das artes cênicas para a cultura da zona norte do Rio, que carece de teatros como forma de entretenimento para a população local:
“A Zona Norte é uma região rica em criatividade, abrigando importantes manifestações culturais, grandes artistas e uma diversidade vibrante que contribui para a projeção do Rio de Janeiro no Brasil e no mundo. Espaços culturais dinâmicos, com programação contínua e uma conexão forte com o território, desempenham um papel crucial no desenvolvimento da região. Eles não só incentivam a convivência e a troca de experiências, como também promovem uma sensação de bem-estar e segurança. Esses espaços tornam-se centros vivos de encontro, fundamentais para uma vida urbana mais saudável e pulsante”, diz Luiz Fernando.
O gestor do Teatro Municipal Ziembinskiainda destaca que, desde a sua reabertura, as produções têm disponibilizado cortesias para grupos de crianças de comunidades como o Morro do Salgueiro e o Morro dos Macacos, entre outras da Zona Norte. Parcerias que visam democratizar o acesso à cultura e incentivar a participação da comunidade nas atividades do Ziembinski.
O Teatro MunicipalZiembinski conta com programação diversa e preços populares de terça a domingo que podem ser conferidos em sua página no Instagram, e no site Rio Cultura:
Equipamento mede condições atmosféricas, como temperatura e nível de dióxido de carbono
Por Everton Victor e Julia Lima
Uma mistura de sinal de trânsito com alerta meteorológico. É mais ou menos assim que funciona o Solmáforo, um equipamento exibe a temperatura, umidade do ar, quantidade de raios UV e, especialmente, o nível de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera. Projetado por técnicos das empresas Itaipu Binacional e Itaipu Parquetec, o Solmáforo foi oficialmente lançado em 3 de outubro durante a reunião ministerial de Energia Limpa do G20, em Foz do Iguaçu, única cidade não-capital a receber um evento do grupo.
A iniciativa do Solmáforo surgiu em julho deste ano, por conta da realização do encontro das 20 maiores economias do mundo no Brasil. O propósito era informar de modo acessível a quem estivesse por perto as condições atmosféricas.
O equipamento lembra uma espécie de caixa colorida, e nos quatro lados estão disponíveis as informações sobre as condições atmosféricas. A ideia é a mesma de um semáforo: verde para condições boas, amarelo para estado de alerta e vermelho para atenção. A preocupação dos criadores era que o Solmáforo fosse visual, ou seja, compreensível pelas cores, e personalizável, para ser adaptado a diversos momentos e eventos.
Iggor Gomes Rocha, diretor administrativo da Itaipu, afirma que os Solmáforos foram projetados de modo que pudessem servir para comparar lugares distintos. “A gente queria demonstrar a diferença de localidades. Então eu colocando um Solmáforo no Parque Nacional das Cataratas, em Foz do Iguaçu, e colocando o outro no centro, numa mesma cidade, vai dar a diferença. Sobretudo em temperatura, porque a área verde consegue manter a temperatura mais baixa, e na concentração de dióxido de carbono.”
Para José Alberto Pereira Santos, coordenador de Tecnologias Aplicadas da Itaipu Parquetec, a presença de dados sobre raios UV e dióxido de carbono, além de gerar curiosidade, auxilia nos cuidados da saúde das pessoas que passam em torno do Solmáforo. A exposição excessiva ao sol, que emite raios ultravioletas, pode causar envelhecimento precoce, danos oculares, como cataratas e câncer de pele. Só no Brasil, são estimados 704 mil novos casos de câncer de pele no triênio 2023-2025, de acordo com o último levantamento do Instituto Nacional de Câncer.
Até o momento, foram produzidos três equipamentos, que serão instalados no Parque de Itaipu, no Centro de Recepção de Visitantes da Itaipu Binacional e na Ponte da Amizade, que une Brasil e Paraguai. O pedido de patente do equipamento já foi feito, mas a intenção não é gerar lucro para as empresas. Segundo Iggor, “se outras entidades tiverem interesse em replicar esse equipamento, nós temos todo o interesse que seja feito”.
O que o G20 decidiu sobre bioeconomia - e o que isso tem a ver com a sua vida
Países definiram princípios para conciliar desenvolvimento com sustentabilidade
Por Everton Victor, Julia Lima e Letícia Santana
Temperaturas recordes, queimadas, clima seco, inundações – os efeitos das mudanças climáticas estão cada vez mais próximos do cotidiano global. Buscar soluções baseadas na própria natureza, com uma coordenação global para aplicá-las, é um dos temas centrais das diferentes reuniões do G20. Entre eles, a iniciativa de Bioeconomia, que reúne representantes das 20 maiores economias do mundo.
Bioeconomia é um conceito que pensa o desenvolvimento econômico aliado à proteção ambiental. Imagine uma economia que não é dependente apenas do uso de fontes de energia fósseis, ou que aposta em energia limpa e minimiza os danos causados à natureza. Em síntese, um desenvolvimento com sustentabilidade, com a utilização de recursos biológicos renováveis ao invés de combustíveis fósseis e outros recursos que degradam o meio ambiente.
Na prática, se você está reciclando uma embalagem, reutilizando uma garrafa ou utilizando uma roupa biodegradável, já está contribuindo com a Bioeconomia.
No encontro do G20 sobre Bioeconomia, realizado em 11 de setembro no Rio de Janeiro, os participantes apresentaram os “Dez Princípios de Alto Nível sobre Bioeconomia, voluntários e não vinculativos”. Entre as propostas estão a inclusão de povos indígenas no debate, compartilhamento de boas práticas entre os países, criação de metodologias “comparáveis, mensuráveis e contextualizadas para avaliar a sustentabilidade em todas as cadeias de valor” e a promoção da restauração e regeneração de áreas e ecossistemas degradados. Apesar de um membro do G20 não ter a obrigatoriedade de aplicar estes princípios, por serem voluntários e não vinculativos, todos definiram em consenso que irão colocá-los em prática.
A bioeconomia representa hoje 25% de todo o Produto Interno Bruto Brasileiro, segundo um estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas). E o Brasil anunciou em agosto a criação de uma Estratégia Nacional Para a Bioeconomia, para formular diretrizes para o tema. Também está prevista a criação de um Plano Nacional para a Bioeconomia, com promoção à bioindustrialização, entre outras ações.
No G20, as discussões sobre Bioeconomia são divididas em três eixos temáticos, sendo eles: Ciência, Tecnologia e Inovação para a bioeconomia; Uso sustentável da biodiversidade para a bioeconomia; O papel da bioeconomia para a promoção do desenvolvimento sustentável. Aspropostas buscam conciliar desenvolvimento, sustentabilidade, saberes ancestrais e parâmetros globais para o enfrentamento das mudanças climáticas.
A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, ressaltou a necessidade de idealizar uma Bioeconomia transversal na prática, que atravesse várias partes da administração pública e não seja apenas uma responsabilidade dos Ministérios do Meio Ambiente dos países.
De acordo com Marina, a falta de parâmetros internacionais dificulta um esforço global coordenado sobre um tema que tem muito a contribuir com um “novo modelo de desenvolvimento”, pautado na transição ecológica. Para a ministra, ações que promovam a Bioeconomia devem acontecer também a partir dos governos, com cooperação e parâmetros globais para um novo modelo de desenvolvimento.
As causas do fogo, de acordo com as autoridades policiais dos estados e estudiosos, são as queimadas utilizadas para a limpeza do terreno na agricultura e, em maior parte, os incêndios criminosos. Só em Mato Grosso – estado mais afetado -, até o dia 12, 14 pessoas já foram presas por atear fogo à vegetação.
Desde o final de agosto, a situação de queimadas e incêndios passou a alarmar as autoridades. As ocorrências mais críticas se anteciparam em cerca de dois meses, já que o período mais seco é esperado a partir de outubro. Segundo a ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas, Marina Silva, os ventos fortes, aliados à baixa umidade do ar, são responsáveis por perpetuar o fogo.
O professor Leandro Beser de Deus, do Departamento de Geografia Física da Uerj, e o Negeo – Núcleo de Estudos Geográficos/UERJ afirmam que os rios voadores da Amazônia, responsáveis por carregar a umidade da floresta para o resto do país, ajudaram a espalhar a fumaça das queimadas e incêndios para outras partes do país, cobrindo 25 estados.
Consequências
Beser de Deus conversou com a Agenc sobre uma viagem que fez nos últimos dias para a Amazônia: “Voltando agora de lá. Caos, muito difícil de respirar. Crise de asma, tosse seca. Um horror.” Os principais sintomas decorrentes das queimadas nos humanos são as crises de doenças respiratórias e o aumento da chance de episódios cardíacos, como infarto e AVC.
Os atendimentos por sintomas semelhantes explodiram em todo o país, chegando ao aumento de 190% no Tocantins, segundo o Ministério da Saúde. A ministra Nísia Trindade mostrou preocupação com a sobrecarga do sistema de saúde, relatando que há capacidade de atendimento, mas que ela é cada vez mais testada com os eventos climáticos extremos.
Para a natureza, as consequências são a perda de fauna e flora, redução da cobertura vegetal, desequilíbrio ecológico, piora da qualidade do ar e perda de nutrientes do solo. Indiretamente, a seca causada pelos fenômenos influencia nos níveis dos rios, que baixam substancialmente e isolam comunidades ribeirinhas.
Combate ao fogo
O combate ao fogo no país tem sido feito por terra e pelo ar, com helicópteros e aviões de lançamento de água. Além dos corpos de bombeiros dos estados, estão na ação o Exército, as polícias militares, brigadistas contratados em situação de emergência e voluntários.
De acordo com Beser de Deus, as técnicas de combate ao fogo têm sido adequadas, ao menos na região de São Paulo. Na Amazônia, há maior dificuldade por se tratar de uma região de difícil acesso e com combates locais.
Além disso, ele destaca que outro desafio significativo é a disponibilidade de tecnologia aérea nos estados do Norte para auxiliar no combate ao fogo. “A utilização de aviões e helicópteros para lançar água e retardantes é uma técnica importante no combate aos incêndios. No entanto, a quantidade de aeronaves disponíveis e o acesso aos recursos hídricos necessários é frequentemente insuficiente para lidar com grandes incêndios”, afirma.
Segundo a ministra Marina Silva, duas pessoas já perderam a vida no combate ao fogo. Um era voluntário e outro de uma brigada de incêndio. Não foram dados detalhes sobre a identidade deles.
Como se proteger
Para amenizar o efeito das queimadas na saúde, a Agenc reuniu alguma dicas:
Manter janelas e portas fechadas em áreas de maior circulação de ar poluído
Estender toalhas molhadas ou manter baldes com água no ambiente
Use umidificadores de ar
Evite atividades físicas ao ar livre entre 10h e 17h
Se puder, mantenha-se em ambientes com ar condicionado
Use máscara ao transitar por áreas mais poluídas
Mantenha-se hidratado com água e líquidos em geral
Hidrate também as narinas e os olhos com soro fisiológico
No Science20, cientistas defendem regulação do uso de IA
Grupo de engajamento do G20 discute como lidar com avanços e riscos da inteligência artificial
Por Everton Victor e Julia Lima
O Science20 – grupo de engajamento do G20 para discutir a Ciência e Tecnologia- deste ano focou suas atenções na Inteligência Artificial, e especialmente no uso desenfreado da tecnologia com pouca ou nenhuma regulamentação ao redor do mundo. O Science20 divulgou no último dia 31 de julho um documento sobre o tema, assinado pelos representantes de academias de ciências dos países-membros.
Entre as principais medidas sugeridas pelo S20 estão: a proteção dos empregos alinhada com o desenvolvimento tecnológico; um esforço global para regulamentar a Inteligência Artificial; e a criação de uma governança internacional para dados. O documento reúne 10 recomendações sobre a força-tarefa de IA. Todas as propostas foram definidas em consenso pelos países integrantes do G20 e pelas nações convidadas. E estão no Comunicado divulgado pelo Science20. Dos países-membros do S20, apenas Arábia Saudita não assinou o Comunicado.
Medidas para criar regras no ambiente digital não estão restritas apenas ao Science20. O T20, grupo de engajamento do G20 para Think Tanks, em seu Communiqué, também propôs a criação de um novo grupo do G20 focado nas discussões sobre Inteligência Artificial e dados, o Data20. Além desses, o debate sobre Inteligência Artificial está presente em outros grupos de engajamento que compõem o G20.
Apesar de os integrantes salientarem que “a IA é um motor crítico para o desenvolvimento, especialmente na saúde, educação e enfrentamento das mudanças climáticas”, eles alertam que o mau uso da tecnologia pode trazer malefícios à população e ao meio ambiente. De acordo com o relatório ambiental de 2023 emitido pelo Google, as emissões de efeito estufa da empresa aumentaram 48% por conta do crescimento do uso da Inteligência Artificial. Outra preocupação de especialistas que acompanham o tema é que a utilização incorreta da tecnologia reforce estereótipos de gênero e raça, aprofundando o que hoje se chama de “racismo algorítmico”.
As discussões do S20, como reforça o preâmbulo do Comunicado, estão alinhadas com as metas da agenda global acordadas por representantes de 193 países em 2015 a serem alcançadas até 2030. Ao todo são 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas acordadas entre os países signatários, entre elas a erradicação da fome e da pobreza, além do desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável em todo o globo. Para o Science20, manter uma cooperação internacional no campo científico se coloca como “mecanismo-chave” no planejamento e elaboração de um futuro alinhado com a agenda global.
Virgílio Almeida, coordenador da força- tarefa de Inteligência Artificial do S20, afirmou que a discussão começou ainda na cúpula do ano passado, e que o monopólio da tecnologia de IA, junto com sua capacidade de uso militar, trouxeram o tema para o centro do debate deste ano. Além da força-tarefa comandada por Virgílio, o Science20 neste ano também tem mais 4 grupos: Bioeconomia; Desafios da Saúde; Justiça Social; e Processo de Transição Energética. Todos formularam suas respectivas recomendações ao encontro de líderes.
O Comunicado foi entregue às Trilhas de Sherpas e Finanças do G20. Elas serão as responsáveis por apresentar os projetos para os líderes que estarão no Rio de Janeiro para a Cúpula Final do G20, nos dias 18 e 19 de novembro.
Panorama Brasileiro
No Brasil, antes mesmo da cúpula final do G20, já estão em curso algumas ações sobre Inteligência artificial. No Congresso, está em tramitação o Projeto de Lei 2338, de 2023, que trataria de estabelecer as diretrizes do funcionamento dessa tecnologia no país. De acordo com o projeto, cabe ao Poder Executivo fiscalizar o cumprimento das regras pelas empresas que fornecem o serviço e também das pessoas físicas que o utilizam.
Ainda em julho o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou em Brasília o Programa Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). Ele propõe ações para implementar a IA em áreas como saúde e educação, com o orçamento proveniente dos ministérios, de fundos públicos, de estatais e de investimentos privados. Além disso, ele prevê uma parte do orçamento voltada apenas para contribuir nas ações de regulamentação, cerca de R$103,25 milhões. A maior parte dos mais de R$23 bilhões indicados no plano estão direcionados para o uso da IA para a inovação empresarial – R$ 13,79 bilhões.
Para a saúde, foram pensados sistemas para melhorar a detecção de doenças, direcionar melhor o uso do orçamento e automatizar a transcrição de consultas. Na educação, as ações estão voltadas para monitoramento de frequência dos alunos e tutoria de matemática.
O PBIA recebeu algumas críticas de especialistas. Para eles, as ações estão pouco detalhadas, e falta detalhar como elas seriam implementadas e fiscalizadas. Raquel Lobão, professora da Faculdade de Comunicação Social da Uerj e especialista no uso de IA, afirmou que “as informações estão no documento, mas não estão detalhadas o suficiente para que todos adotem as ações e recomendações presentes no PBIA.”
Para ela, um dos exemplos sobre os quais faltam informações é o uso de chatbots. Apesar de ter a função de melhorar a experiência do usuário com informações personalizadas e respostas ágeis, diz ela, esse tipo de IA funciona sem a devida regulamentação. “Imagina um idoso que é atendido por um chatbot numa empresa de financiamento de concessão de crédito. Ele tem dificuldade no entendimento de cláusulas, que aparecem muitas vezes no contrato, e ele é atendido por um assistente virtual que passa uma série de informações para ele muitas vezes num pop-up ou numa tela de telefone. Esse idoso, por não estar atento e porque a sua educação midiática não é igual talvez à de uma pessoa mais jovem, aceita aquela proposta que está sendo vendida e não leva em consideração uma série de observações pequenas que estavam ali.”
Renata Mielli, diretora do comitê gestor da Internet do MCTI, disse à Agenc que o projeto é um plano de trabalho e investimento, cabendo a cada um dos ministérios indicar a finalidade aos planos, adaptando-os às especificidades das diferentes áreas e realidades.
Quanto à fiscalização do plano, Renata afirmou que um comitê de governança seria criado para garantir que as ações estariam sendo aplicadas de forma adequada, mas que o processo regulatório compete exclusivamente ao Congresso Nacional.
‘É possível até 2026 tirar o Brasil do mapa da fome’, afirma Wellington Dias
Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, liderada pelo Brasil como parte dos eventos do G20, está aberta à adesão de outros países
Por Everton Victor e Julia Lima
O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, afirmou que o Brasil sairá do mapa da fome até o final desta gestão do governo Lula. Dias participou nesta quarta (23/07), no Rio de Janeiro, de um evento do G20 para o pré-lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. O encontro aconteceu no Galpão da Cidadania, Centro do Rio de Janeiro, com participação de representantes de mais de 30 países.
Ministro Wellington Dias no lançamento do relatório da FAO (Foto: Everton Victor)
No evento foi lançado o relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024”, produzido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) com dados sobre o assunto. O estudo também discute formas de financiamento para acabar com a fome, a insegurança alimentar e má nutrição. Foi a primeira vez que o relatório foi lançado fora do eixo Nova York-Roma, onde ficam as sedes da ONU e da FAO.
O relatório mostra que a América Latina foi a única região do mundo em que houve diminuição da fome, de 5,9% em 2022 para 5,4% em 2023. O destaque vai para a América do Sul, onde a proporção da população em situação de fome caiu de 5,9% para 5,2%. Apesar da melhora na região, o mundo conta com mais de 733 milhões em insegurança alimentar, e a América Latina continua sendo a 3° região com a maior concentração de pessoas nesta condição.
Evento de lançamento do relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024” (Reprodução: Julia Lima)
No Brasil, a insegurança alimentar severa – quando a pessoa passa mais de um dia sem ter acesso a comida e sem comer – caiu de 8% (17,2 milhões de pessoas) para 1,2% (2,5 milhões) da população, o que significa que 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país de 2022 para 2023. “Se a gente compara com outros países, foi um grande resultado”, afirmou o ministro.
Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
Tendo em vista o aumento de pessoas em situação de fome e pobreza desde 2019, o Estado brasileiro assumiu, no final da cúpula do G20 do ano passado, a responsabilidade de criar uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. No dia 24, depois do lançamento dos dados do ano passado sobre o tema, a Aliança foi aprovada por unanimidade durante reunião de ministros do G20 e aberta para adesões. Poucas horas depois, Brasil e Bangladesh já haviam aderido à iniciativa.
De acordo com Thiago Lima da Silva, coordenador da força tarefa da Aliança pelo Ministério da Fazenda, Portugal, Espanha e Noruega já se comprometeram a ajudar no financiamento dos trabalhos, e, consequentemente a participar do grupo.
Reunião Ministerial de Abertura da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza (Reprodução:Ricardo Stuckert/PR)
Todas as ações do G20 precisam ter consenso, ou seja, todos precisam concordar para que qualquer projeto ou recomendação seja lançado. No caso da Aliança, apesar de endossarem e concordarem com a relevância desta iniciativa, os países não precisam necessariamente aderir a ela. A atuação da Aliança pretende se estender para além dos países do G20.
As nações aderem de acordo com suas necessidades, seja financiando projetos, pedindo colaboração para adotá-lo em seu território ou os dois, como é o caso do Brasil. O investimento dos países será apenas no funcionamento dos escritórios da Aliança, em Roma e no Brasil, orçado em cerca de 18 milhões de dólares até 2030. O Brasil, por ser o fundador, arcará com 50% desse valor.
“A aliança não precisa ter um fundo, porque vai ajudar a conectar os fundos que existem com os países que querem fazer cooperação internacional, isso diminui os riscos para os doares pois eles vão doar para políticas que são testadas e aprovadas”, explica Thiago.
A ideia é implementar ações de combate à fome e à pobreza, adaptando o projeto e sua implementação para as necessidades de cada país, reunindo ações econômicas e políticas. A iniciativa não prevê mecanismos de vigilância e fiscalização dos investimentos direcionados para essa aliança, eles serão de responsabilidade dos países, cabendo às legislações e órgãos de justiça de cada país.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve presente ao evento e parabenizou a liderança do Brasil e o esforço dos demais países na elaboração da proposta. “É o momento mais relevante dos meus 18 meses de mandato, nenhum tema é mais atual e desafiador do que a fome. A fome é um atentado à vida, um atentado à liberdade”. A temática da fome e o enfrentamento à pobreza é um dos três eixos assumidos pela presidência brasileira no G20. O país vai apresentar para o público a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza na Cúpula dos Líderes, nos dias 18 e 19 de novembro na cidade do Rio.
Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência
Estereótipos, apagamento e sobrecarga fazem parte da rotina de mulheres cientistas, mostra trabalho de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira
Por Everton Victor
Reprodução: Julia Koblitz / Agência Brasil
Da entrevista de emprego ao cotidiano do trabalho, o dia a dia das mulheres cientistas é marcado pela desigualdade. É este o tema de Mulheres na Ciência, livro de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira. Em lançamento realizado na Uerj no dia 17 de junho, as autoras discutiram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no campo científico com relatos, dados e entrevistas. O evento foi organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Desigualdades Contemporâneas e Relações de Gênero da universidade.
“A representação feminina não é suficiente, mas ela é absolutamente necessária. Sem isso, a gente não tem como começar”, afirmou Leticia de Oliveira, neurocientista e coordenadora da Comissão de Equidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Leticia destaca a importância do livro por debater a necessidade de ter uma ciência diversa. “Na medida que eu vejo mulheres e negros em espaços de tomada de decisão, isso passa a ser espaço de pertencimento. E aí aquele estereótipo de baixa eficiência e baixa competência vai sendo desfeito”.
Contracapa do livro. Reprodução: Arquivo Pessoal
A obra assinada em parceria por Letícia e Tatiana Roque, professora da UFRJ e ex-secretária de Ciência e Tecnologia do município do Rio, também discute os estereótipos que cercam a mulher cientista. O livro, dividido em cinco capítulos, apresenta sugestões para enfrentar o preconceito. Entre elas, se ater aos critérios estabelecidos no edital sem perguntas pessoais, estabelecer comissões de diversidade e principalmente trazer as mulheres para espaços de poder sem estarem sub-representadas no debate.
Dados da ciência hoje
Desde a primeira edição do Prêmio Nobel, em 1901, até 2016, apenas 3% dos ganhadores da honraria nas áreas de ciências foram mulheres. Mas aos poucos isso vem mudando. Desde 2018 ao menos uma mulher é laureada em uma das premiações da Fundação. Para a neurocientista, desconstruir estereótipos passa por garantir representatividade: “Você não precisa falar para uma menina que ela não vai ser astrofísica, isso já está dito na medida que ela não se vê naquele espaço”.
O cenário não é exclusivo do prêmio Nobel. No Brasil, apenas 12% das mulheres compõem academias científicas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Ainda segundo o relatório, somente 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências são de mulheres, apesar de representarem 51,5% da população do país.
Nas áreas STEM, termo em inglês que reúne os campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, a disparidade é ainda maior. Apenas 35% dos estudos relacionados a essas áreas são feitos por mulheres no mundo, segundo a Unesco. No mercado de trabalho a discrepância aumenta, sendo uma mulher para cada quatro homens. No capítulo seis do livro Mulheres na Ciência, as autoras explicam o dado e abordam as causas e as nuances disso na prática.
Efeito Matilda
Na obra, Tatiana e Leticia também abordam alguns termos que por vezes estão presentes no cotidiano das mulheres, como o efeito Matilda – expressão usada para designar o apagamento de mulheres no campo científico. Se uma cientista contribuiu para um artigo e não recebeu o devido reconhecimento no texto, ela sofreu o Efeito Matilda. Tal efeito pode ser sutil, diminuindo intencionalmente ou não a contribuição daquela mulher, ou mesmo apagá-la por completo de alguma contribuição que ela fez.
Nomes que contribuíram para a Ciência como Jane Wrigh, mulher negra oncologista que ajudou a desenvolver tratamentos contra o câncer ou mesmo as contribuições da física, e matemática Mileva Einstein, esposa de Albert Einstein, são por vezes esquecidos dos livros de história. “É como se tivesse uma barreira transparente que ela não parece existir, mas ela existe e você não consegue passar”, reforça Leticia.
Maternidade vista como empecilho para produtividade das cientistas
Outra realidade enfrentada pelas cientistas são os estereótipos da maternidade. Em dezembro de 2023, o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) negou uma bolsa de Produtividade em Pesquisa para a professora da UFABC Maria Carlotto. Na justificativa, o órgão citou que “provavelmente as gestações atrapalharam” as iniciativas da docente. Após a repercussão negativa, o Conselho emitiu uma nota reconhecendo que essa justificativa “expressa juízo preconceituoso”. O caso também está presente no livro.
Denúncia da pesquisadora no X, antigo Twitter
As autoras detalham a necessidade considerar, nas análises de produtividade, o período de gestação ou de recuperação pós-parto. É comum que mulheres nessas condições tirem licença, mas, quando retornam, são julgadas por não estarem sendo produtivas em termos científicos. “É muito inóspito, você tem que ser mãe como se não fosse cientista, e cientista como se não fosse mãe”, aponta a neurocirurgiã.
O livro está disponível gratuitamente nas redes sociais das autoras, mas você também pode consultá-lo aqui. A ideia delas é continuar a pesquisa e ter a colaboração de mais cientistas.
Instituições de pesquisa listam fome e crise climática como prioridades para líderes mundiais
Documento reúne propostas de think tanks a serem entregues aos chefes de estado no encontro do G20 em novembro no Rio
Por Everton Victor e Julia Lima
Divulgação: G20 Brasil
Medidas para promover transições energética, financeira e digital justas e ações para evitar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas estão entre as propostas da sociedade civil para os líderes das 20 maiores economias do mundo, o G20. O chamado T20, grupo de think tanks (instituições que geram pesquisas e discussões sobre políticas públicas e questões socioeconômicas), se reuniu no Rio nos dias 2 e 3 de julho para apresentar o resultado das reuniões de trabalho, que está disponível no Communiqué, um documento de 68 páginas com sugestões para serem discutidas na Cúpula de Líderes do bloco e incorporadas na declaração final.
O documento reúne 10 recomendações principais e reforça que todas as propostas devem ser pautadas na troca de experiência e projetos já implementados entre as nações, sempre com um olhar mais atento aos países carentes. Entre as sugestões estão a criação de uma aliança global contra a fome e a pobreza, junto com uma cooperação multilateral com financiamento e uma política fiscal que promova justiça climática. Além disso, a declaração é a primeira do T20 que inclui o subtópico de Igualdade Étnico-Racial nas recomendações.
T20, subgrupo de think tanks do chamado G20 Social, reúne instituições e a sociedade civil. O Brasil, atual presidente do G20, é pioneiro na criação dessa esfera de debate. O G20 Social reúne 13 grupos de trabalho: C20, para sociedade civil, Y20, para a juventude e o L20 para sindicatos. Cada um deles, assim como o T20, liberou ou ainda irá liberar um Communiqué com suas propostas.
Ao todo, o T20 reúne mais de 120 pessoas divididas em 6 forças-tarefa – que neste ano apresentaram mais de 300 policy briefs (instruções). Apesar de as discussões acontecerem com protagonismo brasileiro neste ano, empresas de todo o mundo foram convidadas a participar da elaboração dos trabalhos. A representatividade feminina também é destaque nesta edição: as três líderes do T20 Brasil são mulheres, enquanto nas co-lideranças elas representam 60%.
O Communiqué do T20 é construído assim: cada força-tarefa produz suas instruções e libera uma declaração. Um grupo superior fica encarregado de analisar e criar as 10 recomendações principais do documento, que unem demandas de vários ou todos os grupos de trabalho. O trabalho de cada uma também é apresentado em instruções específicas individualizadas.
Capa do Communiqué (Reprodução: T20)
O Comitê Organizador do T20 é composto por duas instituições governamentais e uma não governamental. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e também o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), compõem a comissão.
Uma das inovações que o comitê fez nesta edição foi entregar as propostas antes da Cúpula final do G20. Para Fábio Veras Soares, diretor de Estudos Internacionais do Ipea, é estratégica essa iniciativa, pois, durante os cinco meses que o Brasil ainda tem na presidência do bloco, o foco deve ser o debate sobre implementação das recomendações que foram elaboradas.
Na prática, apesar de o T20 não poder efetivar as orientações, pode pressionar e influenciar os debates da Declaração de Líderes, transformando o Communiqué em políticas públicas em todo o globo. A reunião com as lideranças das principais economias do mundo vai acontecer nos dias 18 e 19 de novembro na cidade do Rio de Janeiro.
Conferência do T20 Brasil no BNDES (Foto: Everton Victor)
A formulação de cada proposta presente no Communiqué está sempre alinhada às prioridades definidas pela presidência brasileira no G20, com estudos e dados que fundamentam as sugestões. Fábio acrescenta que a diversidade de think tanks discutindo problemas e soluções vai além de ajudar países emergentes, mas pensar as desigualdades também no Norte Global. “Os países desenvolvidos têm que olhar suas políticas públicas e tentar melhorá-las, o que pode ser aprendido com o Sul Global”, conclui.
Poucos dias antes da reunião dos líderes mundiais do bloco, todos os grupos do G20 Social vão se reunir para discutir os trabalhos e as sugestões desenvolvidas durante todo o ano. O evento será na cidade do Rio entre os dias 14 e 16 de novembro.
Instituições buscam aproximar população mais jovem do uso de informações públicas e vão realizar conferência para discutir assunto
Por Julia Lima
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) firmaram um acordo para estudos e produção de dados. Um dos pontos centrais da parceria é a realização da Conferência Era Digital, que acontecerá no campus Maracanã entre os dias 29 de julho e 2 de agosto. Estão na programação palestras do presidente Lula, da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, e do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.
A conferência vai discutir a soberania brasileira sobre os dados aqui gerados, como é possível lidar com o domínio das big techs nessa área e como consolidar o Sistema Nacional de Geociências, Estatística e Dados (Singed). As inscrições são gratuitas e cada inscrito ganhará um mapa-múndi produzido pela instituição, com o Brasil no centro.
O anúncio da parceria, no último dia 25, contou com a presença do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, e da reitora Gulnar Azevedo. Durante o evento, foi inaugurado também um totem interativo ao lado da Livraria EdUerj, que permite que o usuário acesse 1,5 bilhão de dados e 1 trilhão de variáveis de pesquisas do Instituto.
Lançamento do totem com Daniel Castro (IBGE), Marcio Pochmann (IBGE) e Gulnar Azevedo (Uerj) (Reprodução: Uerj)
A ideia da parceria surgiu de Adair Rocha, professor do departamento de Relações Públicas da Uerj, em uma tentativa de homenagear Pedro Geiger, ex-geógrafo do IBGE e professor da Uerj, que recebeu o título de Doutor Honoris Causa aos 101 anos. No final, passou a ser uma colaboração em que o IBGE produz dados e a Uerj, a partir de seus pesquisadores e estudantes, produzirá pesquisas e estudos que ajudarão na formulação de novas políticas públicas, tendo sempre como centro o combate às desigualdades.
Segundo Daniel Castro, coordenador-geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informação e Coordenação de Comunicação Social do IBGE, a parceria aproxima o Instituto das universidades e dos mais jovens e, consequentemente, o espaço acadêmico da gestão pública. Para tal, além do totem, será inaugurada uma sala interativa, onde serão disponibilizados dados sobre a juventude, com recortes como gênero, raça e localização, e também estágios para a comunidade uerjiana. O local contará com funcionários do IBGE para auxiliar os visitantes.
Daniel Castro (IBGE) e Adair Rocha (Uerj) (Reprodução: Everton Victor)
Mapa mundi para o G20 com o Brasil no centro (Reprodução: IBGE)
Castro afirma que o Brasil não pode mais ser apenas um fornecedor de dados para empresas internacionais, sem que nem mesmo o governo do país tenha tantas informações sobre seus próprios habitantes; e ainda mais, que esses dados não deveriam ser utilizados para gerar lucros tão exorbitantes. Para ele, o país deve sair da posição de apenas consumidor para se tornar produtor e soberano quanto às informações de seus habitantes.
Cinza, verde e azul: as cores da reconstrução do Rio Grande do Sul
Especialista da Uerj destaca conjunto de medidas que incluem obras, mas também preocupação com águas e vegetação
Por Julia Lima
(Reprodução: Agência Brasil/Ricardo Stuckert/Presidência da República)
Há um mês o Rio Grande do Sul enfrenta a maior tragédia climática da sua história. O Rio Guaíba chegou à altura de 5,25 metros; em 1941, data da última cheia recorde, subiu até 4,76 metros. Os efeitos do fenômeno climático El Niño, agravados pelas mudanças climáticas, ajudaram a tornar este o maior desastre do estado e um dos maiores do Brasil.
Segundo Antônio Carlos da Silva Oscar Júnior, professor de Geografia Física da Uerj, o El Niño, fenômeno natural e cíclico de aquecimento das águas do Oceano Pacífico, criou uma espécie de redoma de calor na região Sudeste. Isso elevou as temperaturas de abril e impediu que as frentes frias se movessem da região Sul para o resto do país.
O domo de calor também impede que a umidade vinda da Amazônia chegue à região Sudeste. Juntam-se a isso as frentes de ar frio vindas da Antártida e da Patagônia, e assim o volume de chuvas na região aumenta ainda mais.
Bacia hidrográfica contribuiu para a cheia
Além dos fenômenos atmosféricos, a configuração dos rios e seus afluentes no Rio Grande do Sul foi importante para o grande alcance da cheia. Todos receberam grande quantidade de chuva e acabaram desaguando em um mesmo ponto, no Rio Guaíba, em Porto Alegre e, posteriormente, na Lagoa dos Patos.
A capital do estado possui um amplo sistema de drenagem, que, segundo Antônio, seria capaz de diminuir os efeitos da chuva. No entanto, segundo ele, sucessivas gestões da cidade negligenciaram o reparo das bombas de drenagem, mesmo após diversos relatórios apontarem o risco de enchentes.
Parte do sistema de drenagem da cidade de Canoas – RS (Reprodução: Prefeitura de Canoas)
Além disso, frentes frias normalmente exercem influência no oceano, aumentando o nível do mar. Por conta disso, os rios não conseguem desaguar na velocidade normal, ficando represados nas bacias e, consequentemente, nas cidades banhadas por eles. Esse acontecimento também foi um dos responsáveis para que as áreas atingidas no sul do país continuem por tanto tempo embaixo da água.
O que deve ser feito para evitar novos desastres
Para Antônio Carlos, a reconstrução do estado gaúcho deve ser “orientada pela emergência climática”. Segundo ele, o governo tem a “oportunidade de fazer o novo” e precisa fazer deste um processo participativo, ouvindo principalmente àqueles mais afetados pelas mudanças climáticas.
O professor chama atenção para as três principais medidas que devem ser tomadas na reparação das cidades: cinzas, verdes e azuis. As cinzas envolvem as medidas de engenharia, como a reconstrução de avenidas, pontes e prédios – principalmente escolas e hospitais – que sejam capazes de resistir a novos eventos extremos. Apesar destas serem necessárias, maior atenção deve ser dada às medidas verdes e azuis. Elas são “alternativas mais baratas que a medida cinza e que combinadas a ela, podem potencializar o enfrentamento a essas emergências climáticas que vão se tornar cada vez mais recorrentes”. As verdes dão conta da preservação do meio ambiente, que envolve a recuperação de florestas, mangues, da mata ciliar que cerca os rios e da permeabilidade do solo. Já as azuis tratam de ações relacionadas à água, como a restauração do curso natural do rios, desassoreamento e a recuperação de áreas úmidas – pântanos –, que funcionam como um espaço de transição entre o ambiente terrestre e aquático.