“Coringa: Delírio a Dois” traz Joaquin Phoenix como o Coringa, que, no filme anterior, lhe rendeu o Oscar de melhor ator, um grande feito para adaptações de quadrinhos para o cinema. Nessa sequência, encontramos o protagonista mergulhado no tédio como um prisioneiro famoso por crimes que abalaram Gotham City, e tudo muda com a chegada da enigmática Arlequina, interpretada pela cantora Lady Gaga. Ela está bem no papel, mas o filme parece desperdiçá-la em suas longas 2h18 de duração, e com um musical que ora entretêm, ora é intrusivo. O filme utiliza do tema musical para ser a válvula de escape do casal protagonista: de abusar de todo delírio e loucura que eles não podem fazer de fato. Seja numa cena em um tribunal, onde o Coringa finalmente pode matar o juiz com marteladas na cabeça, seja em apresentações em programas de televisão, com o casal do crime cantando e dançando para delírio do público.
O filme também explora em suas longas duas horas de duração, temas como abuso policial nas cadeias e a espetacularização da mídia em casos de “true crime”. Ao invés de assistirmos ao palhaço do crime sendo explorado e abusado na prisão, acompanhamos um longo processo no tribunal, que se arrasta e entendia, sendo transmitido para todo o país. Talvez o diretor tenha pensado em transformar o filme em um musical para tentar atrair mais loucuras dos protagonistas e diminuir a chatice dessas partes. No entanto, o musical não ajuda em nada e parece atrapalhar ainda mais, e nem mesmo a talentosa Lady Gaga pode mudar a situação.
É interessante ressaltar que a escolha das cores no longa, quando o Coringa está apático e cansado da rotina na prisão, tudo é cinza. Porém, quando a personagem de Lady Gaga entra na vida dele, o amarelo do sol fura as paredes de concreto, e ilumina o rosto do protagonista em meio aos prisioneiros, trazendo vida e sorriso em seu rosto. Até os guarda-chuvas dos guardas da prisão são coloridos, para trazer as cores da persona que Arthur Fleck irá se tornar nas cenas seguintes.
No fim, “Coringa: Delírio a Dois” não é um filme ruim, mas entrega um longo filme de tribunal maçante, que tenta utilizar do musical para lançar na tela os mais altos devaneios que seus protagonistas precisam, mas acaba falhando nesse quesito. Ele promete deixar o público ainda mais dividido com o seu final chocante, que pelo menos adianta que não terá um terceiro desnecessário filme, algo que este foi.
UERJVIU: 2,5/5 estrelas