Ganhadores do Prêmio Nobel marcam presença na Uerj

Ganhadores do Prêmio Nobel marcam presença na Uerj

Palestras promovem diálogos entre cientistas internacionais e nacionais 

Por: Manoela Oliveira e Maria Eduarda Galdino

Da esquerda para a direita: May-Britt Moser, Luiz Davidovich, Isaac Diaz, Heloísa Paterno, Lúcia Del Valle e Adam Smith / Reprodução: Manoela Oliveira
 
 
 

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) reuniu três ganhadores do Prêmio Nobel para debaterem sobre a importância da ciência, nesta última segunda-feira (15). O evento aconteceu pela primeira vez no Brasil, e trouxe premiados como Serge Haroche (ganhador do Prêmio Nobel de Física),  David MacMillan (ganhador do Prêmio Nobel de Química) e May-Britt Moser (ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina). O encontro foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Nobel Prize Outreach. 

A palestra “As responsabilidades dos cientistas” discutiu o papel dos cientistas no incentivo à ciência e na construção de um futuro melhor, no Teatro Odylo Costa, filho. A mesa contou com a presença de May-Britt, de Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC e de Adam Smith, moderador do debate. Alunos de universidades da América Latina foram convidados para participarem do debate. Lúcia Del Valle, da Universidade do Chile, Isaac Diaz, do Instituto de Tecnologia da Costa Rica e Heloísa Paterno, do Instituto Federal Catarinense, relataram suas experiências como jovens cientistas.

O evento iniciou-se às 10h00 e terminou às 16h00, promovendo uma discussão sobre a importância dos cientistas na sociedade. A cobertura em inglês e em português do evento pode ser acessada pelo Youtube do Nobel Prize.

As responsabilidades dos cientistas

Luiz Davidovich explicou que a obrigação dos cientistas é buscar conhecimento, visando desenvolver um mundo melhor. Segundo o físico: “A ciência deveria ter como preocupação principal a curiosidade e a paixão pela mesma”. Ele ressaltou a pressão da nova geração de cientistas com o “sistema recompensatório”, que consiste na extrema vontade dos pesquisadores de serem reconhecidos pelas suas pesquisas acadêmicas. Porém, de acordo com Davidovich, o trabalho dos cientistas de desvendar os mistérios do universo já é algo impressionante, não é necessária a procura por recompensas acadêmicas.

Davidovich disse que a outra responsabilidade dos cientistas é seguir regras éticas, para a ciência não se tornar algo prejudicial à humanidade. Porque, segundo ele: “Geralmente, aqueles que têm mais poderes no país ou no mundo, vão ter mais poder na gestão da tecnologia”. O físico enfatizou que a ciência é um mecanismo para romper barreiras globais, por isso, ela deve ser usada de maneira correta pelos cientistas. A pesquisadora May-Britt acrescentou que em situações de guerra, como no conflito entre Ucrânia e Rússia, os pesquisadores precisam se ajudar para o bem da sociedade.

May-Britt levantou um questionamento sobre o limite do envolvimento dos cientistas nas áreas políticas.  Ela afirmou que: “Ao receber o Prêmio Nobel, as pessoas me tratam, como os outros laureados, como uma pessoa que pode ter influências políticas”. A neurocientista enfatizou que é necessário encontrar um equilíbrio na atuação desses profissionais nas questões públicas, para não ocorrer uma intervenção extrema e se tornar algo perigoso.  Em março de 2024, houve um caso de envolvimento político dos ganhadores do Prêmio Nobel, em que 39 laureados se manifestaram contra o governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia, em carta aberta. 

Lúcia Del Valle perguntou a May-Britt como ela lida com profissionais de diferentes áreas nos laboratórios de pesquisa. Como exemplo, Lúcia citou os profissionais de comunicação que ajudam na divulgação dos projetos do laboratório para a população. May-Britt respondeu que a comunicação é fundamental e os cientistas do laboratório sempre procuram estar em constante contato com os comunicadores. A neurocientista ressaltou que não tem medo de receber outros profissionais que saibam mais que ela em alguma área, seja ela científica ou qualquer outra. 

Isaac acrescentou ao que foi dito por May-Britt em relação à comunicação. Ele afirmou que a comunicação é uma responsabilidade pública, porque as instituições usufruem do dinheiro do Estado, portanto existe uma responsabilidade em compartilhar as pesquisas e o desenvolvimento com a sociedade. 

Luiz Davidovich complementou a fala de Isaac sobre a necessidade de se aprender a ouvir as pessoas de diferentes culturas em nossa volta, e não somente compartilhar o seu ponto de vista de pesquisador. Davidovich disse que o Brasil e outros países da América Latina carregam consigo uma diversidade, então os cientistas devem ouvir a perspectiva e conhecimento de cada indivíduo. Como exemplo, ele citou que a ABC possui uma categoria chamada de “colaboradores”, os quais são pessoas que não são cientistas, mas que fizeram diversas contribuições para o avanço científico. O físico citou  Davi Kopenawa, xamã da tribo Yanomami, protagonista de um livro transcrito pelo antropólogo francês Bruce Albert chamado “A queda do céu”. A obra é um relato sobre a história de vida de Davi e suas crenças cosmoecológicas. Luiz acrescentou: “Além da ciência, existe o conhecimento, e conhecimento é diferente de ciência. E nós devemos ouvir o conhecimento, porque o conhecimento pode ser a entrada para a ciência”.

BRASIL X CIÊNCIA 

Apesar de o Brasil ter um certo desenvolvimento no âmbito científico, muitos cientistas brasileiros se sentem desvalorizados no país, pois as instituições de educação e pesquisa científica não recebem apoio suficiente das autoridades públicas. Os cortes nas bolsas, a falta de infraestrutura e a desvalorização do Estado são constantes. Segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, nos últimos anos, 6,7 mil cientistas deixaram o país para poderem iniciar ou concluir suas pesquisas no exterior. 

A falta de pesquisas feitas por brasileiros têm consequências no cenário nacional. O prêmio Nobel é um evento que acontece há 120 anos, desde 1901, e até hoje nenhum brasileiro teve a oportunidade de ser laureado, seja ele nas categorias de Medicina, Literatura, Economia, Paz, Física e Química. 

Diante dessa crise nacional, o governo Lula tem feito esforços para o resgate do avanço científico no país. O programa “Conhecimento Brasil” está sendo lançado visando repatriar cientistas brasileiros que atualmente residem no exterior e tenham concluído o mestrado e doutorado, ou até mesmo cientistas brasileiros que não possuem nenhum tipo de vínculo com alguma instituição científica no país para que eles possam desenvolver suas pesquisas no Brasil. O governo planeja investir 1 bilhão de reais para repatriar mil cientistas brasileiros e combater o que eles chamam de “fuga de cérebros”, termo usado para pesquisadores que se formam em território brasileiro e saem do país. 

O programa irá pagar uma bolsa de R$13 mil reais aos cientistas que ficarem em instituições de pesquisas ou universidades brasileiras, mais uma verba de 400 mil reais para que novos institutos de pesquisa sejam construídos.  

Apesar de o programa “Conhecimento Brasil” ter um plano progressista, ainda surgem inúmeras dúvidas em relação a alguns aspectos. Nas redes sociais, alguns cientistas questionam o programa, alegando que o governo deveria pensar nos cientistas que continuam no país e estão tendo dificuldades devido à desvalorização da profissão.  Segundo relatório de Elsevier-Bolsi, o Brasil registrou uma queda de 7,4% de produção científica em 2022, em comparação com o ano anterior. 

Comentário de um usuário do X na postagem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) / (Reprodução: X)

Hupe oferece cirurgia de confirmação de gênero para a comunidade transexual

Hupe oferece cirurgia de confirmação de gênero para a comunidade transexual

Urologista do Hupe explica os procedimentos cirúrgicos

Por: Manoela Oliveira e Kauhan Fiaux

Reprodução: IStock
 

O ambulatório de Transdiversidade do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) oferece acompanhamento para pessoas transexuais, transgêneros e travestis do Rio de Janeiro. O ambulatório é registrado pela Secretaria Estadual de Saúde e é um dos pontos de referência no Estado.

O Hupe disponibiliza apoio para as pessoas trans, desde o acompanhamento psicológico e o tratamento hormonal até o procedimento cirúrgico. A cirurgia de confirmação de gênero pode envolver procedimentos genitais ou não genitais (como a mastectomia ou a feminização facial), as cirurgias genitais são apenas uma parte do processo. 

Segundo levantamento da Folha de S. Paulo, apenas oito estados oferecem cirurgias de confirmação de gênero de forma pública. No Rio de Janeiro, apenas dois hospitais disponibilizam o serviço: o Hupe e o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, ambos localizados na capital fluminense. Por mais que o acesso a esse tipo de tratamento tenha aumentado nos últimos anos, a oferta ainda é pequena para a população. Segundo dados da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de 2021, cerca de 3 milhões de pessoas no Brasil são trans ou não-binárias, representando cerca de 2% da população do país.

A carência de espaços que realizam o procedimento gera grandes filas de espera, fazendo com que as pessoas optem por fazer a cirurgia em rede privada. Em 2021, a Associação Nacional de Saúde Complementar (ANS) incorporou a cirurgia de confirmação de gênero na lista de procedimentos cirúrgicos liberados para planos de saúde – uma forma um pouco mais barata quando comparada com a saúde privada. Dados dos próprios convênios de saúde indicam que, desde então, o número de cirurgias aumentou em 75%.

Etapas da cirurgia 

Antes da realização da cirurgia de confirmação de gênero, é necessário um tratamento hormonal prévio de dois anos. A pessoa que deseja prosseguir com a cirurgia precisa de um acompanhamento com um endocrinologista para providenciar as transformações corporais masculinas ou femininas. Também é preciso orientação de profissionais como psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, porque eles oferecem suporte emocional para a adaptação da cirurgia. O urologista especializado em reconstrução urogenital do Hupe, Luiz Augusto Westin, diz que: “Uma vez que conseguimos alinhar o corpo e a mente do paciente, começamos a pensar em fazer qualquer procedimento cirúrgico”.

Na transição dos órgãos genitais do feminino para o masculino, existem duas técnicas cirúrgicas ofertadas pelo Hupe: a metoidioplastia e as neofaloplastias. Westin explica que: “A metoidioplastia é uma técnica na qual a gente alonga o clitóris hipertrofiado. É feito uma harmonização e o clitóris cresce”. Nesse procedimento, o paciente consegue urinar sentado e ter relações sexuais, porém não é recomendado o sexo com penetração. 

Segundo o urologista, as neofaloplastias são cirurgias mais complexas que demandam mais etapas. “Isso consome a vida do paciente e eles, muitas das vezes, acabam não optando por essas técnicas”, ressalta Westin. Porém, algumas pessoas escolhem as neofaloplastias por possibilitarem ao indivíduo ter um pênis maior, em comparação com a metoidioplastia. As neofaloplastias são feitas somente em hospitais públicos, porém existem pesquisas em andamento pelo Ministério da Saúde para esse procedimento também ser feito em hospitais de redes privadas, segundo o médico. 

De acordo com o urologista, na mudança da genitália masculina para a feminina, a cirurgia de confirmação de gênero é efetuada por meio da inversão peniana modificada. “É um procedimento mais simples que a metoidioplastia e as neofaloplastias, por ter muito tecido para trabalhar. A gente usa uma parte da pele do escroto para fazer o canal vaginal”, afirma Westin. A cirurgia dura em torno de quatro horas e o paciente recebe alta em cerca de cinco dias. 

O especialista alerta que no processo pós-cirúrgico, alguns problemas médicos podem surgir, sobretudo os que dizem respeito à uretra: “O atendimento médico é eterno. Esses pacientes não recebem alta nunca”. O recomendado por Westin é uma consulta médica anual durante toda a vida para a prevenção de possíveis complicações. 

O urologista ressalta a importância de se ter disponível as cirurgias de confirmação de gênero no Hupe para homens e mulheres trans. Ele acrescenta que: “A saúde é um direito de todos e dever do Estado. Todo mundo tem que ter acesso à saúde”. Westin destaca que a cirurgia de transgenitalização é uma conquista da comunidade LGBTQIA+.

O Hupe fica localizado no Boulevard 28 de Setembro, número 77, no bairro de Vila Isabel. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (21) 2868-8000

Espetáculo “Milagre do Brasil” chega na Uerj

Espetáculo “Milagre do Brasil” chega na Uerj

Com direção de Pedro Barrroso, o espetáculo conta com Bárbara Vila Nova e Felipe Ferreira

Por: Vinícius Feliano

Dois personagens conversando durante ato do espetáculo / Foto: Divulgação

A encenação, que se apresenta no Teatro Noel Rosa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), narra uma cela, onde presos políticos da ditadura militar brasileira estão em situação contraditória e sem contato com o mundo externo, nisso, buscam no passado e no futuro a humanidade na situação em que vivem. A primeira apresentação acontece hoje (04) com ingressos entre R$10 e R$30 reais.

Adaptação da biografia de Augusto Boal, diretor de teatro e dramaturgo, Milagre do Brasil tem a intenção de questionar a memória social brasileira dos anos de ditadura militar que, em 2024, completa 60 anos. Dirigido por Pedro Barroso em parceria com o Instituto Augusto Boal da UFRJ e apoio da Escola de Teatro Martins Penna e Escola de Teatro Popular, o elenco conta com Bárbara Vila Nova, Felipe Ferreira, Fernando Leão, Giu Maué, Igor Cruz – Stand-in, Isabel Figueira,  Nitai, Pedro Máximo – Stand-in e Ricardo Neme. 

Com classificação de 16 anos, o espetáculo vai ocorrer no Teatro Noel Rosa da Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart) da Uerj, às 19h. Os ingressos podem ser adquiridos aqui e os valores dos ingressos são: R$10 para a comunidade da Universidade, R$15 a meia-entrada e R$30 a inteira.

Quem foi Augusto Boal?

Homenagem ao dramaturgo feita para canal do Instituto augusto Boal / (Foto: Instituto Augusto Boal)

Diretor de teatro e Dramaturgo, Boal foi o fundador do Teatro do Oprimido, método que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais, aliando-o à ação social. Seus ensinamentos difundiram-se pelo mundo entre os anos 1970 e 2000, sendo empregados não só por profissionais das artes cênicas, como também por profissionais das áreas de educação, saúde mental e do sistema prisional.

Sua obra reúne 22 livros traduzidos em mais de vinte línguas e suas concepções são estudadas nas principais escolas de teatro do mundo. Além de sua contribuição à arte, Boal também foi Vereador do Rio de Janeiro entre 1993 e 1997.

Exposição “Esqueleto: algo de concreto” busca resgatar memórias de comunidade

Exposição "Esqueleto: algo de concreto" busca resgatar memórias de comunidade

Por: Vinícus Feliciano

Cerimônia de abertura da exposição / Foto: Vinícius Feliciano



A história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) é marcada pela expulsão de diversas famílias da Favela do Esqueleto, anteriormente abrigada no terreno que, hoje, pertence à Universidade. 

A mostra em cartaz nas galerias de arte da Uerj, Candido Portinari e Gustavo Schnoor, “Esqueleto: algo de concreto” tenta divulgar a história dessas famílias por meio da arte de 43 artistas de gerações diferentes, mas com a ancestralidade marcada pela comunidade.

A mostra que conta com a curadoria de Alexandre Sá, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro, professores do Instituto de Artes da Uerj (Iart/Uerj), e André Carvalho, vice-diretor da Escola de Desenho Industrial da Uerj (Esdi/Uerj), busca apresentar trabalhos de artistas diversos, nomes como Carlos Vergara, Helena Trindade e Leila Danziger estão presentes. 

A festa de inauguração ocorreu no dia 14 de março às 16 horas na Galeria Candido Portinari. A Reitora da Universidade, Gulnar Azevedo, comandou a cerimônia, que contou, também, com os curadores e alguns dos artistas.

Com entrada gratuita, a exposição está em cartaz de 15 de março até 9 de maio nas galerias Candido Portinari (próxima ao portão 5) e Gustavo Schnoor (interior da Coart), e o horário de visitação é das 10h às 19h, de segunda a sexta. Além das obras, também serão oferecidas diversas oficinas e cursos seguindo a temática do evento, confira a programação. Na entrada, é possível retirar um panfleto com os créditos da exposição e deixar sua assinatura para marcar presença.  

Favela do Esqueleto

Localizada onde, hoje, é a Uerj, a Favela do Esqueleto foi uma comunidade existente entre as décadas de 1930 e 1960 no terreno que seria para a construção do Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil, entretanto, como as obras foram abandonadas na década de 1930, inicia-se a ocupação do edifício.

Recenseamento na Favela do Esqueleto / Foto: Arquivo geral da cidade do Rio de Janeiro



A inauguração do Maracanã, em 1950, fomentou o aumento do volume de moradores da comunidade que, no início, construíram barracos em volta do prédio, mas, logo, com a construção de diversos tipos de moradia, a favela tornou-se uma das maiores comunidades da cidade. 

A remoção da Favela foi consequência da política de remoções implantada pelo Estado da Guanabara durante o governo militar e com apoio dos Estados Unidos, nos anos 1960. A ação consistiu na transferência, à força, dos moradores para conjuntos habitacionais em áreas longínquas do centro da cidade, a maior parte foi transferida para a Vila Kennedy, em Bangu. Já em 1969, começou a ser construído no terreno o campus da Universidade do Estado da Guanabara. A construção foi finalizada e inaugurada em 1976 com outro nome, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

 
 

Tainá de Paula fala sobre sustentabilidade em palestra na Uerj

Tainá de Paula fala sobre sustentabilidade em palestra na Uerj

A secretária do Meio Ambiente e Clima discute a crise climática no Rio de Janeiro

Por: Manoela Oliveira e Samira Santos

 
 
Tainá de Paula durante a palestra / Reprodução: Manoela Oliveira

Na última quinta-feira, dia 21 de março, o evento “Ágora do IFHT, Série: Sustentabilidade no Território” reuniu figuras importantes da área da saúde e do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias da Uerj (IFHT). A palestra foi ministrada por Tainá de Paula, Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, que compartilhou sua experiência sobre o tema “Crise climática, políticas públicas e sustentabilidade no território”. Além disso, para mediar o debate tivemos a presença do professor Carlos Alberto de Oliveira, diretor do IFHT. A mesa também contou com a participação de Bruno Neves, coordenador do Programa de Extensão, Desenvolvimento e Educação, Theotonio dos Santos (ProDEd-TS), e Gislaine Matheus, superintendente de vigilância em saúde.

A palestra foi transmitida ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto, e abordou questões importantes acerca da preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, refletindo sobre o papel das políticas públicas na mitigação dos impactos da crise climática. O evento teve início às 16h30 e terminou às 18h, proporcionando um espaço para discussões relevantes sobre questões ambientais e a urgência na implementação de políticas públicas efetivas.

Desigualdade Climática: Negacionismo e suas Consequências

“No Rio de Janeiro, a desigualdade climática não é mais uma realidade que pode ser negada”. Essa foi a afirmação de Tainá de Paula, feita durante a discussão sobre as políticas públicas que precisam priorizar os mais pobres. Para a secretária, o negacionismo adotado por alguns prefeitos do estado pode resultar em perdas significativas para a população de baixa renda. “Sem os devidos alertas de emergência sobre as chuvas, essas pessoas correm o risco de permanecer em suas casas, mesmo diante de situações perigosas. O problema se agrava quando a responsabilidade pelos alagamentos é injustamente atribuída aos mais pobres, como se eles fossem os principais culpados”, disse Tainá.

Segundo ela, a educação ambiental e a gestão pública são fundamentais para lidar com os desafios causados pelas chuvas. Tainá afirmou que o processo de macrodrenagem, microdrenagem e limpeza urbana não é responsabilidade apenas do indivíduo, mas sim de toda a comunidade e das autoridades governamentais. Além disso, segundo a secretária, é preciso reconhecer que as mudanças climáticas não são causadas apenas localmente, mas sim por ações globais, como o desmatamento e a poluição industrial.

A pesquisa da organização não governamental Oxfam de 2015 revelou que os 50% mais pobres da população são responsáveis por uma menor emissão de gases de efeito estufa, enquanto os 10% mais ricos produzem uma quantidade significativamente maior. Portanto, a partir das considerações de Tainá de Paula, não é justo comparar a responsabilidade de um indivíduo que não pratica a coleta seletiva de lixo com a responsabilidade de grandes empresas multinacionais.

O Brasil é um dos protagonistas no cenário mundial das mudanças climáticas, sendo um dos países que mais emite gases de efeito estufa. Segundo o Sistema de Monitoramento das Mudanças Climáticas (PCRJ), em 2023, o país figurava entre os maiores emissores do mundo. No território brasileiro, as grandes cidades têm um papel crucial nesse panorama. Entre as cidades brasileiras, das dez maiores emissoras de gases de efeito estufa, duas estão localizadas no Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, o Oeste brasileiro abriga as oito maiores cidades emissoras desses gases.

De acordo com a secretária, o impacto das mudanças climáticas não se limita apenas ao meio ambiente, mas também afeta diretamente a vida das pessoas. “O preço da cesta básica está ligado às crises climáticas que enfrentamos. O calor extremo, por exemplo, pode resultar na perda de colheitas inteiras de nossos principais grãos, como o arroz, que não sobrevive em condições de calor extremo. Por isso, é fundamental compreender que eventos climáticos como o El Niño não são eventos isolados, mas sim parte de um contexto maior de mudanças climáticas globais”. 

Tainá de Paula enfatizou como as diferentes classes econômicas são afetadas pelas mudanças climáticas, devido às vulnerabilidades locais existentes no Rio de Janeiro. De acordo com a secretária: “Quanto mais você é vulnerável na cidade, mais suscetível você está às mudanças climáticas”, disse Tainá. Ela reafirmou que pessoas enquadradas na escala de extrema pobreza estão mais expostas a problemas como o deslizamento de terra, o calor extremo e as enchentes. O Rio de Janeiro é o terceiro estado mais desigual do Brasil, perdendo apenas para Roraima e Paraíba, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2023.  

Tainá disse que a secretaria de Meio Ambiente e Clima, com a colaboração da secretaria de Saúde, possuía o interesse de instituir estratégias para melhorar as condições de vulnerabilidade social e de estabelecer critérios para mapear os riscos graves. Por isso, foi criado o Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Cidade do Rio de Janeiro, responsável por definir as áreas prioritárias para a inserção de políticas públicas. Segundo o levantamento, o complexo do Alemão, Bangu, Ramos, Complexo da Maré e Pavuna foram as localidades mais impactadas pelos perigos climáticos.

Projetos de sustentabilidade

A palestra apresentou 12 projetos governamentais de sustentabilidade incentivados por Tainá de Paula e Eduardo Paes, atual prefeito do Rio de Janeiro. Os principais programas foram o “Cada Favela, Uma Floresta” e o “Jovens Negociadores pelo Clima”. O primeiro possui o objetivo de reflorestar cinco comunidades do Rio de Janeiro para diminuir a sensação térmica desses locais. Também foi destacado por Tainá a necessidade de abordar os estigmas das favelas na universidade. Porque, segundo ela: “Até a Uerj foi construída em cima de uma remoção de favela”.

O projeto “Jovens Negociadores pelo Clima” capacita jovens cariocas para representar as urgências da juventude na Agenda do Clima do Brasil e da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com as informações fornecidas por Tainá, dos 400 inscritos, apenas 50 pessoas foram escolhidas e participaram de uma capacitação de 36 horas.

Outros programas da secretaria de Meio Ambiente e Clima / Reprodução: YouTube do IFHT
 
 

A cobertura da palestra pode ser acessada pelo YouTube do IFHT. 

Coart anuncia projeto que busca divulgar a produção musical de artistas da Uerj

Coart anuncia projeto que busca divulgar a produção musical de artistas da Uerj

O programa ‘Plataforma Livre’ será lançado na próxima quarta-feira (6), com show ao vivo de Ah!Banda

Por: Leonardo Siqueira

Salão da Coart onde será realizado o projeto Plataforma Livre (Foto: Leonardo Siqueira)
 
 
 

A Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação Artística (Coart) da Uerj anunciou o lançamento da “Plataforma Livre”, programa coordenado por Ilana Linhales e que busca apresentar e divulgar a produção musical da comunidade uerjiana. A primeira exibição será no dia 6 de março, às 12h30, no Salão 2 da Coart, com show ao vivo de Ah!Banda. O evento é livre e aberto ao público externo, sem a necessidade de inscrições.

Segundo Quesia Pacheco, produtora cultural da Coart, e Rafael Pacheco, orientador musical, o projeto funcionará da seguinte forma: às segundas, quartas e sextas-feiras, o som de algum artista ou grupo musical, preferencialmente da Uerj, será tocado no sistema de som do salão 2 da Coart, entre às 11h e 13h. Nesta primeira semana, a Plataforma Livre irá reproduzir o trabalho de Ah!Banda, que fará o show ao vivo no lançamento do projeto.

Quesia destacou que o Centro Cultural é um espaço mais calmo da Uerj, onde muitos vão para descansar, almoçar ou até mesmo passar um tempo vago: “Pensando nesse público, a gente está divulgando o trabalho das pessoas (artistas) e também fazendo com que quem esteja aqui possa ouvir esse material”.

A cada semana, será divulgado o trabalho de um artista ou grupo musical diferente. Quesia e Rafael revelaram que já há outros dois projetos selecionados para as semanas seguintes, mas a ideia é que abra um cadastramento para que os músicos interessados no programa possam também enviar seu material para a divulgação. Para mais informações, acompanhe as redes sociais da Coart.

A Plataforma Livre será reproduzida no salão 2 da Coart, no Campus Maracanã da Uerj, em frente ao Auditório Cartola, no Centro Cultural. O salão contém mesas e cadeiras para os visitantes.

 
 

Coart abre novos cursos nas áreas de Cinema, Música e Literatura

Coart abre novos cursos nas áreas de Cinema, Música e Literatura

As inscrições para os projetos estarão abertas entre os dias 4 e 8 de março

Por: Leonardo Siqueira

Centro Cultural da Uerj, no Campus Maracanã (Foto: Leonardo Siqueira)
 
 
 

A Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação Artística (Coart) da Uerj divulgou os 12 projetos escolhidos na Chamada Aberta de 2024 para as categorias “Cinema”, “Música” e “Literatura”. 

A nova chamada teve como objetivo complementar o quadro de atividades da Coart, que já conta com cursos nas áreas de “Teatro”, “Artes Visuais” e “Corpo e dança”. As inscrições serão online e estarão abertas de 4 a 8 de março, através das redes sociais da Coart. 

As aulas do primeiro semestre começam no dia 18 de março e terminam em 5 de julho, enquanto, no segundo, as aulas serão entre 12 de agosto e 29 de novembro.

As inscrições para as Oficinas custam uma taxa única para o semestre. Veja os valores:

Comunidade externa: R$ 260

Professores da rede pública: R$ 240

Comunidade interna (alunos, servidores e prestadores de serviço da Uerj): R$ 220

Cinema

  • Introdução à Produção Audiovisual Independente 

  • Documentário 

  • Sound Design 

  • Roteiro de Longas-metragens 

Música

  • Introdução ao homestudio 

  • História da música 

  • Sonoridades Puri: cultura, cantos e construção de instrumentos 

  • Música Popular Brasileira: um tema em debate? 

Literatura

  • Criação de Histórias em Prosa e Quadrinhos 

  • Publique, Mulher! (Mulheres na Criação de Sua Própria Editora Cartonera) 

  • Escrita criativa antirracista 

  • Escrevendo a cidade em festas populares 

‘Solta o bicho!’: Vila Isabel aposta em reedição de Gbalá para o Carnaval, samba clássico de Martinho da Vila

‘Solta o bicho!’: Vila Isabel aposta em reedição de Gbalá para o Carnaval, samba clássico de Martinho da Vila

Macaco Branco, mestre de bateria da Escola, declara: “a cereja do bolo que falta para a Vila Isabel ser campeã”

Por: Everton Victor, Kauhan Fiaux e Leonardo Siqueira

Quadra da Unidos de Vila Isabel. Foto: Fausto Ferreira
 
 
 

“Gbalá é resgatar! Salvar!”. Embalada pelo samba de Martinho da Vila, a Unidos de Vila Isabel revisita o enredo de seu desfile de 1993 e cantará de novo na Avenida “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”. Para Macaco Branco, mestre de bateria da Escola, o enredo se destaca por sua atemporalidade e seus ensinamentos sobre preservação da natureza e amor ao próximo: “Um samba que ficou para a história do Carnaval. Independente da época, ele vai estar muito atual”.

O enredo reflete sobre os males que a humanidade causa ao planeta Terra e a salvação através da pureza das crianças como a esperança do criador da humanidade, Oxalá. “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” foi desenvolvido por Oswaldo Jardim, em 1993, e terá agora a assinatura do carnavalesco Paulo Barros.

Segundo o mestre Macaco Branco, a escolha por reeditar o enredo passa também por fortalecer o desfile da Vila Isabel em quesitos nos quais a Escola perdeu pontos no Carnaval do ano passado, como o enredo e o samba enredo, quando terminou na 3ª posição, apenas cinco décimos atrás da campeã Imperatriz Leopoldinense. Um dos grandes marcos do desfile da Vila de 2023 foi a alegoria de São Jorge, que encantou a Sapucaí e que está exposta na Cidade do Samba.

Mestre Macaco Branco (à esquerda). Foto: Instagram da Vila Isabel
 

A presidente da Velha Guarda, Cheila Rangel, é uma das remanescentes do desfile de 1993. Há 41 anos na agremiação Azul e Branca de Vila Isabel, Cheila conta que apesar de alguns contratempos, como a chuva durante o desfile, considera um Carnaval marcante na história da Vila. Para ela, a reedição de Gbalá, agora com enredo assinado por Paulo Barros, “vai ser um Carnaval para não colocarem defeitos”.

Os ensaios de rua

Tradicionalmente às quartas-feiras, a Vila Isabel transforma o Boulevard 28 de Setembro em uma pequena Sapucaí. No comando da “Swingueira de Noel”, Macaco Branco declara que os ensaios de rua têm o papel de colocar em prática tudo o que a Escola pretende levar para a Avenida: “A gente vê tempo, andamento, formas de samba, como vai ser a introdução, o que fazer para a bateria evoluir. O ensaio de rua é maravilhoso porque a gente tem um parâmetro do que vai ser no grande desfile”.

Segundo o mestre de bateria, o ensaio começa às 19h30 com um trabalho técnico da bateria dentro da quadra, ao melhor estilo da agremiação Azul e Branca: “O andamento do desfile é muito próximo do que foi em 93. A gente brinca com algumas coisas trazendo mais para a atualidade, mas enquanto estivermos aqui, vamos lutar para ser o ritmo característico da Vila Isabel. Uma bateria muito tradicional”, garante Macaco Branco.

Ensaio de rua da Vila Isabel. Foto: Carlos Lúcio
 
 

Às 21h, o Boulevard 28 de Setembro é fechado e os integrantes partem com os instrumentos para a frente da Basílica Nossa Senhora de Lourdes, onde ocorre a concentração da Vila Isabel, e o desfile começa em direção à quadra da Escola, local de encerramento do ensaio. O primeiro ensaio de rua para o Carnaval de 2024 foi realizado no dia 18 de outubro do ano passado, e o último no dia 31 de janeiro deste ano. 

Contudo, a preparação para um desfile não se resume aos ensaios de rua ou até mesmo na quadra. Paula Bergamin, musa da Vila Isabel desde 2019, revela sua rotina para se manter pronta para o desfile. Aos 62 anos, ela conta que faz musculação e aulas de samba e dança durante todo o ano: “Eu me preparo o ano todo porque com a minha idade eu preciso fazer mais que as musas jovens. Então eu me dedico. Agora, na reta final, eu apertei um pouco mais os treinos, que são diários, e os cuidados com a alimentação para chegar mais em forma e com fôlego”.

Ao trazer novamente Gbalá para a Avenida, a Azul e Branca da Vila homenageia a sua própria história e de sua comunidade. Seja através daqueles que desfilaram no desfile de 1993, como a Presidente da Velha Guarda, assim como os que ingressaram posteriormente na Escola, o samba-enredo é um grito de esperança que se mantém presente na comunidade. 

A Unidos de Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na segunda-feira, dia 12 de fevereiro, em busca do seu quarto título de Carnaval na sua história. Com um desfile permeado de significados entre passado, presente e futuro, o samba clássico da Azul e Branca relembra a Sapucaí: “Para salvar a geração, só esperança e muito amor”.

Samba e Carnaval: raízes do povo brasileiro

Samba e Carnaval: raízes do povo brasileiro

Integrantes da Unidos de Vila Isabel exaltam relação de amor, dedicação e pertencimento à Escola

Por: Everton Victor, Kauhan Fiaux e Leonardo Siqueira

Presidente da Velha Guarda em ensaio na rua Boulevard 28 de Setembro. Reprodução: Redes Sociais (Instagram Vila Isabel)
 
 
 

O calendário de 2024 marca um dia específico para o Carnaval: 13 de fevereiro. Mas, para muitos, o Carnaval vai muito além de um só dia: é uma vida. Esse é o caso de Cheila Rangel, presidente da Velha Guarda da Unidos de Vila Isabel e que completa 41 anos na Escola de Samba: “Eu tenho amor pela minha Escola. A Vila Isabel é uma das coisas mais importantes para a minha vida”, declara.

O primeiro contato de Cheila Rangel com a Escola de Samba foi como passista. Depois, ao longo dos anos, assumiu funções como diretora da ala das passistas e diretora social, até se tornar benemérita da Escola, presidente do Conselho Fiscal da Herdeiros da Vila e presidente da Velha Guarda. Hoje, aos 72 anos, ela garante: “Tudo o que eu faço é por amor. Eu me doo para a Vila Isabel”.

Assim como ela, Macaco Branco, mestre de bateria da Escola, também tem longa história com a Azul e Branca. Começou a desfilar por volta dos 13 anos, influência dos pais que já viviam na Escola. Foi diretor de bateria, diretor musical, e hoje comanda a “Swingueira de Noel”. “Se não estiver mais como mestre e precisar empurrar carro, eu vou. É sobre o apreço e carinho pela Escola. Eu pretendo ser Vila Isabel eternamente”, afirma. Para ele, uma Escola de Samba é como se fosse um quilombo, onde todos se reúnem para comemorar e festejar o Samba, Cultura do povo brasileiro.

Paula Bergamin, musa da Escola desde 2019, é mais uma que compartilha desse sentimento: “Na Vila eu me sinto em casa. (Ela) se tornou uma segunda família”. Paula destaca ter sido muito bem recebida pela comunidade e relata estar sempre presente nos ensaios e eventos da Escola. Aos 62 anos, ela acumula mais de dez desfiles como musa e é uma inspiração para as mais jovens.

Paula Bergamin, musa da Vila em ensaio da Escola. Reprodução: Fausto Ferreira
 
 
 
 

‘Não deixe o Samba morrer’

A ancestralidade é um dos pilares que fazem o Carnaval acontecer. Na Velha Guarda da Vila Isabel, segundo Cheila Rangel, fazem parte netas do fundador da Escola, a primeira mulher a desfilar na bateria da Azul e Branca e uma porta-bandeira de 92 anos. Exemplos da essência do sentido de comunidade que as Escolas de Samba representam: valorizar quem faz parte dessa história.

Contudo, há também a preocupação com o futuro. Para Macaco Branco, uma “Escola” de Samba tem também o papel de ensinar e de “plantar a sementinha” para as próximas gerações: “O Samba é nossa Cultura e nossa raiz, e a gente tem que levar isso para o mundo e para a vida. Se não ensinar, isso acaba”. O mestre de bateria acredita que, a Herdeiros da Vila, Escola de Samba, mirim da Vila, seria o “Gbalá da Vila Isabel”, em referência ao enredo da escola para o Carnaval, 2024, que vê nas crianças o caminho para um futuro.

Em casa, Macaco Branco já pode ver a semente dar frutos. Ele conta que já desfila com seu filho de 13 anos ao seu lado no comando da bateria, enquanto o mais novo, de apenas 3 anos, já é fascinado pela Vila Isabel: “Ele nasceu amando aquilo”, relata.

MacacoBranco,mestre de Bateria da Vila Isabel (à esquerda). Reprodução: Diogo Mendes

História, Economia e Cultura

De acordo com especialistas, a Cultura do Carnaval se perpetua através da ancestralidade, religiosidade e da resistência do “sambar”. As Escolas de Samba são uma representação e continuidade dessa cultura que é a marca do Brasil. Os desfiles se iniciaram na Praça Onze, região central do Rio, e desde 1978 ganharam um espaço que se tornou a Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro: a Sapucaí. Em um esquema de monte e desmonte após os desfiles, foi apenas em 1983 que o Samba passou a ter um palco com estrutura permanente. Resultado de uma história de resistência e luta para não deixar o Samba morrer, e que não se resume a uma data marcada em fevereiro ou março.

Além de cultural, o Carnaval movimenta todo um comércio e logística na cidade. Só neste ano, o Governo do Estado do Rio de Janeiro vai investir R$ 62 milhões no Carnaval. Segundo dados do próprio governo estadual, a estimativa é que a capital receba mais de 5 milhões de pessoas, o que atua diretamente no turismo e na economia local.

Ao longo do ano, os ensaios das Escolas de Samba também colaboram para aquecer a economia. Com ensaios no Boulevard 28 de Setembro, a Vila Isabel é uma atração cultural e econômica para a comunidade: “A galera vem pra curtir, tomar uma cerveja, cantar, aplaudir e prestigiar a Eescola”, conta Macaco Branco. Além de itens para o consumo, como bebidas e comidas, nos arredores da quadra da Escola é possível encontrar a venda de itens da Azul e Branca, como camisas e bonés.

Da folia também é construído um pertencimento de estar e representar uma Escola de Samba. A lógica do Carnaval se diferencia do contexto da competitividade: as Escolas são, sobretudo, co-irmãs, que lutam para manter o Samba e sua história vivos. Uma identidade nacional que é marcada pela construção do próprio país. Agremiações com histórias fincadas em terreiros, na negritude, nas periferias e subúrbios, além de claro, na folia.

Exposição na Galeria Candido Portinari celebra as diferentes faces do amor

Exposição na Galeria Candido Portinari celebra as diferentes faces do amor

“Poderosa Energia do Amor” debate uma nova narrativa acerca da comunidade preta

Por: Ana Cândida 

Elementos artísticos presentes na exposição “Poderosa Energia do Amor” (Reprodução: Ana Cândida)


Ancestralidade, cultura e negritude. Essas três palavras caracterizam a exposição “Poderosa Energia do Amor”, que estreou no último dia 29 de novembro na Galeria Candido Portinari. Sob curadoria de Ana Paula Alves, Isaac Nicácio e Nana Rosas, e coordenação geral de Diogo Santos, a mostra promove um olhar sociocultural acerca da experiência negra na diáspora, para além das experiências de dor e sofrimento. A exposição pode ser vista até 26 de janeiro e é uma colaboração entre o Departamento Cultural da Uerj (DECULT), Coordenação de Exposições de Arte (COEXPA) e o Programa de Extensão Museu Afrodigital do Rio de Janeiro. 

A curadora da exposição, Ana Paula, cita Tina Campt para descrever o propósito do projeto. Em um de seus textos, a autora afirma que “somos forçados a lidar com múltiplas frequências de luto e indignação” e “de contar com a frequência do agravamento do luto pela perda cíclica e repetitiva da genialidade negra”. Essas frases constituem uma relação com a realidade da comunidade preta, onde as estatísticas apontam para as inúmeras mortes de pessoas pretas. Paralelo a isso permanece a resistência preta – que se esmaece frente a estereótipos. “Pensar sobre amor e seus desdobramentos como uma significativa produção nos fez pensar em uma exposição que fizesse sentido nestes termos”, explica Ana Paula. 

Através das obras, é retratado a celebração do amor como ponto central da comunidade preta. Reunindo dezenas de elementos, a exposição inclui pinturas, poesias e até mesmo estruturas. As artes – em sua maioria – também abordam temas importantes como o cotidiano de pessoas da periferia, religiões de matriz africana e a desigualdade social. “Poderosa Energia do Amor” nasceu de uma necessidade de contar novas narrativas pretas. Apesar de ter sido inaugurada próxima à comemoração da Consciência Negra, a exposição se define como uma reafirmação de que a consciência da nossa raça é feita todos os dias. 

Uma característica central na mostra é a presença da música e a maneira que ela é utilizada como referência direta ao amor. Álbuns como o “Numanice” e cantores como o Mano Brown são vistos como peças chave durante o processo de abordar todas as formas de amor dentro da galeria. Ana Paula ressalta que os três curadores fizeram parte de diferentes gerações, e a música – assim como outros elementos culturais – influenciou na formação deles e, com isso, também influenciou na formação e construção do projeto em si. “Poderosa Energia do Amor” também possui uma playlist no Spotify com cerca de dez horas. O repertório inclui músicas dos anos 80 e outras que exprimem as nuances do amor e a celebração negra. 

A exposição estabelece também a concretização de laços entre três polos de artes da Universidade e do estado em si. Isaac Nicácio, outro curador da mostra, conta que a união ocorreu no ano passado. Iniciando com Diogo Santos, atual coordenador do COEXPA que já tinha contato com Ana Paula, coordenadora do Museu Afrodigital. Posteriormente, a dupla também se juntou com o professor Rafael, que auxilia as oficinas da COART. “Com a junção dos três conseguimos fazer essa troca e começar a pensar na ideia de trabalhar a arte com a educação”, explica Isaac. O curador complementa que essa troca de referências resultou na chegada de mais pessoas ao projeto. 

Obra “Nancy e Vilma”, da artista rOna e ao lado diversos textos na parede (Reprodução: Ana Candida)

Durante o processo de troca sobre amor, família e vida, os curadores analisaram o que cada artista/obra tinha de referência. Inicialmente, foi feita uma lista de desejo com cerca de trinta nomes e em seguida direcionaram para o que cabia dentro da realidade – desde o orçamento da COEXPA e até mesmo a disponibilidade dos artistas. Para além das obras, a mostra também apresenta textos, ideia reprisada de uma exposição anterior feita pelos curadores. Aqui, eles trabalharam com a ideia de pedir para que esses autores escrevessem mediante o conceito da exposição e sobre as obras que já estavam confirmadas até o momento. 

“Poderosa Energia do Amor” conta com diversos artistas, incluindo Agrade Camiz, Barbara Copque, Daiane Lucio, Erick Peres, Lais Reverte, Leah Cunha, Lucas H. Rossi, Matheus Morani, Mbé, Miguel Afa, Millena Lízia, Mulheres de Pedra, Osvaldo Carvalho, Rona Neves, Siqueira, Viviane Laprovita & Vladimir Ventura e Waleff Dias. Além disso, a exposição também apresenta textos de Bernardo Oliveira, Daniele Queiroz, Fabiana Pereira, Gabriela Nolasco, Jaciana Melquiades, Janaina Damaceno, Lorraine Mendes, Luara, Osmar Paulino, Renato Noguera, Silvana Bahia e Tais Machado.