Ciência e Tecnologia no centro das eleições 2024

Ciência e Tecnologia no centro das eleições 2024

Tentativas de regulamentar o ambiente digital, vacinas e inteligência artificial serão temas em discussão nas disputas deste ano

Por Everton Victor

Urna Eletrônica. Divulgação: TSE

A três meses do primeiro turno das eleições municipais, os desafios digitais marcam os debates entre os candidatos a prefeito e vereador. Temas como o uso de reconhecimento facial nas ruas, a implementação de câmeras nas fardas policiais, o acesso à internet nas escolas e a digitalização dos serviços públicos estão no centro das discussões. São temas da cultura digital e que impactam de modo decisivo o dia a dia dos brasileiros.

A pesquisa “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil” de 2023, realizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), junto com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), mostra que 60% declaram se interessar pelas áreas de ciência e tecnologia. Por outro lado, quando perguntado se conhece alguma instituição de pesquisa científica, menos de 83% citaram alguma, já sobre conhecer algum cientista brasileiro apenas 9,6% citaram um nome.

Pela primeira vez, a eleição brasileira vai contar com a atuação do Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia (CIEDDE), criado em março deste ano pelo TSE. O órgão vai funcionar como uma estrutura auxiliar do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais no combate às deepfakes (imagens ou sons humanos feita por IA), além de ser uma ferramenta educacional contra a desinformação. Em resolução publicada em fevereiro deste ano, o TSE endureceu o combate a fake news nas redes, responsabilizando também as big techs que não retirarem do ar posts de teor preconceituoso e/ou com informações falsas.

Outro tema de debate na campanha – as vacinas – também sofre o efeito do negacionismo científico. Recentemente, a Secretária Municipal da Saúde Rio emitiu um alerta sobre a baixa adesão à vacina da gripe na cidade. Ataques às instituições de pesquisas também ganharam força nas redes e no debate público. Em 2021 foi proposto na Assembleia Legislativa do Estado do Rio projeto Lei n°4.671/21, que pedia a extinção da Uerj. Após repercussão, o PL foi derrubado e considerado “inconstitucional”, nas palavras de André Ceciliano, então presidente da Casa. 

Semana da Ciência e Tecnologia. Foto: Agência Brasil

O professor Gerson Pech, diretor do Instituto de Física da Uerj, afirma que existe um longo trabalho para a uma cultura digitalizada plena, mas existe um caminho: aproximar o tema dos cidadãos. A cultura digital é a introdução, em menor ou maior grau, da tecnologia na sociedade e no cotidiano das pessoas. Na prática, ver em um aplicativo a hora que o ônibus passar, fazer uma transferência por Pix, documentos e exames digitalizados, tudo isso está inserido nessa cultura digital.

Na avaliação dele, é preciso explicitar que a cultura digital mexe diretamente com o cotidiano das pessoas. É central para a população reivindicar mais investimentos e ações no campo tecnológico e científico, de acordo com o professor.  Por isso, investir nestas áreas pode facilitar o cotidiano dos brasileiros e trazer uma maior eficiência para os serviços públicos. 

O linguajar difícil, a divulgação das produções de pesquisa restrita às revistas científicas, a pouca comunicação entre a academia e a população, tudo isso contribui para afastar a população da ciência. Para o professor da Uerj, é fundamental mostrar à população os avanços no campo da ciência e da tecnologia e o impacto deles na realidade. Tudo isso ajuda a  combater movimentos antivacina e a anticiência.

Para Pech, esses movimentos se enfraquecem quando são confrontados com o debate público, a sociedade compreende como  funciona a vacina e qual o papel da pesquisa e da universidade nesse contexto. “É preciso mostrar o papel da universidade e da ciência para, por meio da educação, desconstruir a intolerância”, afirma.

PL da regulação de inteligência artificial discute discriminação no ambiente digital 

PL da regulação de inteligência artificial discute discriminação no ambiente digital

Especialistas veem avanços com o projeto de lei, mas identificam um longo caminho para a fiscalização dos sistemas de inteligência artificial 

Por Everton Victor e Manoela Oliveira

 
Racismo algorítmico e os desafios da inteligência artificial / Imagem: Fractal Pictures (Shutterstock)

Racismo algorítmico é uma expressão nova para nomear como uma prática antiga, a discriminação, se reproduz no ambiente digital. É o que acontece, por exemplo, quando o aplicativo do banco não reconhece um rosto negro, buscas de pesquisas relacionam pessoas negras a pessoas feias ou imagens clareiam automaticamente a pele negra. Debates assim, que envolvem os vieses dos dados, a autorregulamentação por grandes empresas e a falta de segurança no ambiente digital, estão em curso hoje no mundo. No Brasil, a discussão passa pelo Projeto de Lei 2338/23, que institui um marco legal com mecanismos e orientações para regulamentar a inteligência artificial no Brasil. A votação do PL 2338/23 foi adiada três vezes e, até o momento, não foi definida uma nova data. 

O PL 2338/23 é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e tem relatoria do senador Eduardo Gomes (PL-TO). O texto preliminar que deu origem ao projeto foi sugerido por uma comissão de especialistas no tema, coordenada por Ricardo Villas Bôas, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As propostas apresentadas neste projeto agregam sugestões de outros nove PLs sobre regulamentação do ambiente digital.

Reunião da Comissão Temporária Interna do Senado que analisa o PL 2.338/2023 Foto: Lula Marques / Agência Brasil

O pesquisador Pablo Nunes, doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-Uerj), diz que o projeto chega num momento decisivo, porque não existe uma neutralidade nos dados. Eles  partem de um contexto e de um histórico ligados à realidade. “Esses bancos de dados nada mais são do que a história da sociedade humana materializada em números”, afirma. E isso tudo permite falar em racismo algorítmico, o que é, segundo o pesquisador, “a forma atualizada e repaginada do racismo se expressar, permitindo que o racismo estrutural consiga sobreviver neste mundo digital e tecnológico”.

Apesar do termo racismo algorítmico não aparecer na proposta inicial do PL, o projeto discorre sobre discriminação de raça, cor, etnia, gênero e origem geográfica. O documento reforça o combate a preconceitos como um dos fundamentos da implementação de inteligência artificial. Estudar racismo algorítmico permitiria não é só descobrir e analisar os impactos, mas também fornecer sugestões de políticas públicas para os danos serem mitigados, afirma Tarcízio Silva, doutorando em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e autor do livro Racismo Algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais.

Os efeitos do racismo algorítmico são sentidos, por exemplo, no tratamento de saúde de pessoas negras. Um estudo realizado em Boston, nos Estados Unidos, examinou cerca de 57 mil pacientes com doença crônica renal em centros médicos acadêmicos e clínicas comunitárias. E mostrou que, entre 2.255 pacientes negros, 743 seriam hipoteticamente realocados para o estágio de doença grave se fosse utilizado o mesmo algoritmo de pacientes brancos. 

Ao não serem classificados como pessoas que precisam de atendimento hospitalar emergencial, eles não têm prioridade no encaminhamento para transplantes e no acesso à diálise, procedimento de recuperação da função renal. Na avaliação de Pablo Nunes, esse caso é um exemplo de racismo algorítmico, que explicita os prejuízos sofridos pela população negra em comparação com outros grupos. 

Para o pesquisador, o desafio é equilibrar a utilização desses mecanismos, tendo em vista os bancos de dados já terem todos esses vieses. “As tecnologias, por serem frutos da história humana, não vão romper com o racismo, muito pelo contrário, elas vão procurar reproduzir”. Outro exemplo citado por ele vem da Bahia, onde a Polícia Militar utiliza uma ferramenta de inteligência artificial visando reconhecer pessoas com mandados de prisão decretados. Mas os casos de erro não são raros. Em 2023, um trabalhador foi identificado pela ferramenta e preso erroneamente por 26 dias em 2023. Sobre o caso, a Secretária de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) argumentou que as câmeras constataram 95% de similaridade entre ele e o verdadeiro infrator. “A gente tá falando de vidas humanas que são destroçadas”, reforça Pablo Nunes.

Para Tarcízio Silva, há uma divergência entre o que os legisladores consideram ser o desejo dos brasileiros com a inteligência artificial e a perspectiva real da população. Na análise do professor da XXX, a maioria dos brasileiros desconfia desses sistemas, especialmente no campo da segurança pública, área com grande utilização  de IA pelo governo. Uma pesquisa do Instituto IDEA com a colaboração do Brazil Forum UK conta que 73% de 1.073 entrevistados apoiam a criação de regras para o uso de IA no Brasil.

 
Gráfico interativo: Quem ou qual órgão os brasileiros acreditam que deveria regularizar a IA
Fonte: Reprodução de Manoela Oliveira, com dados do Instituto IDEA

O projeto de lei 2338/2023 prevê a supervisão e a fiscalização das inteligências artificiais pelo Poder Executivo, com base em critérios como a gravidade da infração, a condição socioeconômica e a cooperação do infrator. Caso uma empresa ou uma pessoa física não obedeça aos fundamentos de igualdade, não descriminação, proteção ao meio ambiente e privacidade no desenvolvimento de uma IA.

Até hoje (13), a Consulta Pública sobre o PL realizada pelo Senado acumulava mais de 66 mil votos, sendo 47,1% contra o projeto. Os debates de como regular o ambiente do tema não estão restritos apenas ao Brasil. Nos grupos de engajamento do G20, foi recomendado para os líderes das 20 maiores economias do mundo a criação de um grupo de governança global para dados, o Data20 (D20). Países da União Europeia, o Canadá e outras nações que participam do bloco já regulamentaram ou estudam como regulamentar.

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Proposta é que Data 20 ajude no esforço global para regulamentar mundo digital 

Por Everton Victor e Julia Lima

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O T20, equipe de trabalho do G20 com pesquisadores e think tanks, sugeriu em seu documento final a criação de um grupo para tratar de cooperação e segurança de dados. O Data20 (D20) trataria de temas como regulação e trabalho com dados, Inteligência Artificial e justiça climática, armazenando os dados das nações, e daria suporte para os outros grupos de trabalho.  

Proposta de criação do D20. (Reprodução: Communiqué do T20)

Num momento de apagões cibernéticos, vazamento de dados e avanço da Inteligência Artificial, a ideia da criação do grupo surgiu dos recentes desafios com a regulação de uso de dados pelas plataformas em âmbito brasileiro e mundial. Debates sobre o limite do uso da Inteligência Artificial e os impactos de algoritmos discriminatórios permeiam as discussões de como os governos devem intervir. Por isso, o grupo também teria o papel de promover discussões que reduzam os danos causados por essas tecnologias, imponham limites a elas e promovam penas para quem os desrespeitasse.

A criação do D20 foi uma das propostas surgidas nos encontros dos pesquisadores do T20, que aconteceram ao longo do ano, e levaram a criação do Communiqué, documento final com as 10 principais sugestões para as 20 maiores economias do mundo. O documento foi apresentado ao público nos dias 2 e 3 de julho durante o The T20 Brasil Midterm Conference.

O D20 também seria responsável por fiscalizar a implicação de cada política e dado criados pelos grupos de engajamento que compõem o G20. Denise Direito, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), afirma que ainda não há definição de como essa atividade aconteceria, já que o Communiqué apresenta apenas sugestões. O funcionamento seria definido de acordo com a evolução dos trabalhos do grupo.

Para Luciana Mendes, presidente do Ipea, a criação de uma força global sobre dados pode ser um aliado no debate de como os países devem lidar com a Inteligência Artificial. Ela destaca que a criação deste mecanismo pode trazer o debate da importância e um esforço de como regular as redes para todo o globo, aliado a outras frentes que o D20 possibilitaria. “Aprimora a cooperação de dados sobre temas transversais”, afirma.

No Brasil, o debate sobre a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) está em tramitação no Senado Federal. O Projeto de Lei (PL) 2338/23 reúne uma série de propostas de como regulamentar a IA no Brasil. Países da União Europeia, a Argentina e outras nações integrantes do G20 já regulamentaram ou estudam regulamentar a internet. Denise destaca que a criação do D20 pode ajudar os países do bloco a definirem consensos mínimos de qual seria a base de regulação sobre o tema.

Sobre o T20

O Ipea, junto com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais, compõem o comitê organizador do T20.  Apesar da predominância brasileira no grupo, Luciana reforça a diversidade de nos debates, reuniões e elaboração do grupo de engajamento. Ao todo 170 think tanks nacionais e internacionais com representantes de 33 países participam do T20.

Presidente do Ipea na abertura da reunião do T20. (Reprodução: Julia Lima)

A gestão brasileira segue na presidência do G20 até novembro. No caso do  grupo de engajamento, após a entrega do Communiqué, o foco é “avançar em estratégias de implementação das recomendações”, de acordo com a presidente do Ipea. Os líderes das 20 maiores economias do mundo devem se reunir nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, capital do G20 nesta edição.

Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência

Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência

Estereótipos, apagamento e sobrecarga fazem parte da rotina de mulheres cientistas, mostra trabalho de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira

Por Everton Victor

Reprodução: Julia Koblitz / Agência Brasil
 

Da entrevista de emprego ao cotidiano do trabalho, o dia a dia das mulheres cientistas é marcado pela desigualdade. É este o tema de Mulheres na Ciência, livro de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira. Em lançamento realizado na Uerj no dia 17 de junho, as autoras discutiram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no campo científico com relatos, dados e entrevistas. O evento foi organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Desigualdades Contemporâneas e Relações de Gênero da universidade.

“A representação feminina não é suficiente, mas ela é absolutamente necessária. Sem isso, a gente não tem como começar”, afirmou Leticia de Oliveira, neurocientista e coordenadora da Comissão de Equidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Leticia destaca a importância do livro por debater a necessidade de ter uma ciência diversa. “Na medida que eu vejo mulheres e negros em espaços de tomada de decisão, isso passa a ser espaço de pertencimento. E aí aquele estereótipo de  baixa eficiência e baixa competência vai sendo desfeito”.

Contracapa do livro. Reprodução: Arquivo Pessoal

A obra assinada em parceria por Letícia e Tatiana Roque, professora da UFRJ e ex-secretária de Ciência e Tecnologia do município do Rio, também discute os estereótipos que cercam a mulher cientista. O livro, dividido em cinco capítulos, apresenta sugestões para enfrentar o preconceito. Entre elas, se ater aos critérios estabelecidos no edital sem perguntas pessoais, estabelecer comissões de diversidade e principalmente trazer as mulheres para espaços de poder sem estarem sub-representadas no debate.

Dados da ciência hoje

Desde a primeira edição do Prêmio Nobel, em 1901, até 2016, apenas 3% dos ganhadores da honraria nas áreas de ciências foram mulheres. Mas aos  poucos isso vem mudando. Desde 2018 ao menos uma mulher é laureada em uma das premiações da Fundação. Para a neurocientista, desconstruir estereótipos passa por garantir representatividade: “Você não precisa falar para uma menina que ela não vai ser astrofísica, isso já está dito na medida que ela não se vê naquele espaço”.

O cenário não é exclusivo do prêmio Nobel. No Brasil, apenas 12% das mulheres compõem academias científicas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Ainda segundo o relatório, somente 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências são de mulheres, apesar de representarem 51,5% da população do país. 

Nas áreas STEM, termo em inglês que reúne os campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, a disparidade é ainda maior. Apenas 35% dos estudos relacionados a essas áreas são feitos por mulheres no mundo, segundo a Unesco. No mercado de trabalho a discrepância aumenta, sendo uma mulher para cada quatro homens. No capítulo seis do livro Mulheres na Ciência, as autoras explicam o dado e abordam as causas e as nuances disso na prática.

Efeito Matilda

Na obra, Tatiana e Leticia também abordam alguns termos que por vezes estão presentes no cotidiano das mulheres, como o efeito Matilda – expressão usada para designar o apagamento de mulheres no campo científico. Se uma cientista contribuiu para um artigo e não recebeu o devido reconhecimento no texto,  ela sofreu o Efeito Matilda. Tal efeito pode ser sutil, diminuindo intencionalmente ou não a contribuição daquela mulher, ou mesmo apagá-la por completo de alguma contribuição que ela fez. 

Nomes que contribuíram para a Ciência como Jane Wrigh, mulher negra oncologista que ajudou a desenvolver tratamentos contra o câncer ou mesmo as contribuições da física, e matemática Mileva Einstein, esposa de Albert Einstein, são por vezes esquecidos dos livros de história. “É como se tivesse uma barreira transparente que ela não parece existir, mas ela existe e você não consegue passar”, reforça Leticia.

Maternidade vista como empecilho para produtividade das cientistas

Outra realidade enfrentada pelas cientistas são os estereótipos da maternidade. Em dezembro de 2023, o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) negou uma bolsa de Produtividade em Pesquisa para a professora da UFABC Maria Carlotto. Na justificativa, o órgão citou que “provavelmente as gestações atrapalharam” as iniciativas da docente. Após a repercussão negativa, o Conselho emitiu uma nota reconhecendo que essa justificativa “expressa juízo preconceituoso”. O caso também está presente no livro.

Denúncia da pesquisadora no X, antigo Twitter

 

As autoras detalham a necessidade considerar, nas análises de produtividade, o período de gestação ou de recuperação pós-parto. É comum que mulheres nessas condições tirem licença, mas, quando retornam, são julgadas por não estarem sendo produtivas em termos científicos. “É muito inóspito, você tem que ser mãe como se não fosse cientista, e cientista como se não fosse mãe”, aponta a neurocirurgiã.

O livro está disponível gratuitamente nas redes sociais das autoras, mas você também pode consultá-lo aqui. A ideia delas é continuar a pesquisa e ter a colaboração de mais cientistas.

“Decisões judiciais estão aí para serem cumpridas”, afirma presidente do Google no Brasil

“Decisões judiciais estão aí para serem cumpridas”, afirma presidente do Google no Brasil

Em palestra na Web Summit Rio, Fábio Coelho alertou sobre desinformação

Por Everton Victor

Fábio Coelho, presidente do Google Brasil / (Reprodução: Web Summit)
 
 
 
 

Convidado da Web Summit Rio, o presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, defendeu em sua palestra a obrigação inquestionável de empresas cumprirem decisões judiciais. Também falou da responsabilidade das bigtechs para combater a desinformação, ainda que, em seu entendimento, essa também seja uma responsabilidade estendida aos cidadãos. 

Na semana passada, o Google Brasil anunciou que não irá permitir anúncios políticos nas suas plataformas, decisão que está alinhada à resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O anúncio do Google prevê que a partir de maio todos os serviços da big tech estarão proibidos de impulsionar anúncios de propagandas de candidatos, partidos, coligações, e qualquer assunto veiculados à eleição municipal deste ano. Essa mudança na política interna da plataforma foi revelada pelo portal  Poder 360 e confirmada pelo Estadão.

A medida é uma tentativa de se adequar à resolução nº 23.732 do TSE de fevereiro deste ano sobre o uso da inteligência artificial na campanha eleitoral. O artigo 9-D da resolução afirma: “É dever do provedor de aplicação de internet, que permita a veiculação de conteúdo político-eleitoral, a adoção e a publicização de medidas para impedir ou diminuir a circulação de fatos notoriamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que possam atingir a integridade do processo eleitoral”. Big techs, como a Meta, já anunciaram esforços para conter desinformação em suas plataformas.

Palco principal do Web Summit Rio / (Reprodução: Vaughn Ridley/Web Summit Rio)

Em um dos principais palcos de tecnologia do mundo, o presidente do Google Brasil reforçou o compromisso das empresas não se isentarem na luta contra a desinformação. “As decisões judiciais, especialmente da Suprema Corte, estão aí para serem cumpridas. As empresas têm um papel de valorizar o jornalismo de qualidade, apoiar a verdade e trabalhar com empresas que fazem checagem de fatos, para que o conteúdo de qualidade seja mais valorizado”, concluiu

Coelho destacou também a relevância do mecado brasileiro para as bigtechs. “O Brasil é um dos cinco maiores mercados do mundo, é um país que merece um status diferenciado (…) é um dos países foco dentro Google, a gente chama esses países de ‘Country of Focus’, que tá fazendo nos consiga trazer o segundo centro de engenharia do Google no Brasil”, explicou

O papel da inteligência artificial também foi um dos temas de sua palestra. Para Coelho, a obrigação de empresas como o Google é se engajar em políticas públicas para facilitar a difusão do conhecimento e de conteúdos.

Marcelo Eduardo, co-fundador da multinacional  Work & Co, empresa que desenvolve soluções para o Google, Apple e outras bigtechs, afirmou que a inteligência artificial vai cada vez mais ajudar nos processos, mas sem substituir a capacidade criativa e de interpretação das pessoas. O executivo afirmou que a tecnologia tem a capacidade de empoderar a sociedade através da disseminação de informação e citou como exemplo uma ferramenta criada pela empresa para que os professores possam dar aulas no Google Earth. Em sua opinião, não adianta uma empresa pensar em novas tecnologias, sem pensar em quem vai utilizá-la, “focando em usabilidade, acessibilidade, em prestar atenção a quem tá do outro lado”. 

 
 

Vencedores do Nobel alertam sobre fake news e discutem como aproximar ciência do público

Vencedores do Nobel alertam sobre fake news e discutem como aproximar ciência do público

Evento na Uerj reuniu três laureados com o prêmio para diálogo com comunidade acadêmica

Por Everton Victor

Jovens cientistas conversam com vencedora do Nobel em evento na Uerj – Foto: Letícia Santana

Combater a desinformação e aproximar a ciência do público, especialmente dos jovens. Para três vencedores do prêmio Nobel  que visitaram esta semana a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), estes são alguns dos desafios da ciência numa sociedade digital.  No evento, organizado pela universidade em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), os cientistas David Mac Millan, May-Britt Moser e Sérgio Haroche conversaram sobre ciência e o desafio de torná-la mais inclusiva. Foi a primeira vez que o evento Nobel Prize Dialogue passou por uma universidade da América Latina. As palestras aconteceram na última segunda-feira (15), no teatro Odylo Costa, filho, no campus Maracanã da Uerj.

 

David MacMilllan: cientista alertou sobre risco da desinformação – Foto: Transmissão Rádio Uerj
 
 
 

O laureado com Nobel de Química de 2011, David MacMillan, ressaltou como driblar não só os desafios apresentados durante o processo científico, mas também conviver com eles na era digital. Em sua perspectiva, o fanatismo religioso é um exemplo disso quando vai além da crença religiosa para defender teorias conspiratórias sem comprovação. “Apesar do sucesso da ciência, cresce a desconfiança da comunidade científica. As fakes news nas redes sociais atacam a ciência, fazendo com que grupo de indivíduos ataquem a ciência”, afirmou.

May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014, reforçou a importância dos cientistas se aproximarem da juventude que sonha em fazer ciência e não tem oportunidade. “A gente precisa buscar talentos em todas as todas as partes e não só um grupo exclusivo”, ressaltou a cientista. O necessário diálogo entre a ciência e a oportunidade também  foi enfatizado por Sergio Haroche, Nobel em física de 2011, como o caminho para uma ciência ainda mais forte, mais ampla e próxima das pessoas. 

Durante todo o dia, os laureados participaram de debates com outros cientistas, além de professores, técnicos e estudantes. Eles enfatizaram a importância de a ciência se expandir para outros espaços, destacando que não basta só falar sobre um mundo que preze pela ciência, mas que é preciso incluir na prática esse discurso. Para os três premiados, só existe uma forma disso acontecer: simplificar a linguagem científica e aproximar o público do processo científico. 

Realizado das 10h às 16h, o evento do “Criando nosso futuro junto com a ciência” foi ministrado em inglês, com tradução simultânea para os presentes no teatro e nas redes sociais. No dia 17, os premiados com o Nobel realizaram evento semelhante na USP. 

Navezinha do Conhecimento aterrissa na Uerj


Navezinha do Conhecimento aterrissa na Uerj

Espaço oferecerá acesso à internet e cursos gratuitos de formação tecnológica; projeto resulta de parceria entre reitoria e prefeitura do Rio

Por Maria Eduarda

Espaço da Navezinha da Uerj / Foto: InovUerj
   

Parece uma sala comum com vários computadores, ao lado da fila das quentinhas do bandejão, onde funciona o Departamento de Inovação. Mas a sala, se tudo correr como planejado, pode ser o início de muitos projetos de inovação para a comunidade universitária. Lá vai funcionar a Navezinha do Conhecimento da Uerj, uma versão menor das Naves do Conhecimento, espaços criados para oferecer acesso à internet e cursos gratuitos de formação tecnológica à população carioca. 

A instalação da Uerj foi pensada como uma extensão da Nave do Conhecimento Beth Carvalho, situada na Mangueira. Qualquer aluno, funcionário da universidade ou residente próximo vai ter a chance de aproveitar os serviços oferecidos.

O anúncio da Navezinha da Uerj foi feito durante o lançamento do edital do Programa Jovens Cientistas Cariocas, no último dia 5, com a presença de autoridades municipais e de dirigentes da universidade.

Este ano, o programa Jovens Cientistas Cariocas vai incentivar 100 iniciativas inovadoras de estudantes inscritos em Instituições de Ensino Superior (IES) que busquem melhorar a cidade do Rio de Janeiro e possam ser aplicadas em territórios adjacentes às Naves do Conhecimento. Os selecionados receberão uma bolsa-auxílio no valor de R$800. As inscrições acontecem até 15 de março.

Para a secretária de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio, Tatiana Roque, promover iniciativas voltadas à inclusão digital é de grande importância: “Precisamos desenvolver tecnologias voltadas para resolver problemas sociais. A tecnologia não deve ser vista apenas para fomentar negócios, ela também deve servir para solucionar problemas ambientais e sociais.” 

Segundo ela, a expectativa com a Navezinha da Uerj é desenvolver projetos capazes de criar parcerias entre a comunidade acadêmica, a prefeitura e o território ao redor da universidade. “Vamos poder oferecer os serviços da Nave para a população, mas em parceria com professores e estudantes da Uerj, então serão professores da Uerj fomentando esses serviços tanto de formação digital quanto de inclusão digital.

A previsão é que a Navezinha seja inaugurada no dia 26 de março e os cursos sejam iniciados em abril. Tatiana Roque explica que em geral, no início, as Navezinhas oferecem cursos básicos de informática e com o tempo vão se adaptando a demanda.

A psicóloga Cecília Silva conheceu o projeto das Naves enquanto trabalhava em uma clínica da saúde em Rocha Miranda. Os profissionais costumavam encaminhar pacientes para as oficinas oferecidas pela Nave do Parque Madureira. “É importante pensar em atividades para além daquelas stricto sensu saúde, atividades psicossociais de sociabilidade”.

Cecília e sua câmera na Nave do Engenhão / Foto: Acervo Pessoal de Cecília

Cecília também participou de vários cursos oferecidos e o que mais a marcou foi o curso de Fotografia Antirracista. “Fiquei fascinada com a possibilidade de fazer um curso de fotografia que trabalhava o resgate e a potencialidade da negritude.” Hoje a psicóloga também se considera fotógrafa graças ao curso que teve a oportunidade de fazer: “A Nave do Engenhão, local onde eu fiz o curso, tem uma estrutura tecnológica de primeiro mundo. Nós não estamos acostumados a ver o dinheiro dos nossos impostos sendo aplicado na cidade, como acontece no projetos das Naves do Conhecimento”. Em 2016, o projeto Naves do Conhecimento recebeu o prêmio Visionary of the Year Award 2016, conferido pelo Intelligent Community Forum (ICF). 

Novembro Azul: por que o diagnóstico precoce é fundamental contra câncer de próstata

Novembro Azul: por que o diagnóstico precoce é fundamental contra câncer de próstata

Mês é dedicado à prevenção  e à divulgação dos exames periódicos que ajudam a identificar a doença

Por Everton Victor

Novembro Azul. Reprodução: Ministério da Saúde
 
 
 
 

O câncer de próstata é o segundo que mais atinge homens no Brasil – só fica atrás do câncer de pele não melanoma. E o mês de novembro, por causa do Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata (17/11), é dedicado ao alerta sobre a prevenção da doença e sobre como é fundamental ter um diagnóstico precoce. Daí surge o novembro azul.

A próstata é um órgão que faz parte do sistema reprodutor masculino. Fica logo abaixo da bexiga e, com o envelhecimento da pessoa, vai aumentando de tamanho. Nessa glândula é produzida parte do sêmen, que nutre os espermatozoides. Também é um órgão importante para manter normal o fluxo de urina, de 1 a dois litros por dia.

Alguns sintomas são importantes para ajudar no diagnóstico do câncer de próstata: dificuldade para urinar, sangue na urina, falta de controle da urina e até dores nos ossos. Mas é importante ressaltar que o câncer de próstata é na maioria das vezes assintomático, e quando o paciente começa a sentir determinados sintomas, o câncer pode já ter se espalhado para outros órgãos.

Por isso os especialistas reforçam a importância do diagnóstico precoce. Para o urologista Danilo Souza, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), a prevenção e o diagnóstico precoce são essenciais, para evitar que a doença se espalhe. Segundo ele, o principal tratamento, quando a doença está no início, é a cirurgia de retirada da próstata. Podem acontecer algumas modificações, como a impossibilidade de ejacular. Isso não impede, porém, o orgasmo. É o chamado orgasmo seco, ou seja, sem ejaculação. Hoje um dos desafios do tratamento do câncer de próstata é reduzir as sequelas da cirurgia.

Outro tratamento é feito pelo bloqueio do hormônio masculino. Apesar de não alcançar a cura, esse procedimento pode retardar ou até mesmo fazer regredir o avanço do câncer. No tratamento hormonal ou na cirurgia, algo é fundamental: quanto mais precoce for o diagnóstico maior a chance de cura.

Os principais exames para diagnosticar o câncer de próstata são o exame de toque, que possibilita de forma rápida identificar sinais de doenças na próstata. Por causa do preconceito, muitos homens ainda fogem desse tipo de exame, no qual o médico precisa tocar, com a luva lubrificada, o ânus do paciente. Outra forma utilizada de diagnóstico é o exame de Antígeno Prostático Específico (PSA), um exame de sangue que mede a quantidade de proteína produzida pelo tecido prostático (PSA). Ao longo da vida, com o aumento dessa glândula, o PSA também aumenta, o que não necessariamente significa que seu aumento se deu por conta do câncer. A principal forma de diagnosticar a doença é pela biópsia.

 
Risco de câncer de próstata aumenta com a idade. Reprodução: Cartilha Câncer de Próstata 2019 INCA
 
 
 
 
 

Dados da cartilha elaborada pelo Instituto Nacional de Câncer mostram que que o número estimado de casos novos de câncer de próstata no Brasil, de 2023 a 2025, é de 71.730 – 67,86 casos novos a cada 100 mil homens. O risco de câncer aumenta “significativamente” a partir dos 50 anos, e 75% dos casos novos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. 

Apesar da idade ser o principal fator de risco, a doença também aparece em pessoas mais novas. Muitas vezes, está associada a fatores como trabalho noturno, exposição a metais e radiações. Histórico familiar e obesidade também são fatores de risco para o câncer de próstata. 

O cuidado com a saúde mental no enfrentamento ao câncer

Cuidado com saúde, alimentação saudável, prática de atividades físicas, evitar fumar e consumir álcool são algumas formas de se prevenir da doença. E, ainda no diagnóstico, a saúde mental deve estar no horizonte do paciente.

A psicóloga Heloene Ferreira, que atua na desde 2018 na enfermaria do setor de Urologia do HUPE, disse que desde a primeira abordagem é difícil manter algum diálogo, muitas das vezes por conta do preconceito e do machismo existentes na sociedade brasileira. Para esse homem, muitas vezes a ideia de masculinidade é atingida – é como se não ter mais a ejaculação impedisse sua sexualidade.

O cuidado com a saúde mental também é essencial durante o tratamento e depois da cirurgia, pois há uma série de questões que afetam o lado psicológico do paciente.  A importância do Novembro Azul é justamente alertar para esse câncer que atinge tantos homens. 

O que é a PEC do Plasma, que permite a comercialização do sangue humano, e por que ela é criticada

O que é a PEC do Plasma, que permite a comercialização do sangue humano, e por que ela é criticada

No Brasil, doação é voluntária; bancos de sangue sofrem com baixos estoques e falta de doadores

Por Nicole Mendes e Maria Eduarda Mariano

Campanha de doação de sangue do HUPE. Foto: Maria Eduarda Mariano

Em uma quarta-feira de novembro, debaixo de sol forte das 10 horas, o motorista de aplicativo Acival Santos, 51 anos, espera o irmão em frente ao banco de sangue do Hospital Pedro Ernesto. Os dois doam sangue desde jovens. Perguntado se doaria o sangue em troca de dinheiro, responde: “Salvar vidas não tem preço. A vida é muito preciosa.” E diz que, para ele, “doar sangue é uma questão de solidariedade”.

Esse não é o pensamento que prevalece na cabeça de muitos brasileiros, entre eles, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Ele é o autor da chamada PEC do Plasma, uma proposta de emenda constitucional que visa permitir a comercialização do plasma humano pelo setor privado. Além de permitir a venda do plasma por bancos de sangue particulares, a proposta também incluía uma permissão para que a iniciativa privada  realizasse a “coleta remunerada do plasma humano”, inserida pela senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB). Diante de críticas dos outros senadores, ela retirou o trecho, mas propõe outras compensações a serem aplicadas aos doadores.

Antes de entender a PEC, porém, é preciso entender o que é plasma. O plasma sanguíneo é a parte líquida do sangue, responsável por transportar nutrientes e gases para todo o corpo humano. Ele representa 55% do tecido sanguíneo e pode ser usado para tratar de traumas grave, de problemas na coagulação e para a criação de hemoderivados que são medicamentos feitos a partir do plasma.

O plasma recolhido por bancos de sangue privados e não utilizado em transfusões é enviado de forma gratuita ao SUS a fim de serem produzidos os hemoderivados. Esses medicamentos são feitos pela empresa estatal Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia). As demandas que a empresa não consegue atender são enviadas ao exterior para serem produzidas por empresas internacionais. 

Em 2010 foi iniciada a construção de um parque industrial em Goiana, PE, que vai servir para que o tratamento do sangue seja totalmente nacional. Porém, até agora a construção não chegou ao fim fazendo o país continuar dependente de outros países,  como por exemplo a Suíça.

Caso a PEC do Plasma seja aprovada, empresas privadas terão autorização para comercializarem o plasma – hoje enviado de forma gratuita ao SUS – além de permitir que concedam benefícios em troca das doações de sangue.

 

Flávia Bandeira, hematologista do HUPE. Foto: Maria Eduarda Mariano

Para a hematologista Flávia Bandeira, especialista em hemoterapia e profissional da área há quase trinta anos, chefe do banco de sangue do Hospital Pedro Ernesto, a PEC do Plasma, se for aprovada, é um retrocesso em relação à Lei do Sangue de 2001: “A Lei do Sangue coloca o sangue como estratégia de defesa e saúde do país,  que a doação não pode ser remunerada, e determina que o doador precisa ser voluntário. É a mesma coisa que preconiza a OMS”. 

A hematologista também afirma que a PEC traz o risco de reduzir a quantidade de doadores de sangue, e a proposta de realizar a “coleta remunerada” de sangue poderia afetar a qualidade dos estoques sanguíneos. “Corre o risco de ter um doador menos qualificado, porque essa pessoa vai estar indo doar pelo dinheiro e não necessariamente vai se preocupar se está bem de saúde e se seu sangue pode provocar um malefício.”

“Essa PEC, na minha opinião, visa muito mais em atender ao mercado do que a população e o Sistema  Único  de Saúde. Fortalecendo a nossa indústria, tínhamos como produzir todos os nossos hemoderivados”, afirma. 

Flávia conta que durante muito tempo também foi doadora de sangue até ser impedida de continuar devido a um problema de saúde. “Desde que eu comecei a faculdade de medicina, percebi que tinha muita gente que precisava de doação e que já havia dificuldade de conseguir doador”, conta.

Até hoje os bancos de sangue brasileiros sofrem com a falta de estoque.  No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, apenas 1,8% da população é doadora de sangue, proporção abaixo dos 2% recomendado pela OMS. E não tem sido suficiente para atender todo o país.  

A falta de doadores é um problema crônico e provoca desespero entre os profissionais da saúde, que precisam implorar para que a população vá aos hemocentros. Nas últimas semanas, o Hospital Pedro Ernesto avisou que os estoques do banco de sangue estão baixos e que está precisando de doadores. 

Na Semana Nacional de Doação de Sangue, celebrada de 20 a 25 de novembro, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) está recebendo doações no próprio hospital, na Boulevard Vinte Oito de Setembro, número 77. Para doar é preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50kg, estar descansado e alimentado e apresentar documento original com foto.