Em encontro do Y20, jovens cobram educação universal e redução das desigualdades

Em encontro do Y20, jovens cobram educação universal e redução das desigualdades

Juventudes de todo o globo se reuniram no Rio de Janeiro para definir propostas a serem levadas aos líderes mundiais no G20 em novembro

Por Everton Victor e Julia Lima

Cerimônia de encerramento da Cúpula do Y20 2024 no Galpão da Cidadania, Centro do Rio. Foto: Julia Lima

Jovens de todo o mundo se reuniram entre os dias 10 a 17 de agosto na Cúpula do Youth20 (Y20), no Rio de Janeiro, para discutir temas como reforma do sistema financeiro global, desigualdades, enfrentamento à pobreza e à fome, além das mudanças climáticas. A cidade do Rio abrigou o evento das Juventudes do G20, do qual participaram delegações das 19 maiores economias do mundo, da União Africana e da União Europeia, além de países convidados. Jovens de escolas públicas e projetos sociais puderam acompanhar algumas das reuniões durante a semana do Y20.

Com o Brasil na presidência do G20, o ponto central para a delegação brasileira foi apresentar necessidades e diferentes contextos das juventudes ao redor do mundo. Philippe Silva, chefe da delegação brasileira no Y20, detalhou para a Agenc algumas dessas propostas. Entre elas, a garantia de uma educação de qualidade universal, garantia de direitos para jovens que têm seus direitos violados, remodelagem da taxação de riquezas, pautas ambientais e um reconhecimento do território da favela como uma experiência de coletividade que pode ser levada para outros países. “As soluções para resolver os conflitos no mundo já existem, estão dentro das comunidades, das aldeias indígenas e dos quilombos. A sociedade civil é onde as políticas acontecem”.

O grupo de juventudes já existia no G7, que reúne as sete maiores economias do mundo, e a partir de 2010 tornou-se um dos grupos de engajamento do G20 Social com sociedade civil. Esses grupos se reúnem, discutem diferentes temas no contexto mundial e geram um Communiqué, um documento com as recomendações decididas em consenso e que será apresentado na reunião de líderes do G20.

Inclusão de jovens periféricos no debate

As desigualdades entre os jovens foram um tema recorrente no encontro do Rio. Embora a participação da juventude esteja crescendo nos debates públicos, como é o caso do Y20, parte da juventude continua sem participar de discussões em seu próprio país. Adolescentes e jovens somam hoje 1,8 bilhão de pessoas na faixa etária de 10 a 24 anos – um quarto da população mundial, de acordo com Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Maria Nascimento e Adriana Araújo, alunas do primeiro ano do ensino médio em escola pública são um exemplo disso. Elas contam que a experiência de estar em um espaço de discussão e participação dos jovens na elaboração de propostas e reflexões de tornar o mundo melhor é oportunidade que nunca tiveram antes.

Maria Nascimento e Adriana Araújo (da esquerda para a direita) estudantes de ensino médio em escola pública durante Y20. Foto: Letícia Santana

“É uma experiência nova, porque a gente nunca chegou a participar desse tipo de coisa. Não chega muita oportunidade assim para a gente, que é de escola pública”, afirma Adriana. A oportunidade, ou mesmo a falta dela, é um fator decisivo na participação do jovem na própria sociedade, apontou a OIT (Organização Internacional do Trabalho) em seu relatório divulgado este mês. Em 2023, segundo a OIT, 20,4% dos jovens em todo o mundo não estudam e nem trabalham. A perspectiva da OIT é diminuir esse percentual nos próximos anos, atingindo aproximadamente 12,8% em 2024 e 2025. O levantamento ressalta que a desigualdade no acesso à educação é uma das que mais dificultam o exercício efetivo da cidadania.

Encontro dos delegados nacionais e internacionais durante o último dia do Y20 Brasil. Foto: Julia Lima

Legado da delegação brasileira no Y20 para as demais delegações 

Shinan Yuanshinan, integrante da delegação chinesa no Y20, disse à Agenc que os debates explicitam a diversidade de ideias e países, que podem juntos influenciar decisões globais. Apesar de nenhum grupo de engajamento do G20 ter o poder de implementar ações, eles podem pressionar e contribuir para as recomendações se tornarem políticas públicas em seus países e em todo o globo. Yuanshinan também destacou a diversidade cultural do Brasil e a receptividade do povo brasileiro, no acolhimento dele e dos demais jovens.

Curtleigh Alaat, chefe da delegação sul africana no Y20 Brasil. Foto: Everton Victor

Curtleigh Alaat, representante da delegação sul-africana, afirmou que a principal experiência que ele levará da reunião brasileira para a de seu país, ano que vem, é a habilidade dos brasileiros de sempre procurar fazer o melhor para si mesmos e para quem é recebido no país. Para ele, isso cria a vontade de visitar o país como turista, e não só como delegação. Alaat disse que no evento do G20 no ano que vem, a ser realizado na África do Sul, onde vive, gostaria de replicar tanto a receptividade que a delegação brasileira teve presidindo o grupo.

O Y20 ainda não divulgou seu Communiqué. O que se espera é que as propostas dos jovens sejam entregues à Trilha de Sherpas (lideranças do G20) e de Finanças para pressionar a incorporação delas à Declaração dos Líderes dos países integrantes do G20. 

As propostas, além de incorporar outras temáticas, estarão alinhadas aos três eixos propostos pela presidência brasileira no G20. São eles o combate à fome, pobreza e desigualdade; o desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável e também a reforma da governança internacional. 

Para Ronald Sorriso, secretário nacional de Juventude, o legado do Brasil na presidência do G20 é a participação social direta com jovens de escolas públicas, movimentos sociais e outros que estiveram presentes durante a Cúpula do Y20. O grupo também realizou 30 diálogos regionais em todo o Brasil para trazer as demandas e reunir os anseios das múltiplas juventudes brasileiras. “Quando o jovem coloca a sua opinião, ele não está pensando na riqueza que vai ser aferida para ele e para seu país amanhã, ele quer saber se essa riqueza será sustentável ao longo do tempo”.

De acordo com Sorriso, a marca que o Brasil quer deixar no G20 vai muito além deste ano. “Nós queremos que no ano que vem, na África do Sul, e nos anos seguintes, nós tenhamos a permanência do G20 Social (criado pelo Brasil). Esse é o grande legado que o país quis passar”, afirma.