Letra Jovem: projeto da Uerj defende o direito à educação de pessoas em situação de vulnerabilidade social
Coordenadora do Letra Jovem explica como funciona o programa
Por: Manoela Oliveira
Projeto Letra Jovem / Reprodução: Márcia Lisbôa
O Letra Jovem atua em duas localidades: no Tribunal de Justiça, localizado no Centro do Rio de Janeiro, e no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), em São Gonçalo. O programa atende três grupos no TJRJ, o primeiro é o “Justiça pelos Jovens”. De acordo com Lisbôa, o grupo ajuda pessoas de 16 a 24 anos que tiveram algum conflito com a lei quando eram menores de idade. “Os jovens podem já ter cumprido a medida ou estar cumprindo essa medida”, completa.
O segundo grupo é o “Começar de Novo”, que atende pessoas que passaram pelo sistema carcerário e estão buscando uma oportunidade de ressocialização na sociedade. Segundo Cauã Bandeira, bolsista do Letra Jovem, o grupo alvo costuma ser composto por pessoas mais velhas, com idades próximas de 40 anos. O terceiro é o “Inclusão Legal”, que oferece aulas para pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social. “A gente trabalha com mulheres que sofreram algum tipo de violência ou pessoas da comunidade LGBTQIA+”, explica a coordenadora.
Para Cauã, a existência de diferentes grupos em uma mesma sala de aula possibilita a aparição de pontos de vista distintos, porque os alunos “têm opiniões que divergem bastante”. Nivea Santos, bolsista do Letra Jovem, afirma que: “os mais velhos compartilham experiência com os mais novos”.
O Ciep permite que crianças do primeiro ao quinto ano participem de oficinas de alfabetização duas vezes por semana. A colaboração entre a escola e o projeto Letra Jovem iniciou em 2016, contribuindo no letramento de jovens com a ajuda de uma equipe de professores e de bolsistas da Uerj.
Etapas do Letra Jovem
Bolsistas do Letra Jovem / Reprodução: Márcia Lisbôa
Cauã contou sobre a metodologia de três etapas usada no Letra Jovem e a importância da participação dos alunos, pois o tema de cada aula é escolhido por meio de uma votação. A primeira etapa é o “Mergulho no tema”, quando essa eleição ocorre e o gênero literário é selecionado. O tema deste ano é preconceito e a contribuição dos alunos é essencial, porque “existe gente de diferentes competências linguísticas”, de acordo com Lisbôa. Nesse primeiro momento, são usados vídeos, imagens, textos curtos e poemas para facilitar o aprendizado de todos.
A segunda etapa é o “Aprofundamento do gênero”, na qual ocorre o ensino de um gênero literário e da estruturação de um texto. Cauã compartilhou que, neste ano, os estudantes escolheram aprender redação. Por último, a “Emergência de ideias” é a etapa na qual os alunos escrevem o texto e recebem as correções e as sinalizações dos bolsistas. Segundo Cauã, o Letra Jovem pretende “fugir do modelo tradicional de aprendizagem”, promovendo o pensamento crítico e a reflexão entre os estudantes.
Importância do projeto
Para Lisbôa, o Letra Jovem é “um ativismo em defesa do direito à educação de pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. Porque, os alunos aprendem a respeitar a opinião do outro e a expor seus argumentos”, afirma a coordenadora. De acordo com ela, a metodologia do projeto foi pensada com base nas ideias de Paulo Freire, mas foi somente participando do programa que ela aprendeu a ser uma “freireana de verdade”. Camila Ferreira, bolsista do Letra Jovem, disse que o projeto ajuda os estudantes a desenvolverem o senso crítico e, consequentemente, o conhecimento.
Uma pesquisa do Ministério da Justiça comprova que cerca de 80% dos presos voltam a cometer crimes quando são liberados. Porém, a taxa de não reincidência entre as pessoas que passaram pelo Letra Jovem é próxima de 100%, revela a coordenadora. Após terminarem as aulas, os alunos ainda são acompanhados pelo TJRJ.
Segundo Camila, sua maior dificuldade é aplicar o conteúdo para os alunos de maneira dinâmica durante o tempo curto das aulas. Cauã concorda que caso aumentasse o tempo das oficinas de redação e de português, seria possível proporcionar uma educação mais aprofundada aos alunos. Para Nivea, o TJRJ deveria ser flexível com as faltas dos estudantes, porque muitas pessoas moram em áreas distantes do Centro, onde fica localizado o Tribunal de Justiça. Apesar disso, de acordo com ela, os alunos querem participar das oficinas, pois “a educação é algo que ninguém pode tirar”