Orkut, a rede social sucesso da internet no Brasil nos anos 2000, volta em breve, garante criador Orkut Buyukkokten na Rio Innovation Week

Orkut, a rede social sucesso da internet no Brasil nos anos 2000, volta em breve, garante criador Orkut Buyukkokten na Rio Innovation Week

 

Revelação foi no evento de tecnologia e inovação Rio Innovation Week, mas sem data para retorno

Por: Vinícius Rodrigues

Fernando Souza/RIW/Divulgação

Anotar o e-mail de alguém para depois adicionar como amigo, caprichar no texto do perfil, tirar aquela foto que você nem sabia que era uma “selfie” para postar na sua galeria, mandar um “scrap”, entrar naquela comunidade que você adorava e ler os depoimentos dos seus amigos, tudo isso era possível no pai das redes sociais: o Orkut, sucesso da internet nos anos 2000, e que pode voltar em breve, alerta o seu criador, Orkut Buyukkokten.

Foi no evento de tecnologia e inovação Rio Innovation Week, que ocorreu de 13 a 16 de agosto de 2024, no Píer Mauá, zona central do Rio de Janeiro, que o dono de uma das redes sociais mais nostálgicas de todos os tempos, revelou que pretende trazê-la de volta em breve, mas sem data para o projeto acontecer.

“As redes sociais se transformaram em mídia social. Em vez de conectar pessoas, criar comunidades, é sobre profissionais de marketing, corporações e influenciadores. E como todo mundo, eu adoraria que o Orkut voltasse em breve”, disse o fundador da rede, ao G1, da Globo.com.

Já para o professor da Faculdade de Comunicação Social (FCS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Vinicius Andrade Pereira, a volta da rede, apostando no sucesso e nostalgia do passado não garante sua promoção nos dias atuais:

“Não é só por conta da questão da familiaridade, do grupo que você já se relaciona, mas também pela facilidade que você tem de manuseio da tecnologia. Pois, quando você usa um aplicativo, uma plataforma como o Instagram, Facebook, ou mesmo o YouTube, você já sabe os recursos, você sabe onde estão as ferramentas. Isso é uma relação cognitiva. E as perceptivas que se tem com a ferramenta que faz com que você fique acomodado, de uma maneira geral. E essas são as dificuldades que as pessoas têm em abraçar uma nova tecnologia, uma certa acomodação cognitiva e sensorial, um certo conforto”.

Orkut foi sucesso no Brasil nos anos 2000

Nos meados dos anos 2000, em janeiro de 2004, começava a história da rede social pioneira no Brasil, mas só no ano seguinte uma versão em português do nosso país chegaria ao site amado pelos brasileiros.

O nome Orkut vem do próprio desenvolvedor chefe, o turco Orkut Buyukkokten, que criou a rede social em parceria com a empresa de tecnologia norte-americana Google Inc.

A rede social foi um sucesso na internet no Brasil, que chegou a ter mais de 29 milhões de usuários, estimativa de agosto de 2011. Em seguida, a Índia dominava o pódio com a maioria dos usuários cadastrados, e em terceiro lugar, os Estados Unidos.

O Orkut deixou um legado de nostalgia, que ia desde adicionar amigos, tirar uma foto bacana para colocar no perfil, deixar aquele “textão” afetivo, os famosos “depoimentos” para amigos, familiares, ou aquela paquera. Mas bom mesmo eram as famosas “comunidades”, com seus fóruns de discussão, e até enquetes.

E uma das comunidades de maior sucesso do Orkut, que mais ilustrava um dos principais dilemas da vida de qualquer um: “Eu odeio acordar cedo”, que contou com mais de 6 milhões de membros, e tinha a foto de perfil do personagem de desenho animado Garfield deitado, enrolado no cobertor e parando um despertador. Nada mais ilustrativo, não é mesmo?

Para o técnico em edificações Jorge Rodrigues, que era adolescente no começo do sucesso do Orkut, mandar scraps e depoimentos para os amigos era divertido: “Entre as boas recordações, eu lembro dos depoimentos sobre as outras pessoas, do que você achava delas, dos scraps também, e das minhas fotos que foram perdidas quando foi desativado o Orkut”.

O Orkut chegou ao fim dez anos depois de sua criação: em setembro de 2014. Na época, outra rede social dominava o número de usuários: o Facebook.

Essa matéria matou saudades, não é mesmo? Agora é só aguardar a nova versão, e aguardemos que seja tão boa e duradoura quanto a anterior.

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Proposta é que Data 20 ajude no esforço global para regulamentar mundo digital 

Por Everton Victor e Julia Lima

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O T20, equipe de trabalho do G20 com pesquisadores e think tanks, sugeriu em seu documento final a criação de um grupo para tratar de cooperação e segurança de dados. O Data20 (D20) trataria de temas como regulação e trabalho com dados, Inteligência Artificial e justiça climática, armazenando os dados das nações, e daria suporte para os outros grupos de trabalho.  

Proposta de criação do D20. (Reprodução: Communiqué do T20)

Num momento de apagões cibernéticos, vazamento de dados e avanço da Inteligência Artificial, a ideia da criação do grupo surgiu dos recentes desafios com a regulação de uso de dados pelas plataformas em âmbito brasileiro e mundial. Debates sobre o limite do uso da Inteligência Artificial e os impactos de algoritmos discriminatórios permeiam as discussões de como os governos devem intervir. Por isso, o grupo também teria o papel de promover discussões que reduzam os danos causados por essas tecnologias, imponham limites a elas e promovam penas para quem os desrespeitasse.

A criação do D20 foi uma das propostas surgidas nos encontros dos pesquisadores do T20, que aconteceram ao longo do ano, e levaram a criação do Communiqué, documento final com as 10 principais sugestões para as 20 maiores economias do mundo. O documento foi apresentado ao público nos dias 2 e 3 de julho durante o The T20 Brasil Midterm Conference.

O D20 também seria responsável por fiscalizar a implicação de cada política e dado criados pelos grupos de engajamento que compõem o G20. Denise Direito, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), afirma que ainda não há definição de como essa atividade aconteceria, já que o Communiqué apresenta apenas sugestões. O funcionamento seria definido de acordo com a evolução dos trabalhos do grupo.

Para Luciana Mendes, presidente do Ipea, a criação de uma força global sobre dados pode ser um aliado no debate de como os países devem lidar com a Inteligência Artificial. Ela destaca que a criação deste mecanismo pode trazer o debate da importância e um esforço de como regular as redes para todo o globo, aliado a outras frentes que o D20 possibilitaria. “Aprimora a cooperação de dados sobre temas transversais”, afirma.

No Brasil, o debate sobre a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) está em tramitação no Senado Federal. O Projeto de Lei (PL) 2338/23 reúne uma série de propostas de como regulamentar a IA no Brasil. Países da União Europeia, a Argentina e outras nações integrantes do G20 já regulamentaram ou estudam regulamentar a internet. Denise destaca que a criação do D20 pode ajudar os países do bloco a definirem consensos mínimos de qual seria a base de regulação sobre o tema.

Sobre o T20

O Ipea, junto com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais, compõem o comitê organizador do T20.  Apesar da predominância brasileira no grupo, Luciana reforça a diversidade de nos debates, reuniões e elaboração do grupo de engajamento. Ao todo 170 think tanks nacionais e internacionais com representantes de 33 países participam do T20.

Presidente do Ipea na abertura da reunião do T20. (Reprodução: Julia Lima)

A gestão brasileira segue na presidência do G20 até novembro. No caso do  grupo de engajamento, após a entrega do Communiqué, o foco é “avançar em estratégias de implementação das recomendações”, de acordo com a presidente do Ipea. Os líderes das 20 maiores economias do mundo devem se reunir nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, capital do G20 nesta edição.

Diretoria do Flamengo não faz tabelinha com a torcida

Diretoria do Flamengo não faz tabelinha com a torcida

Jogo amistoso, no Maracanã, para arrecadar doações aos gaúchos tem apoio do Flamengo, que votara contra a paralisação do Brasileirão após enchentes no RS.

Por Livia Bronzato

 

O ADIAMENTO

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na quarta-feira (15), anuncia que as rodadas sete e oito da série A do Campeonato Brasileiro foram adiadas. A Federação Gaúcha de Futebol enviou uma solicitação oficial à CBF para que houvesse um intervalo na competição, a pedido de Juventude, Internacional e Grêmio, em razão das graves enchentes no Rio Grande do Sul. A decisão foi tomada a partir de uma consulta aos 20 clubes da série A, 15 deles se manifestaram a favor da paralisação. Foram eles: Atlético-GO, Atlético-MG, Athletico-PR, Bahia, Botafogo, Criciúma, Cruzeiro, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Grêmio, Internacional, Juventude, Vasco e Vitória.

Foto: Anselmo Cunha/AFP

Segundo a CBF, apenas Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Red Bull Bragantino e São Paulo não comentaram oficialmente sobre o assunto. Ao UOL, no entanto, o Bragantino afirmou apoiar a decisão e ter manifestado à entidade sua posição, surpreendendo-se por não ter sido adicionado à lista dos favoráveis. O Corinthians emitiu comunicado suspendendo a venda de ingressos para o jogo de domingo (19) e o São Paulo afirmou que aceitará a decisão da CBF. Flamengo e Palmeiras foram os únicos times que não se pronunciaram. O público não respondeu bem ao posicionamento desses clubes.

“FUTEBOL SOLIDÁRIO”

Neste domingo (26), em iniciativa da Rede Globo, com apoio da CBF, da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Flamengo, o estádio Maracanã será palco de um jogo beneficente, para a arrecadação de doações destinadas às vítimas dos desastres no RS. O jogo contará com artistas e importantes atletas do futebol, como Cafu, Ronaldinho, Ludmilla, Thiaguinho, Diego Ribas, Petkovic e outros. O montante arrecadado com a venda de ingressos será doado para a Central Única das Favelas (Cufa), instituição que promove o esporte entre moradores de favelas. E a receita de comercialização dos patrocínios da transmissão do “Futebol Solidário” será doado por projetos da plataforma Para Quem Doar.

UMA ANÁLISE DE GESTÃO

Ao Laboratório de Editoração Eletrônica, Ricardo Benevides, graduado em Relações Públicas e professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, comenta sobre as posições da diretoria do Flamengo envolvendo as tragédias do RS. Benevides acredita que a decisão da diretoria do clube demonstra insensibilidade com as vítimas e, também, com a esportividade, já que os times do Sul não estão em condições normais de funcionamento, causando uma desigualdade dentro do Campeonato Brasileiro. É um posicionamento que espelha a despreocupação com condições verdadeiramente justas dentro do esporte.

O professor diz ainda que parte da torcida separa o clube Flamengo e a direção do presidente Rodolfo Landim, por conta de sucessivas decisões da diretoria que desagradam a essa parcela de torcedores. A distância drástica entre a direção e os torcedores aumenta com as demonstrações de que não há a defesa de princípios de esportividade dentro da gestão.

“A visão reativa em relação a essa insensibilidade do Flamengo não pode ter nenhum outro caminho a não ser o reposicionamento do conceito Flamengo em torno de princípios humanos e na defesa do jogo justo, e isso não é o que o Flamengo demonstra hoje. Então, estamos falando, na verdade, não de imagem, mas do Flamengo repensar os seus próprios posicionamentos em torno de seus princípios. A forma como eles são afirmados, a maneira como o Flamengo constrói o conceito sobre si é altamente dependente de outra visão de gestão. A gestão pode ser muito bem-sucedida esportivamente, contratar bem e ganhar títulos, mas ainda sim ser alinhada à ideias absolutamente nefastas.”, diz Ricardo.

Agenda e Notas

Agenda e Notas

Por : Samira Santos

MAIO:

1. 09/5, 8h às 17h30 – II Seminário do Ambulatório Identidade – Transdiversidade

⬤ O Ambulatório Identidade – Transdiversidade da PPC e do Hupe da Uerj realiza seu II Seminário nos dias 8 e 9 de maio, com o tema “A integralidade do cuidado em Saúde da população trans no SUS”. Local: auditório 11, bloco F, campus Maracanã. Inscrições gratuitas através de formulário eletrônico. Doações de alimentos serão recebidas.

2. 09/5, 19h às 21h – Espetáculo ‘Mães do Samba’ estreia no Teatro Noel Rosa

⬤ O Coral “O Canto das Lavadeiras” apresenta o espetáculo “Mães do Samba” nos dias 9 a 11 de maio, às 19h, no Teatro Noel Rosa, campus Maracanã. Direção geral de Analimar Ventapane. Ingressos disponíveis online.

3. 15/5, 10h às 12h – Conferência sobre Covid longa

⬤ O IMS da Uerj recebe Ilana Löwy para discutir “Covid longa”. A conferência abordará os distúrbios funcionais pós-Covid. O evento terá tradução simultânea e será transmitido ao vivo pelo YouTube.

4. 16/5, 10h30 às 16h – Evento de Saúde Mental

⬤ O Pebit da Uerj e o Cetreina promovem um evento sobre saúde mental e emocional, com palestra e exposição de arte. Não é necessária inscrição prévia e serão emitidos certificados. Será realizado no auditório 111, 11° andar, campus Maracanã. 

5. 16/5, 19h às 21h – Show de reggae no Teatro Noel Rosa

⬤ A Banda Blessed se apresenta no Teatro Noel Rosa da Uerj. Os ingressos estão disponíveis online e haverá intérprete de libras.

6. 17/5, 15h às 16h – Musical “A pequena vendedora de fósforos” no Teatrão

⬤ A Divisão de Teatro da Uerj apresenta o musical “A pequena vendedora de fósforos”, adaptado do conto de Hans Christian Andersen. As apresentações ocorrem nos dias 17, 18, 24 e 25 de maio, no Teatro Odylo Costa, filho, campus Maracanã. Organizado pelo projeto Uerj em Casa e pelo Cptec, as sessões são às 15h e 16h. O espetáculo conta a história de uma menina pobre que vende fósforos nas ruas para sobreviver e suas visões misteriosas. Os ingressos estão disponíveis online.

7. 23/5, 9h às 20h – Ajuda com Imposto de Renda

⬤ O projeto “IR na Mangueira e arredores” auxilia moradores da região a preencher a declaração do Imposto de Renda. O projeto oferece auxílio presencial em um único dia próximo ao prazo final da declaração, além de acesso a vídeos e outros conteúdos nas redes sociais. Os serviços ocorrem em três horários, das 9h às 12h, das 13h às 16h e das 17h às 20h, sem necessidade de agendamento, mas sujeitos a vagas limitadas. Os documentos necessários incluem identidade, CPF, cópia da declaração do ano anterior, comprovante de residência, rendimentos e despesas de saúde e educação do exercício de 2023.

8. 24/5, 19h às 21h – Lançamento do disco ‘Momento’

⬤ Rafael José lança seu disco “Momento” no Teatro Noel Rosa da Uerj. Os ingressos estão disponíveis online e haverá intérprete de libras.

JUNHO:

1. 06/6, 9h30 às 17h – Seminário Internacional do CLAM

⬤ O Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos promove o seminário internacional, discutindo a trajetória e perspectivas futuras dos estudos sobre gênero e sexualidade. O evento ocorrerá no auditório do IMS, localizado na sala 6.012, 6º andar do campus Maracanã. A programação completa está acessível no site do seminário. O evento é de acesso público e será transmitido ao vivo no YouTube.

Ganhadores do Prêmio Nobel marcam presença na Uerj

Ganhadores do Prêmio Nobel marcam presença na Uerj

Palestras promovem diálogos entre cientistas internacionais e nacionais 

Por: Manoela Oliveira e Maria Eduarda Galdino

Da esquerda para a direita: May-Britt Moser, Luiz Davidovich, Isaac Diaz, Heloísa Paterno, Lúcia Del Valle e Adam Smith / Reprodução: Manoela Oliveira
 
 
 

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) reuniu três ganhadores do Prêmio Nobel para debaterem sobre a importância da ciência, nesta última segunda-feira (15). O evento aconteceu pela primeira vez no Brasil, e trouxe premiados como Serge Haroche (ganhador do Prêmio Nobel de Física),  David MacMillan (ganhador do Prêmio Nobel de Química) e May-Britt Moser (ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina). O encontro foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Nobel Prize Outreach. 

A palestra “As responsabilidades dos cientistas” discutiu o papel dos cientistas no incentivo à ciência e na construção de um futuro melhor, no Teatro Odylo Costa, filho. A mesa contou com a presença de May-Britt, de Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC e de Adam Smith, moderador do debate. Alunos de universidades da América Latina foram convidados para participarem do debate. Lúcia Del Valle, da Universidade do Chile, Isaac Diaz, do Instituto de Tecnologia da Costa Rica e Heloísa Paterno, do Instituto Federal Catarinense, relataram suas experiências como jovens cientistas.

O evento iniciou-se às 10h00 e terminou às 16h00, promovendo uma discussão sobre a importância dos cientistas na sociedade. A cobertura em inglês e em português do evento pode ser acessada pelo Youtube do Nobel Prize.

As responsabilidades dos cientistas

Luiz Davidovich explicou que a obrigação dos cientistas é buscar conhecimento, visando desenvolver um mundo melhor. Segundo o físico: “A ciência deveria ter como preocupação principal a curiosidade e a paixão pela mesma”. Ele ressaltou a pressão da nova geração de cientistas com o “sistema recompensatório”, que consiste na extrema vontade dos pesquisadores de serem reconhecidos pelas suas pesquisas acadêmicas. Porém, de acordo com Davidovich, o trabalho dos cientistas de desvendar os mistérios do universo já é algo impressionante, não é necessária a procura por recompensas acadêmicas.

Davidovich disse que a outra responsabilidade dos cientistas é seguir regras éticas, para a ciência não se tornar algo prejudicial à humanidade. Porque, segundo ele: “Geralmente, aqueles que têm mais poderes no país ou no mundo, vão ter mais poder na gestão da tecnologia”. O físico enfatizou que a ciência é um mecanismo para romper barreiras globais, por isso, ela deve ser usada de maneira correta pelos cientistas. A pesquisadora May-Britt acrescentou que em situações de guerra, como no conflito entre Ucrânia e Rússia, os pesquisadores precisam se ajudar para o bem da sociedade.

May-Britt levantou um questionamento sobre o limite do envolvimento dos cientistas nas áreas políticas.  Ela afirmou que: “Ao receber o Prêmio Nobel, as pessoas me tratam, como os outros laureados, como uma pessoa que pode ter influências políticas”. A neurocientista enfatizou que é necessário encontrar um equilíbrio na atuação desses profissionais nas questões públicas, para não ocorrer uma intervenção extrema e se tornar algo perigoso.  Em março de 2024, houve um caso de envolvimento político dos ganhadores do Prêmio Nobel, em que 39 laureados se manifestaram contra o governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia, em carta aberta. 

Lúcia Del Valle perguntou a May-Britt como ela lida com profissionais de diferentes áreas nos laboratórios de pesquisa. Como exemplo, Lúcia citou os profissionais de comunicação que ajudam na divulgação dos projetos do laboratório para a população. May-Britt respondeu que a comunicação é fundamental e os cientistas do laboratório sempre procuram estar em constante contato com os comunicadores. A neurocientista ressaltou que não tem medo de receber outros profissionais que saibam mais que ela em alguma área, seja ela científica ou qualquer outra. 

Isaac acrescentou ao que foi dito por May-Britt em relação à comunicação. Ele afirmou que a comunicação é uma responsabilidade pública, porque as instituições usufruem do dinheiro do Estado, portanto existe uma responsabilidade em compartilhar as pesquisas e o desenvolvimento com a sociedade. 

Luiz Davidovich complementou a fala de Isaac sobre a necessidade de se aprender a ouvir as pessoas de diferentes culturas em nossa volta, e não somente compartilhar o seu ponto de vista de pesquisador. Davidovich disse que o Brasil e outros países da América Latina carregam consigo uma diversidade, então os cientistas devem ouvir a perspectiva e conhecimento de cada indivíduo. Como exemplo, ele citou que a ABC possui uma categoria chamada de “colaboradores”, os quais são pessoas que não são cientistas, mas que fizeram diversas contribuições para o avanço científico. O físico citou  Davi Kopenawa, xamã da tribo Yanomami, protagonista de um livro transcrito pelo antropólogo francês Bruce Albert chamado “A queda do céu”. A obra é um relato sobre a história de vida de Davi e suas crenças cosmoecológicas. Luiz acrescentou: “Além da ciência, existe o conhecimento, e conhecimento é diferente de ciência. E nós devemos ouvir o conhecimento, porque o conhecimento pode ser a entrada para a ciência”.

BRASIL X CIÊNCIA 

Apesar de o Brasil ter um certo desenvolvimento no âmbito científico, muitos cientistas brasileiros se sentem desvalorizados no país, pois as instituições de educação e pesquisa científica não recebem apoio suficiente das autoridades públicas. Os cortes nas bolsas, a falta de infraestrutura e a desvalorização do Estado são constantes. Segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, nos últimos anos, 6,7 mil cientistas deixaram o país para poderem iniciar ou concluir suas pesquisas no exterior. 

A falta de pesquisas feitas por brasileiros têm consequências no cenário nacional. O prêmio Nobel é um evento que acontece há 120 anos, desde 1901, e até hoje nenhum brasileiro teve a oportunidade de ser laureado, seja ele nas categorias de Medicina, Literatura, Economia, Paz, Física e Química. 

Diante dessa crise nacional, o governo Lula tem feito esforços para o resgate do avanço científico no país. O programa “Conhecimento Brasil” está sendo lançado visando repatriar cientistas brasileiros que atualmente residem no exterior e tenham concluído o mestrado e doutorado, ou até mesmo cientistas brasileiros que não possuem nenhum tipo de vínculo com alguma instituição científica no país para que eles possam desenvolver suas pesquisas no Brasil. O governo planeja investir 1 bilhão de reais para repatriar mil cientistas brasileiros e combater o que eles chamam de “fuga de cérebros”, termo usado para pesquisadores que se formam em território brasileiro e saem do país. 

O programa irá pagar uma bolsa de R$13 mil reais aos cientistas que ficarem em instituições de pesquisas ou universidades brasileiras, mais uma verba de 400 mil reais para que novos institutos de pesquisa sejam construídos.  

Apesar de o programa “Conhecimento Brasil” ter um plano progressista, ainda surgem inúmeras dúvidas em relação a alguns aspectos. Nas redes sociais, alguns cientistas questionam o programa, alegando que o governo deveria pensar nos cientistas que continuam no país e estão tendo dificuldades devido à desvalorização da profissão.  Segundo relatório de Elsevier-Bolsi, o Brasil registrou uma queda de 7,4% de produção científica em 2022, em comparação com o ano anterior. 

Comentário de um usuário do X na postagem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) / (Reprodução: X)

Vencedores do Nobel alertam sobre fake news e discutem como aproximar ciência do público

Vencedores do Nobel alertam sobre fake news e discutem como aproximar ciência do público

Evento na Uerj reuniu três laureados com o prêmio para diálogo com comunidade acadêmica

Por Everton Victor

Jovens cientistas conversam com vencedora do Nobel em evento na Uerj – Foto: Letícia Santana

Combater a desinformação e aproximar a ciência do público, especialmente dos jovens. Para três vencedores do prêmio Nobel  que visitaram esta semana a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), estes são alguns dos desafios da ciência numa sociedade digital.  No evento, organizado pela universidade em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), os cientistas David Mac Millan, May-Britt Moser e Sérgio Haroche conversaram sobre ciência e o desafio de torná-la mais inclusiva. Foi a primeira vez que o evento Nobel Prize Dialogue passou por uma universidade da América Latina. As palestras aconteceram na última segunda-feira (15), no teatro Odylo Costa, filho, no campus Maracanã da Uerj.

 

David MacMilllan: cientista alertou sobre risco da desinformação – Foto: Transmissão Rádio Uerj
 
 
 

O laureado com Nobel de Química de 2011, David MacMillan, ressaltou como driblar não só os desafios apresentados durante o processo científico, mas também conviver com eles na era digital. Em sua perspectiva, o fanatismo religioso é um exemplo disso quando vai além da crença religiosa para defender teorias conspiratórias sem comprovação. “Apesar do sucesso da ciência, cresce a desconfiança da comunidade científica. As fakes news nas redes sociais atacam a ciência, fazendo com que grupo de indivíduos ataquem a ciência”, afirmou.

May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014, reforçou a importância dos cientistas se aproximarem da juventude que sonha em fazer ciência e não tem oportunidade. “A gente precisa buscar talentos em todas as todas as partes e não só um grupo exclusivo”, ressaltou a cientista. O necessário diálogo entre a ciência e a oportunidade também  foi enfatizado por Sergio Haroche, Nobel em física de 2011, como o caminho para uma ciência ainda mais forte, mais ampla e próxima das pessoas. 

Durante todo o dia, os laureados participaram de debates com outros cientistas, além de professores, técnicos e estudantes. Eles enfatizaram a importância de a ciência se expandir para outros espaços, destacando que não basta só falar sobre um mundo que preze pela ciência, mas que é preciso incluir na prática esse discurso. Para os três premiados, só existe uma forma disso acontecer: simplificar a linguagem científica e aproximar o público do processo científico. 

Realizado das 10h às 16h, o evento do “Criando nosso futuro junto com a ciência” foi ministrado em inglês, com tradução simultânea para os presentes no teatro e nas redes sociais. No dia 17, os premiados com o Nobel realizaram evento semelhante na USP. 

Exposição “Esqueleto: algo de concreto” busca resgatar memórias de comunidade

Exposição "Esqueleto: algo de concreto" busca resgatar memórias de comunidade

Por: Vinícus Feliciano

Cerimônia de abertura da exposição / Foto: Vinícius Feliciano



A história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) é marcada pela expulsão de diversas famílias da Favela do Esqueleto, anteriormente abrigada no terreno que, hoje, pertence à Universidade. 

A mostra em cartaz nas galerias de arte da Uerj, Candido Portinari e Gustavo Schnoor, “Esqueleto: algo de concreto” tenta divulgar a história dessas famílias por meio da arte de 43 artistas de gerações diferentes, mas com a ancestralidade marcada pela comunidade.

A mostra que conta com a curadoria de Alexandre Sá, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro, professores do Instituto de Artes da Uerj (Iart/Uerj), e André Carvalho, vice-diretor da Escola de Desenho Industrial da Uerj (Esdi/Uerj), busca apresentar trabalhos de artistas diversos, nomes como Carlos Vergara, Helena Trindade e Leila Danziger estão presentes. 

A festa de inauguração ocorreu no dia 14 de março às 16 horas na Galeria Candido Portinari. A Reitora da Universidade, Gulnar Azevedo, comandou a cerimônia, que contou, também, com os curadores e alguns dos artistas.

Com entrada gratuita, a exposição está em cartaz de 15 de março até 9 de maio nas galerias Candido Portinari (próxima ao portão 5) e Gustavo Schnoor (interior da Coart), e o horário de visitação é das 10h às 19h, de segunda a sexta. Além das obras, também serão oferecidas diversas oficinas e cursos seguindo a temática do evento, confira a programação. Na entrada, é possível retirar um panfleto com os créditos da exposição e deixar sua assinatura para marcar presença.  

Favela do Esqueleto

Localizada onde, hoje, é a Uerj, a Favela do Esqueleto foi uma comunidade existente entre as décadas de 1930 e 1960 no terreno que seria para a construção do Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil, entretanto, como as obras foram abandonadas na década de 1930, inicia-se a ocupação do edifício.

Recenseamento na Favela do Esqueleto / Foto: Arquivo geral da cidade do Rio de Janeiro



A inauguração do Maracanã, em 1950, fomentou o aumento do volume de moradores da comunidade que, no início, construíram barracos em volta do prédio, mas, logo, com a construção de diversos tipos de moradia, a favela tornou-se uma das maiores comunidades da cidade. 

A remoção da Favela foi consequência da política de remoções implantada pelo Estado da Guanabara durante o governo militar e com apoio dos Estados Unidos, nos anos 1960. A ação consistiu na transferência, à força, dos moradores para conjuntos habitacionais em áreas longínquas do centro da cidade, a maior parte foi transferida para a Vila Kennedy, em Bangu. Já em 1969, começou a ser construído no terreno o campus da Universidade do Estado da Guanabara. A construção foi finalizada e inaugurada em 1976 com outro nome, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

 
 

Falta de regulamentação das redes favorece ataques à democracia, alerta Muniz Sodré

Falta de regulamentação das redes favorece ataques à democracia, alerta Muniz Sodré

Professor emérito da UFRJ discutiu ganhos e riscos da sociedade digital em aula inaugural na FCS

Por: Everton Victor

Muniz Sodré / Reprodução: Gov.br


Num ano com mais de 70 eleições pelo mundo, um alerta: as redes sociais potencializam a ausência de aprofundamento histórico, e isso beneficia políticos de extrema direita. O aviso foi feito pelo professor emérito da UFRJ Muniz Sodré na aula inaugural da aula inaugural da Faculdade de Comunicação Social (FCS) da Uerj, no último dia 21 de março.

Baiano, candomblecista, jornalista, formado em direito, sociólogo, capoeirista, Muniz Sodré é, aos 82 anos, um dos principais pensadores da comunicação no Brasil. Dono de uma obra múltipla, escreveu livros obrigatórios para sucessivas gerações, como A Comunicação do Grotesco e O Monopólio da Fala. Seus penúltimo livro, A Sociedade Incivil (2021), analisa o caminho pelo qual a cultura do algoritmo levou a uma sociedade incivilizada, que rejeita cidadania, diferenças e pensamento crítico para  privilegiar o desmonte da política. 

Na análise de Muniz, a anarquia da internet não é uma distopia ou um desvio, mas sim um status quo próprio do ambiente digital. “Nenhuma cultura resiste à sua digitalização”, afirmou, destacando que o ambiente digital se retroalimenta dessas ruínas e da ausência de história. Para ele, nas redes nada acontece como um caso isolado e nada acontece como exceção à estrutura – tudo está previsto. E a falta de regulamentação sobre o que é ou não permitido nas redes torna ainda mais corriqueiros os ataques à democracia.

Segundo o professor, a estrutura das redes sociais serve para beneficiar políticos de extrema direita. “A tecnologia se ausenta de História”, aponta. Na sua perspectiva, ao invés de um debate de ideias, muitas vezes essas redes privilegiam ataques preconceituosos, ideias supremacistas e suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral. Donald Trump, nos Estados Unidos, Javier Milei, na Argentina, Jair Bolsonaro, no Brasil, e Recep Erdogan, na Turquia, são apenas alguns exemplos que “surfaram” nessa ausência de história.

Quantidade de denúncias da série histórica. Foto: SaferNet Brasil

Essa fragilidade da democracia está presente no levantamento realizado pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, da Safernet Brasil. A ferramenta registrou em  2022 mais de 74 mil denúncias de crimes de ódio nas redes sociais em todo o país, um aumento de 67% em relação ao ano anterior. É o maior contingente de denúncias contra crimes de ódio da série histórica. Só os casos de xenofobia cresceram quase 900%, enquanto os relatos de intolerância religiosa subiram 456% em relação a 2021, segundo a instituição.

De acordo com Muniz Sodré, existe uma vontade humana comum a todos os seres:  a necessidade de integração. Isso também se aplica às redes e leva o indivíduo a reproduzir determinados discursos preconceituosos, mas isso não o isenta de  responsabilidade sobre o que propaga. As redes passam a abrir espaço para discussões e visões preconceituosas. Sem regulamentação, sem mediação pelas redes e com um forte sentimento de impunidade, o ódio se instaura no ambiente. “Nenhuma cultura resiste à sua digitalização. Não é que as pessoas por trás das postagens sejam maldosas, o ódio é que é veloz”, completa. 

Em ano de eleições municipais no Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que vai reforçar a segurança no âmbito digital. Decisão recente do TSE proíbe o recurso a deep fakes e determinou que o uso de inteligência artificial seja informado explicitamente ao leitor e proibiu explicitamente o uso de recursos de IA para simular a interlocução do candidato com o eleitor.  O debate sobre os limites e a regulação das redes sociais se estende para diversos países da União Europeia, Estados Unidos e México. Apesar da complexidade do tema, existe um consenso entre os tribunais eleitorais no mundo sobre a urgência de mitigar os impactos negativos da internet nas eleições. 

12 anos de transformação de vidas pela arte, conheça o Ballet Manguinhos

12 anos de transformação de vidas pela arte, conheça o Ballet Manguinhos

Com cerca de 410 alunos, crianças e adolescentes, a instituição oferece, ainda, aulas de balé, dança contemporânea, dança moderna, jazz e circo. 

Por: Letícia Ribeiro

Ballet Manguinhos – Festa de Final de Ano, 2018

O Ballet de Manguinhos completou 12 anos na última segunda-feira (25/3/2024), atuando em cerca de 20 favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro. Inicialmente, o projeto criado em 2012 pela profissional de educação física Daiana Ferreira, na comunidade de mesmo nome, se restringia apenas às aulas de balé, as quais contavam com a presença de aproximadamente 70 alunos e ocorriam nos fundos de uma igreja. No decorrer dos anos, a organização não governamental já atendeu cerca de 5 mil crianças e jovens. 

Em 2018, Daiana fechou um contrato com a fundação social norte-americana The Secular Society e, graças a essa parceria, o Ballet Manguinhos ganhou sede própria, na comunidade de origem, em 2020, em um prédio com cerca de 600 metros quadrados, contando com 3 salas de ballet totalmente equipadas, uma delas sendo, também, usada como sala de circo, comunicação e esportes. 

Em 2021, a instituição sofreu a sua maior perda: o falecimento da fundadora e diretora Daiana Ferreira, devido a complicações em decorrência da Covid-19. Apesar do baque, a ONG conseguiu se manter firme, levando a palavra resistência como mantra dentro de suas paredes. 

Em 2022, o Ballet Manguinhos passou por um período complicado. Com o fim da parceria com a TSS, a fundação não tinha mais como garantir a continuidade do trabalho. Na busca por manter a instituição, foi criada a campanha “Adote uma Bailarina”, cujo valor da contribuição serviria para custear a permanência das alunas com as aulas, o uniforme e o figurino. A intenção era obter doações para que uma bailarina do projeto tivesse os recursos necessários para a realização das atividades. Os colaboradores, chamados de padrinhos, recebiam um certificado e atualizações mentais sobre os “adotados”. No período atual, o projeto conta com, além das adoções, patrocinadores como: BTG Pactual e Centauro, além de apoiadores Asfoc-SN (Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz), Instituto Dell’arte, entre outros. 

O IMPACTO DO PROJETO 

Carine Lopes, diretora do projeto, afirma que a formação de um bailarino pelo Ballet Manguinhos leva em média oito anos para ser concluída, e que, no geral, os alunos entram aos 6 anos de idade e permanecem até a adolescência, por volta dos 17 anos. Segundo um levantamento da Agência Brasil, em colaboração com a ONG, cerca de 98% dos participantes são do público feminino. A presidente da ONG comemora, afirmando que, apesar da gravidez na adolescência ser uma realidade cultural do território, apenas 1% das alunas engravidaram.

Ensaio geral – Espetáculo 2018

PARTICIPAÇÃO DE MENINOS NO PROJETO

Apesar da grandiosidade do projeto, é notória a baixa adesão masculina que, por sua vez, se dá em razão do preconceito enraizado na comunidade quanto à relação do homem com a arte, principalmente com a dança. Logo, mesmo que o cenário esteja em constante mudança, a introdução dos garotos no projeto é lenta.

Ensaio geral – Festival Interno 2019

Cabe destacar que, para além das aulas de balé, o Ballet Manguinhos oferece aulas de circo, jazz, dança contemporânea e cursos de capacitação profissional como, por exemplo, informática. O projeto também busca levar médicos e especialistas para falarem sobre saúde e empoderamento feminino.

Tainá de Paula fala sobre sustentabilidade em palestra na Uerj

Tainá de Paula fala sobre sustentabilidade em palestra na Uerj

A secretária do Meio Ambiente e Clima discute a crise climática no Rio de Janeiro

Por: Manoela Oliveira e Samira Santos

 
 
Tainá de Paula durante a palestra / Reprodução: Manoela Oliveira

Na última quinta-feira, dia 21 de março, o evento “Ágora do IFHT, Série: Sustentabilidade no Território” reuniu figuras importantes da área da saúde e do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias da Uerj (IFHT). A palestra foi ministrada por Tainá de Paula, Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, que compartilhou sua experiência sobre o tema “Crise climática, políticas públicas e sustentabilidade no território”. Além disso, para mediar o debate tivemos a presença do professor Carlos Alberto de Oliveira, diretor do IFHT. A mesa também contou com a participação de Bruno Neves, coordenador do Programa de Extensão, Desenvolvimento e Educação, Theotonio dos Santos (ProDEd-TS), e Gislaine Matheus, superintendente de vigilância em saúde.

A palestra foi transmitida ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto, e abordou questões importantes acerca da preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, refletindo sobre o papel das políticas públicas na mitigação dos impactos da crise climática. O evento teve início às 16h30 e terminou às 18h, proporcionando um espaço para discussões relevantes sobre questões ambientais e a urgência na implementação de políticas públicas efetivas.

Desigualdade Climática: Negacionismo e suas Consequências

“No Rio de Janeiro, a desigualdade climática não é mais uma realidade que pode ser negada”. Essa foi a afirmação de Tainá de Paula, feita durante a discussão sobre as políticas públicas que precisam priorizar os mais pobres. Para a secretária, o negacionismo adotado por alguns prefeitos do estado pode resultar em perdas significativas para a população de baixa renda. “Sem os devidos alertas de emergência sobre as chuvas, essas pessoas correm o risco de permanecer em suas casas, mesmo diante de situações perigosas. O problema se agrava quando a responsabilidade pelos alagamentos é injustamente atribuída aos mais pobres, como se eles fossem os principais culpados”, disse Tainá.

Segundo ela, a educação ambiental e a gestão pública são fundamentais para lidar com os desafios causados pelas chuvas. Tainá afirmou que o processo de macrodrenagem, microdrenagem e limpeza urbana não é responsabilidade apenas do indivíduo, mas sim de toda a comunidade e das autoridades governamentais. Além disso, segundo a secretária, é preciso reconhecer que as mudanças climáticas não são causadas apenas localmente, mas sim por ações globais, como o desmatamento e a poluição industrial.

A pesquisa da organização não governamental Oxfam de 2015 revelou que os 50% mais pobres da população são responsáveis por uma menor emissão de gases de efeito estufa, enquanto os 10% mais ricos produzem uma quantidade significativamente maior. Portanto, a partir das considerações de Tainá de Paula, não é justo comparar a responsabilidade de um indivíduo que não pratica a coleta seletiva de lixo com a responsabilidade de grandes empresas multinacionais.

O Brasil é um dos protagonistas no cenário mundial das mudanças climáticas, sendo um dos países que mais emite gases de efeito estufa. Segundo o Sistema de Monitoramento das Mudanças Climáticas (PCRJ), em 2023, o país figurava entre os maiores emissores do mundo. No território brasileiro, as grandes cidades têm um papel crucial nesse panorama. Entre as cidades brasileiras, das dez maiores emissoras de gases de efeito estufa, duas estão localizadas no Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, o Oeste brasileiro abriga as oito maiores cidades emissoras desses gases.

De acordo com a secretária, o impacto das mudanças climáticas não se limita apenas ao meio ambiente, mas também afeta diretamente a vida das pessoas. “O preço da cesta básica está ligado às crises climáticas que enfrentamos. O calor extremo, por exemplo, pode resultar na perda de colheitas inteiras de nossos principais grãos, como o arroz, que não sobrevive em condições de calor extremo. Por isso, é fundamental compreender que eventos climáticos como o El Niño não são eventos isolados, mas sim parte de um contexto maior de mudanças climáticas globais”. 

Tainá de Paula enfatizou como as diferentes classes econômicas são afetadas pelas mudanças climáticas, devido às vulnerabilidades locais existentes no Rio de Janeiro. De acordo com a secretária: “Quanto mais você é vulnerável na cidade, mais suscetível você está às mudanças climáticas”, disse Tainá. Ela reafirmou que pessoas enquadradas na escala de extrema pobreza estão mais expostas a problemas como o deslizamento de terra, o calor extremo e as enchentes. O Rio de Janeiro é o terceiro estado mais desigual do Brasil, perdendo apenas para Roraima e Paraíba, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2023.  

Tainá disse que a secretaria de Meio Ambiente e Clima, com a colaboração da secretaria de Saúde, possuía o interesse de instituir estratégias para melhorar as condições de vulnerabilidade social e de estabelecer critérios para mapear os riscos graves. Por isso, foi criado o Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Cidade do Rio de Janeiro, responsável por definir as áreas prioritárias para a inserção de políticas públicas. Segundo o levantamento, o complexo do Alemão, Bangu, Ramos, Complexo da Maré e Pavuna foram as localidades mais impactadas pelos perigos climáticos.

Projetos de sustentabilidade

A palestra apresentou 12 projetos governamentais de sustentabilidade incentivados por Tainá de Paula e Eduardo Paes, atual prefeito do Rio de Janeiro. Os principais programas foram o “Cada Favela, Uma Floresta” e o “Jovens Negociadores pelo Clima”. O primeiro possui o objetivo de reflorestar cinco comunidades do Rio de Janeiro para diminuir a sensação térmica desses locais. Também foi destacado por Tainá a necessidade de abordar os estigmas das favelas na universidade. Porque, segundo ela: “Até a Uerj foi construída em cima de uma remoção de favela”.

O projeto “Jovens Negociadores pelo Clima” capacita jovens cariocas para representar as urgências da juventude na Agenda do Clima do Brasil e da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com as informações fornecidas por Tainá, dos 400 inscritos, apenas 50 pessoas foram escolhidas e participaram de uma capacitação de 36 horas.

Outros programas da secretaria de Meio Ambiente e Clima / Reprodução: YouTube do IFHT
 
 

A cobertura da palestra pode ser acessada pelo YouTube do IFHT.