Vencedores do Nobel alertam sobre fake news e discutem como aproximar ciência do público

Vencedores do Nobel alertam sobre fake news e discutem como aproximar ciência do público

Evento na Uerj reuniu três laureados com o prêmio para diálogo com comunidade acadêmica

Por Everton Victor

Jovens cientistas conversam com vencedora do Nobel em evento na Uerj – Foto: Letícia Santana

Combater a desinformação e aproximar a ciência do público, especialmente dos jovens. Para três vencedores do prêmio Nobel  que visitaram esta semana a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), estes são alguns dos desafios da ciência numa sociedade digital.  No evento, organizado pela universidade em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), os cientistas David Mac Millan, May-Britt Moser e Sérgio Haroche conversaram sobre ciência e o desafio de torná-la mais inclusiva. Foi a primeira vez que o evento Nobel Prize Dialogue passou por uma universidade da América Latina. As palestras aconteceram na última segunda-feira (15), no teatro Odylo Costa, filho, no campus Maracanã da Uerj.

 

David MacMilllan: cientista alertou sobre risco da desinformação – Foto: Transmissão Rádio Uerj
 
 
 

O laureado com Nobel de Química de 2011, David MacMillan, ressaltou como driblar não só os desafios apresentados durante o processo científico, mas também conviver com eles na era digital. Em sua perspectiva, o fanatismo religioso é um exemplo disso quando vai além da crença religiosa para defender teorias conspiratórias sem comprovação. “Apesar do sucesso da ciência, cresce a desconfiança da comunidade científica. As fakes news nas redes sociais atacam a ciência, fazendo com que grupo de indivíduos ataquem a ciência”, afirmou.

May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014, reforçou a importância dos cientistas se aproximarem da juventude que sonha em fazer ciência e não tem oportunidade. “A gente precisa buscar talentos em todas as todas as partes e não só um grupo exclusivo”, ressaltou a cientista. O necessário diálogo entre a ciência e a oportunidade também  foi enfatizado por Sergio Haroche, Nobel em física de 2011, como o caminho para uma ciência ainda mais forte, mais ampla e próxima das pessoas. 

Durante todo o dia, os laureados participaram de debates com outros cientistas, além de professores, técnicos e estudantes. Eles enfatizaram a importância de a ciência se expandir para outros espaços, destacando que não basta só falar sobre um mundo que preze pela ciência, mas que é preciso incluir na prática esse discurso. Para os três premiados, só existe uma forma disso acontecer: simplificar a linguagem científica e aproximar o público do processo científico. 

Realizado das 10h às 16h, o evento do “Criando nosso futuro junto com a ciência” foi ministrado em inglês, com tradução simultânea para os presentes no teatro e nas redes sociais. No dia 17, os premiados com o Nobel realizaram evento semelhante na USP. 

LEMRI disponibiliza palestra sobre fake news e democracia

LEMRI disponibiliza palestra sobre fake news e democracia

Estudo aponta uso de redes sociais para fins eleitoreiros

Por: Simone Nascimento

Reprodução: Internet/Pixabay

O uso de fake news em eleições no Brasil e no mundo vem aumentando nos últimos anos, segundo especialistas. Desde 2010 o processo eleitoral ganhou novos contornos, e para discutir esse quadro, o LEMRI/UFRJ-Uerj (Laboratório de Estudos de Mídias e Relações Internacionais/Universidade Federal do Rio de Janeiro-Universidade Estadual do Rio de Janeiro) realizou no dia 23 de junho uma palestra sobre fake news, que está disponível no YouTube.

Professor Arthur Ituassu. Reprodução: Internet

Na palestra, Arthur Ituassu, professor associado de Comunicação Política da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica), explica diversos pontos importantes do seu estudo, que foi transformado em um artigo. Nele, Ituassu enfatiza o uso eleitoreiro das redes sociais por figuras políticas para ganhar mais eleitores ou tirar votos de seus adversários.

Segundo Ituassu, o processo eleitoral assumiu um novo campo de disputa em 2010, quando o Twitter se tornou uma máquina de propaganda política. Um exemplo citado pelo professor da PUC é o do então presidenciável Plínio de Arruda Sampaio. Naquele ano o candidato ficou de fora dos debates promovidos pelos grandes meios de comunicação, contudo, Sampaio respondia no Twitter o que era perguntado na sabatina.

O estudo desenvolvido pelo professor analisou o quadro eleitoral entre os anos de 2010 e 2020, apontando a evolução das campanhas nas redes sociais e o uso de fake news como recurso. Além disso, o artigo trata da polarização e radicalização e aponta as principais consequências a médio e longo prazo.

Wallace Almeida, doutor em educação e pesquisador do GpDOC (Grupo de Pesquisa, Docência e Cibercultura) da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) enfatiza que as fake news são um fenômeno da cibercultura e que graças a proliferação instantânea das redes, há a difusão de vários assuntos. Para o pesquisador, é importante que as escolas sejam lugar de debate e desenvolvimento da cidadania.

PL das Fake News

O Projeto de Lei 2.630/2020, que ficou conhecido como PL das Fake News, institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, mas não é uma unanimidade. Algumas pessoas comuns são contra a aprovação do projeto alegando que seria o fim da liberdade de expressão. Já as Big Techs como Google, Meta, Twitter e Tik Tok se opõem a esse PL argumentando que dados sensíveis para seu funcionamento seriam expostos.

Diversos grupos da sociedade civil são favoráveis ao PL 2630, e veem nele um mecanismo importante para resguardar não apenas direitos individuais, como também um mecanismo para manter o ecossistema eleitoral mais equilibrado.

Para José Carlos Vaz e Dias, professor de direito da Uerj, a polarização vai continuar existindo, mas o PL das Fake News deve ajudar a regulamentar as redes sociais e responsabilizá-las dentro do seu limite de atuação. O professor afirma ainda que o projeto não funciona como censura, tendo em vista que os conteúdos só sofrerão alguma sanção após divulgação. Dias enfatiza que atualmente é necessário decisão judicial para remover conteúdo falso da internet e a aprovação do PL facilitaria essa retirada de conteúdo.