Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)

Empreendedorismo feminino: transformando realidades nas comunidades

Empreendedorismo feminino: transformando realidades nas comunidades

Instituto Dona de Si capacita a mulher, desenvolvendo sua autoestima e sua confiança 

 

Por Samira Santos

Nos últimos anos, a iniciativa de empoderamento feminino tem se mostrado uma ferramenta poderosa de transformação social, especialmente em comunidades e favelas do Rio de Janeiro. Entre os exemplos está o Instituto Dona de Si, fundado pela atriz Suzana Pires, em parceria com a Fundação Casas Bahia, que oferece capacitação gratuita e acolhimento para mulheres de várias regiões do Brasil, promovendo mudanças profundas na vida das participantes.

 

Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)
Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)

A Jornada Transformadora

 

O Instituto Dona de Si, em colaboração com a Fundação Casas Bahia, lançou um programa de capacitação em empreendedorismo focado no desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres. As participantes, residentes em locais como a Rocinha e o Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro, e em comunidades de São Paulo, Porto Alegre e Salvador, têm acesso a cursos que abordam desde a gestão de negócios e organização financeira até comunicação e marketing. O diferencial dessa formação está no acolhimento e na proximidade, com aulas presenciais e online, facilitando o acesso ao aprendizado, mesmo para aquelas com limitações de deslocamento ou com filhos pequenos, como destacou Semirames Santana, uma das alunas do Instituto.

 

Além da parceria com a Fundação Casas Bahia, responsável por apoiar a jornada de capacitação mencionada, o Instituto Dona de Si conta com outros parceiros de peso, como Animale e Prio, que ampliam as oportunidades de formação para as participantes. As educadoras do Instituto, conhecidas como “Educadonas”, orientam as alunas, chamadas de “Aceleradas”, ao longo do processo de desenvolvimento pessoal e profissional. A parceria com Animale, por exemplo, permite a realização de um desfile na Comunidade dos Prazeres, onde as alunas do laboratório de moda criam e apresentam suas próprias roupas, mostrando as habilidades adquiridas e conquistando visibilidade. O Instituto também oferece suporte psicológico, por meio do SAS Brasil, e jurídico, através das Justiceiras, reforçando o compromisso com o bem-estar integral e a autonomia das participantes.

 

“Participar dessas aulas perto de casa mudou tudo para mim. Com uma filha pequena, conseguir me capacitar sem me distanciar da minha rotina foi essencial. Hoje, trabalho em eventos como costureira e sou independente financeiramente”, comenta Semirames, que também compartilhou sobre o impacto do autocuidado em sua vida, tema abordado nos encontros. O apoio psicológico oferecido por meio da parceria com o SAS Brasil ajudou-a no autoconhecimento e autoestima, valores que ela leva para seu negócio.

 

Um dos grandes diferenciais do programa é o foco na saúde e no bem-estar emocional das mulheres, áreas que historicamente recebem pouca atenção nas comunidades. Janice Delfim, gestora do Instituto, enfatiza a importância dessas disciplinas, que vão muito além de ensinar sobre empreendedorismo. “A capacitação trabalha com a mulher como um todo, permitindo que ela se priorize, cuide de sua saúde emocional e compreenda seu valor. O empoderamento feminino começa dentro de cada uma e, a partir disso, elas conseguem cuidar melhor de seus negócios e de suas famílias”.

 

Aluna do Instituto Dona de Si (Foto: Reprodução)
Aluna do Instituto Dona de Si (Foto: Reprodução)

A abordagem integrada proporciona uma visão mais ampla de autoconhecimento e cuidado pessoal, e é esse diferencial que Janice destaca como transformador. A gestora menciona que as participantes, muitas vezes, chegam ao Instituto desgastadas emocionalmente e sem confiança. Com o tempo, elas aprendem a se valorizar e a lidar com as próprias inseguranças. Esse apoio permite que muitas mulheres saiam de situações de dependência emocional e financeira, desenvolvendo a autoestima e a confiança necessária para assumir a liderança de seus negócios.

 

Desafios e Superações 

 

A implementação das aulas presenciais e online encontrou desafios significativos, principalmente no início, como conta Janice Delfim. Convencer as mulheres de que o programa era uma oportunidade genuína de crescimento e totalmente gratuito foi uma barreira inicial, pois a desconfiança é comum em locais onde poucos recursos são oferecidos sem contrapartida. “As mulheres se perguntavam: ‘Será que é verdade? Será que é gratuito?’. Mas, com o depoimento das participantes da primeira turma, a adesão cresceu rapidamente”, explica Janice.

 

Esse processo de construção de confiança foi essencial para o sucesso da iniciativa. Hoje, o programa é procurado por mulheres de várias regiões, e o impacto positivo é notório nas comunidades atendidas. Além disso, a presença de educadoras locais que acompanham de perto as alunas reforça os laços e cria uma rede de apoio.

 

O Desfile dos Prazeres: Uma Passarela de Sonhos

 

Ao final da jornada, as alunas do laboratório de moda do Instituto participam de um desfile na Comunidade dos Prazeres, onde apresentam suas próprias criações. Esse evento é um marco de celebração, permitindo que as empreendedoras mostrem suas habilidades e conquistem o reconhecimento que muitas vezes lhes é negado.

 

Para Semirames Santana, desfilar com as roupas que ela mesma desenhou, modelou e costurou é a realização de um sonho. “A sensação de ver meu trabalho valorizado e de me ver reconhecida como profissional é incrível. Esse evento é muito mais que um desfile; é uma demonstração de tudo o que conseguimos alcançar com dedicação e aprendizado”.

 

O futuro promete novas capacitações, incluindo técnicas específicas como o macramê, tranças e confecção de itens em cetim, visando expandir o portfólio das empreendedoras e gerar novas fontes de renda. Janice Delfim destaca que o objetivo é, eventualmente, criar uma marca coletiva, unindo as participantes em uma rede de apoio para que possam participar de feiras e eventos, solidificando a marca Dona de Si como símbolo de empoderamento e transformação.

 

As histórias das mulheres que participam do Instituto Dona de Si revelam a importância do empreendedorismo feminino como ferramenta de transformação social e de emancipação. Como conclui Ana Cristina Oliveira, uma das alunas da Fundação Casas Bahia: “O curso nos ensina que somos protagonistas de nossa história e que, com apoio e conhecimento, podemos superar desafios e construir uma vida melhor”. Essas trajetórias inspiradoras nos lembram que o empoderamento feminino não é apenas um conceito, mas uma prática diária que transforma vidas e gerações. 

 

Mostra leva visitantes a refletirem sobre danos na sociedade

Mostra leva visitantes a refletirem sobre danos na sociedade

Por Alice Moraes

 

 
Galeria Gustavo Schnoor, exposição Danos. Foto: Alice Moraes
Galeria Gustavo Schnoor, exposição Danos. Foto: Alice Moraes

 

O Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)  inaugurou a exposição “Danos” no dia 24 de outubro. A exposição gratuita está localizada na Galeria Gustavo Schnoor, no Centro Cultural da Uerj, e estará disponível para visitação das 10h às 19h, até o dia 22 de novembro.

Com organização de Lilian do Valle e curadoria de Analu Cunha e Jefferson Medeiros, a exposição tem como objetivo trazer uma reflexão sobre os danos na sociedade. Essa reflexão remete à desigualdade e à questão da arte política.

O mediador do DeCult e estudante do Instituto de Artes da Uerj, Renan Henrique Carvalho, de 25 anos, explicou sobre a ideia de “Danos”. Ele afirmou que “os artistas dessa exposição abordam em diferentes linguagens como podemos ver os diferentes danos em nossa sociedade. “O trabalho de Arthur Palhano, por exemplo, vai tratar o dano de uma maneira mais visceral, mais visível”, comentou Renan. 

A exposição conta com trabalhos de 12 artistas, sendo eles: Amador e Jr., Arthur Palhano, André Vargas, Cláudia Hersz, Cristina Salgado, Davi Baltar, Fel Barros, Gabriel Fampa, Lyz Parayzo, Marcos Roberto, Priscila Rezende e Pio Drummond.

 

Obras de Marco Roberto: “Frio vai, frio vem”, “Leito de papelão” e “O fogo não pode apagar”, 2021. Foto: Alice Moraes
Obras de Marco Roberto: “Frio vai, frio vem”, “Leito de papelão” e “O fogo não pode apagar”, 2021. Foto: Alice Moraes

Segundo o mediador,  as obras na foto acima tem como intenção fazer o visitante pensar nas pessoas em situação de rua. Renan esclareceu que as obras de Marco Roberto tratam a questão da desigualdade. “Essa arte aborda a situação dos moradores de rua, vai associar (a situação deles)  às placas de trânsito e ao cotidiano, como uma forma de nos levar a pensar nessas circunstâncias”, explica o mediador. 

As galerias de arte da Universidade são essenciais para oferecer aos alunos e ao público de fora acesso à arte e à cultura. Nelas, os visitantes têm a possibilidade de fazer reflexões valiosas através das obras de arte. Na Galeria Gustavo Schnoor, artistas de todo o Brasil conseguem expor suas obras não só para os estudantes de arte, mas também para todos os que se interessam pelo tema. 

Sobre isso, Renan Henrique Carvalho pontuou que as exposições nas galerias valorizam a cultura da Universidade. “A galeria mostra que a Uerj não é aquele clichê de bagunça e baderna, porque também produzimos muito conteúdo, conhecimento e fazer artístico”, disse ele

Exposição “Amamentamos Esse País” chega à Uerj

Exposição “Amamentamos Esse País” chega à Uerj

Um grito da maternidade preta em forma de arte.

Por: Gabriela Martin

Fotografia da exposição “Amamentamos esse país”. Foto: Gabriela Martin

 

O Laboratório de Fotografia da Faculdade de Comunicação Social da Uerj inaugurou, na quinta-feira (24), a exposição “Amamentamos Esse País”, da artista visual Marina S. Alves. A instalação de fotografias e vídeo funcionará até dezembro, de segunda a sexta, das 9h às 19h, na sala 10.018, no 10° andar da Uerj.


Com a curadoria de Leandro Pimentel, o trabalho é o resultado do encontro de quatro mulheres que perderam seus filhos vítimas da violência do Estado. A artista visual reuniu Bruna, Mônica, Nadia e Nívia, que compartilharam memórias e documentos pessoais dos seus filhos.


Contrapondo-se ao discurso hegemônico, Marina busca, por meio de suas obras, humanizar os relatos dessas mães a partir da afetividade e das memórias em vida dos jovens. “Ele amava essa bermuda de bolinha que eu comprei lá em Madureira. Quando abriu atrás, ele mesmo costurou”, rememora Nadia, em vídeo produzido pela artista.

 

Roda de Conversa. Nivia, Marina, Mônica e Nadia. Foto: Gabriela Martin

 

Roda de Conversa. Foto: Lívia Maria Oliveira

 

Por meio das fotografias e vídeo, essas mulheres buscam denunciar o racismo entranhado na sociedade, evidenciando a impunidade e a justiça seletiva do país. “Amamentamos Esse País” é fruto da união e da corrente de apoio entre essas mães. “Você perde um filho e aí a quem você recorre? Quando você é uma mulher preta, periférica, o que você faz? Você se junta. Você se aquilomba. Esse projeto é um aquilombamento de mulheres pretas, com uma rede de apoio poderosa”, reflete a artista durante roda de conversa que inaugurou o evento.


A ressignificação de justiça em forma de afeto e arte é um conforto a essas mulheres, que sofrem todos os dias com o abandono e a violência causada pelo Estado. Sobre isso, Nívia cria um conceito chamado de “justiça afetiva”, e explica: “Por isso eu criei esse conceito de ‘justiça afetiva’, nós acreditamos muito mais nessa justiça, a que nós produzimos, do que nessa justiça criada de branco para branco”.

Sobre o processo artístico


Marina S. Alves, que, além de artista visual, é cientista social e angoleira, contou ainda na roda de conversa que inaugurou o evento um pouco do processo criativo e das técnicas utilizadas. A escolha de fotografar documentos como carteira de trabalho, boletim escolar e identidade tem um valor simbólico que materializa a existência daqueles jovens, além do viés de resistência, já que houve a tentativa do Estado de apagá-los ou destruí-los.

 

Fotografia da exposição “Amamentamos Esse País”. Foto: Gabriela Martin

 

Uma de suas obras é a fotografia da carteira de trabalho nunca assinada de uma das vítimas. Marina fala o quanto essa foto é significativa no contexto social brasileiro. “Pra mim, ela é um resumo do que é o Brasil estruturalmente. Os meninos nunca tiveram carteira assinada. E isso significa muita coisa. E não é porque eles não tentaram”.

 

Quanto à estética, a artista diz que o projeto foi separado em duas partes, a primeira feita em uma luz fria e direta, no porão de sua casa. Já a segunda foi fotografada ao ar livre, na natureza. Marina explica que utilizou um vidro que foi colocado na grama e, em cima dele, ela posicionou os documentos, fazendo uma conversa do céu, a partir do reflexo do vidro, com a terra.

“Rompendo Barreiras” corre risco de acabar, segundo coordenadora

“Rompendo Barreiras” corre risco de acabar, segundo coordenadora

Programa que busca igualdade e inclusão para estudantes com deficiência da Uerj enfrenta o desafio de preservar sua memória e legado

 

Por Samira Santos

Um dos mais importantes programas de inclusão de pessoas com deficiência da Uerj está enfrentando uma dura realidade: o Rompendo Barreiras, criado há 36 anos, está sob ameaça de desmonte, segundo Valeria de Oliveira, coordenadora do programa.

“A PR4 quer acabar com o projeto. Porque ela não vê a gente como um departamento de ajuda. O Rompendo Barreiras não tem 36 dias. Eu digo, tem 36 anos. Querem apagar essa história”, relata Flávio Gomes, estudante de Direito e colaborador do programa.

Entrevista na sala do Rompendo Barreira no 10º andar (Foto: Leticia Santana)

Uma Jornada de Superação

Flávio Gomes da Silva, 54 anos, é uma das figuras marcantes do Rompendo Barreiras. Ele perdeu a visão aos 33 anos, mas isso não o impediu de continuar perseguindo seus sonhos. Estudante de Direito na Uerj, ele é um exemplo vivo de como o Rompendo Barreiras faz a diferença na vida de pessoas com deficiência, Flávio fez o pré-vestibular com o apoio do PRB-UERJ “Perdi a visão, mas não me abalei. A vida não terminou por aí”, compartilha Flávio.

Frequentador do programa há mais de 16 anos, ele conta que o Rompendo Barreiras foi essencial para seu ingresso e permanência na Universidade. O programa oferece apoio acadêmico e tecnológico a estudantes com deficiência visual, como a leitura de textos, a aplicação de provas e a navegação por sites inacessíveis. “O programa auxilia não só deficientes visuais, mas também surdos, pessoas com deficiência motora, mental e intelectual”, explica.

Flávio conta que o Programa foi fundado pela professora de Faculdade de Educação Maria da Glória Schaper dos Santos, conhecida como Glorinha. Cadeirante, Glorinha viu a necessidade de melhorar a acessibilidade na Universidade e, com isso, criou o programa, em 1988, com um grupo de colaboradoresa maioria pessoas com deficiência.  

Ele também lembra com carinho o tempo em que o programa funcionava em uma pequena sala de 3×3 metros, no 12º andar da Uerj. Mesmo com espaço reduzido, chegavam a atender até 60 pessoas por dia. “Era um espaço pequeno, mas cheio de vida. Não só alunos da Uerj, mas também a comunidade externa nos procurava para resolver problemas, como imprimir contas ou acessar serviços online”,diz.

A luta de Flávio para manter o Rompendo Barreiras vivo não é só pessoal, mas coletiva. Ele acredita que o programa é essencial para que pessoas com deficiência possam estudar, se formar e se profissionalizar. “Eu sou um voluntário aqui. Mesmo durante as férias, eu venho para garantir que o espaço continue aberto. Não podemos deixar que feche”, afirma.

Post de divulgação do programa no Instagram da Uerj (Foto: Reprodução)

Desafios e Retrocessos

Segundo a professora Valeria de Oliveira, coordenadora do Rompendo Barreiras há mais de 20 anos, o principal objetivo do programa é garantir a acessibilidade e a inclusão de estudantes com deficiência e neurodivergencias, promovendo sua permanência e conclusão dos cursos.

Desde a sua criação, o PRB-UERJ oferece uma ampla gama de serviços, desde a leitura de textos para pessoas com deficiências visuais até o uso de tecnologias assistivas para pessoas em diferentes condições. “Auxiliamos na organização das disciplinas para estudantes neurodivergentes, transcrevemos áudios para alunos surdos e formatamos trabalhos acadêmicos para quem tem dificuldade em operar programas de edição”, explica Valeria. Além disso, o Programa representa a UERJ no Conselho Estadual de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência (CEPDE-RJ) e no Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro (COMDef-Rio), onde, inclusive, na época das Conferências, propõe avanços nas legislações de acessibilidade. 

Contudo, Valeria está preocupada com as recentes mudanças impostas pela administração da Uerj. Segundo ela, “a PR4 (Pró-Reitoria de Políticas e Assistência Estudantil) começou a desmantelar o PRB-UERJ em 2024, ao extinguir a Coordenadoria (AEDA 048/Reitoria/2024) e tentar fazer com que o Programa seja, apenas, um projeto”. “Estão tentando deixar o PRB-UERJ sem a estrutura conquistada depois de muitas reivindicações. Desde o início de 2024, quando perdemos cinco bolsistas, estamos sentindo o abalo das nossas estruturas. Em junho, perdemos três servidores (uma Pedagoga, uma Psicóloga e uma Técnica Administrativa) e um contrato administrativo. Até perdas patrimoniais fazem parte desse processo. No momento, não sabemos se ou até quando permitirão que permaneçamos na sala construída para o Programa. É um retrocesso enorme para a inclusão na UERJ”, lamenta. 

Para Valeria, a decisão de extinguir a coordenadoria do Rompendo Barreiras e substituí-la pela coordenadoria de atenção psicossocial (AEDA 048/Reitoria/2024) é uma questão de escolha da gestão, sua luta e reivindicar pela permanência do PRB-UERJ que espera ser transferido para o Centro de Educação e Humanidades (CEH). “A PR4 está virando as costas para um programa que vem acolhendo e orientando milhares de estudantes ao longo de quase quatro décadas. Eles estão priorizando um modelo elitista, onde pessoas com deficiência e cotistas são marginalizados”, afirma a coordenadora. 

Ela também destaca o papel crucial que o PRB-UERJ desempenhou em tornar a Uerj mais acessível. “Existem documentos que registram a participação do Rompendo Barreiras nas construções das rampas externas da UERJ e a rampa localizada na saída da Rua São Francisco Xavier que leva o nome da Professora Glorinha, os banheiros adaptados há anos, também foi uma das articulações do PRB-UERJ com a prefeitura, tudo isso foi conquistado com a nossa participação ativa”, lembra Valeria. 

 

 Futuro do Rompendo Barreiras 

Para Flávio e Valeria, o Rompendo Barreiras não é apenas um programa de assistência, mas um espaço institucional de garantia de direitos segundo a Lei Brasileira de Inclusão. “Eu conheci o projeto em 2007, através de um amigo. Desde então, o Rompendo Barreiras se tornou o meu lugar”, conta Flávio.  

Apesar das dificuldades, tanto Flávio quanto Valeria estão empenhados em fazer com que o Programa Rompendo Barreiras continue garantindo a acessibilidade e a inclusão de estudantes com deficiência e neurodivergentes na Uerj. “Nós, que temos deficiência aparente, lutamos pelos nossos direitos. Mas, como eu sempre digo, todos têm uma deficiência. Alguns apenas não a enxergam. E é por isso que precisamos lutar juntos”, conclui Flávio. 

Procurada, a PR4 não quis se pronunciar sobre o assunto até a publicação da matéria. Segundo a Professora Valeria, ela foi informada pela assessora da PR4 que foram procurados, mas que indicaram seu nome para essa matéria. 

 

 
 

Banco de Sangue Herbert de Souza necessita de doadores de sangue para realização de cirurgias 

Banco de Sangue Herbert de Souza necessita de doadores de sangue para realização de cirurgias

Funcionários afirmam que o banco não consegue bater as metas diárias de doadores 

 

Por: Maria Eduarda Galdino 

foto: Camila Mesquita 

O Banco de Sangue Herbert de Souza – Betinho é responsável por arrecadar doadores de sangue para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, que possui pacientes internados dependentes de transplantes e outros procedimentos que necessitam de bolsas de sangue e medula. 

Apesar da grande demanda dos pacientes, a quantidade de doadores de sangue é escassa. Camila Mesquita, médica hemoterapeuta e funcionária do Banco de sangue, afirmou que o Banco precisa de 40 doadores por dia para atender os pacientes do hospital depois que os transplantes hepáticos começaram a ser realizados.

O Banco de Sangue não apenas coleta as doações, mas também acompanha e orienta os doadores. Após a doação, todos os cuidados para o bem-estar físico dos doadores são feitos, como a refeição e a hidratação. A orientação do Banco de Sangue em relação à periodicidade das doações é diferente para homens e mulheres, enquanto os homens podem doar de 2 em 2 meses, no máximo 4 vezes ao ano, as mulheres podem doar de 3 em 3 meses, no máximo 3 vezes ao ano.

Para mais informações, acesse o instagram oficial do Banco de Sangue Herbert de Souza: @bancodesanguehupe

Banco de Sangue HUPE (@bancodesanguehupe) • Fotos e vídeos do Instagram 

 

 
Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)

Oficinas de Cabaré na Uerj

Oficinas de Cabaré na Uerj

Novas formas de fazer arte

 

Por Samira Santos

 

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), através da Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart),  está oferecendo uma oportunidade para os interessados em mergulhar no universo do “cabaré”. Com um formato inclusivo e dinâmico, as aulas visam proporcionar uma imersão completa nessa linguagem artística, permitindo que os participantes explorem e desenvolvam suas habilidades de forma livre, autoral e interativa.

Objetivos e Abordagem das Aulas

O principal objetivo das oficinas de cabaré é proporcionar aos participantes uma experiência prática nesse estilo artístico. Durante as aulas, os alunos são encorajados a criar de maneira livre e ativa, utilizando suas próprias bagagens artísticas e culturais. O processo culmina em uma apresentação ao público, onde cada um pode mostrar o que desenvolveu ao longo do curso.

Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)
Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)
 
 
 
 

As aulas de cabaré abrangem uma vasta gama de expressões artísticas, passando pelo canto, dança, improviso, burlesco, lipsync, entre outras formas de arte. O curso também oferece uma perspectiva histórica e teórica sobre o cabaré, tanto no contexto ocidental quanto no brasileiro, sempre com foco na interação direta com o público, característica central dessa arte.

O conteúdo do curso é estruturado em dois módulos. O primeiro, aberto a todos, não exige experiência prévia em artes cênicas, tornando-se uma excelente porta de entrada para iniciantes. Já o segundo módulo requer algum conhecimento prévio, sendo ideal para aqueles que já tiveram contato com o cabaré ou com outras formas de arte cênica. Ambos os módulos incluem aulas práticas e performances, proporcionando aos alunos a oportunidade de aplicar o que aprenderam em uma apresentação final.

O cabaré, por sua natureza, é uma forma de arte que desafia padrões e acolhe a diversidade, o que o torna um espaço seguro e inclusivo para todos, independentemente de sua experiência prévia. Como resultado, os instrutores esperam que mais pessoas, especialmente aquelas que nunca tiveram contato com essa arte, sintam-se encorajadas a participar.

 

Oficina de Cabaré no Auditório Cartola ( Foto: Leticia Guimarães)
Oficina de Cabaré no Auditório Cartola ( Foto: Leticia Guimarães)

As turmas ainda estão com vagas disponíveis, e as inscrições presenciais no Coart irão ocorrer até o dia 23 de agosto, com o curso começando no dia 27 de agosto.

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Mudanças podem colocar em risco a continuidade da política de inclusão na Universidade, dizem alunos

Por Samira Santos, Julia Lima e Beatriz Araujo

 
 
 

A Pró-reitoria de Políticas e Assistências Estudantis (PR4) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) anunciou na tarde de quinta-feira (25) uma série de alterações em seus critérios de elegibilidade de bolsas e auxílios para a comunidade universitária. Entre as novas medidas estão a reformulação do Auxílio Material Didático (AMD), o fim do auxílio alimentação para estudantes do campus Maracanã e a redução do valor da renda necessária para alunos de ampla concorrência receberem a Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social (BAVS). As mudanças geraram preocupações e indignação entre os alunos, que se movimentam para organizar um ato contra as novas regras.

 

Entrada da Uerj no portão 5 (Foto: Agência Brasil)

 

 

Uma das principais mudanças está no Auxílio Material Didático (AMD) que consiste no apoio financeiro destinado à aquisição de material didático para alunos do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) e dos cursos de graduação. O valor de R$ 600, antes pago em parcela única por semestre letivo, passa a ser anual, podendo ser pago em parcelas de R$ 300 ou menos, dependendo da disponibilidade orçamentária.

A implementação da tarifa zero no Restaurante Universitário (RU) anunciada no começo da semana, apesar de ser uma tentativa de melhoria na rotina dos estudantes cotistas, gerou controvérsias devido ao anúncio da suspensão do Auxílio Alimentação aos alunos dos campi Francisco Negrão de Lima (Maracanã) e Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ). A decisão diz que só poderão optar pelo recebimento de Auxílio Alimentação estudantes cujos cursos tenham sede em campi que ainda não possuam Restaurante Universitário. A tarifa zero, porém, não se estende aos alunos que ingressaram por ampla concorrência e nem aos que recebem BAVS, sendo assim, esses estudantes deverão arcar com os custos de alimentação.

A Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social, oferecida a alunos ingressantes por ampla concorrência que tenham comprovada a sua situação de baixa renda, também sofreu reformulações. A renda familiar per capita para elegibilidade, antes no valor de um salário mínimo e meio, foi reduzida para valor igual ou inferior a meio salário mínimo (R$ 706). Alunos da ampla concorrência com renda superior a esse limite não terão direito aos auxílios estudantis. 

A Reitoria, liderada pela reitora Gulnar Azevedo e pelo vice-reitor Bruno Deusdará, justificou essas mudanças como uma resposta às restrições orçamentárias pós-pandemia, ressaltando a necessidade de equilibrar investimentos em equipamentos, bolsas e políticas de assistência. 

 

Reações da comunidade acadêmica

O Ato Executivo de Decisão Administrativa 038/2024, que formaliza essas mudanças, entra em vigor em 1º de agosto.

Estudantes e membros de movimentos sociais acusam a Reitoria de “Destruir a política de assistência estudantil da Uerj, que um dia foi um exemplo de inclusão e suporte aos alunos”. “Eles estão acabando com a nossa universidade”, desabafaram nas redes sociais.  A sensação de desamparo é a principal reclamação, e muitos consideram registrar queixas formais para tentar reverter essas decisões. 

Em resposta às novas regras, um ato estudantil foi marcado para o dia 26 de julho, às 16h na Uerj. Intitulado “Tira a mão dos meus direitos!”, a manifestação reunirá estudantes da ampla concorrência, cotistas da graduação e pós-graduação com o objetivo de protestar contra os cortes nos auxílios e bolsas e exigir a revogação das medidas estabelecidas pela PR4 e pela atual Reitoria da Universidade.

 Projeto Quilombo Cuidar realiza terceiro seminário na Uerj 

 Projeto Quilombo do Cuidar realiza terceiro seminário na Uerj 

O projeto de extensão  discutiu  questões com foco na saúde da mulher negra

Por: Maria Eduarda Galdino

Estudantes de enfermagem e integrantes do Quilombo cuidar (Foto: agência Garagem 293)

 

“É cuidar dos outros para além da doença”, essas foram as palavras da estudante de enfermagem da Uerj Thayssa Vitoria Mattos da Silva sobre o Quilombo do Cuidar, projeto de extensão da Faculdade de Enfermagem (FACENF/ Uerj), criado pela professora Roberta Geórgia, coordenadora de graduação da FACENF.  O projeto tem por objetivo cuidar da saúde da população negra e quilombola e expor pautas antirracistas para um público de todas as idades, com aulas e eventos. 

A terceira edição do seminário Quilombo do Cuidar aconteceu no dia 12 de junho, tendo como foco principal a discussão sobre saúde mental da mulher preta. O evento contou com a participação de artistas, enfermeiras, assistentes sociais e professores.

Nas mesas de debate, cada palestrante contou sobre seus projetos, dissertações acadêmicas e vivências como mulheres negras. As histórias relatadas abordaram os obstáculos de viver em sociedade como pessoa negra e como a qualidade de vida e saúde mental são difíceis de se manterem estáveis por conta das violências e falta de suporte do Estado. Mas, apesar das dificuldades contadas, cada palestrante mostrou alternativas de como a comunidade negra pode se ajudar e cuidar, por meio de movimentos que têm como propósitos a coletividade, resistência e o cuidado.

Palestrantes do seminário (Foto: agência Garagem 293)
 

Helaine Maria, uma das palestrantes, falou sobre a sua vivência como enfermeira, que diariamente cuida de pessoas negras que sofrem violência, racismo e abandono nas clínicas de saúde. “Eu recebo essas mulheres lá na maternidade,  muitas delas  em situação de rua que vêm para parir, então como a gente olha essa mulher ? Qual o cuidado ?”, diz Helaine. 

A enfermeira vê a solidariedade e o cuidado como alternativas para a mudança do cenário de violência. Ela afirma que é preciso lutar, escrever, brigar e se unir para combater as violências vividas por mulheres negras. 

 A estudante de enfermagem Thayssa Vitoria, que está no segundo período do curso e que faz parte do projeto de extensão Quilombo do cuidar, contou a experiência dela como mulher negra e como eventos como o seminário são de extrema importância para a sociedade. “Se a Thayssa de 15 anos tivesse frequentado um evento desse, teria me poupado muitos anos de terapia e sofrimentos. É uma questão de representatividade, nesse evento a gente consegue se identificar e perceber que a gente não está sozinha nesse mundo”. 

A estudante ressalta que as mulheres negras ainda não alcançaram posições de protagonismo suficientes. Thayssa afirma que ainda faltam espaços voltados para pessoas negras, que tentam mascarar uma ideia de inclusão, quando na verdade, as mulheres negras ainda não estão presentes nos cargos de protagonismo e de liderança na sociedade. “Quantas médicas pretas você conhece ? Quantas juízas e advogadas pretas você conhece? Quantas coordenadoras de graduação e professoras de mestrado pretas você conhece? Por que não dar o poder a uma mulher negra? A gente ainda tem muito a conquistar e avançar, é uma luta que a gente não vai abrir mão”.

Mais informações  sobre o Quilombo do Cuidar podem ser acessadas nas redes sociais do projeto:  @quilombodocuidar 

Patrocinadores: @uerj.oficial @Fenf_uer  @Prefc_smsrio @socioedunaras @liasmeuerj @procriaruer 

 

 

  

Milhões de brasileiros se preparam para as eleições municipais de outubro

Milhões de brasileiros se preparam para as eleições municipais de outubro

A eleição irá determinar os prefeitos, os vice-prefeitos e os vereadores das 5.568 cidades brasileiras

Por: Manoela Oliveira

Reprodução: Pixabay

Em 6 de outubro, cerca de 152 milhões de eleitores participarão da eleição municipal para decidir os vereadores, os prefeitos e os vice-prefeitos de todo o Brasil. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso nenhum candidato consiga metade dos votos válidos em cidades de mais de 200 mil eleitores, o segundo turno ocorrerá em 27 de outubro.

A Lei das Eleições permite o registro de candidatos e de candidatas pelas coligações e pelos partidos políticos até 15 de agosto. O atual prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) pretende se reeleger com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na eleição de 2020, Paes obteve 64,7% dos votos no segundo turno, derrotando o seu concorrente, o então prefeito Marcello Crivella. Paes foi o candidato preferido em todas as zonas eleitorais neste turno, segundo o TSE.

Mapa de apuração das eleições municipais de 2020 / Reprodução: Manoela Oliveira

Na última eleição para prefeito, Paes disparou na região da Grande Tijuca do Rio de Janeiro. De acordo com o TSE, na 229º e na 170º zonas eleitorais, localizadas no Maracanã, ele obteve 75,92% e 77,93% dos votos, respectivamente. Paes também alcançou 78,33% dos votos na Tijuca e conseguiu atingir cerca de 140 mil votos nessas três zonas eleitorais. O atual prefeito é uma aposta para a eleição de 2024, especialmente na Grande Tijuca.

Outros candidatos como Tarcísio Motta (PSOL), Alexandre Ramagem (PL), Cyro Garcia (PSTU), Pedro Duarte (Novo) e Otoni de Paula (MDB) são cotados para concorrerem na disputa eleitoral pela Prefeitura do Rio. Dani Balbi (PCdoB), Marcelo Queiroz (PP) e Juliete Pantoja (UP) também são nomes esperados para a disputa do cargo.

Para os políticos que pretendem ser vereadores, a data-limite para trocar de partido sem a perda do mandato foi 5 de abril. Porém, assim como os candidatos à Prefeitura, eles têm até 15 de agosto para registrarem a candidatura.

Os cidadãos com idade entre 18 a 70 anos são obrigados a votar nas eleições. O voto facultativo é para pessoas com mais de 70 anos, para os analfabetos e para os jovens com idades entre 16 e 18 anos. Segundo o TSE, o prazo para emitir e regularizar o título eleitoral é até o dia 8 de maio.

O TSE disponibiliza atendimento remoto para realizar o alistamento eleitoral e a regulamentação do título de eleitor.

Ganhadores do Prêmio Nobel marcam presença na Uerj

Ganhadores do Prêmio Nobel marcam presença na Uerj

Palestras promovem diálogos entre cientistas internacionais e nacionais 

Por: Manoela Oliveira e Maria Eduarda Galdino

Da esquerda para a direita: May-Britt Moser, Luiz Davidovich, Isaac Diaz, Heloísa Paterno, Lúcia Del Valle e Adam Smith / Reprodução: Manoela Oliveira
 
 
 

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) reuniu três ganhadores do Prêmio Nobel para debaterem sobre a importância da ciência, nesta última segunda-feira (15). O evento aconteceu pela primeira vez no Brasil, e trouxe premiados como Serge Haroche (ganhador do Prêmio Nobel de Física),  David MacMillan (ganhador do Prêmio Nobel de Química) e May-Britt Moser (ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina). O encontro foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Nobel Prize Outreach. 

A palestra “As responsabilidades dos cientistas” discutiu o papel dos cientistas no incentivo à ciência e na construção de um futuro melhor, no Teatro Odylo Costa, filho. A mesa contou com a presença de May-Britt, de Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC e de Adam Smith, moderador do debate. Alunos de universidades da América Latina foram convidados para participarem do debate. Lúcia Del Valle, da Universidade do Chile, Isaac Diaz, do Instituto de Tecnologia da Costa Rica e Heloísa Paterno, do Instituto Federal Catarinense, relataram suas experiências como jovens cientistas.

O evento iniciou-se às 10h00 e terminou às 16h00, promovendo uma discussão sobre a importância dos cientistas na sociedade. A cobertura em inglês e em português do evento pode ser acessada pelo Youtube do Nobel Prize.

As responsabilidades dos cientistas

Luiz Davidovich explicou que a obrigação dos cientistas é buscar conhecimento, visando desenvolver um mundo melhor. Segundo o físico: “A ciência deveria ter como preocupação principal a curiosidade e a paixão pela mesma”. Ele ressaltou a pressão da nova geração de cientistas com o “sistema recompensatório”, que consiste na extrema vontade dos pesquisadores de serem reconhecidos pelas suas pesquisas acadêmicas. Porém, de acordo com Davidovich, o trabalho dos cientistas de desvendar os mistérios do universo já é algo impressionante, não é necessária a procura por recompensas acadêmicas.

Davidovich disse que a outra responsabilidade dos cientistas é seguir regras éticas, para a ciência não se tornar algo prejudicial à humanidade. Porque, segundo ele: “Geralmente, aqueles que têm mais poderes no país ou no mundo, vão ter mais poder na gestão da tecnologia”. O físico enfatizou que a ciência é um mecanismo para romper barreiras globais, por isso, ela deve ser usada de maneira correta pelos cientistas. A pesquisadora May-Britt acrescentou que em situações de guerra, como no conflito entre Ucrânia e Rússia, os pesquisadores precisam se ajudar para o bem da sociedade.

May-Britt levantou um questionamento sobre o limite do envolvimento dos cientistas nas áreas políticas.  Ela afirmou que: “Ao receber o Prêmio Nobel, as pessoas me tratam, como os outros laureados, como uma pessoa que pode ter influências políticas”. A neurocientista enfatizou que é necessário encontrar um equilíbrio na atuação desses profissionais nas questões públicas, para não ocorrer uma intervenção extrema e se tornar algo perigoso.  Em março de 2024, houve um caso de envolvimento político dos ganhadores do Prêmio Nobel, em que 39 laureados se manifestaram contra o governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia, em carta aberta. 

Lúcia Del Valle perguntou a May-Britt como ela lida com profissionais de diferentes áreas nos laboratórios de pesquisa. Como exemplo, Lúcia citou os profissionais de comunicação que ajudam na divulgação dos projetos do laboratório para a população. May-Britt respondeu que a comunicação é fundamental e os cientistas do laboratório sempre procuram estar em constante contato com os comunicadores. A neurocientista ressaltou que não tem medo de receber outros profissionais que saibam mais que ela em alguma área, seja ela científica ou qualquer outra. 

Isaac acrescentou ao que foi dito por May-Britt em relação à comunicação. Ele afirmou que a comunicação é uma responsabilidade pública, porque as instituições usufruem do dinheiro do Estado, portanto existe uma responsabilidade em compartilhar as pesquisas e o desenvolvimento com a sociedade. 

Luiz Davidovich complementou a fala de Isaac sobre a necessidade de se aprender a ouvir as pessoas de diferentes culturas em nossa volta, e não somente compartilhar o seu ponto de vista de pesquisador. Davidovich disse que o Brasil e outros países da América Latina carregam consigo uma diversidade, então os cientistas devem ouvir a perspectiva e conhecimento de cada indivíduo. Como exemplo, ele citou que a ABC possui uma categoria chamada de “colaboradores”, os quais são pessoas que não são cientistas, mas que fizeram diversas contribuições para o avanço científico. O físico citou  Davi Kopenawa, xamã da tribo Yanomami, protagonista de um livro transcrito pelo antropólogo francês Bruce Albert chamado “A queda do céu”. A obra é um relato sobre a história de vida de Davi e suas crenças cosmoecológicas. Luiz acrescentou: “Além da ciência, existe o conhecimento, e conhecimento é diferente de ciência. E nós devemos ouvir o conhecimento, porque o conhecimento pode ser a entrada para a ciência”.

BRASIL X CIÊNCIA 

Apesar de o Brasil ter um certo desenvolvimento no âmbito científico, muitos cientistas brasileiros se sentem desvalorizados no país, pois as instituições de educação e pesquisa científica não recebem apoio suficiente das autoridades públicas. Os cortes nas bolsas, a falta de infraestrutura e a desvalorização do Estado são constantes. Segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, nos últimos anos, 6,7 mil cientistas deixaram o país para poderem iniciar ou concluir suas pesquisas no exterior. 

A falta de pesquisas feitas por brasileiros têm consequências no cenário nacional. O prêmio Nobel é um evento que acontece há 120 anos, desde 1901, e até hoje nenhum brasileiro teve a oportunidade de ser laureado, seja ele nas categorias de Medicina, Literatura, Economia, Paz, Física e Química. 

Diante dessa crise nacional, o governo Lula tem feito esforços para o resgate do avanço científico no país. O programa “Conhecimento Brasil” está sendo lançado visando repatriar cientistas brasileiros que atualmente residem no exterior e tenham concluído o mestrado e doutorado, ou até mesmo cientistas brasileiros que não possuem nenhum tipo de vínculo com alguma instituição científica no país para que eles possam desenvolver suas pesquisas no Brasil. O governo planeja investir 1 bilhão de reais para repatriar mil cientistas brasileiros e combater o que eles chamam de “fuga de cérebros”, termo usado para pesquisadores que se formam em território brasileiro e saem do país. 

O programa irá pagar uma bolsa de R$13 mil reais aos cientistas que ficarem em instituições de pesquisas ou universidades brasileiras, mais uma verba de 400 mil reais para que novos institutos de pesquisa sejam construídos.  

Apesar de o programa “Conhecimento Brasil” ter um plano progressista, ainda surgem inúmeras dúvidas em relação a alguns aspectos. Nas redes sociais, alguns cientistas questionam o programa, alegando que o governo deveria pensar nos cientistas que continuam no país e estão tendo dificuldades devido à desvalorização da profissão.  Segundo relatório de Elsevier-Bolsi, o Brasil registrou uma queda de 7,4% de produção científica em 2022, em comparação com o ano anterior. 

Comentário de um usuário do X na postagem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) / (Reprodução: X)