‘Solta o bicho!’: Vila Isabel aposta em reedição de Gbalá para o Carnaval, samba clássico de Martinho da Vila

‘Solta o bicho!’: Vila Isabel aposta em reedição de Gbalá para o Carnaval, samba clássico de Martinho da Vila

Macaco Branco, mestre de bateria da Escola, declara: “a cereja do bolo que falta para a Vila Isabel ser campeã”

Por: Everton Victor, Kauhan Fiaux e Leonardo Siqueira

Quadra da Unidos de Vila Isabel. Foto: Fausto Ferreira
 
 
 

“Gbalá é resgatar! Salvar!”. Embalada pelo samba de Martinho da Vila, a Unidos de Vila Isabel revisita o enredo de seu desfile de 1993 e cantará de novo na Avenida “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”. Para Macaco Branco, mestre de bateria da Escola, o enredo se destaca por sua atemporalidade e seus ensinamentos sobre preservação da natureza e amor ao próximo: “Um samba que ficou para a história do Carnaval. Independente da época, ele vai estar muito atual”.

O enredo reflete sobre os males que a humanidade causa ao planeta Terra e a salvação através da pureza das crianças como a esperança do criador da humanidade, Oxalá. “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” foi desenvolvido por Oswaldo Jardim, em 1993, e terá agora a assinatura do carnavalesco Paulo Barros.

Segundo o mestre Macaco Branco, a escolha por reeditar o enredo passa também por fortalecer o desfile da Vila Isabel em quesitos nos quais a Escola perdeu pontos no Carnaval do ano passado, como o enredo e o samba enredo, quando terminou na 3ª posição, apenas cinco décimos atrás da campeã Imperatriz Leopoldinense. Um dos grandes marcos do desfile da Vila de 2023 foi a alegoria de São Jorge, que encantou a Sapucaí e que está exposta na Cidade do Samba.

Mestre Macaco Branco (à esquerda). Foto: Instagram da Vila Isabel
 

A presidente da Velha Guarda, Cheila Rangel, é uma das remanescentes do desfile de 1993. Há 41 anos na agremiação Azul e Branca de Vila Isabel, Cheila conta que apesar de alguns contratempos, como a chuva durante o desfile, considera um Carnaval marcante na história da Vila. Para ela, a reedição de Gbalá, agora com enredo assinado por Paulo Barros, “vai ser um Carnaval para não colocarem defeitos”.

Os ensaios de rua

Tradicionalmente às quartas-feiras, a Vila Isabel transforma o Boulevard 28 de Setembro em uma pequena Sapucaí. No comando da “Swingueira de Noel”, Macaco Branco declara que os ensaios de rua têm o papel de colocar em prática tudo o que a Escola pretende levar para a Avenida: “A gente vê tempo, andamento, formas de samba, como vai ser a introdução, o que fazer para a bateria evoluir. O ensaio de rua é maravilhoso porque a gente tem um parâmetro do que vai ser no grande desfile”.

Segundo o mestre de bateria, o ensaio começa às 19h30 com um trabalho técnico da bateria dentro da quadra, ao melhor estilo da agremiação Azul e Branca: “O andamento do desfile é muito próximo do que foi em 93. A gente brinca com algumas coisas trazendo mais para a atualidade, mas enquanto estivermos aqui, vamos lutar para ser o ritmo característico da Vila Isabel. Uma bateria muito tradicional”, garante Macaco Branco.

Ensaio de rua da Vila Isabel. Foto: Carlos Lúcio
 
 

Às 21h, o Boulevard 28 de Setembro é fechado e os integrantes partem com os instrumentos para a frente da Basílica Nossa Senhora de Lourdes, onde ocorre a concentração da Vila Isabel, e o desfile começa em direção à quadra da Escola, local de encerramento do ensaio. O primeiro ensaio de rua para o Carnaval de 2024 foi realizado no dia 18 de outubro do ano passado, e o último no dia 31 de janeiro deste ano. 

Contudo, a preparação para um desfile não se resume aos ensaios de rua ou até mesmo na quadra. Paula Bergamin, musa da Vila Isabel desde 2019, revela sua rotina para se manter pronta para o desfile. Aos 62 anos, ela conta que faz musculação e aulas de samba e dança durante todo o ano: “Eu me preparo o ano todo porque com a minha idade eu preciso fazer mais que as musas jovens. Então eu me dedico. Agora, na reta final, eu apertei um pouco mais os treinos, que são diários, e os cuidados com a alimentação para chegar mais em forma e com fôlego”.

Ao trazer novamente Gbalá para a Avenida, a Azul e Branca da Vila homenageia a sua própria história e de sua comunidade. Seja através daqueles que desfilaram no desfile de 1993, como a Presidente da Velha Guarda, assim como os que ingressaram posteriormente na Escola, o samba-enredo é um grito de esperança que se mantém presente na comunidade. 

A Unidos de Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na segunda-feira, dia 12 de fevereiro, em busca do seu quarto título de Carnaval na sua história. Com um desfile permeado de significados entre passado, presente e futuro, o samba clássico da Azul e Branca relembra a Sapucaí: “Para salvar a geração, só esperança e muito amor”.

Samba e Carnaval: raízes do povo brasileiro

Samba e Carnaval: raízes do povo brasileiro

Integrantes da Unidos de Vila Isabel exaltam relação de amor, dedicação e pertencimento à Escola

Por: Everton Victor, Kauhan Fiaux e Leonardo Siqueira

Presidente da Velha Guarda em ensaio na rua Boulevard 28 de Setembro. Reprodução: Redes Sociais (Instagram Vila Isabel)
 
 
 

O calendário de 2024 marca um dia específico para o Carnaval: 13 de fevereiro. Mas, para muitos, o Carnaval vai muito além de um só dia: é uma vida. Esse é o caso de Cheila Rangel, presidente da Velha Guarda da Unidos de Vila Isabel e que completa 41 anos na Escola de Samba: “Eu tenho amor pela minha Escola. A Vila Isabel é uma das coisas mais importantes para a minha vida”, declara.

O primeiro contato de Cheila Rangel com a Escola de Samba foi como passista. Depois, ao longo dos anos, assumiu funções como diretora da ala das passistas e diretora social, até se tornar benemérita da Escola, presidente do Conselho Fiscal da Herdeiros da Vila e presidente da Velha Guarda. Hoje, aos 72 anos, ela garante: “Tudo o que eu faço é por amor. Eu me doo para a Vila Isabel”.

Assim como ela, Macaco Branco, mestre de bateria da Escola, também tem longa história com a Azul e Branca. Começou a desfilar por volta dos 13 anos, influência dos pais que já viviam na Escola. Foi diretor de bateria, diretor musical, e hoje comanda a “Swingueira de Noel”. “Se não estiver mais como mestre e precisar empurrar carro, eu vou. É sobre o apreço e carinho pela Escola. Eu pretendo ser Vila Isabel eternamente”, afirma. Para ele, uma Escola de Samba é como se fosse um quilombo, onde todos se reúnem para comemorar e festejar o Samba, Cultura do povo brasileiro.

Paula Bergamin, musa da Escola desde 2019, é mais uma que compartilha desse sentimento: “Na Vila eu me sinto em casa. (Ela) se tornou uma segunda família”. Paula destaca ter sido muito bem recebida pela comunidade e relata estar sempre presente nos ensaios e eventos da Escola. Aos 62 anos, ela acumula mais de dez desfiles como musa e é uma inspiração para as mais jovens.

Paula Bergamin, musa da Vila em ensaio da Escola. Reprodução: Fausto Ferreira
 
 
 
 

‘Não deixe o Samba morrer’

A ancestralidade é um dos pilares que fazem o Carnaval acontecer. Na Velha Guarda da Vila Isabel, segundo Cheila Rangel, fazem parte netas do fundador da Escola, a primeira mulher a desfilar na bateria da Azul e Branca e uma porta-bandeira de 92 anos. Exemplos da essência do sentido de comunidade que as Escolas de Samba representam: valorizar quem faz parte dessa história.

Contudo, há também a preocupação com o futuro. Para Macaco Branco, uma “Escola” de Samba tem também o papel de ensinar e de “plantar a sementinha” para as próximas gerações: “O Samba é nossa Cultura e nossa raiz, e a gente tem que levar isso para o mundo e para a vida. Se não ensinar, isso acaba”. O mestre de bateria acredita que, a Herdeiros da Vila, Escola de Samba, mirim da Vila, seria o “Gbalá da Vila Isabel”, em referência ao enredo da escola para o Carnaval, 2024, que vê nas crianças o caminho para um futuro.

Em casa, Macaco Branco já pode ver a semente dar frutos. Ele conta que já desfila com seu filho de 13 anos ao seu lado no comando da bateria, enquanto o mais novo, de apenas 3 anos, já é fascinado pela Vila Isabel: “Ele nasceu amando aquilo”, relata.

MacacoBranco,mestre de Bateria da Vila Isabel (à esquerda). Reprodução: Diogo Mendes

História, Economia e Cultura

De acordo com especialistas, a Cultura do Carnaval se perpetua através da ancestralidade, religiosidade e da resistência do “sambar”. As Escolas de Samba são uma representação e continuidade dessa cultura que é a marca do Brasil. Os desfiles se iniciaram na Praça Onze, região central do Rio, e desde 1978 ganharam um espaço que se tornou a Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro: a Sapucaí. Em um esquema de monte e desmonte após os desfiles, foi apenas em 1983 que o Samba passou a ter um palco com estrutura permanente. Resultado de uma história de resistência e luta para não deixar o Samba morrer, e que não se resume a uma data marcada em fevereiro ou março.

Além de cultural, o Carnaval movimenta todo um comércio e logística na cidade. Só neste ano, o Governo do Estado do Rio de Janeiro vai investir R$ 62 milhões no Carnaval. Segundo dados do próprio governo estadual, a estimativa é que a capital receba mais de 5 milhões de pessoas, o que atua diretamente no turismo e na economia local.

Ao longo do ano, os ensaios das Escolas de Samba também colaboram para aquecer a economia. Com ensaios no Boulevard 28 de Setembro, a Vila Isabel é uma atração cultural e econômica para a comunidade: “A galera vem pra curtir, tomar uma cerveja, cantar, aplaudir e prestigiar a Eescola”, conta Macaco Branco. Além de itens para o consumo, como bebidas e comidas, nos arredores da quadra da Escola é possível encontrar a venda de itens da Azul e Branca, como camisas e bonés.

Da folia também é construído um pertencimento de estar e representar uma Escola de Samba. A lógica do Carnaval se diferencia do contexto da competitividade: as Escolas são, sobretudo, co-irmãs, que lutam para manter o Samba e sua história vivos. Uma identidade nacional que é marcada pela construção do próprio país. Agremiações com histórias fincadas em terreiros, na negritude, nas periferias e subúrbios, além de claro, na folia.

Tuiuti celebra aniversário e anuncia novidades

Tuiuti celebra aniversário e anuncia novidades

Comemoração dos 71 anos da Paraíso do Tuiuti teve presença da Beija-Flor de Nilópolis e apresentação da nova equipe para o carnaval 2024

Por: Lorrane Mendonça 

Presidente Renato Thor, Jack Vasconcelos e Pixulé na festa de aniversário do Paraíso do Tuiuti. / Foto: @ewertoncarnaval

A Escola de Samba Paraíso do Tuiuti completou 71 anos de fundação neste mês e aproveitou o seu aniversário para anunciar sua nova equipe e o enredo que levará para a Sapucaí no carnaval de 2024. A Festa de aniversário da Escola, que aconteceu na última sexta-feira (14), contou com a apresentação oficial do novo intérprete da Tuiuti, Pixulé, e marcou o retorno de Jack Vasconcelos, carnavalesco que deixou a Escola em segundo lugar no carnaval de 2018. O evento também teve a participação especial da Beija-Flor de Nilópolis.

Com a saída do intérprete Wander Pires para Unidos do Viradouro, Pixulé foi a escolha da diretoria para representar a Tuiuti na Sapucaí em 2024. “Quando eu recebi o WhatsApp do presidente Thor, eu não sabia se sorria ou chorava, comecei a tremer da cabeça aos pés. Era tudo o que eu queria, pois sempre quando abre uma vaga numa Escola de Samba do grupo especial, o Pixulé fica do lado de fora. E, daqui em diante, o Pixulé faz parte do quilombo do samba”, declarou o novo intérprete da Tuiuti.

Jack Vasconcelos anunciou o enredo “Glória ao Almirante Negro!”. A história faz uma homenagem a João Cândido, um marinheiro brasileiro que se engajou na luta contra os maus-tratos, a má alimentação e as chibatadas sofridas pelos colegas. O carnavalesco já brilhou na Escola em 2018 com o enredo “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”, deixando o pavilhão em segundo lugar no campeonato.

“Muitas coisas importantes aconteceram na minha vida por causa da Paraíso do Tuiuti. O presidente Thor sempre acreditou muito no meu trabalho, embarcou muito nas minhas maluquices. Essa troca é muito importante, principalmente para um trabalho que envolve criatividade e paixão, que é o nosso caso”, disse Jack Vasconcelos.