Programa Procriar: Promovendo saúde e conhecimento
Programa de extensão da Uerj oferece práticas integrativas e oficinas de criação para a comunidade
Por Samira Santos e Julia Lima
Na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), um programa de extensão vem promovendo uma abordagem nova na educação e no cuidado com a saúde.Coordenado por Eliane Paquiela, combina práticas integrativas e oficinas de criação, oferecendo uma experiência educacional e terapêutica única para alunos e comunidade.
Fundado há mais de duas décadas pela professora Célia Caldeira Fonseca Kestenberg, o Procriar teve continuidade com Janaina Mengal Gomes Fabri e Frances Valeria Costa antes de Eliane assumir a coordenação. O programa é multiprofissional e aberto, favorecendo a interação entre diversos projetos de extensão junto com a comunidade.
O Procriar possui duas frentes principais: as práticas integrativas e as oficinas de criação. As práticas integrativas são coordenadas por professores cadastrados e incluem um projeto abrangente chamado “Saúde-se”, que oferece atendimentos à comunidade e diversas terapias integrativas. Além disso, projetos como “Meditação”, a “Liga da Saúde Mental” e o “Quilombo do Cuidar” são partes do Procriar, abordando temas de dança, arte, cultura, raça, gênero, identidade e sexualidade. Essas iniciativas proporcionam aos alunos a oportunidade de explorar essas temáticas de forma prática que vai além de estudar os conceitos na sala de aula. Paquiela destaca a importância de vincular a comunidade à Universidade através dos projetos de extensão. “A gente acredita que uma formação em saúde não é afastada do campo político, com isso pensamos em oportunizar para que a sociedade possa conhecer a Uerj a partir dos nossos projetos.”
A relação entre a comunidade e o Procriar é um aspecto essencial do programa. Para que um projeto seja caracterizado como extensão, é necessário que haja uma conexão concreta entre a universidade e a comunidade. Isso é facilitado pela Rede 2.2, que organiza o território de saúde no Rio de Janeiro, permitindo a abertura de espaços tanto para os trabalhadores da saúde quanto para a comunidade local. A divisão territorial da cidade em áreas de planejamento e programáticas permite que os serviços de saúde atendam melhor às necessidades locais, seguindo a lógica organizacional do SUS.
Com a nova gestão da Faculdade de Enfermagem, foi criado um colegiado representando todos os departamentos: Fundamentos de Enfermagem, Enfermagem de Saúde Pública, Enfermagem Médico-Cirúrgica e Enfermagem Materno-Infantil. Esse colegiado inclui dois professores de cada departamento, um ligado às práticas integrativas e outro às oficinas de criação. Com essa estrutura, a Faculdade pretende organizar um cronograma anual para melhorar a gestão e a eficácia dos projetos de extensão.
O Procriar não apenas beneficia a comunidade com suas práticas integrativas e oficinas de criação, mas também oferece aos alunos uma formação completa, integrando conhecimentos teóricos e práticos. Ele reside no endereçoBoulevard 28 de Setembro, 157 – Vila Isabel, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20551030
Hupe oferece cirurgia de confirmação de gênero para a comunidade transexual
Urologista do Hupe explica os procedimentos cirúrgicos
Por: Manoela Oliveira e Kauhan Fiaux
O ambulatório de Transdiversidade do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) oferece acompanhamento para pessoas transexuais, transgêneros e travestis do Rio de Janeiro. O ambulatório é registrado pela Secretaria Estadual de Saúde e é um dos pontos de referência no Estado.
O Hupe disponibiliza apoio para as pessoas trans, desde o acompanhamento psicológico e o tratamento hormonal até o procedimento cirúrgico. A cirurgia de confirmação de gênero pode envolver procedimentos genitais ou não genitais (como a mastectomia ou a feminização facial), as cirurgias genitais são apenas uma parte do processo.
Segundo levantamento daFolha de S. Paulo, apenas oito estados oferecem cirurgias de confirmação de gênero de forma pública. No Rio de Janeiro, apenas dois hospitais disponibilizam o serviço: o Hupe e o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, ambos localizados na capital fluminense. Por mais que o acesso a esse tipo de tratamento tenha aumentado nos últimos anos, a oferta ainda é pequena para a população. Segundo dados da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de 2021, cerca de 3 milhões de pessoas no Brasil são trans ou não-binárias, representando cerca de 2% da população do país.
A carência de espaços que realizam o procedimento gera grandes filas de espera, fazendo com que as pessoas optem por fazer a cirurgia em rede privada. Em 2021, a Associação Nacional de Saúde Complementar (ANS) incorporou a cirurgia de confirmação de gênero na lista de procedimentos cirúrgicos liberados para planos de saúde – uma forma um pouco mais barata quando comparada com a saúde privada. Dados dos próprios convênios de saúde indicam que, desde então, o número de cirurgias aumentou em 75%.
Etapas da cirurgia
Antes da realização da cirurgia de confirmação de gênero, é necessário um tratamento hormonal prévio de dois anos. A pessoa que deseja prosseguir com a cirurgia precisa de um acompanhamento com um endocrinologista para providenciar as transformações corporais masculinas ou femininas. Também é preciso orientação de profissionais como psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, porque eles oferecem suporte emocional para a adaptação da cirurgia. O urologista especializado em reconstrução urogenital do Hupe, Luiz Augusto Westin, diz que: “Uma vez que conseguimos alinhar o corpo e a mente do paciente, começamos a pensar em fazer qualquer procedimento cirúrgico”.
Na transição dos órgãos genitais do feminino para o masculino, existem duas técnicas cirúrgicas ofertadas pelo Hupe: a metoidioplastia e as neofaloplastias. Westin explica que: “A metoidioplastia é uma técnica na qual a gente alonga o clitóris hipertrofiado. É feito uma harmonização e o clitóris cresce”. Nesse procedimento, o paciente consegue urinar sentado e ter relações sexuais, porém não é recomendado o sexo com penetração.
Segundo o urologista, as neofaloplastias são cirurgias mais complexas que demandam mais etapas. “Isso consome a vida do paciente e eles, muitas das vezes, acabam não optando por essas técnicas”, ressalta Westin. Porém, algumas pessoas escolhem as neofaloplastias por possibilitarem ao indivíduo ter um pênis maior, em comparação com a metoidioplastia. As neofaloplastias são feitas somente em hospitais públicos, porém existem pesquisas em andamento pelo Ministério da Saúde para esse procedimento também ser feito em hospitais de redes privadas, segundo o médico.
De acordo com o urologista, na mudança da genitália masculina para a feminina, a cirurgia de confirmação de gênero é efetuada por meio da inversão peniana modificada. “É um procedimento mais simples que a metoidioplastia e as neofaloplastias, por ter muito tecido para trabalhar. A gente usa uma parte da pele do escroto para fazer o canal vaginal”, afirma Westin. A cirurgia dura em torno de quatro horas e o paciente recebe alta em cerca de cinco dias.
O especialista alerta que no processo pós-cirúrgico, alguns problemas médicos podem surgir, sobretudo os que dizem respeito à uretra: “O atendimento médico é eterno. Esses pacientes não recebem alta nunca”. O recomendado por Westin é uma consulta médica anual durante toda a vida para a prevenção de possíveis complicações.
O urologista ressalta a importância de se ter disponível as cirurgias de confirmação de gênero no Hupe para homens e mulheres trans. Ele acrescenta que: “A saúde é um direito de todos e dever do Estado. Todo mundo tem que ter acesso à saúde”. Westin destaca que a cirurgia de transgenitalização é uma conquista da comunidade LGBTQIA+.
O Hupe fica localizado no Boulevard 28 de Setembro, número 77, no bairro de Vila Isabel. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (21) 2868-8000.
Poluição luminosa traz riscos ao meio ambiente e à saúde
A iluminação excessiva pode atrapalhar migração, alimentação e reprodução de animais, além de prejudicar ciclo do sono humano
Por: Beatriz Araujo
O céu menos estrelado nas noites das grandes metrópoles tem relação direta com a disseminação da luminosidade intensa que se espalha pela cidade, em forma de iluminação pública e de edifícios, outdoors digitais, avenidas e até monumentos. Apesar de permitir uma visibilidade maior para as pessoas, a emissão excessiva dessas luzes artificiais provoca poluição luminosa, cujos impactos ultrapassam o âmbito da astronomia. A saúde humana e os ecossistemas, segundo especialistas, também sofrem com esse impacto.
Uma pesquisa publicada na revistaScienceem janeiro de 2023 analisou, com a ajuda de cientistas cidadãos, dados de 2011 a 2022, e descobriu que o brilho do céu aumentou cerca de 9,6% ao ano durante esse período. Esse rápido aumento da iluminação artificial pelo mundo dificulta a visibilidade do céu noturno e interfere na observação do cosmos, ferramenta importante para o desenvolvimento de conhecimentos como a climatologia e a oceanografia.
Já nos ecossistemas, o professor Jorge Antônio Lourenço Pontes, do Departamento de Ciências da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da UERJj, explica que a grande maioria dos danos da poluição luminosa está relacionado à flora e à fauna. “Quando se ilumina muito uma área você pode alterar ciclos biológicos de uma série de animais que são regulados pela luminosidade”, diz.
A iluminação excessiva pode atrapalhar hábitos como a migração, alimentação e reprodução, principalmente de animais noturnos. Ao atravessar regiões muito iluminadas, aves podem se desorientar e colidir com obstáculos como prédios e montanhas. Além disso, a presença de luz intensa pode confundir filhotes de tartarugas marinhas, levando-as a desovar em áreas inadequadas.
O professor também ressalta que na flora, a presença de luz artificial afasta polinizadores noturnos, e perturba os ciclos fisiológicos das plantas. Muitas espécies de plantas dependem da luminosidade para regular seus ciclos de floração e para atrair polinizadores, incluindo abelhas durante o dia e mariposas e morcegos durante a noite. Essa poluição luminosa pode afastar esses polinizadores essenciais, reduzindo a qualidade do habitat, desequilibrando os ecossistemas e impactando negativamente a biodiversidade local.
Jorge Antônio destaca que mesmo áreas de reserva ambiental não estão fora de risco. “No Rio de Janeiro, temos muitos casos de iluminações de costões de morros como Urca e Pão de Açúcar sem autorização. As equipes chegam no local, fazem as projeções e até a fiscalização ambiental ser acionada os danos ao ecossistema da área já foram feitos”, explica o professor.
Em 2020, a empresa de streaming Disney+ utilizou dezenas de refletores para projetar imagens na encosta do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro como forma de propaganda. Esse tipo de ação pode ser responsável por danos irreversíveis à fauna e flora da região. Por conta disso, já há iniciativas de regular essas ações de forma a mitigar os efeitos sobre a natureza.
O projeto deLei 1400/21, apresentado pelo deputado federal Carlos Henrique Gaguim na Câmara dos Deputados em abril de 2021, busca tornar a poluição luminosa crime ambiental tendo como base os impactos do uso da iluminação artificial em desacordo com os padrões estabelecidos. A proposta sugere estabelecer uma definição clara e precisa do que constitui a poluição luminosa, além de ampliar a definição de poluição passível de sanção penal. Também propõe classificar a poluição luminosa em níveis que possam afetar diretamente a saúde e a segurança da população como delito.
A poluição luminosa também é um problema de saúde pública
A sobrecarga visual a que são expostos provoca principalmente alterações no sono das pessoas. De acordo com o professor Lucas Neves da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ, a má qualidade do sono pode causar diversos impactos neurocognitivos como o cansaço, a sonolência, falta de concentração, dificuldades na memória, irritabilidade e até quadros mais sérios como a ansiedade e a depressão.
O professor destaca que o ciclo circadiano – período de 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico dos seres vivos, regulando o organismo entre o dia e a noite – também é afetado, o que pode resultar em diversas doenças, incluindo ganho de peso, diabetes e outras condições clínicas. “A falta da qualidade do sono, traz alterações hormonais. Há evidências de que o impacto no ciclo circadiano e a dificuldade de dormir em horários certos provoca ganho de peso, favorece a diabetes e doenças clínicas.”
Neves também explica que, mesmo pessoas cegas, podem sofrer os efeitos da exposição excessiva à luz artificial. Isso acontece devido ao fotorreceptor na retina que detecta luminosidade, a célula ganglionar retiniana fotossensível. Essa célula não está envolvida diretamente na formação de imagens visuais, como os bastonetes e cones, mas desempenha papel fundamental na regulação do ritmo circadiano e na resposta pupilar à luz.
Entre possíveis medidas para reduzir o impacto da poluição luminosa na saúde está a troca da iluminação interna. A substituição de lâmpadas de luz fria para as de luz quente nos quartos é uma das recomendações feitas por Lucas Neves. “Quando a luminosidade bate na retina, ela tem a função de diminuir a melatonina, que é um hormônio natural que produzimos para o sono. Então se você colocar uma luz mais amarelada, que não seja tão clara, ela não vai inibir tanto a melatonina.”
Alguns telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos apresentam a configuração “Night Shift”, uma alteração no brilho de tela no período noturno para um tom amarelado que reduz a emissão de luz azul pelo aparelho, que pode suprimir a produção de melatonina.
A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) já considerou o trabalho noturno como um “provável cancerígeno humano” e em 2016, um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universiti Teknologi MARA (UiTM) na Malásia, associou a exposição à luz artificial ao aumento do risco de câncer em áreas do corpo como a mama.
A solução está em uma iluminação inteligente
Quando utilizada de maneira correta, a iluminação pública não é um problema de poluição luminosa. O uso de uma iluminação direcionada, orientando a luz para baixo ao invés de dispersá-la para cima, pode promover uma redução significativa do brilho excessivo no céu noturno. Além disso, o uso de tecnologias modernas, como LEDs e sistemas de controle de iluminação, permite ajustar a luminosidade de acordo com as necessidades específicas de cada área e horário, reduzindo também o desperdício de energia.
A consciência pública sobre o impacto da poluição luminosa também é fundamental na busca por amenizar seus impactos. O projetoGlobe at Night desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Pesquisa em Astronomia Óptica-Infravermelha (NOIRLab) da NSF (Fundação Nacional da Ciência, em português), nos Estados Unidos, permite que cidadãos-cientistas do mundo todo submetam suas observações do céu noturno através de um computador ou smartphone. No site do projeto, são disponibilizadas informações sobre diversas constelações e a opção de reportar, preenchendo um formulário, caso ela esteja visível no céu da região em que o voluntário se encontra.
Os dados coletados pelos são compilados e analisados por pesquisadores para avaliar a extensão da poluição luminosa em diferentes áreas do globo e como ela está mudando ao longo do tempo. Além de promover o engajamento das pessoas com o tema, a plataforma do projeto também fornece recursos educacionais e materiais de instrução para escolas, grupos comunitários e organizações interessadas em aprender mais sobre poluição luminosa e como combatê-la.
Histórias de mulheres surpreendidas pela gestação, e alguns fatores que ajudam a compreender o quadro
Por Maria Eduarda
A designer de interiores Lana Rafaela Muack, 28, nunca imaginou que, numa simples ida ao banheiro, sairia com um filho nos braços. Ela nem mesmo sabia que estava grávida. “Eu comentei com a minha família que estava com cólica, minha tia me preparou um chá e me deu um remédio. Em determinado momento, fui ao banheiro, e a dor começou a ficar mais forte. Tive a sensação de que meus rins estavam saindo do meu corpo. E então, eu desmaiei.” Era Arthur que estava chegando.
O relato da designer parece inacreditável para outras mães e para a própria Rafaela, que já era mãe de duas crianças antes do nascimento de Artur. “Nas duas primeiras vezes em que estive grávida, senti todos os sintomas: barriga, seio, ânsias de vômitos. Mas na terceira, eu não senti nada e menstruava normalmente.”
Depois de desmaiar no banheiro, acordar coberta por sangue grosso e coagulado, percebeu o bebê no chão próximo ao seu corpo. Rafaela conta que mesmo confusa sobre o que estava acontecendo, reagiu: “Eu tenho curso de primeiros socorros, então eu sabia que precisava fazer massagem nas costinhas para ele regurgitar o líquido amniótico. Depois disso, eu nem levantei, fui me arrastando para o box, liguei o chuveiro e tomei um banho com ele no colo.” Rafaela ligou para a prima pedindo ajuda e pediu que chamassem o SAMU.
No caminho do hospital, até os socorristas estavam achando inconcebível seu relato. “Eu tive que explicar mil vezes a mesma coisa. Tudo isso que eu te contei, eu tive que repetir dez vezes, sendo que nem eu mesma estava conseguindo entender o que havia acabado de acontecer.”
Aconteceu mais ou menos o mesmo com a assessora parlamentar e estudante de Gestão Pública da UFRJ Rayanne Soares, 26. Em novembro de 2023, Rayanne contou sua história ao podcast Rádio Novelo Apresenta. A assessora tinha 17 anos e ainda estava no último ano do ensino médio quando foi totalmente surpreendida pelo nascimento de Miguel. Ela não fazia ideia de que estava gerando uma criança até o momento do trabalho de parto. Diferentemente de Rafaela, Rayanne sentia desconfortos estomacais e enjoos e chegou a ir ao posto de saúde alguns dias antes do nascimento do filho, mas não desconfiaram que poderia ser uma gravidez . “Eu tinha um histórico de gastrite e estomatite. No posto, recebi um encaminhamento para fazer uma endoscopia no dia 23 de março, que seria uma segunda-feira. Mas o Miguel nasceu antes disso, em 20 de março.”
Na entrevista ao podcast, Rayanne contou à entrevistadora Branca Viana que, no dia 19 de março, saiu do trabalho mais cedo porque estava sentindo muita dor e que passou horas em casa se contorcendo. “Mãe, vai no quarto que a Rayanne tá morrendo”, seu irmão disse ao vê-la na madrugada do dia 20. Com uma carona do vizinho que saía para trabalhar, as duas foram para o hospital.
Chegaram por volta das seis da manhã, e a primeira coisa que o maqueiro perguntou foi: “Você está grávida?”. Rayanne obviamente negou. Enquanto a mãe resolvia a documentação, Rayanne foi para uma sala ser examinada. Então, veio o choque: “Você não está grávida não, você está entrando em trabalho de parto.” Às 6h43 nasceu Miguel.
“Todo mundo tomou um susto e ficou bem desesperado, mas como o Miguel ficou um mês internado antes de vir para casa, eu tive um certo tempo para me adaptar e conversar com a família.” Rayanne conta que foi muito bem acolhida pela mãe, mas que não foi todo mundo que reagiu de forma positiva: “Eu tive uma rejeição da minha avó. Quando ela chegou ao hospital para a visita, eu pedi benção e ela não me abençoou, o que foi meio traumático.”
No dia do parto, ela não recebeu explicação para o que aconteceu. Disse até que foii tratada com certa negligência por parte dos médicos: “Mas nasceu? Está vivo? Qual é o sexo?” – só quando ela mesma perguntou que conseguiu saber sobre o bebê. Um tempo depois, a pediatra que acompanhava o bebê explicou a Rayanne que uma possível explicação seria uma incompatibilidade sanguínea que fazia com que o corpo dela entendesse o feto como um elemento estranho, o que fazia com que ela sangrasse. Rayanne pensava que o sangramento era a menstruação vindo normalmente e nunca desconfiou que estava grávida.
Fernanda Ghelman, médica residente de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), afirma que, apesar de serem extremamente raras, situações como as de Rafaela e a de Rayanne acontecem. Em geral, as pacientes têm o útero um pouco aumentado de volume e por isso acabam não percebendo o crescimento do bebê. Sentem movimentações fetais, mas acham que são gases ou, por determinados motivos, têm sangramentos durante a gestação e pensam estar menstruando, como foi o caso de Rayanne.
Além de questões que envolvem a fisiologia do corpo, a médica diz que pode haver também questões psicológicas envolvendo a gravidez silenciosa: “Às vezes, há um contexto familiar em que a gravidez não é bem-vinda, fazendo com ela não seja notada”, afirma.
Apesar das explicações médicas, Lana Rafaela e Rayanne dizem que muitas vezes são questionadas sobre a gravidez silenciosa. “Isso é muito pouco falado, mas muito criticado. Nós, mulheres, já somos muito atacadas por 1001 coisas e também por uma gravidez que não conhecíamos. Dizem que fui mentirosa, falsa, que eu que inventei”, desabafa Rafaela.
Síndrome éuma das lembradas na campanha do Fevereiro Roxo, mês que alerta sobre doenças crônicas
Por Julia Lima
Reprodução: Freepik
“Essa dor é besteira.” “É coisa da sua cabeça.” Antes mesmo de qualquer avaliação médica, pessoas que têm fibromialgia ouvem esse tipo de diagnóstico. Fibromialgia é uma doença caracterizada pela sensibilidade maior à dor, sem que essa dor se manifeste em uma ferida concreta ou uma inflamação visível no corpo. Por exemplo: uma dor na perna nunca aparecerá em um exame de imagem como uma tendinite ou inflamação no músculo. Nos exames, é como se a dor não existisse.
A fibromialgia é uma das doenças lembradas no Fevereiro Roxo, mês voltado para a conscientização sobre doenças crônicas, como o lúpus e o mal de Alzheimer. No caso da fibromialgia, os pacientes sofrem com o estigma de uma doença que até pouco tempo era vista como o resultado de dores “imaginárias” dos pacientes. Por muito tempo até mesmo a comunidade médica achou que essa fosse a verdade, até que um estudo recente publicado na revista PAIN, feito a partir de exames de ressonância magnética, mostrou que essas pessoas realmente sentem a dor. O cérebro delas de fato tem sensibilidade maior, como se “o termômetro da dor” estivesse desregulado e ativasse todo o sistema nervoso com qualquer estímulo, por menor que seja.
Além de dores generalizadas, pacientes com fibromialgia podem apresentar cansaço constante, sono não-reparador, problemas de memória e concentração, ansiedade, depressão, dores de cabeça, insônia e muitos outros sintomas, que variam de pessoa para pessoa. Eles podem aparecer depois de traumas graves, sejam eles físicos ou psicológicos, ou até mesmo por conta de uma infecção grave.
Justamente por não apresentar sinais físicos além das dores, a fibromialgia é uma doença de difícil diagnóstico. Não existe nenhum exame que dê com exatidão o resultado, e o reconhecimento da doença vem por meio do que os médicos chamam de diagnóstico de exclusão, ou seja, são descartadas muitas outras doenças até o diagnóstico conclusivo.
Muitos pacientes passam por anos de dor até que possam receber o tratamento adequado. A doença acomete de 3 a 8% da população, e atinge principalmente mulheres entre 30 e 60 anos, mas existem relatos de casos em todas as idades.
Evandro Klumb, professor de Medicina da Uerj e reumatologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, diz que existe a fibromialgia primária, com os sintomas citados acima, e a secundária, que pode estar associada a outras doenças, como artrite reumatóide, lúpus e infecções crônicas, como o HPV e as hepatites B e C. Esta pode ser tratada a partir do controle da doença a que ela está associada.
O tratamento para a fibromialgia envolve o uso de medicamentos, geralmente antidepressivos, além de atividades físicas, acompanhamento psicológico, fisioterapia e acupuntura, tudo ajustado às necessidades do paciente. Para Evandro Klumb, o tripé principal é atividade física, terapia (dependendo de cada paciente) e remédios. Desde 2023, o SUS oferece tratamento completo e multidisciplinar a esses pacientes. O HUPE também oferece acompanhamento, mas para o professor uma Unidade Básica de Saúde bem capacitada é suficiente para bons resultados.
Em 11 estados do país a fibromialgia é considerada uma deficiência. Dessa forma, a pessoa doente pode usufruir de todos os direitos que qualquer outra pessoa com deficiência possui. Em âmbito federal, existem projetos que procuram reconhecer essa mesma condição. No município do Rio, pessoas com fibromialgia têm direito a atendimento preferencial e podem retirar sua carteirinha no site da prefeitura.
Reprodução: Prefeitura do Rio de Janeiro
Fevereiro Roxo
O alerta do Fevereiro Roxo é voltado para falar de doenças crônicas que, como a fibromialgia, não têm cura, mas para as quais há tratamento. A iniciativa teve início em 2014, em Minas Gerais, sob o lema “Se não houver cura, que ao menos haja conforto”.
Klumb chama atenção para a importância de falar dessas doenças como “crônicas” ao invés de “sem cura” ao se referir a essas doenças. Para ele, ao dizer que não há cura, adiciona-se uma gravidade exagerada e sem cabimento para doenças que podem ser controladas.
O lúpus se caracteriza por inflamações em vários órgãos causadas por anticorpos em excesso, com períodos de maior ou menor intensidade. Já o mal de Alzheimer se trata de uma neurodegeneração progressiva, e se manifesta pela deterioração da memória e das funções cognitivas. O professor da Uerj destaca que é importante saber que essas doenças existem para que a população seja capaz de reconhecer os sintomas, saber que há tratamento e procurar um médico
Epidemia atinge principalmente a zona oeste da capital; especialista da Uerj explica o que a crise climática tem a ver com o aumento de casos da doença
Por Everton Victor e Julia Lima
Reprodução: Freepik
A Prefeitura do Rio de Janeiro decretou estado de emergência na saúde pública na última segunda-feira (5) por causa da dengue: a cidade teve mais de 11.200 casos confirmados este ano, mais da metade do que foi registrado em todo o ano passado. Só em janeiro houve 382 internações, um recorde desde 2008. O secretário de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que a cidade vive uma epidemia da doença.
Uma morte foi confirmada na cidade. Em todo o país, foram 40 óbitos, e outros 234 estão em investigação, segundo o Ministério da Saúde. O número representa um aumento de mais de 140% nas mortes em apenas uma semana. Distrito Federal e Minas Gerais são as unidades da federação com mais mortes, 9 em cada.
Para o professor do Instituto de Medicina Social da Uerj e ex-coordenador de Recursos Humanos da OMS Mario Dal Poz, o aumento do número de casos no início do ano já era esperado, por conta do verão, mas não nas proporções atuais. “Entre as hipóteses estudadas que justifiquem o aumento é o calor, que já no inverno foi maior do que o habitual, o que pode ter ajudado os ovos a eclodirem mais cedo”, afirma. A crise climática fez de 2023 o ano mais quente da história, segundo a Organização Meteorológica Mundial. No Brasil, a temperatura média chegou a 24,92°C, ficando 0,69°C acima da média histórica.
A desatenção com mecanismos para a prevenção é outro fator que contribui para o aumento de casos. “Tudo isso depende das pessoas, de intervenções dos entes públicos, da falta de vacinação. Até então, não havia vacina. Esse conjunto forma as condições para que a doença tenha um pico todo verão”, afirmou o professor.
Segundo ele, a emergência sanitária decretada no Rio é importante, pois permite que a administração pública tenha capacidade de ação mais rápida que em condições normais. E isso pode ajudar no enfrentamento da epidemia.
Vacinação
A vacina da dengue foi incorporada ao Sistema Único de Saúde em dezembro do ano passado, e em fevereiro deste ano entrou no Calendário Nacional de Imunizações. O esquema de vacinação é dividido em duas doses, com intervalo de 3 meses entre elas. Sem doses disponíveis para toda a população, o Ministério da Saúde decidiu priorizar áreas com maior presença de crianças entre 10 e 14 anos, público que é maioria nas internações, segundo a ministra Nísia Trindade.
A vacina está disponível na rede privada desde o ano passado, mas com preços pouco acessíveis, de R$ 350 a R$ 470 por dose, dependendo do estabelecimento.
Para aumentar a oferta na rede pública, a farmacêutica Takeda, responsável pela vacina Qdenga, afirmou que não fará mais contratos com a rede privada além dos que já estão assinados, mas vai garantir a segunda dose de quem já optou por essa alternativa.
Reprodução: Agência Brasil
Infecção e sintomas
A dengue é transmitida pela picada do mosquito fêmea do Aedes aegypti. Os principais sintomas são febre alta, dor de cabeça, pelo corpo e atrás dos olhos, falta de apetite e manchas vermelhas no corpo. Em casos mais graves podem acontecer hemorragia intensa e choque hemorrágico.
O professor Dal Poz reforça a importância de não tomar remédios sem prescrição médica, especialmente os que contêm salicilato (substância presente em remédios à base de ácido acetilsalicílico, a famosa aspirina). Eles podem provocar sangramento, quadro mais grave que ocorre na dengue hemorrágica. Até mesmo tratamentos caseiros devem ser evitados. Em caso de suspeita, o paciente deve procurar um posto de saúde ou, em situações mais graves, um centro de saúde.
No Rio, o maior número de casos está na zona oeste da capital, principalmente nas regiões de Campo Grande, Santíssimo, Guaratiba, Santa Cruz, Paciência e Sepetiba. Por isso, o primeiro de dez polos de atendimento para pacientes com dengue foi inaugurado na região. Os outros nove serão abertos em outras regiões da cidade, de acordo com o aumento da incidência de casos.
Prevenção
Como a dengue não é uma doença que se transmite de uma pessoa a outra (como a Covid, por exemplo), as aglomerações previstas durante o Carnaval não chegam a ser uma preocupação em especial. Por outro lado, a grande quantidade de lixo nas ruas facilita a proliferação do inseto.
Para se proteger da dengue, principalmente nos dias de folia que estão por vir, fique atento para essas dicas:
Use calças e roupas de manga comprida para se proteger das picadas.
Use repelentes à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou icaridina nas partes expostas do corpo. Ele também deve ser aplicado sobre as roupas.
Utilize mosquiteiros e telas em janelas e portas. Se possível, dê preferência a ficar no ar condicionado.
Além dessas medidas individuais, outras, coletivas, ajudam no combate à proliferação do mosquito e têm impacto na sociedade como um todo:
De vítimas a guerreiras: como mulheres vencem o estigma do câncer de mama
Internet foi essencial para mudar a imagem das pacientes que enfrentam a doença
Por Julia Lima
Desde que começou a estudar o processo de adoecimento das mulheres com câncer de mama, há 20 anos, a pesquisadora Waleska Aureliano, professora do Instituto de Ciências Sociais da Uerj, percebeu uma mudança na forma como a sociedade enxergava essas pacientes. E também na forma como elas se viam. Passaram de vítimas a guerreiras, e, para a pesquisadora, a internet foi o fator determinante nesse processo.
Graças ao compartilhamento de experiências na internet, mulheres conseguiram relatar suas experiências e conheceram relatos de quem estava passando por uma situação parecida. Para chegar a essa conclusão, Waleska comparou grupos de apoio a mulheres com câncer de mama que acompanhou em dois momentos distintos: os grupos presenciais, no interior da Paraíba, que estuda desde 2004; e os on-line, que passou a estudar a partir de 2015. Ela percebeu que, nos últimos anos, o alcance dos depoimentos era muito maior, e que as discussões se tornaram mais amplas.
Waleska salienta que esse processo ocorreu de forma atrasada no Brasil, apenas a partir de 2015, quando, em países como Inglaterra e Estados Unidos, esse processo se iniciou no início da década passada.
Reprodução: Ministério da Saúde
A pesquisa de Waleska mostra que, em geral, são mulheres mais jovens que ganham maior visibilidade na luta contra o câncer, ainda que, segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer), a maior incidência de casos de câncer de mama ocorra a partir dos 50 anos. O ponto positivo das influenciadoras mais jovens é que elas trouxeram para debate pontos pouco comentados sobre este tema, como a infertilidade causada pelo tratamento – e isso permite discutir outros pontos, como o congelamento gratuito de óvulos pelo sistema público de saúde e a restrição de órgãos públicos de contratar mulheres que estejam dentro do período de 5 anos considerado como “janela” para considerar o câncer curado.
O abandono das mulheres doentes pelos maridos é outro ponto discutido pelas pacientes e abordado na pesquisa. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, 70% das mulheres são abandonadas por seus parceiros durante o tratamento.
O novo lugar – social e simbólico – da mulher com câncer de mama também provocou uma rediscussão dos padrões estéticos. As mulheres que precisam retirar uma ou as duas mamas se sentem mais livres para, caso desejem, não fazerem a reconstrução dos seios. A Lei 9.797, de 1999, obriga que esse serviço seja oferecido pelo Sistema Único de Saúde, mas o acesso ainda é dificultado pela burocracia. A perda de cabelo, efeito comum durante o tratamento, deixa de ser vista como “uma vergonha” a ser obrigatoriamente encoberta por lenços ou por perucas. Segundo a professora, o processo é ainda mais profundo para mulheres pretas, que, ao perder o cabelo, sentem-se encorajadas a passar pela transição capilar e retomar os cachos.
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A pesquisadora Walesca também analisa as campanhas de prevenção e afirma que, embora sejam essenciais para mostrar a essas mulheres que elas não estão sozinhas, ainda colocam o peso todo do diagnóstico para a mulher. Em sua avaliação, as campanhas ainda focam no autoexame e na busca por um médico para serem feitos os exames complementares, sem cobrar que o sistema público de saúde ofereça acompanhamento prévio, diagnóstico rápido e tratamento imediato. A Lei 12.732, de 2012, afirma que o tratamento deve ser iniciado no máximo em 60 dias após o diagnóstico, mas em alguns casos a espera chega a mais de 75 dias.
As mulheres negras são ainda mais afetadas por esse discurso e pelo sistema precário. Apesar de a incidência nesse grupo ser menor, a letalidade é muito alta, já que elas já chegam aos hospitais com a doença em graus mais avançados. Segundo a professora, isso se dá pela jornada dupla ou tripla, e que dificulta os cuidados com a saúde.
Iniciativas produzem perucas para recuperar a autoestima de mulheres
Apesar da revalorização da mulher com câncer de mama e do movimento para que as mulheres assumam a careca resultante do tratamento, muitas ainda não se sentem confortáveis com o resultado e buscam alternativas. Muitas optam por lenços, enquanto outras buscam as perucas.
A Fundação Laço Rosa criou o projeto Força na Peruca, que roda o Brasil inteiro formando profissionais capazes de produzir perucas para essas mulheres, aumentando o número de beneficiadas pelo país. Em São Paulo, a ONG Cabelegria recebe doações e produz perucas com cabelo natural. O Estado do Rio de Janeiro, em 2019, criou um banco de perucas para atender cerca de 60 mulheres por mês. O projeto foi feito em parceria com a Cabelegria e o Instituto COI.
Os dois institutos recebem doações de cabelos. Para doar é necessário que as mechas tenham no mínimo 20 centímetros e estejam limpas. Não há problema caso o cabelo tenha passado por química.
Novembro Azul: por que o diagnóstico precoce é fundamental contra câncer de próstata
Mês é dedicado à prevenção e à divulgação dos exames periódicos que ajudam a identificar a doença
Por Everton Victor
O câncer de próstata é o segundo que mais atinge homens no Brasil – só fica atrás do câncer de pele não melanoma. E o mês de novembro, por causa do Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata (17/11), é dedicado ao alerta sobre a prevenção da doença e sobre como é fundamental ter um diagnóstico precoce. Daí surge o novembro azul.
A próstata é um órgão que faz parte do sistema reprodutor masculino. Fica logo abaixo da bexiga e, com o envelhecimento da pessoa, vai aumentando de tamanho. Nessa glândula é produzida parte do sêmen, que nutre os espermatozoides. Também é um órgão importante para manter normal o fluxo de urina, de 1 a dois litros por dia.
Alguns sintomas são importantes para ajudar no diagnóstico do câncer de próstata: dificuldade para urinar, sangue na urina, falta de controle da urina e até dores nos ossos. Mas é importante ressaltar que o câncer de próstata é na maioria das vezes assintomático, e quando o paciente começa a sentir determinados sintomas, o câncer pode já ter se espalhado para outros órgãos.
Por isso os especialistas reforçam a importância do diagnóstico precoce. Para o urologista Danilo Souza, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), a prevenção e o diagnóstico precoce são essenciais, para evitar que a doença se espalhe. Segundo ele, o principal tratamento, quando a doença está no início, é a cirurgia de retirada da próstata. Podem acontecer algumas modificações, como a impossibilidade de ejacular. Isso não impede, porém, o orgasmo. É o chamado orgasmo seco, ou seja, sem ejaculação. Hoje um dos desafios do tratamento do câncer de próstata é reduzir as sequelas da cirurgia.
Outro tratamento é feito pelo bloqueio do hormônio masculino. Apesar de não alcançar a cura, esse procedimento pode retardar ou até mesmo fazer regredir o avanço do câncer. No tratamento hormonal ou na cirurgia, algo é fundamental: quanto mais precoce for o diagnóstico maior a chance de cura.
Os principais exames para diagnosticar o câncer de próstata são o exame de toque, que possibilita de forma rápida identificar sinais de doenças na próstata. Por causa do preconceito, muitos homens ainda fogem desse tipo de exame, no qual o médico precisa tocar, com a luva lubrificada, o ânus do paciente. Outra forma utilizada de diagnóstico é o exame de Antígeno Prostático Específico (PSA), um exame de sangue que mede a quantidade de proteína produzida pelo tecido prostático (PSA). Ao longo da vida, com o aumento dessa glândula, o PSA também aumenta, o que não necessariamente significa que seu aumento se deu por conta do câncer. A principal forma de diagnosticar a doença é pela biópsia.
Dados da cartilha elaborada pelo Instituto Nacional de Câncer mostram que que o número estimado de casos novos de câncer de próstata no Brasil, de 2023 a 2025, é de 71.730 – 67,86 casos novos a cada 100 mil homens. O risco de câncer aumenta “significativamente” a partir dos 50 anos, e 75% dos casos novos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.
Apesar da idade ser o principal fator de risco, a doença também aparece em pessoas mais novas. Muitas vezes, está associada a fatores como trabalho noturno, exposição a metais e radiações. Histórico familiar e obesidade também são fatores de risco para o câncer de próstata.
O cuidado com a saúde mental no enfrentamento ao câncer
Cuidado com saúde, alimentação saudável, prática de atividades físicas, evitar fumar e consumir álcool são algumas formas de se prevenir da doença. E, ainda no diagnóstico, a saúde mental deve estar no horizonte do paciente.
A psicóloga Heloene Ferreira, que atua na desde 2018 na enfermaria do setor de Urologia do HUPE, disse que desde a primeira abordagem é difícil manter algum diálogo, muitas das vezes por conta do preconceito e do machismo existentes na sociedade brasileira. Para esse homem, muitas vezes a ideia de masculinidade é atingida – é como se não ter mais a ejaculação impedisse sua sexualidade.
O cuidado com a saúde mental também é essencial durante o tratamento e depois da cirurgia, pois há uma série de questões que afetam o lado psicológico do paciente. A importância do Novembro Azul é justamente alertar para esse câncer que atinge tantos homens.