Descoberta de novo dinossauro brasileiro amplia debates sobre expropriação de fósseis nacionais

Descoberta de novo dinossauro brasileiro amplia debates sobre expropriação de fósseis nacionais

Achados arqueológicos brasileiros estão em vários museus do mundo; pesquisadores cobram valorização do patrimônio

Por: Davi Guedes

Reprodução de Tiamat valdecci, com base nos fósseis descobertos. Créditos: Ilustração criada por Luciano Vidal – Cedida pela pesquisadora Kamila Bandeira

Pesquisadores da Uerj, UFRJ e UFG descobriram uma nova espécie de dinossauro que habitou a região hoje equivalente à Caatinga nordestina. O animal, do  gênero saurópode, foi batizada de Tiamat valdecii, em homenagem a uma deusa da mitologia babilônica, semelhante a um dragão.O grupo dos saurópodes inclui  dinossauros com corpos robustos, pescoços e caudas longas e cabeças achatadas, como o tiranossauro ou o brontossauro

Os fósseis foram encontrados na região fronteiriça dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A descoberta foi publicada no periódico Zoological Journal of the Linnean Society, da Universidade de Oxford, e foi assinada por Paulo Pereira, Kamila Bandeira, Luciano Vidal, Theo Ribeiro, Carlos Candeiro e Lilian Bergqvist.

 

Ossos de Tiamat valdecii desenterrados no estudo. Créditos: Kamila Bandeira

Em maio deste ano, Kamila Bandeira, pós-graduanda em paleontologia da Uerj, participou da pesquisa responsável pela descoberta da espécie Tietassauro, que teve repercussão em publicações estrangeiras. Em um intervalo de três meses, o dinossauro da caatinga é a segunda descoberta de relevância internacional oriunda de pesquisas das quais ela participou. Os achados são responsáveis por trazer um destaque ao Brasil no cenário internacional nessa área, o que leva a outras discussões sobre o que fazer com outros fósseis brasileiros hoje no exterior.

O Brasil conta com algumas peças nativas em exposição no exterior. Esse tópico vem sendo alvo de discussões sobre a soberania que o país deveria ter sobre as suas peças arqueológicas e sobre seu direito de construção de conhecimento e identidade em cima desses achados. Um levantamento feito no Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, indicou a existência de ao menos 90 fósseis retirados ilegalmente do Brasil ao longo do tempo e que compõem o acervo desse museu. Em julho do ano passado, um dos fósseis foi devolvido.

O professor Alex Gonçalves, do Departamento de História da Uerj, especialista em história da geociência, afirma que descobertas dessa natureza são importantes para dar destaque ao Brasil não somente em relevância científica, mas também para demonstrar a robustez e a preciosidade das peças e das pesquisas nacionais.

Gonçalves defende que o Brasil crie um acervo tipicamente nacional e que obtenha peças do exterior, porém alerta que isso envolve responsabilidades. “Se o Estado tem recursos e o direito de reivindicar uma peça nacional do exterior, acho legal que o faça, mas ele deve se comprometer a mantê-la preservada”.