Lula encerra Brics pedindo Sul Global mais forte e ONU mais representativa
Em entrevista coletiva, presidente destacou relevância de ação conjunta para conter mudança climática
Por Everton Victor e Leticia Santana

Com críticas à atuação da ONU, a defesa de organizações internacionais mais representativas e respostas às ameaças de Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um balanço positivo do encontro do BRICS e o papel do grupo no mundo contemporâneo. Durante o segundo e último dia (6) da Cúpula do grupo, Lula destacou a importância da atuação conjunta das economias emergentes na construção de um mundo multipolar. O evento foi realizado nos dias 6 e 7 de junho, no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.
Na Declaração de Líderes assinada em consenso pelos 11 países-membros, os integrantes do BRICS apoiam uma mudança da estrutura de governança global. Durante a entrevista, Lula criticou o papel que a ONU tem desempenhado na resolução de conflitos no mundo. Para o presidente, adiar a reforma da ONU “torna o mundo mais perigoso”. A demanda por uma reestruturação de conselhos internacionais é antiga no BRICS. O principal argumento é que a mudança traria uma maior representatividade das nações emergentes em um mundo multipolar. “Não queremos mais um mundo tutelado”, disse Lula.
China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e integrantes do BRICS, defenderam um protagonismo maior das economias emergentes na ONU. Na Declaração, os dois países defendem um papel “mais relevante dessas nações [Brasil e Rússia] nas Nações Unidas, incluindo o Conselho de Segurança”.
O Conselho de Segurança foi estabelecido em 1945, após a Segunda Guerra. Inicialmente com onze membros, hoje o grupo conta com 15 quinze – desses, 5 são permanentes. Estes cinco (China, Estados Unidos, França, China e Reino Unidos) podem vetar qualquer resolução tomada pelo grupo. No conflito na Ucrânia, por exemplo, propostas relacionadas ao confronto foram vetadas por países como Estados Unidos e Rússia.
A expansão de países no BRICS, um dos temas centrais desta Cúpula, o presidente exaltou a liderança brasileira. “O Brasil realizou a mais importante reunião que o BRICS já fez, porque convidamos novas pessoas para que a gente os convença que o BRICS é um novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo”.
Um dos consensos da Declaração final do BRICS é o apoio dos 11 países membros à realização da Conferência do Clima, a COP30, no Brasil. Na carta, os países emergentes endossaram o papel que o evento terá para impulsionar as metas climáticas, como as que estão presentes no Acordo de Paris. O evento acontecerá em novembro em Belém, no Pará.
O presidente também respondeu às postagens de ameaças de taxação feitas por Trump. De acordo com Lula, não é responsável um presidente ameaçar o mundo através das redes. No dia 6 de junho, o presidente Donald Trump publicou em sua conta na rede social Truth Social, que “qualquer país que se alinha com as políticas antiamericanas do BRICS, terá uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções para essa política”. As ameaças foram repercutidas nas redes sociais e em jornais por todo o mundo.
Um dia após este post, na mesma rede, Trump voltou a fazer postagens que se relacionavam com o Brasil, desta vez, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A postagem dizia que “o Brasil está fazendo um terrível trabalho no seu tratamento com o ex -presidente Jair Bolsonaro. Eu tenho assistido, assim como todo o mundo, eles fazerem nada mais do que persegui-lo dia após dia, noite após noite, mês após mês e ano após ano. Ele não é culpado de nada exceto ter lutado pelo povo”. Lula preferiu não comentar a declaração do presidente dos Estados Unidos.