Escola Maria Felipa promove educação afro-brasileira
Conheça a primeira escola afro-brasileira do país
Por: Alice Moraes e Thaísa de Souza

Com intenção de construir uma educação igualitária que valorize as raízes africanas da história e cultura brasileira, a Escola Maria Felipa está começando no Rio de Janeiro. Localizada no Boulevard 28 de setembro, em Vila Isabel, e tendo sede nacional na Bahia, a escola propõe uma educação que une conhecimento, cultura e inclusão.
A Escola Maria Felipa surgiu em 2017, na Bahia, a partir de um projeto idealizado por Bárbara Carine. Sendo uma mãe preta, sua ideia era um colégio que atendesse a sua filha e que valorizasse a ancestralidade africana. Em Salvador, a instituição se localiza na rua Comendador José Álvares Ferreira, número 60. A oportunidade de trazê-la para o Rio de Janeiro aconteceu em 2024 e as aulas tiveram início neste ano de 2025.
Segundo informações contidas no site oficial da Escola Maria Felipa, um dos seus papéis é construir uma educação que amplie o conhecimento da constituição histórica a partir de outras narrativas, quebrando o modelo eurocêntrico de ensino. Para a pedagoga e diretora da unidade carioca, Maíra Costa, de 30 anos, isso significa pensar numa proposta pedagógica inclusiva e decolonial.

Com currículo estruturado com base nas Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, essas perspectivas recebem um foco especial, que criam um espaço onde crianças negras, pardas e indígenas possam se ver representadas e desenvolver um senso de autoestima desde cedo.
Na prática, isso se traduz em uma vivência escolar que inclui brincadeiras africanas (como a tradicional “mamba”, uma versão sul-africana de pega-pega), aulas de música, capoeira, português, inglês e Libras. Tudo a partir de uma perspectiva antirracista e integradora. A valorização do ensino da língua inglesa em Maria Felipa traz uma ruptura no pensamento de que apenas o europeu fala inglês. Muitos países do continente africano também falam o idioma. Por isso, o educandário assumiu o papel de trazer esse viés.
Além disso, a sede em Salvador oferece projetos como a Afrotech, uma feira de ciência africana e afrodiaspórica, e a Decolônia de Férias. A diretora Maíra acrescentou: “Eu sempre penso na escola como uma escola que eu nunca tive. Nós estamos construindo uma que não tivemos, e que desejamos que nossas crianças tenham, que os que estão por vir consigam ter esse lugar de exercer toda a sua potencialidade”.
Ainda no seu primeiro ano de funcionamento, a instituição oferece apenas três turmas da Educação Infantil, todas nomeadas a partir de impérios africanos e indígenas. “Temos a turma que se chama Reino de Daomé, a turma Império Inca e a turma Reino do Mali”, listou a diretora. De acordo com ela, está prevista para 2026 uma expansão para o Ensino Fundamental. Essa será uma etapa importante no crescimento e consolidação da escola, que pretende formar cidadãos conscientes e conectados com suas raízes.

Um dos principais desafios enfrentados em Maria Felipa é o combate ao racismo epistêmico — aquele que nega ou desvaloriza saberes que não se enquadram dentro do padrão eurocêntrico. “A gente está nesse lugar de desmistificar, de entender que, tudo bem, a Europa fez coisas. Mas outros países, outros continentes tiveram feitos importantes também”, enfatiza a diretora.
“A gente sai desse lugar de trazer uma história única. Nós trazemos a perspectiva dos povos africanos, que foram os povos que trouxeram uma potencialidade, entende?”, continua ela. A proposta da Escola Maria Felipa é, então, oferecer uma educação que reconheça a pluralidade de saberes, práticas e culturas.
Outro ponto é a desmistificação estética e cultural da proposta. O lugar não é voltado exclusivamente para crianças negras. “Tem esse imaginário de que aqui é uma escola apenas para crianças pretas. Não é. É uma escola para todas as crianças, rompendo com esse lugar colonizador e violento, que foi construído e nos foi dado sem questionar”, diz Maíra. A escola atua também na construção da autoestima dos alunos negros desde a primeira infância. Isso incentiva as crianças a se reconhecerem como belas, potentes e protagonistas da própria história.
A Escola Maria Felipa é, portanto, um projeto de futuro que nasce do passado: resgata memórias, honra ancestralidades e projeta um novo modelo de educação para o país. Para mais informações sobre a escola, o contato pode ser feito pelo celular (21) 99959-3032 ou pelo instagram da instituição @escolamariafelipa.