A Faculdade de Comunicação Social (FCS) da UERJ é reconhecida pela excelência em seus cursos e pela formação de profissionais críticos e éticos. Destaca-se como a única universidade pública do Rio a oferecer Relações Públicas e tem um prestigiado curso de Jornalismo, com egressos amplamente recomendados no mercado.
Descomplicando a COP: saiba o que são as Blue e Green Zone
As zonas vão ser palco das principais discussões sobre clima, meio ambiente e demais acordos na COP 30
Por: Maria Eduarda Galdino
Fachada do pavilhão da Cop 30 em Belém do Pará (PA). Foto: Agência Brasil/ Bruno Peres
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP, iniciou a cerimônia de abertura na última segunda-feira (10) em Belém do Pará- PA. O evento reúne mais de 200 lideranças de todo mundo para discutir sobre mudanças climáticas, financiamento climático, redução das emissões e implementação das NDCs por 12 dias. A estrutura do evento foi dividida em duas áreas: a Blue Zone e a Green Zone.
A Blue zone (zona azul) é o espaço mais restrito da COP, é onde ocorrem as negociações oficiais, grupos de trabalho (GT) e sessões plenárias. Nessa área, representantes oficiais dos países estão apresentando pautas em favor da justiça climática, financiamentos e acordos para a tomada de decisões que se transformarão em compromissos globais que irão surtir impacto direto na vida dos cidadãos. Os debates são assistidos por organizações observadoras.
Os negociadores, que estão representando os países, são divididos em grupos e participam de reuniões em salas temáticas para discutir os artigos do Acordo de Paris. As organizações observadoras também são divididas: agências especializadas da ONU, organizações intergovernamentais e organizações não-governamentais. Ao final das reuniões, cada grupo deve entregar uma proposta que estará presente no documento final da COP 30.
Esses documentos possuem certas exigências, cada grupo deve elaborar um texto que analise os avanços de metas já estabelecidas em outros encontros. Além disso, também é obrigatória a discussão sobre a eliminação do uso de combustíveis fósseis, analisar a atual situação de áreas/ países mais vulneráveis afetados por mudanças climáticas e estratégias de adaptação às mudanças climáticas que atingem florestas e cidades.
Globo terrestre no pavilhão blue zone COP 30 Belém, Pará (PA). Foto: Agência Brasil
Já a Green Zone (zona verde), é um espaço mais acessível e destinado à sociedade civil, Organizações Não Governamentais (ONGs), movimentos sociais e instituições acadêmicas. A Green zone também possui workshops, palestras, feiras e debates sobre justiça climática e sustentabilidade, priorizando a democratização do acesso a discussões políticas.
Na Green Zone, o público também pode trazer ideias e pautas a favor da justiça climática e compartilhar conhecimento com outros grupos. O pavilhão terá temas fixos de debate como financiamento climático, inovação, biodiversidade, tecnologias limpas e juventude. As pautas fixas ajudam no fluxo dos debates e nas tomadas de decisões coletivas.
Na última terça-feira, grupos indígenas ocuparam a blue zone em protesto a organização da COP 30, o grupo alega a exclusão dos grupos indígenas de discussões primordiais e de áreas privilegiadas e restritas ao público geral, onde estariam acontecendo os principais debates para decidir o futuro das políticas ambientais. O protesto não foi bem recebido pelas autoridades presentes na blue zone, que entraram em combate corpo a corpo com os manifestantes.
Em entrevista ao jornal independente Cuida Criatura, o Pajé Nato Tupinambá, do baixo Tapajós, afirmou que o protesto simboliza uma reivindicação pela exploração na Amazônia. “Querem falar por nós, o branco quer decidir coisa por nós, nós não queremos isso, precisamos ser escutados, nós indígenas somos a resposta”.
Todas as decisões acordadas no evento irão guiar as próximas ações em favor da justiça climática no mundo, que passa por um aquecimento global alarmante, e que tem provocado uma série de desastres climáticos nas florestas e cidades, principalmente em regiões mais vulneráveis. Então, a COP se consolida como um movimento de resgate climático e de ajuda humanitária regido por lideranças globais.
Alerta na Batcaverna: morcegos estão em risco, e não é só o Batman que tem que se preocupar com isso
Falta de educação ambiental e precariedade das Unidades de Conservação ameaçam a vida desses mamíferos essenciais para a manutenção da biodiversidade
Por Maria Luísa Fontes
Fonte: Priscila Monteiro. Espécie Desmodus rotundus – hematófago.
Talvez você não saiba, mas morcegos não servem só para proteger o Batman: esses mamíferos voadores são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas. No Brasil, os morcegos estão protegidos pela Lei Federal 9.605/98 (lei do Meio Ambiente). A caça, a perseguição e a destruição desses animais são consideradas crimes.
Por mais que os morcegos sejam constantemente envolvidos na cultura pop – desde romances adolescentes até filmes de horror – esses mamíferos não são somente fontes de histórias para Hollywood. Os morcegos frugívoros (que se alimentam de frutas) são responsáveis por dispersar as sementes e os nectarívoros polinizam as flores, ou seja, são fundamentais na regeneração de áreas devastadas. Além desses, espécies insetívoras se alimentam de milhares de insetos por hora, sendo grandes aliados no controle de pragas e vetores de doenças. Sem morcegos, a agricultura seria alvo de muito mais tipos de pragas.
A falta de manutenção das Unidades de Conservação (UCs) e a ausência de uma educação ambiental efetiva são os principais fatores que causam a morte de morcegos. Além disso, a poluição do solo, da água e do ar também compromete a proteção desses seres vivos.
O município de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, é um dos lugares do estado em que os morcegos ainda encontram algum tipo de proteção. O Laboratório de Ecologia de Mamíferos, ligado à Uerj, atua na região monitorando as espécies de morcegos. Os pesquisadores gravam os sons produzidos por esses mamíferos e monitoram as redes de neblina, usadas para capturar e identificar os animais. Esse projeto rendeu para o distrito o prêmio de Área de Importância para a Conservação dos Morcegos (AICOM), concedido pela Rede Latino-americana e do Caribe para Conservação dos Morcegos (Relcom) em 2025.
O reconhecimento foi resultado da rica biodiversidade e do sucesso com a proteção destes animais. A Ilha abriga cerca de 37 espécies identificadas – 19,9% das espécies conhecidas no Brasil. Entretanto, é possível que esse cenário positivo mude nos próximos anos, caso não haja novas iniciativas para a preservação desses animais e a destruição do meio ambiente continue em avanço.
Segundo a professora Elizabete Lourenço, do Laboratório de Ecologia de Mamíferos, existem quatro espécies de morcego ameaçadas de extinção no Brasil: Furipterus horrens, Natalus macrourus, Lonchophylla bokermanni e Lonchophylla dekeyserié. Para proteger esses animais, a pesquisadora afirma que é preciso melhorar a gestão das áreas de conservação, visto que a invasão de animais domésticos, a crescente especulação imobiliária e o turismo desordenado resultam não somente na morte de morcegos, mas também de outros seres e vegetações nativas. A professora destaca que, por mais que os morcegos se adaptem bem a áreas urbanas, a poluição, especialmente no solo e no ar, prejudica o modo de vida desses mamíferos.
Além disso, a perda de habitat natural dos morcegos para novas construções vem tornando mais frequente o encontro entre eles e os seres humanos. Por isso, Lourenço destaca a importância de investir na educação ambiental da população junto ao manejo eficiente da UCs. De acordo com ela, a falta de informação sobre como agir ao entrar em contato com esses animais ou como fazer a retirada deles de forma correta faz com que muitos desses seres sejam mortos precipitadamente por moradores assustados.
A INVISA-RIO (Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e Inspeção Agropecuária), órgão da prefeitura do Rio responsável pela prevenção de problemas higiênico-sanitários, recomenda algumas precauções para quem se deparar com morcegos:
1) Nunca tentar tocar em morcegos que entrem em casa ou apareçam caídos no chão. Neste caso, imobilize o animal numa caixa virada para baixo e o mantenha preso. Em seguida, entre em contato com o Centro de Controle de Zoonoses Paulo Dacorso Filho – CCZ;
2) Em caso de ataque de morcegos que resultem em mordeduras ou arranhaduras, a pessoa deve procurar orientação médica imediata nas Unidades de Saúde que fazem tratamento antirrábico humano. No caso de agressão a animais domésticos ou mesmo contato do animal doméstico com morcegos, entrar em contato com a central 1746;
3) Usar sempre luvas e máscara se precisar umedecer, remover ou tocar as fezes desses animais;
4) Vedar juntas de dilatação dos prédios e fechar forros de sótãos e residências, ou qualquer abertura por onde os animais possam entrar e se abrigar.
5) Solicitar a poda de árvores em ruas muito arborizadas onde existam colônias de morcegos causando incômodos.
Pesquisadores da Uerj apresentam projetos de transição energética e energias renováveis no Rio Innovation Week 2025
Temas como indústria química ecológica e economia circular também foram discutidos
Por: Maria Eduarda de Souza Galdino
Equipe multidisciplinar de pesquisadores da Uerj no painel Kobra. Foto: Maria Eduarda Galdino
Soluções para um mundo mais sustentável se transformaram em um dos temas da quinta edição do Rio Innovation Week. Pesquisadores da Uerj discutiram transição energética, economia circular e indústria química ecológica no painel Kobra, na última quarta-feira (13).
O professor de química André Luiz Helermy Costa, pesquisador de processos químicos na Uerj, lembrou que a maioria dos processos envolve o uso de combustíveis fósseis e um alto gasto de energia não renovável. Helermy ressaltou que esse modelo de produção precisa ser reformado. Segundo o IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente), organização sem fins lucrativos que pesquisa ottema, o setor de processos industriais e uso de produtos, do qual a indústria química faz parte, é responsável por 110 milhões de toneladas de C0² equivalente no Brasil.
Como solução possível, o professor Helermy apresentou ecoparques industriais, que são empresas/ fábricas que operam de forma sustentável. O objetivo é transformar resíduos de uma instalação química em insumos para outras empresas. A transição energética também foi citada pelo professor como alternativa sustentável para instalações industriais onde a energia renovável se transforme em principal fonte energética. Como exemplos, ele citou o biodiesel, o biogás e o hidrogênio verde. O professor usou como exemplo funcional as pesquisas feitas no Centro Green Fusion, laboratório que investiga modelos de produção química alternativos e ecológica.
A bioeconomia também foi debatida no painel. A professora da Uerj Mariana Erthal Rocha, pesquisadora líder do laboratório biotech da UTD de Estudos ambientais e Reservatórios Gesar, apresentou o projeto que transforma estações de tratamento de esgoto, também conhecidas como ETEs, em biofábricas. Isso significa que os resíduos resultados do tratamento de esgoto podem ser transformados em insumos úteis, como plásticos biodegradáveis e produção de biogás para geração de energia.
Professora Maria Erthal Rocha apresentando o projeto de pesquisa da Gesar. Fofo: Maria Eduarda Galdino
Segundo a professora, o Brasil é um dos maiores produtores de resíduos orgânicos do mundo, produzindo cerca de 800 milhões de toneladas anualmente. E pouco desses resíduos são descartados ou reaproveitados de forma correta. Apesar disso, a professora reconhece que o Brasil vem progredindo no planejamento para tratar desses resíduos.
Como solução, apresentou as arqueias metanogênicas, microrganismos que têm como uma das características é a capacidade de auxiliar na decomposição de matéria orgânica, ou seja, podem ser utilizados no tratamento de resíduos orgânicos em ETEs. Além disso, a arqueia tem um potencial uso em bioenergia como fonte renovável. Segundo a professora, esse processo está ligado ao conceito de economia circular, com o reaproveitamento ecológico dos resíduos.
Parque Nacional da Tijuca tem fauna ameaçada por matilhas de cães
Espécies invasoras são a segunda maior causa de extinção de faunas em escala global
Por: Maria Eduarda Galdino
Cão caramelo no Parque Natural da Tijuca (Foto/Fonte: Acervo Refauna)
Ataques de espécies invasoras em florestas e parques naturais já se tornaram a segunda maior causa de extinção de espécies no planeta. segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). E entre esses invasores estão inclusive plantas e animais domésticos – que, ao circular em ambientes naturais, acabam ameaçando espécies nativas. No Parque Nacional da Tijuca, por exemplo, uma ameaça frequente são os cachorros.
O Ecos Urbanos conversou com o pesquisador e biólogo Matheus de Souza Louzada, que estuda a atividade de cães na Floresta da Tijuca. Ele afirma que os ataques têm aumentado. “A gente consegue perceber que a presença dos cães tem sido muito frequente no parque, isso vem aumentando justamente pela pressão urbana que vem apertando o parque cada vez mais”, disse.
Além disso, o biólogo explicou que os seres humanos também possuem influência no aumento dos ataques, pois os cães podem entrar em contato com o parque tanto por situações de abandono ou soltura dos donos. A falta de educação ambiental dos visitantes também é um fator que contribui para o aumento da circulação e violência dos animais por conta da alimentação não autorizada.
Matheus acrescenta que as espécies nativas mais afetadas por ataques no parque até agora são animais de pequeno porte, como cutias e jabutis. “A gente tem visto casca de jabutis com marcas de unha de cachorro, isso tem sido bem registrado nos monitoramentos”.
O biólogoLouzada afirma que os programas de castração, vacinação e dispositivos de contenção ajudam a combater o aumento de superpopulação de cães e o surgimento de patologias no parque. Porém, diz que os ataques de matilha são um problema complexo e difícil de controlar de forma imediata por conta do tamanho do parque. “A gente precisa integrar diferentes estratégias de manejo para lugares de conservação, como a instalação de barreiras físicas de microchipagem para cachorros e gatos”, destaca.
A organização do parque também é fundamental para o combate à circulação de cães e gatos. Segundo o biólogo, é necessário que a infraestrutura do parque seja monitorada frequentemente para conter o rompimento de grades e entradas irregulares de visitantes com seus animais. “O parque é enorme, é fácil falar na teoria, mas na prática é complexo, precisamos de ajuda de todos os lados”.
No site da instituição, também é possível encontrar cartilhas de conscientização para profissionais de turismo, turistas e moradores que habitam em locais próximos a parques naturais.
A Prefeitura do Rio de Janeiro aprovou o Decreto Municipal n° 33,814 em maio de 2011 que institui o Programa Municipal de Controle de Espécies Exóticas Invasoras com objetivo de controlar as invasões, restaurar e manter ecossistemas de áreas naturais através do reconhecimento das espécies invasoras e protocolos operacionais de remoção dos animais não nativos. Louzada afirma que algumas ações feitas pelo poder público poderiam ser mais divulgadas, como as campanhas de vacinação e microchipagem animal.
Edital oferece novas vagas para quem quiser ajudar na realização da Conferência do Clima, que será realizada em em novembro deste ano em Belém
Por: Maria Luísa Moura
Belém (PA), 06/06/2025 – Rio Guamá e a cidade de Belém ao fundo. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) liberou dia 26/06 o segundo edital para selecionar interessados no programa de voluntariado do evento. As inscrições começaram dia 1° de julho e terminam dia 11 do mesmo mês.
Os voluntários selecionados serão responsáveis pela recepção dos convidados, pelo auxílio no credenciamento, pelo suporte logístico, dentre outras atribuições gerais. Os selecionados no primeiro edital já estão em fase de capacitação. Ao todo, serão escolhidos 3.946 voluntários.
Eles não recebem pagamento, mas terão alguns benefícios:
Alimentação e espaço próprio para se alimentar;
Livre circulação em transporte coletivo ou próprio do evento;
Uniforme completo e acessórios de identificação da Conferência;
Seguro de vida, ao serem contratados pela SECTET (Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará) .
Veja os pré-requisitos para quem quiser se candidatar:
Residir na região metropolitana de Belém (PA);
Boa comunicação, habilidade para trabalhar em equipe, proatividade, organização e capacidade de resolver problemas;
Experiência prévia em atendimento público ou organização de eventos;
Conhecimento da língua inglesa, com comprovação de teste de proficiência;
Disponibilidade para atuar nos horários específicos da COP 30;
Ter, no mínimo, 16 anos (menores de idade precisam ser formalmente autorizados a participar através de um Termo de Adesão assinado pelos responsáveis legais);
Nível de escolaridade: ao menos Ensino Médio completo ou em andamento.
Além desses requisitos, o candidato deverá passar por duas etapas antes de ser escolhido: o recrutamento e a seleção. A primeira parte envolve uma análise de currículo e das conexões dos candidatos com temas e das atividades abordados à COP 30, como mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, a ONU, a Conferência das Partes para a Mudança do Clima e turismo. Em seguida, os voluntários em melhor classificação passam pelo cadastro de checagem do governo federal e, caso sejam aprovados, são contratados e direcionados de acordo ao seu perfil de atuação.
Segundo o edital, 400 vagas estão reservadas a candidatos de 16 e 17 anos, sempre para atuação no período diurno; 5% das vagas irão para pessoas com deficiência e 20% para integrantes de povos originários.
As inscrições são feitas apenas pelo link da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará: www.sectet.pa.gov.br. O candidato deverá preparar os seguintes documentos:
RG;
CPF;
Comprovante de residência;
Título de Eleitor e declaração de quitação da Justiça Eleitoral;
Certificado de reservista ou Dispensa de Incorporação, para candidatos do sexo masculino;
Documento(s) de comprovação de escolaridade:
Nível Médio: Certificado ou comprovante de matrícula;
Graduação em andamento: comprovante de matrícula válido;
Em ano de COP30, projetos de tecnologia apostam em inovação e sustentabilidade
Empresas voltadas para ações ambientais marcaram a terceira edição do Web Summit Rio
Por: Maria Eduarda Galdino
Tarciana Medeiros, Bianca Andrade e Adiana Barbosa no palco principal Web Summit Rio Foto: Maria Eduarda Galdino
Diversos empreendimentos ambientados no Brasil usam a tecnologia para combater a crise climática, e a aliança entre inovação e sustentabilidade foi um dos temas do Web Summit Rio, encerrado no último dia 30 de maio. O último painel do evento reuniu três referências do empreendedorismo feminino: Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, Bianca Andrade, CEO da Boca Rosa Beauty, e a diretora executiva da Feira Preta, Adriana Barbosa, conversaram sobre tendências no empreendedorismo brasileiro e sustentabilidade.
Tarciana Medeiros disse que o Norte do Brasil é referência em negócios que priorizam a sustentabilidade no modelo de produção. Segundo ela, o fortalecimento de propósitos entre organizações desse ramo é essencial. “Junta empreendedores principalmente de agroecologia, agroeconomia, de biotecnologia e diversos empreendimentos que a gente entende o potencial na rede como um todo”, disse.
Diversas empresas com foco na sustentabilidade participaram do encontro. O Ecos Urbanos conversou com representantes de algumas dessas empresas. Breno Veiga, CEO da Ekonavi, uma plataforma gratuita que potencializa soluções baseadas na natureza, explicou que sua empresa desenvolveu um aplicativo que conecta grupos de trabalho rural com investidores globais, tornando ações ecológicas comunitárias possíveis em escala global. É uma espécie de Linkedin para grupos que querem manter seus projetos sustentáveis visíveis no meio digital. “A nossa motivação é produzir alimentos de qualidade, gerar mais sustentabilidade no planeta e fortalecer as redes de produtores que estão produzindo de maneira orgânica e agroflorestal”, disse.
Bruno Veiga, CEO da Ekonavi, e Veber Alvez, advogado na Ekonavi no Stand Beta 3 (Foto: Maria Eduarda Galdino)
Os grupos de campo que podem utilizar a plataforma são diversos. A Ekonavi abriga projetos ecológicos na agricultura, propostas de reciclagem, sistemas agroflorestais e outras propostas ecológicas no campo. “É um projeto gratuito para esse grupos que atuam no campo e funciona de forma similar ao Linkedin, então você profissionaliza o seu projeto de campo tornando ele mais visível para investidores.”
Já Ângelo Coelho é diretor da Brinquedo Livre, uma empresa que promove a sustentabilidade no universo infantil. A empresa funciona como um marketplace colaborativo, conectando vendedores que querem descartar brinquedos usados e compradores, com uma curadoria sustentável. “Unimos sustentabilidade com economia circular e tecnologia para criar uma plataforma onde brinquedos usados, seminovos e colecionáveis ganham uma nova vida.”
O diretor afirma que a empresa foi criada devido a pesquisas em relação ao impacto ambiental que os brinquedos fazem na natureza. “Um dos dados que mais nos impactou foi do Instituto Akatu, que aponta que 60% dos brinquedos descartados no Brasil ainda poderiam ser reutilizados”, disse. A Brinquedo Livre possui um núcleo de pesquisas voltado para a economia circular no mercado infantil. Além disso, a empresa se encontra em um processo de desenvolvimento de selos que identificam produtos com maior potencial de reutilização e durabilidade.
Logo da empresa Brinquedo Livre. Foto: brinquedolivre.com.br
A pesquisa Panorama de Sustentabilidade Corporativa 2025, feita pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) e a Humanizadas, concluiu que 76% das empresas brasileiras adotam práticas sustentáveis nos negócios, um aumento de 5% em relação ao ano de 2024. Entre os que responderam à pesquisa, 77% acham que incluir a sustentabilidade nos negócios aumenta as vantagens competitivas e que existe uma relação positiva na demanda de novos grupos e mercados.
O estudo também afirma que acrescentar a sustentabilidade a performance financeira, que é uma avaliação ampla de métricas da empresa, pode acelerar ganhos significativos. O estudo evidenciou que medidas como a implementação da IFRS S1/ S2, que são padrões internacionais relacionados a transparência das informações sobre sustentabilidade das empresas oferecem alto retorno financeiro.
Calor intenso e turismo desordenado ameaçam corais na costa brasileira
Pesquisadores destacam que 90% desses organismos estão em risco; projetos de conservação investem em educação ambiental
Por: Maria Luísa Moura Fontes
Coral branqueado. Foto: Thales Vidal/PELDTAMS/Via Agência Brasil
O aumento da temperatura dos oceanos, resultado das ondas de calor em todo o mundo, tem provocado o branqueamento de diversos corais na costa brasileira. Esses organismos são extremamente sensíveis às mudanças climáticas e, com temperaturas mais altas, acabam expulsando as zooxantelas – microalgas com as quais vivem em simbiose. Sem algas, os corais ficam brancos.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirma que, se não houver redução significativa da emissão de carbono para frear o aquecimento global, todos os corais do planeta passarão pelo branqueamento até o final do século. A situação se torna mais preocupante porque – mesmo que os países consigam atingir a meta do Acordo de Paris, que limita o aumento da temperatura a 1,5°C – estima-se ainda que 70% a 90% dos recifes coralíneos morram.
Segundo o PNUMA, os corais fazem parte de 25% da vida marinha de todo planeta, mesmo ocupando apenas 1% do oceano. A construção rochosa dos recifes comporta até 800 espécies diferentes de corais, que dispõem da maior biodiversidade de todo ecossistema global. Além da importância biológica desses seres, os corais também são fundamentais para o turismo ecológico, sem danos ao meio ambiente. De acordo com a Fundação Grupo Boticário, organização sem fins lucrativos de proteção da natureza, o turismo em recifes de corais na costa do Nordeste arrecada cerca de 7 bilhões por ano, o equivalente a 5% do PIB turístico brasileiro.
O professor Rodrigo Leão Moura, pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração em Abrolhos, estuda as causas e os desdobramentos do branqueamento de corais. Em Abrolhos foi criado o primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil. Essa região possui a maior extensão de recifes mais biologicamente diversos de todo Atlântico Sul, e sua preservação é fundamental para a proteção de espécies endêmicas – encontradas apenas nesse local.
De acordo com Leão Moura, as últimas descobertas científicas invalidaram a teoria de que os corais brasileiros seriam mais resistentes ao calor. “Mesmo sendo mais resistentes ao branqueamento, os corais brasileiros têm morrido após as ondas de calor. Essa característica dificultou o entendimento do processo de declínio dos corais brasileiros, uma vez que os monitoramentos geralmente se concentram nos períodos anômalos e são descontinuados após esses eventos”, explica o especialista.
Diante das adversidades climáticas cada vez mais graves, o cenário atual em Abrolhos é de perda generalizada da qualidade ambiental dos recifes coralíneos. Segundo o professor da UFRJ, com a morte dos corais, os recifes passam a sustentar menos biodiversidade e, consequentemente, a armazenar menos biomassa de peixes para a produtividade local.
Em 2003 foi criado no Brasil o Projeto Coral Vivo, para proteger os recifes de corais. Do projeto surgiu em 2013 o Instituto Coral Vivo, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que atua na conservação e sustentabilidade do ecossistema marinho. Vice-presidente do Instituto, o oceanógrafo Miguel Mies, professor da USP, ressalta que a perda da biodiversidade marinha, neste caso, afeta não só a costa brasileira, mas todos os ecossistemas do planeta, já que os recifes são interligados e se apoiam um no outro.
Segundo Mies, mais de 50% dos corais morreram nos últimos 30 anos. “É difícil você encontrar hoje um recife que a gente chama de prístino. Prístino é aquele que praticamente não sofreu nenhum impacto relevante, tá em uma condição de saúde excelente, é raríssimo encontrar isso”, reflete o pesquisador.
Além disso, ele alerta para o fato de não ser possível reverter completamente a degradação sofrida e de, no momento, não haver possibilidade de recuperação da cobertura coralínea original, pois não existem medidas efetivas para a redução das temperaturas globais, assim como pontua o professor Leão Moura, também especialista no tema.
Já na Ilha Grande, na costa carioca, o professor Luís Felipe Skinner, doutor em Biologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, acredita que é possível reverter alguns impactos ambientais com mudanças básicas de atitude, como a conscientização de turistas sobre contato indevido com os corais.
Skinner revela que a elevação da temperatura atmosférica no Brasil, nos últimos tempos, provocou alterações diferentes no litoral do Rio de Janeiro. Por exemplo, a Baía de Ilha Grande recebeu ondas de calor mais fortes por ter águas mais confinadas, chegando à temperatura de quase 30°C, enquanto na Região dos Lagos – em Cabo Frio, Búzios e Arraial do Cabo – o impacto foi aparentemente menor.
Com relação ao processo de degradação das colônias coralíneas, os pesquisadores relatam um problema em comum: o turismo desorganizado que prejudica a qualidade da água e agride organismos marinhos como os corais. O que se observa frequentemente nos litorais mais procurados pelos turistas é a promoção de atividades que contribuem para a destruição de habitats marinhos, como lançamento de âncoras para atracar barcos, pisoteio de corais e descarte de lixos. Com a chegada das ondas de calor nessas costas, as consequências da degradação são intensificadas, especialmente em período de El Niño, quando a temperatura do mar é elevada por semanas ou meses.
Nesse cenário, são necessários investimentos que viabilizem fiscalizações constantes e ações de preservação dos corais, descreve Skinner: “Há uma necessidade de monitoramento frequente, e, para isto, há uma demanda de equipe e logística muito grande. Estas demandas significam recursos financeiros aos quais não temos tido acesso, o que limita muito nossa atividade”.
Coral Montastraea cavernosa no recife Pirambu, na APA Costa dos Corais. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Regiões mais pobres do Rio de Janeiro são mais afetadas pelo calor
Pesquisadora da Uerjexplica por que a desigualdade tem a ver com a crise climática
Por: Maria Eduarda Galdino
Cidade de Nilópolis. Foto: Maria Eduarda Galdino
O Rio de Janeiro atingiu o terceiro nível do Protocolo de Calor (CALOR 3) na última Terça-feira (02/04) às 14h10. O calor de nível 3 é comunicado pela Prefeitura do Rio quando são registradas temperaturas de 36ºC a 40ºC, com previsão de permanência ou aumento de, ao menos, três dias consecutivos. Além das temperaturas elevadas, outra coisa chama atenção: o contraste de temperatura em diferentes regiões do Estado.
Às 14h10, o bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio, atingiu a temperatura de 29ºC, enquanto a cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, atingiu 34ºC no mesmo horário. Mariana Castro, doutoranda em Ciência Política pelo IESP-UERJ e pesquisadora no Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (IMC), explica que a diferença significativa nos termômetros tem explicação histórica. “Durante décadas a gente vê que as populações mais pobres e racializadas foram empurradas para as áreas com menos infraestrutura, menos serviços, menos proteção ambiental, e tudo isso resulta no que estamos vivenciando agora, o impacto das ondas de calor estão muito mais severas para quem vive em situação de vulnerabilidade.”
Além do histórico de reclusão da população mais vulnerável, a pesquisadora aponta outras questões que aumentam os efeitos do calor extremo em regiões mais pobres, como a falta de orçamento nas cidades para investir em soluções ecológicas, o crescimento urbano desordenado e a falta de gestões governamentais comprometidas com a permanência de projetos voltados para o ambiente urbano. “Essas medidas acabam ficando em segundo plano, outro problema é a questão da desigualdade social territorial, as áreas mais pobres são as que mais sofrem com calor e muitas vezes elas não são priorizadas na hora de construir e colocar em prática as políticas públicas. Enquanto isso, os bairros mais ricos têm mais infraestrutura e acabam recebendo mais investimento “, disse.
Segundo a Plataforma AdaptaBrasil, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), os municípios da Baixada Fluminense possuem níveis altos de exposição às mudanças climáticas, como desastres geo-hidrológicos, inundações (Índice 0,89 de 1,00) e demanda de resfriamento devido às ondas de calor intensas (Índice 1,00 de 1,00). A pesquisadora Mariana Castro afirma que os grupos que residem em áreas mais pobres sem adaptação às temperaturas elevadas estão mais expostos ao risco de morte por conta do fenômeno das ilhas de calor. “A forma como o próprio bairro foi estruturado é diferente, as comunidades são muito mais próximas umas das outras, com material de baixa qualidade que intensifica o calor, isso impede a circulação do ar e aumenta o fenômeno das ilhas de calor por exemplo
Demanda de resfriamento na cidade de Nilópolis. Foto: AdaptaBrasil /Eduarda Galdino
Em fevereiro deste ano, durante o Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, o governo brasileiro apresentou uma estratégia inédita chamada Adapta Cidades, iniciativa do Programa Cidades Verdes Resilientes e coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). O objetivo é orientar e auxiliar cidades com capacitações técnicas de planejamento ambiental e acesso a investimento. Representantes de onze estados – Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins e Pará – estiveram presentes e sinalizaram interesse em participar da iniciativa.
A iniciativa é parte dos compromissos ecológicos do Brasil formalizados na 29 ºConferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 29, em 2024 pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, em cooperação com a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), pacto do Brasil assinado no Acordo de Paris para combater a instabilidade ambiental em 2015.
A pesquisadora Mariana Castro reitera que diversas práticas ecológicas podem ser implementadas nas políticas públicas para mitigar os efeitos das ondas de calor, como investimentos em materiais de construção que são mais resistentes às temperaturas elevadas e plantações de áreas verdes nos centros urbanos. “É importante a gente mexer nas infraestruturas da cidade por exemplo criar a calçadas permeáveis, investir em telhados verdes, plantar mais árvores nos bairros mais quentes,trocar telhas por materiais que isolam melhor o calor e pintar os telhados com tintas que refletem o sol e garantir ponto de água potável em locais públicos.”
Projetos transformam o lixo em apoio à comunidade na Zona Oeste do Rio de Janeiro
Instituições trocam materiais recicláveis por alimentos, cadeiras de rodas e itens escolares
Por: Manoela Oliveira
Mural de tampinhas de plástico feitos pelos alunos da Escola Municipal Medalhista Olímpico Diego Hypólito / Reprodução: Manoela Oliveira
A falta de reciclagem contribui para o aumento da poluição, liberando substâncias tóxicas prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, além de acelerar a degradação ambiental e aumentar a emissão de gases de efeito estufa. Embora 98% dos brasileiros reconheçam a importância da reciclagem para o planeta, apenas 25% separam o lixo adequadamente, aponta uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Na Zona Oeste do Rio de Janeiro, organizações como o Núcleo Especial de Atenção à Criança (NEAC) e a One By One são responsáveis por transformar o lixo e preservar o meio ambiente.
O NEAC, com o projeto do ECO Mercado, possibilita moradores de Campo Grande trocarem materiais recicláveis por alimentos, itens pedagógicos e de limpeza. A conversão de materiais é realizada através do EcoReal, a primeira moeda ecológica criada no Brasil, que substitui um material reciclável em um EcoReal. O plástico duro é a exceção devido ao baixo valor comercial, necessitando de três itens desse material para conseguir um EcoReal.
Os EcoReais disponíveis para troca / Reprodução: Colagem de Manoela Oliveira com fotos do NEAC
A One By One, localizada na Barra da Tijuca, transforma lacres e tampinhas plásticas em cadeiras de rodas e em outros itens como andadores e aspiradores, por meio da Campanha Recicla. A ação conta com cerca de 50 pontos de coleta espalhados no Rio de Janeiro, além de dois pontos situados em Minas Gerais e São Paulo. Para fazer uma cadeira de rodas, é necessário 600 kg de lacres ou 2500 kg de tampinhas de plásticos. Segundo a One By One, em 2023, foram produzidas 13 cadeiras de rodas sob medidas, dois aspiradores e dois andadores.
Impacto da reciclagem na comunidade
Selma Pacheco fundou o NEAC há 30 anos após uma forte chuva elevar o rio Cabuçu, afetando as famílias que moravam perto da margem, na Comunidade Comari II, em Campo Grande. Depois de uma investigação do Núcleo, foi descoberto que o rio encheu devido ao excesso de lixo nas águas, porque, naquela época, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) não atuava na região, então os moradores jogavam o lixo no rio. Selma explicou que o NEAC conseguiu reduzir a poluição hídrica e promover a educação em uma área onde a taxa de evasão escolar entre as crianças era de aproximadamente 93%.
O ECO Mercado, criado pelo NEAC, impacta positivamente as famílias da comunidade, especialmente aquelas que não têm dinheiro, mas possuem lixo, reforça Selma. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produz cerca de 27 milhões de toneladas de resíduos recicláveis anualmente, porém o índice de reciclagem desses materiais é de apenas 4%, considerado abaixo da média global de 19%. Pensando nisso, segundo Selma, todos os materiais coletados no mercado são vendidos para empresas recicladoras da região.
ECO Mercado por dentro e por fora / Reprodução: Colagem de Manoela Oliveira com fotos de arquivo pessoal e da Clara Lessa
Carlos Eduardo Santos, conhecido como Cadu, trabalha no ECO Mercado faz dois anos e acredita que o projeto ajuda famílias a terem acesso à alimentação, além de incentivar a sustentabilidade. “Um litro de óleo aqui equivale a 25 EcoReais”. Ele explicou ser possível comprar as mercadorias com dinheiro real ou complementar a quantia que falta com o EcoReal.
Lucinete Bastos disse que usa o mercado frequentemente para fazer suas compras, por vender cloro e desinfetante, ela consegue trocar a embalagem desses materiais por itens essenciais para a casa. “Com o ECO Mercado, consigo fazer as compras do mês e ajuda para caramba”, ressalta. De acordo com o NEAC, 1200 famílias da comunidade são impactadas pelo projeto e, no primeiro semestre de 2024, 1,6 tonelada de plásticos PEAD e PET foram reciclados, sendo o último o tipo de plástico mais produzido no mundo.
Materiais reciclados no primeiro semestre de 2024 pelo NEAC / Reprodução: NEAC
Reciclagem como ferramenta de inclusão
A reciclagem também está inserida na luta pela inclusão social para pessoas com deficiências (PDCs) físicas, motoras ou neurológicas. Nessa iniciativa, a One By One produziu mais 2025 cadeiras de rodas por meio da coleta de plástico e de alumínio, impactando cerca de 8 mil famílias, segundo a organização. “No ano passado, reciclamos 30 mil toneladas de tampinhas”, disse Maria Antônia Araújo, assistente de comunicação da One By One.
A Campanha Recicla, ligada à organização, oferece cadeiras de rodas para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade social (tem uma renda familiar abaixo de 1,5 salários mínimos), são portadores de alguma deficiência e possuem idade máxima de 22 anos, entretanto, quem recebia ajuda da instituição antes de completar a idade limite, pode continuar sendo um beneficiário do programa. Maria Antônia acrescenta que é necessário enviar o laudo médico e a prescrição da cadeira de rodas com as medidas após entrar em contato com a organização para conseguir ser atendido pelo programa.
A Escola Municipal Medalhista Olímpico Diego Hypólito, localizada em Campo Grande, funciona como um dos pontos de coleta da Campanha Recicla. João Marcos Pucinho, diretor da escola, disse que o incentivo à reciclagem pelos alunos ocorre por meio de gincanas de sustentabilidade promovidas pela instituição. “Cada turma fica responsável pelo recolhimento de uma quantidade de materiais recicláveis, quem tiver feito um recolhimento maior é o vitorioso da gincana”, completa. O diretor explicou que eles recebem pontos extras nas disciplinas como uma forma de estimular a participação dos estudantes.
Estação de sustentabilidade na Escola Municipal Medalhista Olímpico Diego Hypólito/ Reprodução: Manoela Oliveira
As tampinhas de garrafas e os lacres de latinha recolhidos são destinados a One By One, porém o óleo de cozinha e o lixo eletrônico são vendidos para outras empresas, de acordo com João Marcos. Ele ressalta que é importante trabalhar com as crianças, não somente as matérias do currículo escolar, mas também essas experiências que contribuem para uma educação integral.
Serviço:
ECO Mercado
Local: R. Cantor Emílio Santiago, 117-119 – Campo Grande, Rio de Janeiro.
Fazendeiros atacam com armas grupos indígenas no MS
Povo Kaiowá-Guarani foram alvo de tiros e vigilância de drones e caminhonetes
Por: Beatriz Araujo e Manoela Oliveira
Chamada de apoio do povo Kaiowá-Guarani / Fonte: Instagram da Aty Guasu
Centenas de famílias indígenas Guarani Kaiowá têm sofrido ataques armados por fazendeiros e latifundiários após iniciarem a autodemarcação de seu tekoha (“lugar onde se é”, em guarani) no dia 13 de julho. O território, localizado em Douradina, Mato Grosso do Sul (MS), ocupa mais de 9 mil hectares, o equivalente a aproximadamente 35,3% da área total do município. A Assembleia Geral dos Povos Indígenas Guarani e Kaiowá, a Aty Guasu, tem denunciado a situação da comunidade nas redes sociais. Em imagens divulgadas por eles, fazendeiros aparecem ateando fogo no campo, atirando com foguetes e armas de fogo nos indígenas. Além da reivindicação pelo território ancestral, a retomada também visa cessar o despejo de agrotóxicos nas proximidades das residências e das nascentes utilizadas para o consumo de água pelos produtores rurais.
A retomada denominada Pyaru Yvyajere reinvindica a Terra Indígena Panambi Lagoa Rica, reconhecida em 2011 pelo Governo Federal, mas aguarda desde então a homologação do processo demarcatório. “A gente esperou demais e nada de resposta, então, como comunidade, nós conversamos e chegamos à conclusão de fazer a autodemarcação geral”, conta a indígena Daniela Jorge João.
Terra Indígena Panambi Lagoa Rica / Fonte: Terras Indígenas no Brasil
Os produtores rurais, no entanto, alegam serem proprietários legais da área e reagiram à situação organizando acampamentos e um cerco de caminhonetes a poucos metros do local da retomada. Em um vídeo gravado por eles, frases em tom de ameaça como “o bambu vai envergar” e “a tropa de choque está chegando” foram veiculadas como forma de ataque à resistência.
O conflito já deixou mais de 10 indígenas feridos por ataques e disparos de arma de fogo, entre eles um levou um tiro na cabeça e outro no pescoço. Kisa Aquino, indígena também presente na retomada, relata que helicópteros e drones rodam o local para identificar e perseguir os envolvidos na retomada. “A gente sabe que eles soltam os drones em cima da gente porque eles querem ver quantas pessoas, crianças e idosos estão aqui e planejar o ataque. É um terror saber que estamos sendo vigiados e não podemos fazer nada”, completa.
Agentes do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) controlam o acesso à comunidade, fotografando documentos e placas dos veículos, além de coletar informações sobre a retomada, a quantidade de pessoas e as lideranças, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Para Mônica Cristina Lima, professora da Universidade Indígena Pluriétnica Aldeia Marakanã, a presença do Departamento reprime os indígenas e pessoas de outros movimentos sociais que vão ao local apoiar a retomada. Ela destaca também que o DOF, apesar de ser uma entidade policial da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), tem muita ligação com os latifundiários e isso gera uma desconfiança dos Guarani-Kaiowá com o departamento. “Todas às vezes em que eles retomam uma área, os policiais e os sargentos aposentados que estão presentes nesses grupos de pessoas que os atacam, também estão nas empresas de segurança”.
Resistência dos Guarani-Kaiowá no tekoha
Cerca de 10 dias após o avanço da autodemarcação, os povos Guarani e Kaiowá receberam uma ordem de despejo dos latifundiários e dos fazendeiros para se retirarem do local em um prazo de cinco dias. Xaky Jovito, indígena presente na retomada, conta que, apesar da ameaça para sair do local, não está com medo, por ter certeza que a comunidade irá lutar pela resistência. “Se isso for acontecer mesmo, a gente vai enfrentar, morrer e se sacrificar pelas nossas terras”. Ela manifesta a preocupação da comunidade de que os ataques dos ruralistas se intensifiquem após o prazo da retirada. “Houve 4 feridos aqui no dia dos ataques, se houver esse despejo, vai ter mais pessoas se ferindo”, completa Xaky.
Os responsáveis pelos ataques ao povo Guarani-Kaiowá divulgaram informações falsas nas redes sociais, alegando que a comunidade não é indígena e veio do Paraguai. Essas acusações foram feitas por uma fonte anônima em um vídeo publicado na página do Instagram do deputado federal Marcos Pollon. “Os latifundiários falam que a gente é do povo paraguaio, que estamos se fazendo de indígenas, negativo, eu nasci e cresci aqui”, diz Daniela. De acordo com ela, para evitar futuras invasões e violências é necessária a demarcação do tekoha Lagoa Rica, processo em andamento por 20 anos.
Em nota publicada em 20 de julho, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) afirmaram estar monitorando de perto os povos Guarani e Kaiowá a partir de uma equipe responsável por avaliar a situação e dialogar com as comunidades envolvidas. Após disparos de armas de fogo que resultaram em um indígena baleado e outros machucados com balas de borracha, a Funai busca apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
A Fundação também recebeu relatos de incêndios de grande escala e de monitoramento da área pelos fazendeiros e latifundiários com drones e caminhonetes. A Funai ressaltou seu objetivo em garantir segurança para os povos originários e em encontrar uma resolução para a retomada com todos os grupos envolvidos.
Com a retirada das Forças Nacionais do local, em 3 de agosto, os ataques se intensificaram e cinco indígenas foram levados para emergência depois de disparos por armas de fogo. Na tarde da última segunda-feira (05), após mais de três semanas de conflitos entre latifundiários e povos indígenas no MS, o Tribunal Regional Federal da 3° Região (TRF3) suspendeu a ordem reintegração de posse, responsável por ordenar o despejo das comunidades Guarani e Kaiowá na região de Douradina. A suspensão da ordem, porém, não garante a segurança dos indígenas na retomada. “É preciso avançar nas demarcações como nos garante a Constituição Federal”, destaca Mônica Cristina.
Segundo dados da Funai, até o momento, apenas 424 terras indígenas foram oficialmente demarcadas, representando menos de 14% do território brasileiro. No Brasil, embora o processo demarcatório tenha um número máximo de dias estipulado para cada etapa, a realidade está distante do previsto em lei. Um exemplo disso é o caso dos Guarani-Kaiowá, que aguardam desde 2011 a aprovação da demarcação de seu território.
Etapas no processo de demarcação / Fonte: Instituto Socioambiental
Mesmo com a criação do MPI pelo presidente Lula em 2023 e a nomeação de lideranças indígenas em cargos importantes, como Joênia Wapichana na presidência da Funai, a lentidão nos processos demarcatórios dificultam o avanço na garantia direitos indígenas previstos na constituição. “É uma questão preocupante porque na luta pela terra, 70% dos que estão debaixo de uma lona são crianças e mulheres. Elas estão na linha de frente correndo todo tipo de violações e risco.”, destaca a professora Mônica Cristina.
Em 2023, foram registrados 309 casos de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e outros conflitos relacionados à terra, conforme dados do CIMI. “O problema maior não é a legislação, pois a Constituição nos garante os direitos, mas como garantir e fazer valer esses direitos?”, questiona Mônica. Ela destaca que os interesses e a pressão da bancada ruralista, formada por parlamentares que são, em sua maioria, proprietários de terras e empresários rurais, possuem relação direta com o atraso nos processos de demarcação de terras indígenas.
O relatório do CIMI mostra que houve um aumento crescente contra os povos originários entre os anos de 2019 e 2022. Durante esses quatro anos, foram registrados 795 indígenas mortos, 407 disputas por conflitos territoriais e cerca de 1133 casos de invasões possessórias, danos ao patrimônio e exploração ilegal de recursos naturais em terras indígenas. No Brasil, não ocorre punição para crimes contra as comunidades originárias, porque há uma conveniência do Estado, afirma Mônica. A professora apontou a organização “Invasão Zero” como um exemplo da impunibilidade desses criminosos, esse movimento é liderado por fazendeiros e proprietários de terra. O grupo é responsável por se organizar ilegalmente para ocupar áreas de trabalhadores de terras e de comunidades indígenas, com características semelhantes às milícias armadas.
Desafios na demarcação de terras indígenas
O Marco Temporal é uma tese jurídica criada com objetivo de restringir o direito de posse dos indígenas apenas às terras ocupadas ou disputadas antes de 5 de outubro de 1988, a data de publicação da Constituição vigente no Brasil. A proposta cria barreiras adicionais de demarcação de terras indígenas e aumenta os casos de violência contra essas comunidades, segundo Mônica Cristina. Para ela, o Marco Temporal, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2007, pode intensificar os conflitos entre povos originários e grupos dedicados à mineração e ao agronegócio.
Entre os principais defensores do Marco estão parlamentares que compõem a bancada ruralista, afirmando que o projeto é necessário para dar “segurança jurídica” aos fazendeiros. Nunes Marques, ministro do STF, declara que a soberania do Brasil estaria em risco sem a aprovação do Marco Temporal, além de prejudicar o mercado imobiliário. De acordo com a professora, a tese jurídica é uma “ameaça significativa aos direitos e à integridade territorial das comunidades indígenas”, não reconhecendo terras ocupadas e protegidas por esses povos após 1988.
O STF considerou o Marco Temporal inconstitucional em setembro de 2023, por validar ameaças e violências ocorridas contra os indígenas antes da proclamação da Constituição. Porém, o Congresso Nacional restabeleceu a proposta com a criação da lei 14.701/2023, negando o pedido de veto feito pelo presidente Lula.
Para a professora Mônica, a sociedade civil, as comunidades internacionais e os órgãos públicos são responsáveis por determinar o futuro dos povos indígenas na promoção de inclusão social e de visibilidade. Ela conta que as invasões de terras e os casos de violência vão aumentar ou persistir nos próximos anos, sendo as mudanças climáticas e o desmatamento fatores de riscos contra essas comunidades. “Os modos de vida e cosmovisões dos povos originários e seu respeito e conexão com a Mãe Terra, a Grande Criadora, são a alternativa para solucionarmos os desafios climáticos que estamos sofrendo”, conclui a professora.
Pontos de acolhimentos de alimentos e mantimentos / Fonte: Instagram da Aty Guasu
Desde o início da invasão, os fazendeiros estabeleceram acampamentos nas terras dos Guarani-Kaiowá, impedindo o acesso à comida e água para esses povos. As comunidades indígenas estão instalando pontos de coleta de alimentos e de itens de higiene, como papéis higiênicos e absorventes, para os residentes de Mato Grosso do Sul. Qualquer quantia pode ser doada através do endereço Pix: ms.unidadepopular@gmail.com.