Perspectiva LGBTQIAPN+ na saúde mental e na política: confira as discussões do terceiro dia do Berro!

Perspectiva LGBTQIAPN+ na saúde mental e na política: confira as discussões do terceiro dia do Berro!

Por: Hyndra Lopes

O último dia do evento (06/11) promoveu mesas sobre os desafios enfrentados pela população LGBTQIAPN+ nos âmbitos da saúde mental e da política. Além de encerrar as sessões da II Jornada Identidades, Gêneros, Corpos e Sexualidades.

Da esquerda para a direita: Bruna Benevides, Dani Balbi, Ricardo Ferreira Freitas e Benny Briolli na mesa “LGBTQIAPN+ na política”, no auditório 93 (9° andar da Uerj Maracanã). Foto de Luana Maciel.

O Berro!, evento promovido pelo Laboratório de Comunicação, Cidade e Consumo (Lacon) da Faculdade de Comunicação Social (FCS Uerj), encerrou na última quinta-feira e trouxe a saúde mental e a política como pautas para as palestras. As mesas promoveram discussões acerca das demandas LGBTQIAPN+ e da sua representatividade nestes campos, com a presença de figuras relevantes na cena, como Benny Briolli e Dani Balbi. A II Jornada Identidades, Gêneros, Corpos e Sexualidades também finalizou no mesmo dia, contando com trabalhos que trouxeram a visão LGBTQIAPN+ em diversos âmbitos da sociedade.

 

O terceiro dia de evento iniciou, pela manhã, com as últimas apresentações de trabalho da II Jornada Identidades, Gêneros, Corpos e Sexualidades. A sessão 7 foi coordenada por Débora Gauziski, pesquisadora e professora adjunta da FCS Uerj, e Julia Ourique, jornalista e doutoranda em Comunicação pela Uerj. Já a sessão 8 foi coordenada por Diego Cotta, doutor e mestre em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense  (IACS/UFF), e Fran Pimentel, jornalista e doutoranda do PPGCOM Uerj. Os trabalhos abordaram diversos temas acerca da diversidade e pluralidade, com foco na perspectiva LGBTQIAPN+ nos diferentes campos culturais e sociais.

 

Na parte da tarde, ocorreu a palestra “LGBTQIAPN+ e saúde mental”. A mesa contou com Marcelle Esteves, psicóloga clínica e ativista, Mario Carvalho, Psicólogo e Pesquisador do Instituto de Psicologia da Uerj, e Céu Cavalcanti, Professora adjunta da UFRJ e secretária de saúde mental da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Os palestrantes trouxeram como pauta principal a falta de amparo familiar e do Estado para pessoas LGBTQIAPN+ e os impactos negativos provocados na sua saúde mental. 

Da esquerda para a direita: Céu Cavalcanti, Marcelle Esteves e Mario Carvalho, com projeção ao fundo: “Não se trata de uma fragilidade intrínseca, mas sim do resultado direto de um ambiente social hostil.”. Foto de Luana Maciel.

Homossexuais, pessoas trans e travestis são alvos constantes de diversos tipos de violência por conta do preconceito. De acordo com Marcelle, essa situação gera o chamado “estresse de minoria”, carga emocional acumulativa que afeta pessoas oprimidas socialmente e pode desencadear depressão e ansiedade. O quadro é mais latente entre pessoas LGBTQIAPN+, considerando que metade desta população no Brasil já apresentou esses transtornos. Mario complementa a questão posta pela psicóloga ao apontar que grupos socialmente minorizados tem maior índice de comportamentos suicidas, motivados pela violência sofrida, e jovens LGBTQIAPN+ estão mais suscetíveis a cometerem suicídio. 

 

Os prejuízos à saúde mental desse grupo tem raízes sociais, devido à carência de uma rede de apoio por parte da família, dos amigos e do Estado para proverem, além da base emocional, auxílio psicológico, econômico e educacional, por exemplo. Céu Cavalcanti frisa essa ideia ao apontar que o tratamento psicológico não pode ser encarado como algo individual da pessoa e destaca a importância do termo “psicossocial”, que sai da lógica individualizada do adoecimento para entender que a questão engloba outros problemas sociais, como a fome, a pobreza e o preconceito. “Não queremos sobreviver, queremos viver bem”, declara Céu.

 

O último dia de Berro! finalizou com a palestra “LGBTQIAPN+ na política” e contou com presenças ilustres como Ricardo Ferreira Freitas, coordenador do Lacon, Bruna Benevides, presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), Dani Balbi, deputada estadual do Rio de Janeiro e primeira mulher trans eleita pela Alerj, e Benny Briolly, vereadora de Niterói e primeira mulher trans eleita para  cargo no município. As discussões envolveram a luta da comunidade LGBTQIAPN+ na política, para alcançar cargos de poder e reivindicar os seus direitos, com destaque para as cotas trans na universidade. Como apontou Ricardo, enfatizar essa questão na Uerj é necessário para incentivar a reitoria em prol da aprovação dessa medida.

Bruna Benevides falando durante a mesa “LGBTQIAPN+ na política”, ao lado de Dani Balbi, Ricardo Ferreira Freitas e Benny Briolli, no auditório 93 (9° andar da Uerj Maracanã). Foto de Luana Maciel.

Dani Balbi, em sua fala, afirma que ser transsexual, por si só, já é um ato político e defende a importância das cotas trans na universidade para além do impacto individual na trajetória dessas pessoas. A universidade é uma instituição de direcionamento de pesquisa e é responsável por promover novas visões de mundo. Logo, a implementação das cotas trans contribui também para produzir políticas públicas voltadas à comunidade, adensar o debate social acerca de questões LGBTQIAPN+ e modificar o curso da história, com a inserção de pessoas historicamente marginalizadas em locais de grande prestígio social.

 

A perseguição da população LGBTQIAPN+ retardou a sua participação política efetiva e a conquista dos seus direitos, como denuncia Bruna Benevides:  “Essas perseguições, essas mobilizações, não são recentes, elas sempre tiveram esse papel de manter no poder o que é hegemônico”. Mesmo assim, a comunidade nunca deixou de lutar pela sua inclusão e de se mobilizar na disputa por um espaço na política institucional. Em 2020, foram eleitos mais de 30 vereadores e vereadoras trans, representando um grande avanço no cenário político brasileiro. Ela diz que estamos vivendo o sonho das travestis mais velhas, que visavam e gestaram esse poder político.

 

Finalizando a noite, Benny Briolli fala sobre a continuidade da luta política LGBTQIAPN+, e denuncia a predominância da heteronormatividade nas instituições brasileiras, que não foram pensadas e nem pensam na multiplicidade de corpos, sobretudo nos corpos trans. A naturalização desses indivíduos em espaços de amplo reconhecimento nacional deveria ser óbvia, mas, como não é o que acontece, torna-se ainda mais imprescindível. Além da inclusão, é importante que as questões e os direitos da população LGBTQIAPN+ sejam postas em pauta por seus membros integrantes. “Quando a gente traz esse debate, a gente traz o nosso corpo para o centro da discussão”, declara a vereadora.

 

Dessa forma se encerra o Berro!, evento que levantou diversas reflexões acerca das perspectivas da população LGBTQIAPN+ nos mais variados âmbitos sociais. A promoção desses encontros na universidade possibilitam a visibilidade e a construção de conhecimento acerca da luta dessa comunidade, constituindo um ato político. Como Bruna Benevides aponta em sua fala, uma política “transversal, interseccional e diversa”.

Berro! traz discussão sobre direito ao esporte e ao entretenimento para o público LGBTQIAPN+

Berro! traz discussão sobre direito ao esporte e ao entretenimento para o público LGBTQIAPN+

Por: Fernanda Rodrigues

O segundo dia de Berro! (05/11) contou com a apresentação de trabalhos pela manhã na II Jornada Identidades, Gêneros, Corpos e Sexualidades e as mesas LGBTQIAPN+ no Esporte, na Cultura e no Entretenimento.

As palestras aconteceram no auditório 93, no nono andar da Uerj. Foto por Hyndra Lopes

Pela manhã, às dez horas, os trabalhos apresentados na jornada discutiram as questões do esporte e da cultura. O dia contou com a sessão 5 da jornada, coordenada por Diego Cotta, Doutor e Mestre em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense IACS/UFF e estagiário pós-doutoral em Comunicação no PPGCOM/Uerj e Marcelo Resende, jornalista, doutorando e mestre em Comunicação pela Uerj. Já a sessão 6 foi coordenada por Débora Gauziski, pesquisadora e professora adjunta da FCS Uerj e Julia Ourique, jornalista e doutoranda em comunicação pela Uerj

Os trabalhos trataram principalmente da representação da comunidade LGBTQIAPN+ nos campos do esporte e do entretenimento. No esporte, a comunidade  é oprimida e tem seus direitos negados – como em muitos outros setores. Nos estádios, por exemplo, pessoas que não se encaixam no padrão hétero normativo são excluídas e inibidas de frequentar esses espaços. Já no entretenimento, a representação desse grupo social é muitas vezes equivocada ou esteriotipada. 

A primeira mesa do dia contou com a presença de Leda Costa, professora da Uerj; Marcelo Resende, jornalista e Marcelo Silva, fundador da Aquatrans, projeto social voltado para pessoas trans. A presença e resistência LGBTQIAPN+ no esporte foi mais uma vez discutida.

A professora Leda Costa foi a primeira a falar, trazendo sua pesquisa sobre a relação do feminino com o futebol, como gênero excluído e violentado nesse campo. Leda revelou que, em dia de jogo de futebol, registros de violência doméstica aumentam em 26%.

A professora deixou uma reflexão sobre masculinidade tóxica e misoginia, passando pelos detalhes de sua pesquisa. No futebol, as mulheres são associadas a uma ameaça ao padrão de feminilidade imposto pela sociedade. A presença das mulheres nos primeiros Jogos Olímpicos (1896), por exemplo, foi proibida. As jornalistas esportivas, também, recebem muitos ataques de ódio, especialmente nas redes sociais. Ou seja, a presença da mulher nos esportes ameaça a figura do “macho”. 

Leda fala, ainda, sobre como se sente acolhida na Uerj, declarando que a Universidade a permitiu “sair do armário” e mencionando as amizades que o trabalho lhe rendeu.

Da esquerda para a direita: Leda Costa, Marcelo Resende e Marcelo Silva, palestrantes da mesa LGBTQIAPN+ no Esporte. Foto por Hyndra Lopes

Marcelo Resende palestrou sobre o corpo LGBTQIAPN+ nos estádios. Marcelo apresentou sua pesquisa, expondo como os “corpos dissidentes” ocupam o espaço em campo. Como já mencionado anteriormente, a área esportiva, principalmente o futebol, oprimem e escanteiam corpos que fogem do padrão heteronormativo. Ele ressalta, porém, que o futebol não é “coisa de macho” , e reivindica o direito universal ao esporte.

O jornalista traz o exemplo de Nando Gald, influenciador torcedor do Vasco que desafia os padrões de heteronormatividade impostos em campo. Performando sua sexualidade da forma que ele bem entende, Nando não se intimida com a homofobia no futebol e luta por um campo mais democrático. Resende traz ainda a relação entre as brigas de torcidas e o ideal de masculinidade imposto em campo.

Para encerrar a mesa, Marcelo Silva, professor de educação física e fundador da Aquatrans, levou à mesa a pauta das pessoas trans no esporte. Marcelo é também professor de natação no Vasco e ceo da 7etemares. 

O aquatrans é um projeto de aulas de natação em águas abertas para pessoas transsexuais e travestis. O projeto reúne mais de 150 alunes não só cariocas, como também de outros estados e estrangeiros. 

Marcelo ressalta que o corpo trans é muito negado ao esporte na nossa sociedade. A discussão sobre a competição de pessoas trans nos esportes continua sendo um tabu muito forte. O professor cita que, muitas vezes, pessoas trans nem mesmo consideram o esporte como uma possibilidade. 

O Aquatrans, para além da técnica esportiva, tem um papel social e político. Marcelo Silva ressalta o significado da praia para as pessoas trans, que, principalmente no início da transição, se sentem envergonhadas de frequentar esses espaços. O projeto ressignifica a praia para essas pessoas, além de introduzi-las no esporte.

Para encerrar o dia, a mesa LGBTQIAPN+ na Cultura e no Entretenimento ocupou o auditório 93. Thiago Soares, Bárbara Alves e Nilaisa Luciana debateram o papel da comunidade nesse âmbito da sociedade. 

Thiago Soares é professor e pesquisador de Comunicação e Cultura Pop e falou sobre sua pesquisa acerca do “Gagacabana” , fenômeno que se deu este ano por causa do show da Lady Gaga no Rio de Janeiro. 

Thiago enxerga os espetáculos de música pop como reorganizadores da dinâmica da cidade, que se mobiliza pelo evento. O pesquisador menciona as lojas do Saara, na região central do Rio, que se modificaram, vendendo adereços para o show da Lady Gaga. O show, ainda, é um espaço de performance e expressão LGBTQIAPN+. 

Em seguida, Bárbara Alves, que trabalha diretamente na presidência da FioCruz com enfoque nas questões LGBTQIAPN+ e de diversidade, discutiu sobre a posição da comunidade em questões de representatividade na mídia, principalmente.

Bárbara destaca: “Nós, travestis, ainda somos muito desumanizadas”. Na mídia, pessoas trans são muito mal representadas, reforçando estereótipos e preconceitos. Ela dá o exemplo do programa “Zorra Total”, exibido na Globo entre 1999 e 2015, que fazia chacota de pessoas trans e travestis.

Além disso, ela coloca a questão sobre o imaginário de um tipo ideal de corpo ou comportamento LGBTQIAPN+ e a questão da representatividade que, apesar de estar crescendo, ainda é insuficiente, seja na mídia, seja no mercado empresarial, por exemplo. 

Bárbara Alves, Thiago Soares, Nilaisa Luciana palestrando no segundo dia de Berro! Foto por Hyndra Lopes.

Para finalizar o dia, Nilaisa Luciana levou à mesa uma reflexão complexa sobre as relações de poder. Nilaisa trabalha com educação popular e é moradora da Maré, comunidade no Rio de Janeiro. A educadora colocou que a questão da representatividade e dos preconceitos envolve um conjunto de signos que formam um imaginário acerca da população LGBTQIAPN+. Esse imaginário é equivocado e preconceituoso, gerando violência. Para ela, as relações de poder estão presentes em todas as relações sociais que exercemos e impactam a comunidade LGBTQIAPN+ de forma violenta. 

Somos deixados com a reflexão acerca de como a comunidade é representada na sociedade – seja no esporte, seja no entretenimento. É importante ocupar espaços e resistir, transpondo o preconceito opressor que assola as pessoas LGBTQIAPN+.

“Berro!”: Evento discute identidade e gênero na universidade e no mercado de trabalho

“Berro!”: Evento discute identidade e gênero na universidade e no mercado de trabalho

Confira os depoimentos, palestras e todos os detalhes do que aconteceu no primeiro dia do “Berro!”

Por: Luana Maciel

Na última semana, dos dias 4 a 6 de novembro, aconteceu na Uerj o “Berro!”, evento organizado pelo Laboratório de Comunicação, Cidade e Consumo (Lacon) da Faculdade de Comunicação Social (FCS). O evento reuniu convidados ilustres e promoveu importantes debates sobre a expressão e comunicação LGBTQIAPN+ em múltiplas áreas. 

O primeiro dia de debates teve início com a apresentação de trabalhos pela manhã. Os trabalhos faziam parte da Jornada “Identidades, gêneros e sexualidades” e os temas abordados foram os mais diversos, mas todos com uma meta em comum: pensar a cultura, a arte, o esporte e as demais áreas a partir da perspectiva LGBTQIAPN+. As apresentações se estenderam até o período da tarde, reunindo alunos e acadêmicos interessados e finalizando cada sessão com um momento de perguntas e comentários.

Às 17h, a mesa de abertura, composta por Vania Oliveira Fortuna, subcoordenadora do Lacon; Elizabeth Macedo, Pró-Reitora da Pós-graduação; e Fátima Regis, vice-diretora da FCS , declarou oficialmente aberto o evento.

Mesa de abertura, no auditório 93 da UERJ.  Foto: Hyndra Lopes

Logo em seguida da cerimônia oficial de abertura, teve início, no auditório 93 da Uerj, a primeira mesa do evento, que colocava em pauta os principais desafios e avanços das pessoas LGBTQIAPN+ entre a comunidade acadêmica e no mercado de trabalho. A mesa reuniu o professor de direito da Unifesp, Renan Quinalha; a professora do Programa de Pós-Graduação e Comunicação da UFRGS, Alê Primo; e o professor da FCS e fundador do Lacon, Ricardo Ferreira Freitas.

Renan Quinalha foi quem deu início à palestra. Formado em direito pela USP, o professor comentou sobre sua própria experiência universitária, em um momento e local onde não haviam pessoas abertamente LGBTQIAPN+ nesse espaço. Renan relata que tanto o ambiente acadêmico como os primeiros locais onde trabalhou eram extremamente opressores em relação à identidade de gênero e à sexualidade. Renan se assumiu como homem gay já na vida adulta e, após se reconhecer como tal, passou a pesquisar e estudar experiências LGBTQIAPN+, inclusive trazendo essa temática para o seu doutorado.

O professor enfatiza a importância da expansão e legitimação do campo de estudos de gênero e sexualidade, e diz que a universidade tem que ser um espaço para se discutir esse tema, acompanhando os avanços sociais. Até porque, como ele explica, ter referências de professores e acadêmicos da comunidade ocupando lugares de destaque e prestígio inspira pessoas LGBTQIAPN+ a se imaginarem também nesse lugar, percebendo ser possível trilhar caminhos semelhantes.

Outra questão levantada por Renan é a crise enfrentada pelo mercado de trabalho como um todo. Em um cenário de dissolução das redes de proteção, e crescente vulnerabilidade do trabalhador, não basta, segundo o professor, que se contrate pessoas LGBTQIAPN+ sob a pretensão de inclusão. As empresas e os empregadores devem garantir à comunidade dignidade no ambiente de trabalho, possibilidade de descanso e outros direitos trabalhistas fundamentais. Não basta trazer essas pessoas para a universidade ou para o mercado de trabalho, é preciso pensar como elas vão permanecer nessas posições. Afinal, como o professor Renan pontua em seu discurso, representatividade não é sobre figuração, é sobre transformar estruturas de poder.

Mesa “LGBTQIAPN+ na academia e no mercado de trabalho”, no auditório 93 da UERJ. Foto: Luana Maciel

Em seguida, foi a vez de Alê Primo falar. Mulher trans que transicionou aos 51 anos, professora e Miss Universo trans Brasil, Alê começa contando que sua transição ocorreu durante a pandemia, e comenta os desafios enfrentados nesse processo, principalmente por ter ocorrido em uma fase mais avançada de sua vida. Mas apesar dos desafios, ela vê a transição aos 51 anos de forma positiva e afirma que pensa que não transicionou para uma menina, mas sim para uma mulher madura.

A professora relata que, antes de transicionar, tinha uma ideia de travestis como pessoas sujas e vulgares, pensamento perpetuado pelos preconceitos da sociedade. Por isso mesmo, agora que se assumiu como uma mulher trans, Alê quer ser vista e falar sobre sua experiência, pois entende que é fundamental que as pessoas trans sejam representadas e visualizadas para além desse estereótipo de indivíduos que ocupam a posição à margem da sociedade.

Nesse sentido, a professora não deixa de ressaltar o papel crucial da educação em romper com esses preconceitos e dar voz às pessoas trans. Segundo ela, a educação é transformadora para as minorias. Todos nós somos diferentes. Não existe ninguém igual ao outro”, afirma Alê Primo. E, segundo Alê, tanto a universidade, quanto o local de trabalho devem abraçar e celebrar essas diferenças. “A vida é a diferença. A homogeneidade é pobre. O não movimento é a morte. Tudo que está estático está morto. A vida é movimento”, complementa ela.

Alê Primo defende a adoção da medida de cotas trans. Imagem: Luana Maciel

Por fim, Alê Primo não deixa de fazer uma reivindicação, também colocada em destaque por Renan anteriormente: a necessidade de adesão da Uerj às cotas trans. Ambos enfatizam o papel da universidade como lugar de inclusão, como espaço que precisa ser ocupado por pessoas LGBTQIAPN+ . E, ainda, como  o local onde devem ser produzidas pesquisas e realizados estudos sobre o tema de identidade e gênero. E, para ambos, a adoção da medida de cotas trans é mais um passo, pendente e fundamental, para que se caminhe nessa direção.

O Primeiro dia do Berro! veio para mostrar a essência do evento: a reunião de pessoas renomadas, pessoas curiosas e pessoas determinadas para debater temas relevantes para a comunidade uerjiana e para a sociedade como um todo. Viajando pelas mais diferentes áreas e por variados assuntos, no final do dia o propósito do Berro! é um só: mostrar que a universidade pode e deve ser lugar de discutir identidade e gênero. É onde esse tema pode ganhar voz e levar à produção de conhecimento, para que o conhecimento leve à inclusão e ao respeito. Como bem colocado por Alê Primo em uma de suas falas finais: “Se eu puder resumir o que estamos Berrando é: respeite!”.

Projeto da Uerj se especializa em serviços assistidos por cães para jovens com autismo

Projeto da Uerj se especializa em serviços assistidos por cães para jovens com autismo

A equipe desenvolveu a iniciativa “Ler é bom para cachorro

Por: Hyndra Lopes

O Grupo de Estudos e Pesquisas em Autismo e Serviços Assistidos por Cães (GEPAC), da Faculdade de Formação de Professores da Uerj (FFP), desenvolve programas de apoio e educação assistidos para crianças e adolescentes com autismo. Além de oferecer curso de qualificação para servidores públicos.

Atividade em escola com cão de assistência junto ao corpo docente. 

Foto disponibilizada por Vanessa Breia – coordenadora do GEPAC Uerj.

O GEPAC também promove um curso anual de formação e qualificação de profissionais habilitados a atuar em serviços assistidos, oferecido a servidores públicos da saúde, educação, assistência social e segurança pública. O programa, ao longo dos seus três anos de existência, já abrangeu os municípios de Arraial do Cabo, Barra Mansa, Itaboraí, Macaé, Niterói, Nova Friburgo, Rio de Janeiro, São Gonçalo e Maricá.

A relação entre intervenções assistidas e os cães que prestam serviços de apoio aos humanos gera certa confusão no público. Vanessa explica que serviços assistidos por cães consistem em ter um cachorro devidamente treinado como membro integrante de equipes de educação e saúde, por exemplo, ajudando em ações voltadas a um grupo ou a indivíduos. Já os cães de assistência são selecionados e treinados para acompanharem uma única pessoa com deficiência e auxiliá-la em atividades da vida diária, garantindo determinados suportes a partir da realização de tarefas específicas. Em ambos os casos, os cães devem ter o perfil e o treinamento baseados no público alvo que ele irá atender, desenvolvendo um repertório comportamental adequado ao ambiente e às necessidades das pessoas que serão atendidas. 

No GEPAC, que presta assistência a pessoas com TEA, trabalha-se com cachorros de médio a grande porte, resistentes a interações mais bruscas que podem acontecer devido às questões motoras e comportamentais de pessoas no espectro. Além disso, em seu treinamento, passam pelo processo de dessensibilização desses estímulos, para não se incomodarem caso a sua pele seja puxada ou se toque em qualquer parte do seu corpo, garantindo maior segurança aos atendidos.

 

As vantagens que serviços assistidos por cães podem trazer para o tratamento de pessoas com TEA são cientificamente comprovadas. Vanessa concorda que existem benefícios, principalmente nas questões de interação, mas que variam para cada pessoa de acordo com o objetivo terapêutico e a adaptação ao cão, ressaltando que o uso dessas intervenções deve ser um complemento às outras terapias indicadas e que, em alguns casos, pode haver contraindicações.

 

A professora aponta que a comunicação é uma das melhoras mais imediatas decorrentes desses serviços assistidos para crianças e jovens com autismo. Ela diz que os cães são capazes de captar micro sinais sutis mais rápido e de maneira menos invasiva. O seu comportamento também é mais previsível que o de um ser humano, principalmente um neurotípico, que pode apresentar ironia ou sarcasmo nas interações, por exemplo. Dessa forma, pessoas com essa neurodivergência, que tendem a ter dificuldades de socialização, se sentem encorajadas a interagir com o cachorro, por ele não impor a pressão de uma interação social humana e compreender pequenos estímulos mais facilmente. “Se a pessoa que tem dificuldade de comunicação está se sentindo confortável, é muito mais fácil para ela investir em um ciclo de comunicação nessas condições do que quando ela está sendo pressionada”.



Atendimento em Terapia Assistida. Foto disponibilizada por Vanessa Breia – coordenadora do GEPAC Uerj.

O GEPAC também promove um curso anual de formação e qualificação de profissionais habilitados a atuar em serviços assistidos, oferecido a servidores públicos da saúde, educação, assistência social e segurança pública. O programa, ao longo dos seus três anos de existência, já abrangeu os municípios de Arraial do Cabo, Barra Mansa, Itaboraí, Macaé, Niterói, Nova Friburgo, Rio de Janeiro e São Gonçalo.

A relação entre intervenções assistidas e animais que prestam esses serviços gera certa confusão no público acerca das suas distinções. Vanessa explica que serviços assistidos por cães consistem em ter um cachorro devidamente treinado como membro integrante de equipes de educação e saúde, por exemplo, ajudando em ações voltadas a um grupo. Já os cães de assistência são selecionados e treinados para acompanharem uma única pessoa, que irá adquirir esse animal por meio da compra ou doação, exercendo um serviço individualizado e totalmente adaptado ao seu dono. Em ambos os casos, o cão de assistência escolhido deve ter o perfil e o treinamento baseados no público alvo que ele irá atender, desenvolvendo um repertório comportamental adequado ao ambiente e às necessidades das pessoas que serão atendidas. 

 

No GEPAC, que presta assistência a pessoas com TEA, trabalha-se com cachorros de médio a grande porte, resistentes a interações mais bruscas que podem acontecer devido às questões motoras e comportamentais de jovens com autismo. Além disso, em seu treinamento, passam pelo processo de dessensibilização desses estímulos, para não se incomodarem caso a sua pele seja puxada ou se toque em qualquer parte do seu corpo.

As vantagens que serviços assistidos por cães podem trazer para o tratamento de pessoas com TEA são cientificamente comprovadas. Vanessa concorda que existem benefícios, principalmente nas questões de interação, mas que variam para cada pessoa de acordo com o objetivo terapêutico e a adaptação ao cão, ressaltando que o uso dessas intervenções deve ser um complemento às outras terapias indicadas e que, em alguns casos, pode haver contraindicações.

A professora aponta que a comunicação é uma das melhoras mais imediatas decorrentes desses serviços assistidos para jovens com autismo. Ela diz que os cães são capazes de captar micro sinais sutis mais rápido e de maneira menos invasiva. O seu comportamento também é mais previsível que o de um ser humano, principalmente um neurotípico, que pode apresentar ironia ou sarcasmo nas interações, por exemplo. Dessa forma, pessoas com essa neurodivergência, que tendem a ter dificuldades de socialização, se sentem encorajadas a interagir com o cachorro, por ele não impor a pressão de uma interação social humana e compreender pequenos estímulos mais facilmente. “Se a pessoa que tem dificuldade de comunicação está se sentindo confortável, é muito mais fácil para ela investir em um ciclo de comunicação nessas condições do que quando ela está sendo pressionada”.

Criança interagindo com cão de assistência no evento Pupanique – piquenique para famílias atípicas em celebração ao mês de abril. Foto disponibilizada por Vanessa Breia – coordenadora do GEPAC Uerj.

Os serviços assistidos por cães podem contribuir também no desenvolvimento motor, prejudicado em um número significativo de pessoas com autismo devido a hipotonia – baixo tônus muscular. A promoção de circuitos juntamente com o cão é uma maneira de motivar o jovem a desenvolver a parte física. Além disso, essas intervenções podem ajudar em questões táteis e sensoriais, comuns entre jovens com autismo, que apresentam restrições alimentares por conta da textura, do cheiro e da cor de determinados alimentos. “Muitas vezes o cachorro vai ser o modelo que topa provar e comer aquelas coisas. A criança pode não começar comendo a cenoura ou o morango, mas, se ela já aceitar tocar para dar ao cachorro, eu já ganhei um ponto nesse processo”, afirma Vanessa. 

 

Apesar de todos os fatores positivos que a divulgação desse trabalho trazem para a causa, a professora aponta que a mídia se aproveita do apelo que as pessoas com autismo e os próprios animais geram no público para propagar uma visão romantizada desses serviços. “A gente entende que, infelizmente, os serviços assistidos se tornaram muito divulgados, mas sem uma fundamentação técnica e teórica e sem uma dimensão ética”, declara Vanessa. O trabalho dos treinadores e especialistas e as questões acerca do bem-estar animal, controle sanitário e riscos de acidente são deixados de lado para focar no carinho, não julgamento e conforto que esses animais trazem aos humanos. Além de propagação da ideia dos serviços assistidos por cães como solução para todas as questões relacionadas ao transtorno. Ela defende que é necessário fazer uma divulgação consciente, para que a população não caia em mitos milagrosos acerca dos cães de assistência e entenda que esses serviços devem seguir parâmetros técnicos internacionais.

 

A inexistência de regulamentação legal para os diferentes tipos de cães de assistência no Brasil, inclusive os destinados a pessoas com autismo, é outro problema enfrentado pelos serviços assistidos. A garantia dos direitos destes animais está restrita aos cães guia pela Lei nº 11.126/2005, que acaba sendo aplicada aos outros cães de assistência e, com a comprovação de que eles foram treinados adequadamente, o judiciário reconhece o seu direito de atuar. Vanessa aponta que isto representa um atraso na legislação brasileira e defende os avanços dos projetos de lei que preveem a expansão dos direitos para os outros cães de assistência.

Falta de treinos de futsal preocupa atletas universitários e expõe desafios internos da Atlética de Comunicação Social e Artes

Falta de treinos de futsal preocupa atletas universitários e expõe desafios internos da Atlética de Comunicação Social e Artes

A irregularidade das atividades preocupa os atletas e pode afetar diretamente o desempenho da Atlética nas competições universitárias

Por: Henrique Pereira

 

Quadra interna da Uerj. Foto: Manuela Weissman

A rotina de treinamentos da Atlética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) segue comprometida em 2025. A equipe de futsal masculino, por exemplo, conseguiu realizar apenas uma atividade no segundo semestre, situação que repete os transtornos do ano anterior. Segundo o treinador da modalidade, Gustavo Franco, os problemas já são antigos. “Ano passado foi igual”, afirmou.

Ao ser perguntado sobre os fatores que impossibilitam a prática frequente de treinos, ele apontou a disponibilidade de espaço e dos horários dos estudantes. Além desses, destacou a ausência de comprometimento dos próprios jogadores como o principal obstáculo enfrentado. “A tentativa de organizar os encontros semanais esbarra justamente na adesão dos atletas. Agora é aguardar o compromisso deles”, comentou.
A Uerj possui dois locais para treinos do futsal, a quadra externa e a do ginásio. Sobre a participação da Universidade em uma possível solução, Gustavo, formado em Educação Física pela própria UERJ, não demonstrou otimismo: “A construção de mais quadras seria uma medida, mas a faculdade não vai ajudar. A demanda é muito grande e o processo é muito burocrático”, disse. 

Para os jogadores, a falta de treinos pesa tanto no rendimento quanto na vida acadêmica. Pedro Athayde, estudante de jornalismo do 5º período e atleta da equipe, disse que a escassez de atividades semanais o tem incomodado bastante: “Tenho sentido bastante, por mais que meu horário de aula esteja mais apertado, era sempre bom desestressar um pouco nos treinos. Sem contar que eu amo competir e sinto muita falta disso no meu dia a dia”, relatou.

Ainda de acordo com ele, tal problemática afeta o grupo inteiro: “Acho que todo mundo lida mais ou menos da mesma forma, como uma válvula de escape do estresse da semana de trabalho e estudo. Então acredito que eles tenham muita pena de como as coisas estão, da nossa preparação para os campeonatos estar parada e todo mundo ficar sem ter o que fazer, já que não depende só da gente”, ressaltou.

Ao ser questionado sobre a ausência de comprometimento do time, o referido atleta reconheceu tal questão, porém alertou: “Acho que rola sim uma falta de comprometimento, mas por agora vai além disso. As quadras não estão sendo liberadas, os horários estão mais apertados e, querendo ou não, ainda não rolou uma renovação 100% do time. Até o ano passado, a maior parte do time era formada ou estava para se formar, então não aconteceu um ciclo natural dos mais novos assumirem o papel dos mais velhos”.

Entre as possíveis soluções, Athayde propõe mais flexibilidade e suporte da Universidade: “Acho que poderia rolar uma flexibilização melhor na questão das quadras, com um número maior de horários disponíveis para as atléticas. Com certeza a Uerj deveria oferecer mais apoio. As atléticas, além do esporte, servem como integração entre os estudantes, e isso fortalece o pertencimento dos alunos”, destacou.

Por fim, ele explicou a importância e o valor da Atlética em sua vida pessoal: “Pra mim, participar da Atlética é uma questão de pertencimento, chegar mais perto do que um dia foi meu sonho de virar jogador e defender algo que faço parte. A mensagem que eu deixo aos novos calouros é para que sigam nesse processo, porque as amizades são boas, o dia a dia é maravilhoso, a competição nos treinos e nos campeonatos é algo incrível. Então, não deixem de ir e curtam bastante o que a atlética tem pra oferecer”, concluiu.

Com treinos escassos e o futuro incerto, a Atlética de Comunicação Social da Uerj vive um momento de indefinição. As falas do treinador e do atleta evidenciam que os problemas vão além da quadra: passam pela necessidade de adesão estudantil, apoio institucional e um esforço coletivo para manter viva a tradição do esporte universitário.

Os microempreendedores da Uerj

Os microempreendedores da Uerj

Conheça a história de três alunos que veem a Universidade, para além do ensino, também como um polo econômico

Por: Luana Maciel

 

Ao caminhar pelos corredores da Uerj, qualquer pessoa poderá encontrar alunos da própria instituição vendendo diferentes produtos a quem estiver interessado. Desde docinhos a acessórios, esses produtos demandam preparação, planejamento e estratégias de inovação desses estudantes. A rotina universitária passa por uma reformulação, de modo que, além dos estudos, eles têm um novo compromisso: as vendas.

 Alice Moraes, Douglas Xavier e Leonardo Vieira são três desses microempreendedores que construíram pequenos negócios entre as rampas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

  • Alice Moraes

Alice Moraes, aos 20 anos, cursa jornalismo e vende brigadeiros, casadinhos e outros doces na Universidade. Os docinhos são produzidos pela própria Alice. A iniciativa partiu dela e do namorado, com um objetivo claro em mente: juntar dinheiro para planejar seu casamento.

                             Alice Moraes posando com seus doces no corredor da Uerj. Foto: Luana Maciel

 

Ela conta que seu namorado, Israel, estudante de letras, fazia algumas vendas, mas por uma questão de timidez e logística, hoje ajuda mais com a parte técnica, anotando os números de venda de cada dia e administrando as redes sociais. Já a parte de vender ao público mesmo, ficou por responsabilidade de Alice. Ela vende do nono ao décimo segundo andar e na fila do bandejinho.

Na verdade, a jovem revela que inicialmente não queria fazer parte diretamente do processo de venda. “No início eu tinha vergonha. Não queria vender não, no começo, só fazia”, relata Alice. Mas quando ela começou a vender junto do namorado e percebeu que obtinha melhores resultados, ela descobriu que era boa neste processo de interação com possíveis compradores. E, o que antes era evitado por medo de vergonha, agora faz parte do dia a dia da estudante, que afirma gostar do que faz, superada a timidez inicial. 

Alice explica que escolheu vender seus produtos especificamente na Uerj por ser não só um local que ela frequenta, mas também que muitas pessoas habitam, demonstrando uma grande oportunidade comercial. “É um dos lugares que eu mais convivo. Tem uma grande quantidade de pessoas, de alunos, de gente. Aí eu vi que seria bom vender aqui”, conclui a jovem.

 E por ser tão imensa e englobar tantos indivíduos, o local é, para a aluna, também uma oportunidade de conhecer novas pessoas e criar laços: “Os docinhos me proporcionaram esse contato maior com os estudantes, com as pessoas, com os servidores da Uerj. Até fazer amizades também”. Alice acredita que cada empreendedorismo pode ajudar, de alguma forma, as pessoas que frequentam a Uerj. “Às vezes a pessoa tá com vontade de comer um docinho, mesmo que pareça uma coisa pequena, você acaba alegrando o dia dela”, afirma a aluna. 

Instagram: doces_a.i

  • Douglas Xavier

Douglas, de 26 anos, está no quinto período de direito. Mas, pela Uerj, ele é muito mais conhecido pelo apelido de “DG do brownie”. Douglas aponta que, na verdade, quem começou a produzir brownies para comercialização foi uma amiga. DG era apenas seu cliente fixo e um grande fã dos doces. Tudo mudou quando, no final do terceiro período, a colega, que iria começar a estagiar e estava se sentindo sobrecarregada, percebeu o potencial de Douglas e o chamou para realizar as vendas e dividir o lucro.

             Douglas Xavier posando com seus brownies na saída do restaurante universitário. Foto: Luana Maciel

DG conta que no seu primeiro dia de vendas, apesar do nervosismo, o saldo de brownies vendidos foi um total de cento e um. A amiga ficou completamente surpresa, uma vez que o número médio de brownies por dia até então variava de trinta a quarenta.

Ele relata que nos seus primeiros dias de venda, ficava perto da fila do bandejão, tentando se aproximar de possíveis clientes. “Eu abordava o pessoal, brincava. Às vezes a pessoa não sabia nem que queria doce, no final ela saía com três, com quatro”. Daí pra frente DG se tornou um verdadeiro sucesso na Universidade. 

Douglas conta que já havia tido contato com o atendimento ao público antes. Sua mãe vende cosméticos e roupas e seu pai tem um estacionamento. Ele destaca como essas experiências o ajudaram a desenvolver uma “lábia”, que hoje é fundamental no exercício das vendas, já que ele sente menos vergonha ao interagir com as pessoas. “O não eu já tenho, então eu vou atrás do sim (…), respiro fundo, vamos à luta”, diz ele.

A principal motivação do estudante é a busca por maior estabilidade e liberdade financeira. A venda dos doces o ajudou a ficar mais tranquilo quanto a essa questão, conta o estudante. Apesar disso, o negócio também envolve muitas dificuldades. Com um estágio pela manhã e o curso de Direito à noite, DG fala que equilibrar a rotina é uma tarefa muito complicada. Por isso, ele se organiza de forma que as vendas ocorram nas segundas, quartas e sextas, e o resto da semana útil é voltado para os estudos do curso. Atualmente, a produção é própria do estudante, com ajuda da namorada                                                                                                                                                              

A comercialização de Douglas não se restringe à Uerj. Ele vende nos seus treinos de futebol americano, no ônibus vindo e voltando da Universidade, a caminho do estágio e onde mais houver procura por seus doces. Em todo lugar, o apelido o acompanha- DG do brownie já se tornou sua marca registrada. 

Instagram: dgxavieer

  • Leonardo Vieira

Leonardo Vieira dos Santos cursa Ciências Sociais na Uerj desde 2017. Aos 29 anos, comercializa brincos, anéis, colares e outros acessórios no espaço da Universidade. Popularmente conhecido pelos alunos da Uerj como “Léo do Brinco”, Leonardo conta que tem experiência com vendas desde os treze anos, trabalhando em feiras. O momento em que passou a tratar especificamente dos acessórios, porém, foi no Ensino Médio. 

A escolha, segundo ele, foi movida pelo que ele acreditava que acarretaria lucro, considerando que precisava do dinheiro para ajudar a sustentar a família na época. Léo explica que a Uerj se tornou palco das suas vendas pois faz parte do seu dia a dia. “Eu tento vincular minha rotina de vendedor, Léo do brinco, com a vida do estudante, Leonardo”, conclui ele. Hoje, o estudante vende em todos os andares, principalmente no 10 e no 12.

Leonardo Vieira posando com seus acessórios na Uerj. Foto: Luana Maciel

Quando começou, ele conta que não tinha nenhuma preparação ou instrução. Mas, com o tempo, foi aprendendo estratégias para chamar mais atenção da clientela. A imagem do produto e a boa propaganda são essenciais para movimentar as vendas. “Os produtos precisam estar bonitos, precisam estar apresentáveis”, afirma Léo. 

Tudo isso demanda que o empreendedor esteja atento ao que está na moda e ao que interessa seu público. É importante, para ele, no caso dos acessórios, notar as cores do momento, acompanhar os comerciais de lojas e procurar saber o que está em pauta naquela estação. Mas todas essas estratégias, para o estudante, são um acúmulo de coisas que ele aprendeu com o tempo e que não se descobre de um dia pro outro.

Os acessórios são uma mistura de revendas e produções autorais. O objetivo, aponta Léo, é chegar em um ponto em que todas as vendas sejam de produtos próprios. A produção parte principalmente da namorada do estudante. Embora os dois produzam, ele aponta, ela acaba tendo mais aptidão para a produção e Léo, para as vendas. 

Uma dificuldade que Leonardo enfrenta é estar presente na internet. Agora que está prestes a se formar, ele explica que quer saber como alcançar seu público no mundo virtual da mesma forma que faz nos corredores do campus universitário. O plano é manter a loja de forma online após a conclusão de sua graduação. O futuro é incerto, alega Léo, mas enquanto busca finalizar os estudos e ir em busca de especializações, o seu negócio se mantém firme.

Instagram: leodobrinco.uerj

Assim, a Uerj revela uma nova faceta. Mais do que um grande centro de estudos, a Universidade é também um polo econômico, onde alunos que precisam vender seus produtos, seja qual for sua razão pessoal, encontram um público interessado e a oportunidade de começar a empreender.

Entre desafios, dificuldades e superações, os microempreendedores da Uerj reinventam seu local de estudos e encontram mais uma forma de ocupar e vivenciar a Universidade.

Literatura indígena na Universidade ressignifica visão sobre povos originários 

Literatura indígena na Universidade ressignifica visão sobre povos originários

Literatura indígena na Universidade ressignifica visão sobre povos originários

Por: Hyndra Lopes

                                                             Livros empilhados na biblioteca. Foto: Freepik

A literatura indígena contemporânea encontra desafios para se estabelecer no meio acadêmico, refletindo os estereótipos e preconceitos acerca destes povos e da sua cultura. Em entrevista com a professora Lívia Jacob, é discutida a importância de se estudar textos produzidos por autores indígenas e saberes tradicionais, além dos desdobramentos e lacunas da Lei n°11.645/2008 na promoção de uma educação pluralista.

 

A literatura indígena refere-se às obras escritas por autores indígenas. Apesar das histórias desses povos serem milenares, transmitidas tradicionalmente por meio da oralidade, a sua literatura na forma escrita, publicada por editoras, se popularizou oficialmente no Brasil a partir dos anos 1980, como resultado da luta dos indígenas pelos seus direitos e reconhecimento da sua identidade. Durante as décadas de 1980 e 1990, surgiram obras como Antes o Mundo Não Existia, de Umusi Pãrõkumu e Tõrãmu Kehíri, Oré awé roiru’a ma: Todas as vezes que dissemos adeus, de Kaká Werá Jecupé, e Histórias de índio, de Daniel Munduruku, que buscavam quebrar o estereótipo colonizador acerca dos indígenas por meio de uma narrativa feita por eles. A literatura, então, passa a ser um instrumento de resistência para defender as suas terras, a sua cultura e os seus povos.

Nesse contexto de conquista dos direitos indígenas, foi implementada a Lei n°11.645/2008, que tornou obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena no ensino básico do país. A legislação, apesar de tardia, tentou pluralizar a educação e apresentar a literatura indígena nas escolas, porém a limitação aos ensinos fundamental e médio representam um atraso na desconstrução do imaginário estereotipado acerca destes povos.

Lívia Penedo Jacob, professora e doutora em Estudos Literários pela Uerj, diz que a lei é uma tentativa de humanizar os povos originários, considerando que, anteriormente, estas cosmovisões eram apresentadas como “folclore” e culturas ultrapassadas. Contudo, ela defende que, para combater os estereótipos e preconceitos, é necessário que a temática indígena se torne obrigatória também no ensino superior: “(…) Se a temática indígena não se tornar obrigatória nas licenciaturas, se os futuros educadores não receberem uma formação adequada nesse sentido, a lei se tornará uma aporia difícil de contornar”.

Além da carência desses estudos na universidade, Lívia aponta outra questão que contribui para a visão distorcida acerca dos povos originários: a desvalorização da literatura indígena contemporânea no meio acadêmico. Observa-se uma preferência por textos clássicos de autores consagrados perante os não canônicos, configurando o que seria verdadeiramente literatura para os moldes acadêmicos. Isso exclui as obras indígenas deste patamar, visto que a entrada de seus autores no mercado editorial é, de certa forma, recente e a tradição oral acaba sendo desconsiderada. “Se hoje os graduandos em Letras ignoram os nossos autores

indígenas, podemos concluir que estão se formando sem conhecer a própria cultura do país”, afirma Lívia.

A professora nota também um certo receio, por parte dos estudiosos de Letras, de que o estímulo da leitura de produções contemporâneas de base oral possa causar desinteresse nos alunos acerca dos clássicos. “ (…) Se esquecem que entre escolher Machado de Assis ou Daniel Munduruku, há uma outra via possível: ensinar os jovens a ler e a interpretar ambos. Esse tipo de preconceito nos mostra a permanência de uma fantasia antiga, segundo a qual a nossa literatura se fundaria nas “belas-letras” legadas por autores canônicos, consagrados”.

 

  Lívia Jacob no lançamento do seu livro “As duras penas: o índio na literatura e a literatura indígena” na UFAM, ao lado                     de Carlysson Senna, Duhigó Tukano e Danielle Munduruku. Foto disponibilizada por Lívia Jacob.

 

A literatura indígena também tem o papel de preservação de mitos e lendas originárias, que correm o risco de desaparecerem com as constantes ameaças à existência desses povos. A importância disto se evidencia ainda mais atualmente, considerando que os indígenas representam menos de 1% da população brasileira, de acordo com o último Censo Indígena do IBGE (2022). Lívia defende que as tradições orais fazem parte do patrimônio cultural brasileiro e o seu registro por meio dos livros é a forma mais acessível de se arquivar esses saberes.

A Uerj possui projetos que promovem essa preservação, como o Opierj –  Observatório da Presença Indígena no Estado do Rio de Janeiro, desenvolvido pelo Proíndio – Programa de Estudos dos Povos Indígenas, da Faculdade de Educação (EDU), e o Nepiie – Núcleo de Estudos sobre Povos Indígenas, Interculturalidade e Educação, da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (Febef). As iniciativas visam registrar os aspectos socioculturais da população indígena presente no Rio de Janeiro, construindo bancos de dados com os saberes originários e produzindo materiais de auxílio para os educadores.

Lívia finaliza defendendo a importância do estudo dos saberes indígenas na atualidade. “Vivemos tempos bárbaros. O outro não existe. (…) O pensamento indígena defende uma ideia oposta, calcada na valorização da coletividade: o eu sem o outro é nada”, afirma a professora. A filosofia indígena inspira a humanização das práticas sociais e da relação do homem com os outros seres que habitam o planeta. A partir da leitura de obras de autores indígenas que tratem dos saberes tradicionais, aprende-se os valores destes povos e constrói-se uma nova visão de mundo, que condena os atos de genocídio e violência em curso e valoriza a diversidade e a preservação da fauna e da flora.

Berro! – Chamada de trabalhos para a II Jornada Identidades

Berro! - Chamada de trabalhos para a II Jornada Identidades

Evento organizado pelo Lacon Uerj propõe o debate de pesquisas que abordam diferentes aspectos da
cultura LGBTQIAPN+

Por: Fernanda Rodrigues 

Arte de divulgação do evento Berro ! . Divulgação: instagram

 

 

A chamada de resumos estendidos para a II Jornada Identidades, Gêneros, Corpos e Sexualidade, seminário integrante do evento BERRO!, está aberta até dia 30 de setembro no site do Lacon (Laboratório de Comunicação, Cidade e Consumo). A submissão está aberta a graduandos, graduados, pós-graduandos e pesquisadores e os envios devem ser feitos via berrouerj@gmail.com, utilizando o template do evento e com limite de 4 mil caracteres.

 

A taxa de inscrição deve ser paga até dia 17 de outubro, R$20,00 para graduados, pós-graduandos e pesquisadores e de R$10,00 para estudantes de graduação. O valor deve ser depositado pelo PIX do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTQIAPN+: 97.468.433/0001-08 ou pelo PIX da Casa Nem: casanem2016@gmail.com. O comprovante da transação deve ser enviado para o email do evento berrouerj@gmail.com.

 

O encontro vai acontecer entre os dias 4 e 6 de novembro e tem como foco a reflexão sobre gênero, corpo e sexualidade, debatendo a representatividade e a luta da população LGBTQIAPN+ na academia, no mercado de trabalho, na saúde mental e em outras áreas.

 

Calendário do BERRO!

30/09/2025 – Prazo para submissão de artigos

10/10/2025 – Aceite dos trabalhos

17/10/2025 – Prazo de pagamento da taxa de inscrição (autores e coautores).

A romantização de transtornos psicológicos

A romantização de transtornos psicológicos

Especialista da Uerj alerta sobre os riscos da romantização de transtornos de saúde mental

Por: Fernanda Rodrigues 

Cartaz promocional do filme “Garota Interrompida”, ícone da estética sad girl.

 

A OMS revelou, este ano, que mais de 1 bilhão de pessoas convivem com transtornos
de ordem psicológica em todo o planeta, o que aumenta ainda mais a importância do debate
sobre a saúde mental na atualidade.Nas redes sociais como TikTok, Instagram e X (antiga
rede social Twitter) é possível notar, principalmente entre os jovens, tendências que focam na
glamourização de transtornos como ansiedade e depressão. A estética “sad girl”, por
exemplo, tem como base o sofrimento e a autodestruição feminina. 

Apesar de parecer que a ascensão desse tipo de estética amplifica o debate sobre
saúde mental, Renata Alves Paes, coordenadora do Laboratório Interface Neurociências e
Cognitivo Comportamental (LABINCC), afirma que essa romantização “afeta a sociedade de
maneiras significativas no que diz respeito à saúde pública, percepção social com uma
sociedade menos informada, menos empática e menos preparada para lidar com cuidados em
saúde mental”. Esse comportamento acaba tendo como consequência a banalização de
transtornos mentais, que passam a ser cada vez mais vistos como exagero ou frescura.
Isso porque a apropriação de uma condição psicológica sem a devida orientação
especializada é formada por estereótipos que contribuem ainda mais para a desinformação,
segundo a especialista. O reflexo que fica na sociedade é uma imagem equivocada de pessoas
que possuem tais transtornos, aumentando assim o preconceito que cerca a questão
psiquiátrica no Brasil.
A professora explicou que a origem desse tipo de comportamento romantizador está
ligado à busca por aprovação, validação e visibilidade, principalmente entre os jovens. Eles
entendem que, se tivessem um transtorno, receberiam mais atenção e seriam mais descolados.
De acordo com Renata, isso impacta a trajetória de vida de um jovem, à medida que
afeta a saúde mental, o desenvolvimento e a capacidade de receber ajuda adequada. As
principais consequências apontadas pela professora são: atraso ou evitação da busca
profissional, invalidação do sofrimento real, problemas de autoestima e, ainda, a
normalização de comportamentos de risco como a automutilação. Um estudo da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que, entre os anos de 2011 e 2022, as notificações de
autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos aumentaram 29% a cada ano.
Na Uerj, atividades que enfocam saúde mental como a Conferência de Saúde Mental
numa Sociedade em Transição com Flavio Kapczinski – pesquisador brasileiro na área da

saúde, membro titular da Academia Brasileira de Ciências – e um censo sobre a saúde mental
dos estudantes vêm sendo realizadas. O censo pode ser respondido no link:
https://redcap.lampada.uerj.br/surveys/?s=9TLATERRD3LH87EH
“Somente através da educação digital crítica, da promoção de conteúdo responsável e
do fortalecimento dos serviços de saúde mental será possível transformar o ambiente virtual
em um espaço de verdadeiro acolhimento e informação qualificada, onde o sofrimento seja
compreendido em sua complexidade real, sem glamour, mas também sem vergonha”, conclui
Renata.

 

Cozinha que une

Cozinha que une

Oficinas de culinária na Uerj incentivam uma dieta mais sustentável 

Por: Alice Moraes

Laboratório de Técnica e Dietética. Foto: Karen Teixeira

Geladeiras, liquidificadores, microondas e grandes armários compõem o Laboratório de Técnica e Dietética do Instituto de Nutrição da Uerj.  A ampla cozinha, repleta de utensílios, talheres e panelas guardados nos compartimentos abaixo das cinco bancadas, é o lugar que une culinária e aprendizado. 

Também é possível avistar as balanças de cozinha e, dentro dos armários, jarras, bandejas, diferentes tipos de pratos e tigelas para servir refeições. Tudo isso está disponível para ser utilizado pelos participantes das oficinas de culinária promovidas pelo projeto Habilidades Culinárias. 

As oficinas, que contemplam o público interno e externo da Uerj, são abertas semestralmente e propõem uma cozinha coletiva de aprendizado sobre grãos. A última edição do Cozinhando com Grãos ocorreu no último semestre e a previsão de abertura de inscrições para o segundo semestre de 2025 é em meados de setembro. 

Interior do armário do Laboratório. Foto: Karen Teixeira

Nas oficinas, os participantes têm contato maior com os grãos, especificamente as leguminosas como feijões, grão-de-bico, lentilha e ervilha. 

“Para os alunos de Nutrição, por meio das oficinas eles desenvolvem capacidade de organização e planejamento, das compras e da elaboração das fichas técnicas”, disse Ana Cláudia Mazzonetto, nutricionista, professora do Instituto de Nutrição e coordenadora do projeto. A especialista afirma que poucas receitas são divulgadas e testadas com o uso das leguminosas, apesar do alto teor de nutrientes nelas. Por isso, as oficinas incentivam o estudante a ter a prática da culinária com grãos para seu futuro profissional e pessoal”, acrescenta a professora.

Não apenas para os estudantes de Nutrição, mas também para alunos de outros cursos e para o público externo da Uerj, as oficinas de culinária incentivam uma dieta mais sustentável, oferecem aprendizado sobre os grãos na cozinha e incentivam a produção de refeições de qualidade, com menos uso de ultraprocessados. “As oficinas facilitam o uso das leguminosas na culinária, despertam esse conhecimento e curiosidade. Observamos também os participantes perdendo o medo da panela de pressão”, comentou Ana Mazzonetto sobre o resultado positivo contemplado por meio das oficinas. 

A nutricionista também compartilha que, ao final das oficinas, são realizadas rodas de conversa sobre a experiência obtida na cozinha. De acordo com ela, participantes costumam comentar sobre como a culinária proporcionou criatividade, aumento do repertório e abertura para conhecer novos alimentos, que muitas vezes os participantes tinham resistência em provar. 

“A comida aproxima demais”, diz ela sobre a união que a cozinha proporciona entre os participantes, “quando cozinhamos juntos, vemos como as pessoas se aproximam e abrem um espaço de conversa, de conhecer umas às outras e quem sabe até fazer novas amizades”.

Estudante participando da oficina. Foto: Nathalia Nunes

Para acompanhar o projeto e as próximas inscrições para oficinas, siga o Instagram @hcuerj.