Educação que salva: projeto da Uerj transforma ensino sobre hemoterapia e conscientiza novos doadores

Educação que salva: projeto da Uerj transforma ensino sobre hemoterapia e conscientiza novos doadores

Por: Alice Moraes e Thaísa de Souza

 
 
Entenda a necessidade de uma educação em hemoterapia. Imagem: Freepik

No Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), um projeto de extensão vem mudando a forma como a hemoterapia é compreendida — tanto dentro quanto fora das salas de aula. Coordenado pela médica e professora Flavia Miranda Bandeira, o projeto de extensão Educação em Hemoterapia une ensino, ciência e engajamento social para suprir uma lacuna histórica na formação de profissionais da saúde.

A iniciativa nasceu em 2021, após a constatação de que o tema da hemoterapia ainda recebe pouco espaço nos currículos de cursos como Medicina e Enfermagem. “A gente via a deficiência dos alunos, inclusive trabalhos [dentro] e fora do Brasil mostram como se fala pouco sobre transfusão, tanto para o profissional quanto para o receptor”, explica a dra. Flavia, de 62 anos, que também atua no banco de sangue do Hupe. Diante disso, surgiu a proposta de um projeto que não só abordasse a doação de sangue, mas também temas como a lógica das transfusões, os testes laboratoriais envolvidos e os direitos do paciente transfundido.

Com uma equipe atualmente formada por sete alunos, incluindo bolsistas, o projeto se articula em diversas frentes: produção de conteúdo nas redes sociais, organização de rodas de conversa — presenciais e online —, visitas a escolas e unidades de saúde, e participação em congressos científicos. A estudante Carolina Godoy, de 23 anos, da Faculdade de Medicina da Uerj, entrou para o projeto no quarto ano da graduação e destaca o impacto da experiência: “Mesmo não querendo me especializar na área, entendi que a hemoterapia está presente em qualquer campo da medicina. Saber mais sobre isso virou uma necessidade.”

Agência transfusional do Hupe. Foto: Alice Moraes e Thaísa de Souza

A estudante de Medicina afirma que os alunos do curso passam apenas uma semana estudando sobre hematologia e hemoterapia, o que, de acordo com ela, não é o suficiente para o aprendizado. Ela conta que se interessou em fazer parte do projeto ao ver a divulgação do processo seletivo para bolsistas no Instagram oficial: @hemoterapia.uerj. Carolina diz: “O conhecimento em hemoterapia, ele não deve ser restrito a quem é especialista na área. Eu acho que todo mundo deveria saber, até quem não é da área da saúde. ”

O projeto, além de oferecer mais aprendizado e estimular a pesquisa para Carolina e para os demais estudantes que participam dele, leva o conhecimento para o público interno e externo, promovendo conscientização sobre hemoterapia. 

Além de produzir e divulgar informações baseadas em evidências, os alunos têm contato direto com a comunidade e se tornam referência entre os colegas. “Meus amigos da faculdade vêm tirar dúvidas sobre hemoterapia comigo. Muitas vezes eu não sei, então, eu sempre sou estimulada a pesquisar, sabe?”, relata Carolina. Segundo Flavia, esse é um dos principais valores do projeto: “Quando a gente pesquisa, às vezes a gente aprende muito mais fácil do que aquele conhecimento que vem passado para a gente.”

A professora e a aluna informam que o projeto vai além do Instagram. Eles também fazem trabalhos para levar em congressos, para eventos médicos e da área da saúde em geral, participam de rodas de conversa presenciais e online, realizam visitas a pacientes do Hupe e estiveram presentes no evento Uerj Sem Muros, ocorrido em março deste ano.

 

Doação de sangue: Mitos e verdades

A professora Flavia desconstrói o mito de que para doar sangue é necessário estar em jejum. “Na realidade, a pessoa tem que doar estando bem alimentada. Uma refeição leve, mas a doação não tem que acontecer em jejum”, ela explica. 

O segundo mito que a doutora esclarece é o de que as mulheres não podem doar estando menstruadas. Ela enfatiza: “Você pode doar estando menstruada, dependendo de como você esteja naquele momento.” O terceiro mito listado pela profissional é o de que pessoas com tatuagem ou piercing não podem doar. Sobre esse, ela diz: “Essas pessoas podem doar depois de seis meses de colocada ou feita a tatuagem. E se o piercing não for em boca, nem cavidade sexual, você pode doar sangue também.” 

Ela também explica sobre o que chamou de “o mito da acomodação”. Este se refere às pessoas que se impedem de doar, por achar que já tem bastante gente doando. Menores de idade podem realizar doações, os idosos podem doar até os 69 anos de idade e doar sangue não transmite doenças, pois todo o material utilizado durante o processo é descartável. A doutora Flavia alerta: “São mitos que as pessoas caem no imaginário popular e não tem nenhuma evidência, não tem nem embasamento científico.”

 

A importância da Educação em Hemoterapia

A estudante Carolina afirma ter certeza de que há uma carência desse tipo de ensino. Ela relata ter a percepção de que cada vez mais as pessoas não estão doando sangue. Era um hábito mais comum antigamente, então os indivíduos que doavam mais estão envelhecendo, enquanto a nova geração doa menos. A demanda por doadores, no entanto, cresce cada vez mais, embora as doações não acompanhem o crescimento da demanda. 

Carolina ressalta que o projeto é importante não só porque falam sobre doar sangue, mas por causa da conscientização que busca despertar nas pessoas a vontade genuína e voluntária de serem doadoras. De acordo com a doutora Flavia, o Brasil não tem uma cultura de incentivo à doação de sangue voluntária e espontânea, e sim uma cultura de doação de reposição. “Esse é o trabalho do projeto de extensão, levar isso para a comunidade, explicar o porquê. Por que eu tenho que receber sangue? Que sangue é esse? O que é que ele faz no meu corpo? A gente passa esse direito de informação à população”, esclarece a doutora. 

Por meio do Instagram, a educação em  hemoterapia vem alcançando mais pessoas. A página oficial do projeto recebe bastante retorno nessa rede social digital. A equipe enxerga o aumento de novos seguidores interessados em conhecer o trabalho deles. Carolina compartilha que os estudantes que integram o projeto se alegram quando recebem perguntas e dúvidas pelo Instagram. Eles já receberam mensagens até mesmo de seguidores que não têm relação direta com a hemoterapia, mas que queriam esclarecimentos e curiosidades. Esses pequenos acontecimentos marcam o objetivo do projeto sendo alcançado.  

 

Como incentivar a doação sanguínea? 

A primeira questão indicada pela dra. Flavia é a educação. A educação parte de falar sobre a necessidade de doar sangue desde as escolas primárias. Ela detalha: “Alguém explicando para a população quais são os requisitos básicos para doação de sangue, que é uma coisa tão banal, mas as pessoas não sabem. Então, outra coisa também é a gente ter mais acesso a mais, digamos, postos de doação.” 

De acordo com ela, o governo também deveria propor algum lugar para falar sobre o assunto. Uma campanha maciça feita pelo governo teria papel essencial no incentivo da doação de sangue. “A gente vê de vez em quando, mas não é uma coisa sistemática. Então, o governo tinha que realmente se envolver com isso, divulgar e usar espaço de mídia formal, tipo a televisão e o rádio, já que a gente sabe que muita gente ainda escuta rádio e televisão”, conclui a médica.

Oficina de forró da Uerj inova com método de condução compartilhada

Oficina de forró da Uerj inova com método de condução compartilhada

Método criado por Ian Pacheco redefine a relação entre os bailarinos

 

Por Julia Lima e Samira Santos

Ian Pacheco (blusa laranja) ensinando em suas aulas (Foto: Reprodução/Instagram)

Na sala de dança, Ian Pacheco não dita os passos como a maioria dos professores,  ele os escuta. Em suas aulas, o silêncio entre dois corpos vale tanto quanto a melodia do forró. Há mais de uma década mergulhado na dança, Ian encontrou no forró contemporâneo não só um espaço artístico, mas um território de transformação social. Entre passos, pausas e movimentos, ele vem redesenhando a maneira como se dança e se vive o forró no Brasil e no mundo.

 

Com passagens pelo Canadá, Europa, Estados Unidos e diversas regiões do Brasil, Ian atua hoje como professor da oficina de forró na COART, onde leva uma proposta nova: dança como comunicação, não como imposição. Condução compartilhada, desconstrução de papéis de gênero e consentimento são as palavras de ordem de seu método.

 

“Eu comecei a dançar num momento muito difícil da minha vida. Estava afastado da minha família, dos amigos, e começando a faculdade de cinema, me aventurando no teatro. Um amigo da faculdade falou que gostava de forró. Entrei numa escola e, desde a primeira dança, eu me senti parte”, relembra o dançarino. A partir dali, ele não parou mais. Passou por diferentes estilos de dança, ensinou forró tradicional durante anos, abriu sua própria escola e até fundou uma companhia. Mas a paixão inicial começou a se desgastar quando Ian se deu conta dos limites do modelo tradicional: o homem conduz, a mulher obedece. “Chegou um momento em que eu comecei a desgostar da dança. Era um controle excessivo. Isso me incomodava”, conta.

 

A frustração foi tão grande que ele fechou a escola, desfez a companhia e mergulhou num ano de crise criativa e pessoal. Dali, emergiu uma nova proposta: o forró contemporâneo. Essa prática, que começou de forma experimental, se consolidou com o tempo. Ian passou a produzir eventos, aulas, imersões e retiros.  Desde 2016 na UFF. Em 2024, chegou à Uerj, por meio de um convite de Caio Neves, orientador de cinema da COART. Ele acredita que oferecer seu trabalho em locais de acesso público aumenta ainda mais a proporção de pessoas que podem ser atingidas por ele, algumas que talvez nunca buscassem aulas de dança.

 

A dança como escuta

O diferencial de Ian está justamente aí: na intenção. Em suas aulas, dançar não é repetir movimentos ou decorar coreografias. É criar, comunicar e, principalmente, escutar a si mesmo e ao outro. Essa lógica redefine não apenas a dança, mas a relação entre os dançarinos. “Muita gente acha que condução compartilhada é só inverter os papéis tipo, agora a mulher também pode conduzir. Mas vai além. A ideia é quebrar a lógica de que precisa haver alguém no controle. Às vezes, nenhum dos dois conduz. Eles apenas dançam”, afirma. Para chegar a esse ponto, Ian trabalha com dinâmicas de improvisação, exercícios de escuta não verbal e debates sobre consentimento. A proposta tem conquistado alunos de diferentes perfis, desde iniciantes até dançarinos experientes que buscam algo novo.

 

Entre o palco e as redes

A popularização do trabalho de Ian nas redes sociais tem sido, ao mesmo tempo, uma vitrine e uma batalha. Desde 2023, seus vídeos sobre forró contemporâneo têm viralizado no Instagram e TikTok, alcançando milhões de visualizações e reações extremas. O dançarino recebeu dezenas de reações negativas e mensagens de ódio em seus perfis, que chegaram a deixá-lo doente. Com o tempo, ele diz ter desenvolvido um escudo emocional: “tem um lado meu racional que entende: essas pessoas não me conhecem. Elas estão reagindo a uma ideia, a uma quebra de expectativa. Mas o lado emocional sente”.

 

Por outro lado, Ian também recebe manifestações de apoio que o ajudam a seguir. “Tem gente que me para no baile, diz que não curte muito meu estilo, mas reconhece o valor do que eu faço. Tem quem venha agradecer, contar que se sentiu mais livre depois da aula”, relembra.

 

Forró do futuro

O forró contemporâneo de Ian Pacheco não é apenas uma proposta pedagógica. É um gesto político. Ao recusar a lógica da condução masculina, ao dar voz ao corpo, ao valorizar o não tanto quanto o sim, Ian está ensinando mais do que dança. Na COART, esse desejo encontra terreno fértil. Ian espera continuar por muitos anos: “Eu gosto de estar perto de gente. De ouvir histórias. De ver como a dança transforma as pessoas. Porque ela transformou a mim. E ainda transforma, todo dia”

 

Para mais informações acesse suas redes sociais @auladoian 

 

Serviço

Datas: Terças

Horário: 14h – 16h e 18h – 20h

Local: COART/ Uerj

Endereço: Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã Prédio anexo – Campus Maracanã

Inscrições das oficinas da COART feitas durante o início dos períodos letivos.

 

Pré-Vestibular Social Sintuperj disponibiliza vagas ociosas

Pré-Vestibular Social Sintuperj disponibiliza vagas ociosas

Confira detalhes sobre o curso e entenda como participar

Por: Maria Clara Jardim

Desde 1998 o Pré-Vestibular do Sintuperj se destaca pela preparação oferecida aos estudantes que planejam ingressar em universidades públicas, oferecendo aulas com professores experientes e qualificados, material didático inclusivo, suporte psicológico e orientação acadêmica. O projeto é organizado pela Coordenação de Formação e Comunicação Sindical do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais do Rio de Janeiro (Sintuperj) e busca auxiliar uma ampla quantidade de alunos, garantindo que todos tenham oportunidades similares e desenvolvam suas habilidades.

 

Os alunos presentes no programa se dividem em dois grupos, sendo eles: Comunidade interna e comunidade externa. O responsável administrativo do projeto, Carlos Eduardo, explica que inicialmente o pré-vestibular foi criado para a comunidade interna, ou seja, alunos dependentes de associados, servidores ou filhos dos servidores filiados ao Sintuperj, entretanto, com o passar do tempo o projeto foi se estruturando e expandiu as vagas para alunos que não se enquadram nessas características, ou seja, todo estudante que queira se preparar para o vestibular, formando assim a comunidade externa. 

“Hoje a quantidade de vagas é maior para a comunidade externa por não ter tantos associados, dependentes e servidores estudando”, afirma Carlos Eduardo. Ele destaca que 70% das vagas do pré-vestibular atualmente são preenchidas pela comunidade externa.

Os jovens, com o decorrer das aulas, têm contato com educadores profissionais e formados em universidades públicas. Segundo o responsável administrativo, alguns desses professores tiveram a oportunidade de se preparar para o vestibular através do pré-vestibular do Sintuperj e isso gera uma atmosfera de maior identificação para com os estudantes.

Recentemente, o curso informou que existem vagas disponíveis nos turnos da tarde e da noite, que são endereçadas à comunidade externa. 

Confira detalhes de como se inscrever:

Inscrições pelo site – presintuperj.com.br

Local de inscrição – Inscrição Comunidade Externa

 

Meios de contato com o projeto:

sintuperjpre@gmail.com 

 

Endereço do Pré-Vestibular:

Rua São Francisco Xavier, 524 Sala 1.020 – 1º andar – bloco D – Maracanã, Rio de Janeiro – RJ, 20550-013

Cine Cartola: mostra de filmes da Uerj evidencia o papel da arte na sociedade

Cine Cartola: mostra de filmes da Uerj evidencia o papel da arte na sociedade

A exibição acontece toda quarta-feira, de forma completamente gratuita

Por Luana Maciel

Entrada da COART o Centro Cultural (Foto: Luana Maciel)

O Cine Cartola é um projeto organizado pela Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (COART) da Uerj com o intuito de incentivar a disseminação da arte cinematográfica e disponibilizar filmes que não se encontram em grandes veículos, como o cinema tradicional ou plataformas de streaming. Embora aconteça dentro do campus universitário, o público-alvo não se restringe aos alunos. Qualquer pessoa interessada pode comparecer.

A iniciativa surgiu no início do ano passado (2024) como um meio de ocupar o espaço da Universidade com algo que ia além das palestras e oficinas que a COART já oferecia, voltando o olhar para a arte do cinema, explica o curador do Cine Cartola. Com o nascimento da ideia, porém, os criadores do projeto esbarraram com uma problemática: os direitos de imagem sobre os filmes que seriam exibidos. Por isso, o Cine Cartola começou com a exibição de filmes mudos, acessíveis por já estarem em domínio público. Alguns nomes famosos que aparecem nessa primeira etapa do projeto são, por exemplo, o clássico do terror “Nosferatu” e longas do ator Charlie Chaplin.

No segundo semestre de 2024, o Cine Cartola continuou ativo, mas sua proposta já era outra. Documentários brasileiros contemporâneos eram o novo enfoque, uma vez que era possível entrar em contato com os diretores de cada obra com mais facilidade. Além da mudança da temática, outro diferencial foi a promoção de debates em algumas das sessões. A mudança, porém, não foi tão bem recebida pelo público e a audiência das exibições acabou caindo bastante.

Agora, em 2025, o Cine Cartola se reinventa de novo e traz o tema “Vida de artista” como proposta. Como sobreviver enquanto artista em um contexto cada vez mais competitivo, utilitário e sedento por eficiência e resultados? Na página do Instagram da COART (coartuerj), os idealizadores do projeto afirmam que certamente a mostra de filmes programada para o semestre não será capaz de responder a esses questionamentos. Contudo, eles se propõem a conduzir os espectadores pela trajetória de personagens que tentam sobreviver às deliciosas e amargas experiências da vida do artista, colocando esse personagem que vive da arte como protagonista das histórias.

A escolha do tema, assim como a seleção dos filmes que serão transmitidos, vieram do curador do Cine Cartola, Caio Neves. Formado em cinema na UFF, Caio também já estudou em algumas oficinas gratuitas do Parque Lage e atualmente trabalha com o ensino de cursos voltados para a área do cinema experimental e da videoarte na COART. O curador explica que pensou no tema a partir de sua experiência pessoal com a arte e em como isso poderia interessar e divertir o público: “Me interessa muito estar nesse lugar da arte contemporânea, onde o artista não é necessariamente um especialista naquela linguagem(…), mas é uma pessoa que tem uma poética particular e ele vai colocar essa poética dele em uma linguagem”. 

 

Auditório Cartola após a exibição do filme “Adaptação” (Foto: Luana Maciel)

Serão um total de 12 filmes exibidos neste semestre, todos com um objetivo em comum: fugir do cinema padrão e escapar do óbvio. “Os filmes que você vai ver aqui, você não vai achar na Netflix”, afirma Caio. São obras que vêm dos mais variados lugares do mundo, desde Chile e Portugal até Finlândia e Coreia do Sul. O curador acrescenta: “se a pessoa vai sair de casa para ver alguma coisa, que ela veja alguma coisa que não esteja tão disponível assim”. 

A próxima sessão será no dia 14/05 de maio com o filme “Frances Ha” (2012), dirigido por Noam Baumbach, que conta a história de três artistas parisienses sem um tostão que compartilham suas visões de mundo e histórias de amor enquanto tomam vinho. Ainda em maio, “Poesia” (2010) e ‘Mistérios e Paixões” são os demais filmes que compõem a programação cinematográfica do mês. Mais informações sobre as sinopses, duração e informações técnicas dessas obras e da programação de junho podem ser encontradas na página do Instagram da COART e no site oficial do setor.

O projeto voltado à vida de artista se encerra em junho, mas isso não significa o fim do Cine Cartola. Pelo contrário, a estudante de jornalismo e bolsista da COART, Samira Santos, revela que o tema para o próximo semestre já está sendo definido e preparado e destaca a importância de tornar as pessoas mais cientes não só do Cine Cartola em si, mas também das inúmeras atividades artísticas e culturais sempre presente nos corredores do Centro Cultural. 

 O auditório Cartola, que dá nome à exibição, fica localizado no Centro Cultural da Uerj, em cima do prédio do bandejão do campus Maracanã, na Rua São Francisco Xavier, 524. O espaço conta com cerca de 70 lugares e está sempre aberto ao público. A entrada é gratuita e as sessões ocorrem nas quartas-feiras às 16h. “A sala tá aberta, é só chegar”, reitera Caio Neves. 

 

Projeto Rim oferece educação sobre saúde renal

Projeto Rim oferece educação sobre saúde renal

Conheça o projeto de conscientização e esteja atento sobre o bom funcionamento dos rins

Por: Alice Moraes

Projeto Rim no evento Uerj Sem Muros. Da esquerda para direita: Pedro Henrique Soares, Tatiane Campos e Vivian Mendes. (Foto: Alice Moraes)

Controlar a pressão arterial, dosar a creatinina, não fumar, controlar a diabetes, evitar o alto consumo de sal, fazer uma alimentação balanceada e ingerir água. Esses são alguns fatores que previnem a doença renal crônica, de acordo com a estudante Vivian Mendes, de 23 anos, que está no sexto período do curso de enfermagem na Uerj. 

A jovem faz parte do Projeto Rim, que esteve presente na programação do Uerj Sem Muros, no dia 27 de março. No evento, o projeto foi apresentado com intuito de educar a respeito da saúde renal. “O que motiva o projeto é transmitir a prevenção, pois prevenir é um ato de cuidar. E é isso que a enfermagem faz”, explicou ela. 

Os números de doença renal crônica têm crescido ultimamente. Por isso, Vivian enfatizou que é uma doença silenciosa e pouca gente sabe sobre ela.

O que é a doença renal crônica (DRC)? 

É quando ocorre a falência dos rins. Consequentemente, o paciente precisará de uma terapia de substituição do rim defeituoso. “Existem três opções nesse caso: a hemodiálise, adiálise peritoneal e o transplante renal”, explica Tatiane Campos, professora da faculdade de enfermagem da Uerj e coordenadora do Projeto Rim. 

A hemodiálise é um tratamento no qual uma máquina faz a filtração do sangue. O paciente precisa ir até a clínica para realizar o procedimento semanalmente. Já na diálise peritoneal, que o paciente precisa fazer todos os dias, em casa, ele recebe a orientação necessária para o uso de um cateter. O cateter vai inserir um líquido na cavidade abdominal e esse líquido será responsável por filtrar o sangue. 

 No transplante renal, o paciente recebe um novo rim de um doador, que pode ser um familiar ou amigo. No segundo caso, é preciso que o doador tenha uma autorização judicial. Caso o doador seja um falecido por morte encefálica, a família deste autoriza a doação do órgão, que é encaminhado para alguém que está na fila aguardando pelo transplante.

 

 

Por que aprender sobre o cuidado renal?

O Projeto Rim foca na conscientização, de acordo com a professora Tatiane. O programa já realizou, na Uerj, ações de orientação sobre a importância de dosar a creatinina, explicando qual o objetivo do exame e de cuidar da saúde renal. O projeto tem papel, então, de educar sobre saúde e acolher os pacientes. 

De acordo com o Ministério da Saúde, em Boletim Epidemiológico divulgado no mês de setembro do ano passado, em 2023 houve 140.648 internações por doenças renais crônicas no Brasil. Isso indica 56.311 internações a mais comparado ao ano de 2010, no qual ocorreram 84.337 internações hospitalares devido à DRC.

A pesquisa realizada também mostra que em 2022 ocorreram 8.429 mortes por doença renal crônica no país. Nesse cenário de números crescentes de DRC, o Projeto Rim vem com o objetivo de auxiliar a população a entender sobre a saúde dos rins e incentivar esse cuidado.

Medir a creatinina

A creatinina é medida pelo exame de sangue ou de urina. Esse exame é feito para identificar o bom ou o mau funcionamento dos rins. “A creatinina é um resíduo da creatina, por isso ele precisa ser eliminado. Quando se encontra muita creatinina no sangue, significa que os rins não estão filtrando bem”, esclareceu Vivian. O alto nível de creatinina no sangue pode indicar, então, uma doença nesses órgãos. 

Ao realizar a medição de creatinina, a pessoa pode averiguar o bom funcionamento dos seus rins. Por isso, o Projeto Rim conscientiza sobre o exame.

Futuro do projeto

Em 2016, a ação de conscientização sobre saúde por meio do Projeto Rim teve início. Agora, a equipe do projeto tem ideias para o futuro. Eles pretendem aumentar o alcance da educação sobre saúde, o que consequentemente diminuirá os números de DRC. A equipe quer, também, a troca de ideias e de conversas e o aumento da visibilidade do projeto.

Para acompanhar o programa, obter mais informações e tirar dúvidas, acesse o Instagram @projeto.rim. 

Escola Maria Felipa promove educação afro-brasileira

Escola Maria Felipa promove educação afro-brasileira

Conheça a primeira escola afro-brasileira do país

Por: Alice Moraes e Thaísa de Souza

 
 
                           Fachada da Escola Maria Felipa. Foto: Alice Moraes.

Com intenção de construir uma educação igualitária que valorize as raízes africanas da história e cultura brasileira, a Escola Maria Felipa está começando no Rio de Janeiro. Localizada no Boulevard 28 de setembro, em Vila Isabel, e tendo sede nacional na Bahia, a escola propõe uma educação que une conhecimento, cultura e inclusão. 

A Escola Maria Felipa surgiu em 2017, na Bahia, a partir de um projeto idealizado por Bárbara Carine. Sendo uma mãe preta, sua ideia era um colégio que atendesse a sua filha e que valorizasse a ancestralidade africana. Em Salvador, a instituição se localiza na rua Comendador José Álvares Ferreira, número 60. A oportunidade de trazê-la para o Rio de Janeiro aconteceu em 2024 e as aulas tiveram início neste ano de 2025. 

Segundo informações contidas no site oficial da Escola Maria Felipa, um dos seus papéis é construir uma educação que amplie o conhecimento da constituição histórica a partir de outras narrativas, quebrando o modelo eurocêntrico de ensino. Para a pedagoga e diretora  da unidade carioca, Maíra Costa, de 30 anos, isso significa pensar numa proposta pedagógica inclusiva e decolonial.  

                        Parte interna da Escola Maria Felipa. Foto: Alice Moraes.

Com currículo estruturado com base nas Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, essas perspectivas recebem um foco especial, que criam um espaço onde crianças negras, pardas e indígenas possam se ver representadas e desenvolver um senso de autoestima desde cedo.

Na prática, isso se traduz em uma vivência escolar que inclui brincadeiras africanas (como a tradicional “mamba”, uma versão sul-africana de pega-pega), aulas de música, capoeira, português, inglês e Libras. Tudo a partir de uma perspectiva antirracista e integradora. A valorização do ensino da língua inglesa em Maria Felipa traz uma ruptura no pensamento de que apenas o europeu fala inglês. Muitos países do continente africano também falam o idioma. Por isso, o educandário assumiu o papel de trazer esse viés. 

Além disso, a sede em Salvador oferece projetos como a Afrotech, uma feira de ciência africana e afrodiaspórica, e a Decolônia de Férias. A diretora Maíra acrescentou: “Eu sempre penso na escola como uma escola que eu nunca tive. Nós estamos construindo uma que não tivemos, e que desejamos que nossas crianças tenham, que os que estão por vir consigam ter esse lugar de exercer toda a sua potencialidade”.

Ainda no seu primeiro ano de funcionamento, a instituição oferece apenas três turmas da Educação Infantil, todas nomeadas a partir de impérios africanos e indígenas. “Temos a turma que se chama Reino de Daomé, a turma Império Inca e a turma Reino do Mali”, listou a diretora. De acordo com ela, está prevista para 2026 uma expansão para o Ensino Fundamental. Essa será uma etapa importante no crescimento e consolidação da escola, que pretende formar cidadãos conscientes e conectados com suas raízes. 

                        Arte na sala da turma Império Inca. Foto: Thaísa de Souza.

Um dos principais desafios enfrentados em Maria Felipa é o combate ao racismo epistêmico — aquele que nega ou desvaloriza saberes que não se enquadram dentro do padrão eurocêntrico. “A gente está nesse lugar de desmistificar, de entender que, tudo bem, a Europa fez coisas. Mas outros países, outros continentes tiveram feitos importantes também”, enfatiza a diretora. 

“A gente sai desse lugar de trazer uma história única. Nós trazemos a perspectiva dos povos africanos, que foram os povos que trouxeram uma potencialidade, entende?”, continua ela. A proposta da Escola Maria Felipa é, então, oferecer uma educação que reconheça a pluralidade de saberes, práticas e culturas.

Outro ponto é a desmistificação estética e cultural da proposta. O lugar não é voltado exclusivamente para crianças negras. “Tem esse imaginário de que aqui é uma escola apenas para crianças pretas. Não é. É uma escola para todas as crianças, rompendo com esse lugar colonizador e violento, que foi construído e nos foi dado sem questionar”, diz Maíra. A escola atua também na construção da autoestima dos alunos negros desde a primeira infância. Isso incentiva as crianças a se reconhecerem como belas, potentes e protagonistas da própria história.

A Escola Maria Felipa é, portanto, um projeto de futuro que nasce do passado: resgata memórias, honra ancestralidades e projeta um novo modelo de educação para o país. Para mais informações sobre a escola, o contato pode ser feito pelo celular (21) 99959-3032 ou pelo instagram da instituição @escolamariafelipa.

Últimas Vagas: Inscrições abertas para Oficinas de Criação Artística na Uerj

Últimas Vagas: Inscrições abertas para Oficinas de Criação Artística na Uerj

Coart oferece 39 oficinas ao público interno e externo da Universidade

Por Gabriela Martin



Oficina de Palhaçaria (Foto: Coart/Uerj)

 

A Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart) abriu as inscrições para as Oficinas de Criação Artística Coart 2025.1. Oferecendo 39 atividades nas linguagens de Artes Cênicas, Artes Visuais, Cinema, Corpo e Dança, Literatura e Música, as inscrições ficarão abertas até o dia 28 de março ou até que as vagas esgotem.

 

Neste semestre, 20 novas oficinas serão oferecidas ao público interno e externo da Universidade, ampliando a rede de conhecimentos culturais a serem compartilhados com a comunidade. O objetivo é oferecer oportunidade para aqueles que desejam desenvolver habilidades e explorar a criatividade em diferentes áreas artísticas, de maneira acessível.

 

As oficinas são separadas em duas modalidades, as Oficinas Coart, ministradas por orientadores do projeto, com taxa única de R$55. E as Oficinas Coart Autofinanciadas, que serão conduzidas por profissionais parceiros e o valor varia de R$240 a R$280. Ambas têm carga horária de 32h.

 

Destinadas a maiores de 18 anos, as aulas acontecerão presencialmente de 24 de março a 11 de julho no Centro Cultural da Uerj, Campus Maracanã. A lista de Oficinas Coart e suas  ementas estão disponíveis no site https://www.coart.uerj.br/oficinas 

 

Caravana da Coca-Cola chega ao Rio e passará pela Grande Tijuca

Caravana da Coca-Cola chega ao Rio e passará pela Grande Tijuca

Por Alice Moraes

                                        Imagem: G1 – Lening Abdala/Divulgação

Faltando poucos dias para o Natal, as ruas dos bairros da Grande Tijuca já estão bastante movimentadas, e uma das atrações natalinas da região será a Caravana de Natal da Coca-Cola. O site oficial da  empresa disponibilizou o itinerário da Caravana no estado do Rio de Janeiro. Um dos destinos é a Grande Tijuca, onde a Caravana passará nesta sexta, dia 13, começando às 19h.

Os desfiles natalinos no Brasil percorrerão aproximadamente 50 cidades em 15 estados. A Caravana, neste ano, se iniciou dia 27 de outubro, em Crato (CE), e está prevista para finalizar no dia 22 de dezembro, em Natal (RN). 

Além de oferecer lazer para a população, o evento garante diversão para as crianças, oferecendo interação com o Papai Noel. Com a intenção de promover o espírito natalino entre as famílias, os veículos iluminados e enfeitados são uma oportunidade para o morador da Grande Tijuca tirar belas fotos para serem exibidas nas redes sociais.

A partir das 19h desta sexta (13), a Caravana de Natal passará pelos seguintes pontos de referência: Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Essa é a parte 1 da Caravana na Grande Tijuca. A parte 2, no mesmo dia, terá os mesmos pontos de referência, mas o trajeto ocorrerá em ruas diferentes. 

Confira as ruas do primeiro trajeto, desde o ponto de início até a última parada: Rua Mariz e Barros, Rua Almirante Cochrane, Rua Santo Afonso, Rua Major Ávila, Avenida Maracanã, Rua Barão de Mesquita, Rua Agostinho Menezes, Rua Maxwell, Rua Teodoro da Silva, Boulevard 28 de Setembro, Rua Barão de Cotegipe, Rua Mendes Tavares, Rua Barão de São Francisco e Rua Barão de Mesquita, onde a caravana se despede da população no primeiro percurso. 

Para mais informações sobre a rota da Caravana de Natal na Grande Tijuca, acesse o site oficial da Coca-Cola: https://www.coca-cola.com/br/pt/offerings/christmas/coca-cola-truck

Peça usa mito de Sherazade para falar de violência contra mulher

Peça usa mito de Sherazade para falar de violência contra mulher

Em cartaz no Teatro Municipal Ziembinski, na Tijuca, a adaptação do livro da escritora Libanesa Joumana Haddad critica uma das personagens mais famosas da literatura oriental

Por Vinicius Rodrigues

           Poster de divulgação da peça Eu Matei Sherazade. Foto: Instagram Teatro Municipal Ziembinski

No último dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher,  foi divulgado que uma mulher é morta por feminicídio a cada 10 minutos no mundo. Em meio a este cenário, uma peça de teatro tem chamado a atenção para este grave problema enfrentado pelas mulheres: “Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria”.

A peça é a adaptação livre do livro de Joumana Haddad em solo brasileiro, idealizada e protagonizada pela atriz Carol Chalita, com direção de Miwa Yanagizawa e trilha sonora original de Beto Lemos. O monólogo aproxima a realidade da mulher árabe da mulher brasileira, e está em cartaz até 15 de dezembro no Teatro Municipal Ziembinski, próximo à estação de metrô São Francisco Xavier, na Tijuca, Zona Norte do Rio, às sextas, 20h, e aos sábados e domingos, às 19h. Os ingressos custam entre R$25 e R$50, e podem ser comprados na bilheteria do teatro ou online no site  Teatro Municipal Ziembinski

A peça tem valor promocional para estudantes e servidores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj): R$20, na bilheteria do teatro, só é necessário informar que veio pela Uerj.

O conto clássico árabe As Mil e uma noites, muito famoso no Oriente Médio, conta a história de um rei que foi traído por uma de suas esposas, e como punição, a mata. Além disso, rancoroso pela traição, ele passa a se casar com moças virgens do seu reino e matá-las ao amanhecer, como forma de vingança. Então, entra Sherazade, a moça que irá quebrar esta corrente de violência contra as mulheres. Ela casa-se com o rei assassino, e para evitar ser morta, passa a contar histórias a ele, e as interrompe antes do amanhecer, tática que se estica por mil e uma noites. Dessa forma, Sherazade consegue fazer o assassino se afeiçoar a ela, que desfaz o rito das mortes e salva as mulheres do reino.

A personagem Sherazade foi cultuada como uma figura de força feminina por tempos ao redor do mundo, algo que a escritora, ativista e jornalista libanesa Joumana Haddad discorda, e critica em seu livro Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria, que visa desmistificar esta

personagem clássica, através do olhar de uma mulher no mundo árabe, em que a morte de Sherazade simboliza o fim da submissão das mulheres diante do patriarcado.

O Notícias da Vila conversou com a atriz Carol Chalita sobre a adaptação da obra e a sua importância no Brasil:

Qual a importância da peça Eu Matei Sherazade no Brasil?

É entender que a relação da mulher e da formação do feminino independe de qualquer cultura, pois a cultura patriarcal é globalizada. Então, trazer o texto de uma mulher árabe, libanesa, que carrega em si um monte de preconceitos em ser uma mulher árabe, como se a mulher árabe não tivesse uma objetividade ou liberdade, não tivesse nenhum tipo de revolta sobre a cultura patriarcal opressora, já é um erro. E trazer esse texto para o Brasil significa aproximar a realidade da mulher árabe para a da mulher brasileira, e dizer que os problemas de lá são os mesmo daqui. É alarmante que o Brasil é o quarto país em feminicídios do mundo, e se aproxima do Afeganistão com a lei antiaborto que os políticos querem aprovar. Logo, a verdade é aproximar as realidades e questionar, desvelar os véus da sociedade brasileira sobre o problema crônico que é a violência contra as mulheres no Brasil.

Como foi adaptar o livro Eu Matei Sherazade para teatro?  Houve muitas mudanças para o contexto brasileiro?

Na verdade, a gente selecionou o que fazia sentido para mim, como artista, o que eu queria, o que eu tinha desejo de falar, e eram muitas coisas. A gente se surpreendeu muito como se aproxima da nossa realidade, de ser mulher no Brasil. A gente acrescentou o mito de Sherazade, inicialmente na peça, que não está no livro da Joumana, para poder mostrar quem é ela, e do maior arquétipo feminista árabe, que, na verdade a Joumana oferece um novo olhar sobre arquétipo, que, na verdade, ela não subverte a lógica da submissão, mas com seus dotes e inteligência, ela ainda precisa subornar o homem com as suas histórias intermináveis das mil e uma noites para sobreviver. Então, ela não pode viver a vida que ela escolheu ser, ela ainda está presa como subalterna de um homem. Logo, nós colocamos esse mito inicial para poder mostrar o quão não queremos negociar nenhum tipo de liberdade, nenhum tipo de vontade, pois isso é uma sobrevida. A mulher não tem que agradar um homem para ela sentir que está salva. Ela não tem que dar para ele nada do que a gente tem que ele queira para se sentir segura. A gente tem que se sentir segura por simplesmente se existir mulher. A questão de matar Sherazade é que não queremos mais esse arquétipo de subornar um homem para sobreviver. Não temos que subornar ninguém para sobreviver. Nós temos que simplesmente existir.

Para você, como atriz, houve algum desafio para fazer esta peça no Brasil?

É um projeto que tem 11 anos que ele foi concebido e idealizado, que só agora, depois desses 11 anos, eu consegui fazer sem patrocínio, sem nada, a não ser na pandemia, que conseguimos fazer um experimento online pela lei Aldir Blanc. Mas as empresas não têm muito interesse em falar sobre a liberdade feminina. Até mesmo as empresas com bandeiras sobre o feminismo, eu senti uma resistência. Até porque, nós trazemos uma árabe falando de uma forma crua e sem pudor, e colocando o dedo em feridas muito nevrálgicas da nossa sociedade brasileira, ela escancara uma hipocrisia brasileira, apesar de estar falando da realidade árabe, que muitas empresas não tinham o interesse no tema. A liberdade feminina ainda é um tabu, a liberdade sexual feminina, a liberdade de mulheres no poder, de liderança feminina ainda tem uma força muito oposta para que a gente fique no apagamento. Existe um medo muito grande de mulheres estarem em liderança, pois nós temos muito poder. E isso assusta os homens. A gente lida agora com uma sociedade na minha cabeça que é o tempo das Valkírias: são mulheres independentes, mulheres que têm sua vida, sua vida financeira, sua liberdade sexual e é por isso que o feminicídio tem aumentado tanto. Os homens não estão sabendo lidar com a liberdade feminina. Logo, eu acho que vivemos os tempos das Valkírias, e essa repreensão violenta sobre os nossos corpos têm tudo a ver com a gente estar aumentando o nosso espaço de liberdade.

Recentemente, na Câmara de deputados, foi aprovada uma PEC que pode acabar com o aborto legal no Brasil. Diante disso, qual o papel da arte, da peça, para debater e ajudar a compreender as necessidades e direitos das mulheres no país?

Essa PEC que estão tentando aprovar só reforça essa cultura patriarcal opressora e assassina que está se sentindo ameaçada, e eles precisam ter poder sobre os nossos corpos, e o aborto é uma das formas. Eu acho que a Joumana Haddad deixa um legado para nós no Brasil: ela foi eleita pelo voto direto para exercer um cargo no parlamento libanês e os homens não deixaram ela exercer o cargo. E ela manteve a força de resistência. Então, ela criou um programa, ela não para de escrever, ela não para de falar sobre o assunto, e ela disse: “me perguntam muitas vezes porque eu continuo escrevendo livros? Será que isso tem eficácia?. Quanto mais eu escrevo, quanto mais eu falo, maior poder eu tenho de entrar na mentalidade das pessoas”. Logo, esse é o nosso papel na arte, a gente combater de forma lúdica, trazendo sempre polêmicas e tirando do conforto a nossa realidade. Cada vez mais fazer essa peça, a gente está levantando essa bandeira de conscientização para homens e mulheres dos nossos deveres, e ressignificar os padrões de relação. Pois, os padrões de relação que estão aí não funcionam, são padrões assassinos. Então, nós trazemos através da arte uma provocação que fique dentro de cada um que assistir à peça, uma possibilidade de refazer seus pactos dentro do seu ambiente, seja na sua casa, na sua família ou no seu trabalho.

Como você espera que o público saia após assistir à peça Eu Matei Sherazade?

O que eu espero já está acontecendo, pois as pessoas estão saindo arrebatadas da peça, elas estão repensando suas vidas, elas repensam seus relacionamentos, tanto homens, quanto mulheres sobre como essa formação patriarcal tem sido nociva para gente construir o imaginário social de que homens e mulheres tenham equidade de gênero, que tenham direitos parecidos, direitos que não oprimam uns aos outros, mas que sejam complementares, que sejam uma troca, que sejam uma relação absolutamente frutífera que some, não que elimine um para o outro existir. O que a gente vê, na verdade, a violência doméstica não só fere a mulher que é vítima, mas toda uma família, toda uma sociedade, e inclusive os serviços de saúde, pois é uma destruição em massa. Imagina o psicológico de uma criança que vê o pai assassinando a mãe. Enfim, eu acho que a peça traz à tona esse lugar, essa construção, essa mentalidade patriarcal que precisa ser absolutamente desconstruída e revista. E o lugar da mulher onde ela tenha coragem de querer ser o que ela quiser ser na hora que ela quiser e quando ela quiser. É um estado de impermanência, ela pode ser tudo o que ela quiser na hora que ela quiser, ela pode mudar completamente da água  para o vinho quando ela quiser. É um lugar de estado de liberdade mesmo. Eu espero que a peça provoque isso, e ela está provocando, e mais do que isso. Que a gente fique em cartaz por muitos anos, para estar trazendo esse tipo de discussão, e pensar de que forma nós influenciamos as próximas gerações, para que daqui a alguns anos, a gente não precise fazer essa peça, que sejam novas discussões. É isso que eu espero. Que o público cada vez vá mais ao teatro, ampliando cada vez mais as possibilidades de transformações em suas vidas.

Saúde mental em foco: especialista explica importância do cuidado

Saúde mental em foco: especialista explica importância do cuidado

Atendimentos gratuitos são oferecidos pelo Serviço de Psicologia Aplicada da Uerj.

Por Alice Moraes

                                             Imagem: Blog AmorSaúde

De acordo com o Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, 68% dos brasileiros relatam sentimentos de nervosismo, ansiedade e tensão. A pesquisa, divulgada em junho deste ano, também mostrou que 55,8% das pessoas não buscam ajuda profissional.

A pesquisa “Panorama da Saúde Mental” foi realizada com intuito de mostrar dados para chamar atenção sobre a saúde mental da população brasileira. Ela foi feita de forma representativa: 3.266 pessoas foram ouvidas entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. Esses participantes são brasileiros acima de 16 anos e moradores das cinco regiões do país. Os autores do estudo reforçam que é importante ampliar práticas de prevenção e promoção de saúde mental para a população em geral.

O psicólogo clínico Pedro Casarim apontou quais são os sinais de problemas na saúde mental: “O sinal mais claro de que algo não está legal na saúde mental é quando isso compromete as tarefas do cotidiano”. Ou seja, a pessoa não tem mais interesse em atividades que a interessava antes. 

Além disso, a pessoa tende a ficar mais isolada, afastada dos  ambientes sociais. “Esses são indícios muito fortes de que a depressão pode estar acontecendo”, pontua o psicólogo. Quando algo começa a incomodar, “já é motivo para procurar tanto um médico clínico geral quanto um psicólogo”, ele alerta. 

 

Qual a importância de cuidar da saúde mental? 

Segundo o especialista, muitos indivíduos tendem a cuidar mais da saúde física, negligenciando a saúde mental. A qualidade de vida, na verdade, se baseia em tratar tanto da saúde física quanto da saúde mental. Sobre isso, o psicólogo orientou: “A saúde física e a mental andam lado a lado. Eu vejo que ainda existe esse estigma com relação à saúde mental, mas, depois da pandemia, tivemos um aspecto positivo: as pessoas passaram a enxergar a saúde mental da maneira que ela precisa ser enxergada”.

Segundo Pedro, a resistência em cuidar da  saúde mental pode vir não só por influência alheia, mas também por pensamentos da própria pessoa. “Se a pessoa percebe que não está legal, e ela não procura ajuda, muito provavelmente essa resistência parte mais dela do que de outro alguém. Eu acho importante furar esse bloqueio, sair da zona de conforto. Procurar ajuda pro campo da saúde mental vale a pena, porque vai trazer qualidade de vida”.

A falta de cuidado com a saúde mental pode levar a consequências graves, como alcoolismo e dependência química. É essencial buscar ajuda especializada antes que esses comportamentos se tornem problemas irreversíveis.

 

Quais são os benefícios da psicoterapia? 

O psicólogo Pedro Casarim gostaria que todos tivessem a oportunidade de passar  por terapia. “Acho que seria muito importante que todos tivessem pelo menos um contato com a terapia, se fosse possível. Antes mesmo da adolescência, num sentido de prevenção”. 

De acordo com ele, um dos benefícios da terapia é ajudar o paciente a conseguir lidar de forma consciente com suas questões pessoais. O autoconhecimento também pode ser listado como um dos benefícios oferecidos pela psicoterapia. “Saber quem a gente é, isso é libertador”, finaliza o psicólogo. 

Pedro Casarim, de 30 anos, é psicólogo clínico há três anos. Formado em psicologia pela Estácio, ele realiza atendimentos online com valores sociais e promocionais para estudantes da Uerj. Para agendar uma terapia, encaminhe mensagem para seu contato: (21) 97291-4075. 

 

Serviços oferecidos pelo SPA 

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), localizado no bloco D do décimo andar da Uerj, no Campus Maracanã, oferece atendimento gratuito tanto para os alunos da Universidade quanto para o público de fora. Para realizar a inscrição, o perfil do Instagram @psicologiauerj disponibiliza o formulário uma vez por semestre. Para esclarecimento de dúvidas, entre em contato pelo e-mail acolhimentoeacompanhamento.spa@gmail.com

O Plantão Psicológico da Uerj fornece escuta psicológica gratuita. A escuta é um acolhimento emergencial e  não precisa de inscrição prévia. Aos interessados, a secretaria (sala 10.006) do bloco D do décimo andar direciona o paciente à sala que proporciona o serviço. Ele funciona às quartas, das 14h às 16h.