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Ativistas cobram do Brics políticas eficazes para população em situação de rua
Estudo da UFMG mostra que esse grupo cresceu 5,37% no Brasil; documento de ativistas afirma que população em situação de rua não é citada em nenhum dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU
Por Letícia Santana e Eduarda Galdino
Pessoas em situação de rua no Flamengo/RJ (Foto: Flávio Lino)
A população em situação de rua está fora dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU. É essa a conclusão de um relatório lançado pelo Movimento Nacional da População em Situação de Rua do Rio de Janeiro (MNPR/RJ) em evento no último dia 24 de junho no BRICS Policy Center, centro de estudos e pesquisas ligado ao Instituto de Relações internacionais da PUC-Rio.
O secretário executivo do MNPR, Flávio Lino, foi o responsável pela apresentação do documento. O relatório de 80 páginas discutiu as causas do crescimento da população de rua, com dados e estatísticas referentes a cada um dos 11 países membros do BRICS, o grupo de países emergentes que se reúne nos dis 6 e 7 de julho no Rio.
O Brasil se destaca nas estatísticas com mais de 335 mil pessoas em situação de rua no ano de 2025, segundo o Polo de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com um crescimento de 5,37% em relação ao ano anterior. A Agenc conversou com o coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG, o professor André Luiz Freitas Dias, que destacou o Sudeste como pólo de maior concentração com mais de 200 mil pessoas (62%) e também sobre o perfil majoritário desses indivíduos.
De acordo com essa pesquisa, o crescimento dessa população deve ser analisado a partir de três perspectivas — precarização as condições de vida de populações já vulneráveis, o fortalecimento do CadÚnico como fonte de registro da população em situação de rua e o racismo estrutural somado à falta de políticas públicas históricas de moradia, saúde e assistência à população negra brasileira.
Os registros do CadÚnico mostram que 70% das pessoas em situação de rua são negras, e 29%, brancas. Em entrevista à Agenc, o secretário executivo do MNPR/RJ, Flávio Lino, afirmou que o dado vem de um histórico do colonialismo, desigualdades sociais e falhas nas políticas públicas no Brasil. “Esse racismo estrutural pregado pelos países do norte, que sufoca o Sul global, é uma coisa que precisa ser combatida”, disse.
Lino destacou que a população em situação de rua não é citada em nenhum dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e nem na 18 ODS de igualdade racial proposta pelo Brasil. Segundo ele, isso tira o foco das necessidades dessa população. Lino sugeriu a criação de um 19ª ODS dedicado à comunidade. “É necessário que sejam criados decretos e projetos de lei na política internacional para a população em situação de rua nos países do BRICS, não adianta o Brasil ter boas práticas de assistência e não poder compartilhá-las no BRICS”.
Além disso, o documento do MNPR trouxe uma análise do progresso das políticas públicas e metas nos países do BRICS. No caso do Brasil, 70% das políticas públicas e metas em relação à redução das desigualdades sociais não foram cumpridas. O relatório afirma que a distribuição de renda possui um forte impacto na população em situação de rua, apesar de não ser citada especificamente no documento oficial das ODS. Segundo Lino, a distribuição de renda garante uma rede de proteção a indivíduos em vulnerabilidade social, pois dessa forma, a segurança alimentar e o acesso à moradia são garantidos. “Os responsáveis por promover qualidade de vida, segurança, saúde, educação, trabalho e renda, são os estados/países”.
Como considerações finais da apresentação, Lino concluiu que o aumento da população em situação de rua é um reflexo do racismo e da falha nas políticas públicas dos estados.
Lula encerra Brics pedindo Sul Global mais forte e ONU mais representativa
Em entrevista coletiva, presidente destacou relevância de ação conjunta para conter mudança climática
Por Everton Victor e Leticia Santana
Presidente da República ao lado do ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, durante entrevista coletiva. Foto: Everton Victor
Com críticas à atuação da ONU, a defesa de organizações internacionais mais representativas e respostas às ameaças de Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um balanço positivo do encontro do BRICS e o papel do grupo no mundo contemporâneo. Durante o segundo e último dia (6) da Cúpula do grupo, Lula destacou a importância da atuação conjunta das economias emergentes na construção de um mundo multipolar. O evento foi realizado nos dias 6 e 7 de junho, no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.
Na Declaração de Líderes assinada em consenso pelos 11 países-membros, os integrantes do BRICS apoiam uma mudança da estrutura de governança global. Durante a entrevista, Lula criticou o papel que a ONU tem desempenhado na resolução de conflitos no mundo. Para o presidente, adiar a reforma da ONU “torna o mundo mais perigoso”. A demanda por uma reestruturação de conselhos internacionais é antiga no BRICS. O principal argumento é que a mudança traria uma maior representatividade das nações emergentes em um mundo multipolar. “Não queremos mais um mundo tutelado”, disse Lula.
China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e integrantes do BRICS, defenderam um protagonismo maior das economias emergentes na ONU. Na Declaração, os dois países defendem um papel “mais relevante dessas nações [Brasil e Rússia] nas Nações Unidas, incluindo o Conselho de Segurança”.
O Conselho de Segurança foi estabelecido em 1945, após a Segunda Guerra. Inicialmente com onze membros, hoje o grupo conta com 15 quinze – desses, 5 são permanentes. Estes cinco (China, Estados Unidos, França, China e Reino Unidos) podem vetar qualquer resolução tomada pelo grupo. No conflito na Ucrânia, por exemplo, propostas relacionadas ao confronto foram vetadas por países como Estados Unidos e Rússia.
A expansão de países no BRICS, um dos temas centrais desta Cúpula, o presidente exaltou a liderança brasileira. “O Brasil realizou a mais importante reunião que o BRICS já fez, porque convidamos novas pessoas para que a gente os convença que o BRICS é um novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo”.
Um dos consensos da Declaração final do BRICS é o apoio dos 11 países membros à realização da Conferência do Clima, a COP30, no Brasil. Na carta, os países emergentes endossaram o papel que o evento terá para impulsionar as metas climáticas, como as que estão presentes no Acordo de Paris. O evento acontecerá em novembro em Belém, no Pará.
O presidente também respondeu às postagens de ameaças de taxação feitas por Trump. De acordo com Lula, não é responsável um presidente ameaçar o mundo através das redes. No dia 6 de junho, o presidente Donald Trump publicou em sua conta na rede social Truth Social, que “qualquer país que se alinha com as políticas antiamericanas do BRICS, terá uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções para essa política”. As ameaças foram repercutidas nas redes sociais e em jornais por todo o mundo.
Um dia após este post, na mesma rede, Trump voltou a fazer postagens que se relacionavam com o Brasil, desta vez, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A postagem dizia que “o Brasil está fazendo um terrível trabalho no seu tratamento com o ex -presidente Jair Bolsonaro. Eu tenho assistido, assim como todo o mundo, eles fazerem nada mais do que persegui-lo dia após dia, noite após noite, mês após mês e ano após ano. Ele não é culpado de nada exceto ter lutado pelo povo”. Lula preferiu não comentar a declaração do presidente dos Estados Unidos.
Países do BRICS se comprometem a cumprir metas de saúde fixadas nos ODS
Declaração reunindo os consensos da Cúpula dos países emergentes foi divulgada no primeiro dia de encontro (6)
Por Everton Victor
Cúpula de Líderes dos países BRICS. Isabela Castilho | BRICS Brasil
A Declaração de Líderes do BRICS, divulgada neste domingo, se compromete a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU (Organização das Nações Unidas) relacionados à saúde. O documento foi divulgado no primeiro dia de reunião da Cúpula de Líderes realizada entre os dias 6 e 7 no Museu de Arte Moderna do Rio, na Zona Sul da cidade. O documento também reforçou o compromisso com o desenvolvimento sustentável das nações BRICS.
A carta reitera que as metas a serem previstas nos ODS devem ser alcançadas “garantindo que nenhum país seja deixado para trás”. Dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mais de dez se relacionam direta ou indiretamente com a saúde. Os ODS representam metas sociais e econômicas a serem alcançadas até 2030 pelos 193 países integrantes da ONU. Mas essas metas estão longe de serem alcançadas, apontou o relatório da ONU em julho de 2024, e só 17% delas estão indo na direção correta.
Segundo a ONU, os desafios da falta de investimentos e ações locais em escalas dificultam a concretização dessas metas. Água limpa e saneamento, combate às alterações climáticas, fome zero e redução das desigualdades são alguns dos temas dos ODS. Faltando 5 anos para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, o BRICS reforçou o compromisso com os ODS como um caminho para o futuro do Sul Global. A Declaração das economias emergentes teve apoio dos 11 países membros do grupo: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito e Argélia.
1° Dia da Cúpula de Líderes. Foto: Rafa Neddermeyer/BRICS Brasil/PR
O BRICS reforçou o apoio das nações emergentes ao papel da Organização Mundial da Saúde (OMS) como autoridade orientadora nas questões sobre Saúde global. A declaração final também enfatiza a necessidade de fortalecer a amplitude e os mecanismos de financiamento da OMS. A íntegra da Declaração de Líderes já está disponível no site oficial do agrupamento.
Declaração de líderes do BRICS condena guerras e cobra reforma da governança global
Documento foi divulgado ainda durante o primeiro dia da Cúpula (6)
Por Julia Lima e Eduarda Galdino
Representantes dos países-membros do BRICS. Foto: Paulo Mumia/BRICS Brasil
Condenação às guerras, reforma de organismos internacionais, combate à mudança do clima e cooperação entre os países-membros estão entre os principais pontos da Declaração de Líderes do Brics. O documento foi aprovado pelos integrantes do BRICS ainda no primeiro dia da cúpula de líderes, que acontece no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho.
O texto reitera em diferentes pontos a necessidade de que organizações como o Conselho de Segurança da ONU e o Fundo Monetário Internacional tenham maior representação de países fora do eixo Estados Unidos – Europa. Também condena ataque de Israel ao Irã – país integrante do Brics -, mas não faz críticas duras ao país judeu. Também poupa a Rússia – que também faz parte do BRICS – de palavras mais pesadas quanto à guerra na Ucrânia.
A seguir, acompanhe os pontos principais da declaração:
Condenação às guerras
O texto condena os ataques ao Irã e à Ucrânia, mas poupa críticas a Rússia e Israel. A declaração também expressou preocupação com a ocupação da Palestina, e afirmou que a solução passa integralmente pela criação do Estado Palestino em paralelo ao Estado de Israel, como previa a Resolução das Nações Unidas em 1967.
As nações expressaram preocupação com as recorrentes ameaças de uso de armas nucleares pelo mundo, ainda que o Irã esteja entre este grupo. Reiteraram também a necessidade da continuidade de programas de desarmamento, controle e não-proliferação de armas para que a paz seja mantida.
Inteligência Artificial
O BRICS afirma compreender a importância da Inteligência Artificial no desenvolvimento atual dos países, mas define que haja limites claros sobre propriedade intelectual. Os integrantes também defendem que desenvolvimento da tecnologia tenha como objetivo o bem da humanidade e que sejam mitigados possíveis riscos decorrentes de seu uso.
Crescimento econômico inclusivo e sustentável
Ao aprofundar as cooperações internacionais na economia, comércio e finanças, os países do Brics se comprometeram a fortalecer as relações de comércio com o objetivo de promover um crescimento inclusivo e sustentável. Além disso, foi reforçado que as cooperações econômicas vão estar de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Financiamento para transições energéticas
Os membros do Brics reconheceram a necessidade de preencher as lacunas de financiamento das transições energéticas. Para isso, definiram a alocação de investimento concessional adequado e de baixo custo dos países desenvolvidos para países em desenvolvimento, de forma que haja uma transição energética justa e inclusiva.
Governança global mais diversa e inclusiva
Os membros do Brics se comprometeram a reivindicar maior presença de países menos desenvolvidos e emergentes em posições decisórias globais, para que estas sejam mais conectadas com a realidade desses locais. Além disso, o BRICS defendeu a presença de mais mulheres em cargos de liderança dentro dos organismos internacionais – especialmente de países da África, América Latina e Caribe.
A reforma do Conselho de Segurança da ONU foi apoiada pelos países. Para eles, é preciso que mais países emergentes estejam entre os 15 membros do Conselho – a fim de que a representatividade seja maior-, e também que haja igualdade de votos entre eles, ou seja, ninguém teria poder de vetar sozinho toda uma deliberação.
Compromisso em alcançar as metas no Acordo de Paris
Os integrantes do BRICS assumiram também o compromisso de cumprir as metas do Acordo de Paris e os objetivos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a mudança do clima (UNFCCC). Além de manterem seu compromisso com os acordos, os membros desejam ampliar as ações para o combate à crise climática e os mecanismos ligados à diminuição, adaptação e provisão de meios para implementar essas medidas em países em desenvolvimento.
Os membros do BRICS também declararam apoio à presidência brasileira na COP30, que acontecerá em novembro deste ano no Pará. No documento foi reforçado o fato de a COP estar alinhada com todos os pilares da UNFCCC, considerando o compromisso que cada país estabeleceu nos acordos.
Tecnologias de Informação e Comunicação
Os países do BRICS enfatizaram o potencial das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para diminuir as desigualdades digitais entre os países. Os chefes de estado citaram as Nações Unidas como organização responsável por estabelecer normas e princípios para o uso responsável das TICs no mundo.
Apoio ao NBD e expansão de seu número de membros
Os países reconheceram a importância do Novo Banco de Desenvolvimento como um instrumento de inovação e modernização dos países do Sul Global. Foi incentivada a ampliação no número de membros da organização, com o objetivo de aumentar a eficácia operacional e resiliência institucional do banco.
Exploração espacial
Os países reconheceram a importância de que pesquisas feitas no espaço tenham fins pacíficos e científicos. A militarização e uma nova corrida espacial foram condenados.
Financiamento climático
O BRICS reforçou que garantir financiamentos climáticos justos para países emergentes é essencial para o combate às mudanças do clima. Além disso, reconheceram o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) – compensação econômica para países que preservarem florestas tropicais – como um mecanismo inovador e eficiente para a conservação ambiental.
Combate ao preconceito
Os países reiteraram a necessidade de combater racismo, homofobia, xenofobia e intolerância religiosa, assim como a tendência atual de propagação destes conteúdos por meio de desinformação.
Reunião de banco do BRICS tem novas adesões e acenos por uma “reglobalização sustentável”
Novo Banco de Desenvolvimento celebra dez anos de existência e promete reforçar investimentos no Sul Global
Por Everton Victor e Julia Lima
Presidente do NDB, Dilma Rousseff, durante entrevista coletiva. Foto: Julia Lima.
O segundo e último dia da 10ª Reunião Anual do Novo Banco de Desenvolvimento foi marcada pela adesão de dois novos membros e apelos por reglobalização sustentável e um “FMI mais representativo”. Os acenos foram feitos por Dilma Rousseff, presidente do NDB, o banco dos BRICS, e por Fernando Haddad, ministro da Fazenda do Brasil. A reunião que marca os dez anos de fundação do banco acontece nos dias 04 e 05 de julho no Rio de Janeiro, às vésperas da Cúpula do BRICS, que também será realizada na cidade.
O Conselho de Governadores do NDB aprovou neste sábado a adesão de Colômbia e Uzbequistão à organização. Com a entrada dos dois países, o banco chega ao total de 11 membros; Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito e Argélia já fazem parte da organização.
A adesão de novos membros ao banco do BRICS acontece de forma paralela à entrada de países-membros do agrupamento de economias emergentes. Ou seja, nem todos que ingressam no NDB entram no BRICS.
Durante coletiva, Dilma Rousseff também reforçou as prioridades da organização: a adesão de novos membros, financiamento e captação em moedas locais e investimento em infraestrutura. Uma das estratégias do banco é conceder 30% de financiamentos em moedas locais no período de 2022-2026. Para a presidente, estas ações consolidam o banco como “feito pelo Sul Global para o Sul Global”.
Acenos de Haddad
1ª Reunião de Ministros das Finanças e Governadores de Bancos Centrais do Brics. Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda.
Durante discurso para os ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais dos países BRICS, o ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que está em negociação o documento intitulado “Visão do Rio de Janeiro para o FMI”. O foco seria um endosso conjunto dos representantes de economias do Sul Global para um Fundo Monetário Internacional (FMI) mais representativo.
O documento inédito citado por Haddad faz parte das discussões dos países do Sul Global para obter mais representatividade em conselhos e foros internacionais. Na Cúpula do G20 no ano passado, que também teve o Brasil na presidência, as 19 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana aprovaram em consenso um documento que reivindica uma reforma na governança global em diferentes setores.
No evento do G20, foi proposta a reforma do Conselho de Segurança e do secretariado da ONU, a fim de incluir mais mulheres e países da Ásia, África, América Latina e Caribe. Também foi sugerida a criação da 25º cadeira no Fundo Monetário Internacional, para que haja representação da África Sub-Saariana.
O ministro também citou a “reglobalização sustentável” em seu discurso. Segundo ele, o movimento seria uma nova globalização, baseada no desenvolvimento igualitário da humanidade em aspectos sociais, econômicos e ambientais. As propostas para isso seriam:
facilitar o comércio e o investimento entre os países do BRICS.
reforçar a coordenação sobre as reformas do sistema monetário e financeiro internacional
diálogo intra-BRICS sobre parcerias público-privadas, tributação e aduanas, com especial atenção à tributação de indivíduos de altíssima renda
Tropical Forest Forever Facility, um modelo de financiamento climático no qual países que tenham florestas tropicais e que atuem na sua preservação sejam recompensados financeiramente; o BRICS trabalharia em conjunto com a presidência brasileira para lançar essa proposta na COP30
A Cúpula do BRICS deve voltar a discutir questões relacionadas ao que foi apresentado na 10° Reunião do Novo Banco de Desenvolvimento. O encontro dos países membros do BRICS acontecerá nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, mas o Brasil seguirá na presidência do conjunto de países emergentes até 31 de dezembro de 2025.
Financiamento climático é o foco do Banco do BRICS
Segundo Lula, banco já investiu US$ 40 bilhões em ações no setor
Por Everton Victor e Julia Lima
Sessão de abertura da 10ª Reunião Anual do Novo Banco de Desenvolvimento. Reprodução: Douglas Schineidr/Agência Brasil.
O financiamento climático foi o principal tema da abertura da 10ª Reunião Anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), realizada na sexta-feira, 4 de julho, no Rio de Janeiro. Os destaques foram as ações do banco para energia limpa, eficiência energética, proteção ambiental e abastecimento de água, que somam cerca de US$ 40 bilhões de dólares. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a iniciativa atual do banco de direcionar 40% dos financiamentos para iniciativas de desenvolvimento sustentável vai constar da declaração final do encontro do Brics, que acontece nos dias 6 e 7 de julho, também no Rio.
O Novo Banco de Desenvolvimento é um banco multilateral, criado em 2015 pelos cinco países fundadores do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), com o objetivo de financiar projetos e países emergentes. A atual presidente da organização, Dilma Rousseff (ex-presidente do Brasil), afirmou que o NDB deve estar na vanguarda dos investimentos para adaptação climática e transição energética, priorizando principalmente países mais afetados por eventos climáticos extremos. Lula enfatizou a rápida liberação de verbas após a tragédia no Rio Grande do Sul, ocorrida em 2024.
De acordo com a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), financiamento climático é todo investimento – público ou privado, nacional ou internacional, uni, bi ou multilateral – que tenha como objetivo apoiar ações que busquem a mitigação e a adaptação à mudança do clima.
No Brasil, o Banco de Desenvolvimento do BRICS, através de seu Conselho de Administração, já aprovou 29 projetos, totalizando um investimento de 6,4 bilhões de dólares. Um dos mais recentes é o Projeto de Desenvolvimento Sanitário no Pará (Pará Sanitation Development Project), com um financiamento de 50 milhões de dólares, aprovado pelo NBD em março deste ano. Dentre as propostas está um avanço na qualidade do saneamento básico com impacto na capital paraense, Belém, que sediará a Conferência do Clima da ONU em novembro, e mais sete municípios.
O banco arrecada recursos tanto com seus membros quanto em outros mercados internacionais. Uma das fontes de recursos é a emissão de títulos em moedas locais – alinhada à estratégia de diversificar outras formas de transações além do dólar. O ciclo estratégico da instituição para o período 2022-2026 prevê uma meta de investimento de 30 bilhões de dólares.
A instituição é formada por 10 membros: além dos 5 fundadores, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito, Argélia e, mais recentemente, Uruguai, que está em processo de adesão. A ampliação do número de países-membros deve continuar ao menos até 2026. A ideia é expandir a influência e relevância da instituição no globo e consolidar como ferramenta de cooperação entre os países emergentes e em desenvolvimento.
Pesquisadores do Brasil e China discutem cooperação e limites éticos para uso de IA
Evento realizado na PUC-Rio reafirmou a relação entre as duas nações e a união dos países emergentes nos avanços tecnológicos
Por Everton Victor
Encontro de Pesquisadores Brasil-China no BRICS Policy Center. Foto: Eduarda Galdino
Pesquisadores do Brasil e da China defenderam uma maior aproximação no campo científico entre as duas nações e ampliação da discussão sobre Inteligência Artificial. O encontro intitulado Diálogo Brasil-China aconteceu na última quinta (3) no BRICS Policy Center, think thank da PUC-Rio com enfoque no estudo de economias emergentes, em parceria com o Beijing Club for International Dialogue.
Segundo os pesquisadores, a Inteligência Artificial não está restrita às mudanças no meio digital. Seja em soluções inteligentes na agricultura, seja para interpretar grandes volumes de dados em empresas, identificar padrões e ser uma aliada nas pesquisas científicas, o uso da IA se torna cada vez mais importante e estratégico para as nações. Nas redes, por exemplo, a criação de chatbots – processadores de conversação com seres humanos – e modelos de IA Generativa – que podem criar imagens – vem se popularizando. Como calibrar esses avanços com padrões éticos é a pergunta que diferentes nações já fazem.
Em fóruns como o G7 (grupo das sete maiores economias do mundo), o G20 (que reúne as 19 maiores economias) e conferências da ONU, estão sendo discutidas formas de garantir a incorporação da IA de forma ética. O tema não é recente, mas tem intensificado a discussão sobre garantir uma governança da inteligência artificial. No encontro do BRICS, que acontece nos dias 6 e 7 de julho no Rio, o tema da IA também está em discussão.
No debate na PUC, os pesquisadores ressaltaram a importância de o Sul Global avançar o quanto antes neste tema para não ficar para trás. Para a professora Maria Helena Rodríguez, presente no evento, esse avanço deve endereçar os benefícios da Inteligência Artificial, como um facilitador no cotidiano das pessoas.
A governança da Inteligência Artificial nada mais é do que a estruturação de políticas e mecanismos que garantam o desenvolvimento ético e responsável. Apesar de consensos sobre a necessidade de regulamentar a IA, a forma como iso será feito ainda é um ponto de discussão. A necessidade de cooperação, endossada no encontro de pesquisadores, reforça uma união no campo tecnológico que seja adaptada aos países – para reduzir as discriminações provenientes de modelos de IA e fortalecer a diversidade cultural também neste desenvolvimento.
Brics Policy Center na PUC-Rio. Foto: Eduarda Galdino
Zhao Hai, diretor do Programa de Política Internacional do Instituto Nacional de Estratégia Global Academia Chinesa, endossou a atuação em conjunto nos temas da IA, e disse que a cooperação neste setor é crucial entre países do Sul Global. A possibilidade de criação de centros de treinamentos em conjunto – uma espécie de hub de talentos para compartilhar as melhores práticas dos países no campo da tecnologia – também foi um dos debates citados no encontro Brasil-China.
A ideia é desenvolver modelos de IA que reflitam parâmetros de todo o globo. No encontro no BRICS Policy Center, os pesquisadores reforçaram a importância de avançar nas discussões sobre o tema envolvendo países emergentes. O BRICS conta com 11 países-membros – Brasil, África do Sul, Árabia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Indonésia, Irã e Rússia, além de países parceiros e convidados
Rocinha é bairro do Rio mais vulnerável a deslizamentos, aponta projeto
Iniciativa Rio 60°C, do portal Ambiental Media, mapeia a cidade e mostra que regiões periféricas estão mais vulneráveis aos impactos da mudança do clima
Por Everton Victor
Comunidade da Rocinha, Zona Sul do Rio de Janeiro Fernando Frazão/Agência Brasil
Chuvas fortes com resultados extremos, como deslizamentos e inundações, estão cada vez mais frequentes. Recordes de temperaturas também são cada vez mais frequentes. Os efeitos da mudança do clima já são realidade, e, a depender da região da cidade do Rio de Janeiro em que você se encontra, o impacto é sentido de forma diferente. É o que apontou o projeto “Rio 60 °C”, um mapeamento digital realizado pela organização jornalística Ambiental Media em parceria com o RioNowcast+Green, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A Rocinha, na Zona Sul do Rio, é a maior favela do Brasil, com 72.021 moradores e 30.371 casas, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE). Desses, 11 mil domicílios estão em áreas de alta vulnerabilidade para deslizamentos e 1,4 mil classificados com um risco muito alto, segundo o Rio 60 °C. Ainda de acordo com o projeto, o bairro concentra o maior número de casas em risco de deslizamento da capital fluminense. O projeto Rio 60°C foi uma das iniciativas de jornalismo apresentadas no Festival 3i, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 6 e 8 de junho na ESPM, com foco na exposição de projetos de jornalismo independentes e inovadores.
Bairros da cidade com mais domicílios vulneráveis a deslizamentos, de acordo com o projeto Rio °60 C Foto: Julia Lima
No complexo de favelas Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, também na Zona Sul do Rio, 3 mil moradias estão localizadas em áreas de alta vulnerabilidade a deslizamentos, enquanto 899 estão em área classificada como de muito alta vulnerabilidade. A exposição dos cariocas a riscos de deslizamentos não está restrita às comunidades da Zona Sul da cidade. Na Mangueira, Zona Norte do Rio, são 1,6 mil residências em alta vulnerabilidade e 765 em muito alta. Em Realengo, bairro da Zona Oeste, 517 moradias estão sujeitas a este risco e 12 classificadas em muito alta.
Condy Menezes, morador da Rocinha, na Zona Sul do Rio, há 48 anos e ativista social há mais de 20, é integrante da Associação de Moradores do bairro. À Agenc, ele contou a realidade de quem sofre com os eventos climáticos na comunidade. “Os moradores, depois dos dias de chuva, nos procuram para solicitar vistorias, principalmente da Defesa Civil, para avaliar riscos de desabamentos, deslizamentos de encostas e até para retirada de barro e terra que tenha adentrado casas”, explica.
Jornalista Thiago Medaglia em entrevista a nossa equipe de reportagem durante o festival 3i Foto: Julia Lima
Para o jornalista Thiago Medaglia, diretor-executivo da Ambiental Media, a análise de dados presente no projeto Rio 60 °C permite entender os desafios para enfrentar a mudança climática. Segundo ele, os eventos climáticos extremos são manifestações locais do aquecimento global que atingem todos, no entanto, impactam de maneira mais drástica populações socioeconomicamente vulneráveis. “Na iminência de um evento extremo, essas pessoas vão para onde?”, indaga.
De acordo com a pesquisa, a cidade do Rio de Janeiro concentra 70 mil domicílios em áreas de alta vulnerabilidade e 10 mil com risco muito alto de deslizamentos. Para inundações, os dados são ainda maiores: 530 mil casas estão suscetíveis e 132 mil estão categorizadas com risco muito alto. O projeto “Rio 60 °C” destaca como a urbanização desregulada em alguns bairros próximos aos três maciços da cidade – Tijuca, Pedra Branca e Gericinó-Mendanha, tornam essas casas mais expostas a perigos. A Rocinha, por exemplo, fica localizada na vertente sul do Maciço da Tijuca.
A urbanização desordenada acontece quando o crescimento de uma cidade não segue um planejamento – por exemplo, uma casa construída em uma área de proteção ambiental ou em uma região por onde passa um rio. São domicílios erguidos sem que se tenha uma análise prévia sobre a viabilidade e a segurança de ter uma moradia naquele local.
Este processo é acompanhado por políticas, ou a falta delas, no amparo ao cidadão. Muitas vezes, mesmo sem se sentir seguro na região em que reside, ele prefere permanecer numa área de risco, por não ter outra opção. “Quem mora em área de risco nunca se sente seguro, eles sabem que de alguma forma estão em risco iminente de que algo possa acontecer. Quanto maior a intensidade da chuva, maior o medo”, afirma Condy.
Apesar da insegurança constante e do estado de alerta em que essas pessoas se encontram, a Associação de Moradores faz um suporte direto aos moradores na Rocinha. Através da orientação de pontos de apoio, mobilização comunitária para repor perdas e até ajuda psicológica. São tentativas de mitigar danos a moradores que por vezes já estão em situação de vulnerabilidade, segundo Condy. Perguntado se se sente amparado pelo poder público em sua comunidade, ele respondeu que, sempre que acionadas, a subprefeitura, a Defesa Civil e a Comlurb se fazem presentes.
A Fundação Geo-Rio, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Infraestrutura, afirmou ter concluído 13 obras de contenção de encostas na Rocinha desde 2021, com um investimento de R$ 12,7 milhões. “As intervenções foram fundamentais para aumentar a segurança da população que vive em áreas com risco geológico, especialmente durante o período de chuvas”. Entre os serviços citados pela Geo-Rio estão a construção de cortinas atirantadas (sistema de contenção de encostas), muros de contenção em concreto armado, solo grampeado, instalação de canaletas de drenagem e de telas de aços.
Walmir Júnior, mestre em Sustentabilidade pela PUC-Rio e coordenador da horta popular “Maria Angu”, é morador da comunidade de Kelson, na Penha, Zona Norte do Rio. Para ele, existe uma dificuldade do poder público proteger esses cidadãos que vivem em áreas de risco. “Quando a gente tá falando de alagamento, inundação, estamos falando de casas que tão sendo perdidas, de vidas que estão sendo tiradas. O Estado é detentor desse cuidado da vida da população”, reforça.
Apesar dos efeitos das mudanças climáticas se concentrarem nas consequências nas cidades – como altas temperaturas, secas extremas, poluição do ar, o impacto também pode ser fatal para a saúde humana. No ano de 2024, o Brasil registrou 306 mortes em decorrência de eventos climáticos, segundo levantamento do Atlas Digital de Desastres do Brasil. Ainda de acordo com este levantamento, 299 mil brasileiros ficaram feridos ou adoeceram em decorrência de desastres climáticos no ano de 2024.
Para Walmir Júnior, é preciso enfrentar as mudanças climáticas com a inclusão da justiça climática nessas ações. O termo citado por Walmir já é praticado nos debates sobre a responsabilidade de cada nação para reverter o aquecimento global. Ele defende pautar esta justiça climática também nos territórios, através de políticas públicas voltadas para quem está mais suscetível a sentir os impactos das mudanças climáticas.
O racismo ambiental, mecanismo também agravado com a emergência climática, através de desigualdades raciais que se manifestam nos eventos climáticos, também é um ponto de discussão por Walmir. Ele participou de uma apresentação sobre a iniciativa Rio 60°C durante o Festival 3i.Confira um trecho da apresentação: https://www.youtube.com/watch?v=3emqiFYNsIM
O projeto Rio 60 °C analisa indicadores socioeconômicos, como renda, taxa de analfabetismo e quantidade de moradores por domicílio, a estrutura urbanística da capital fluminense e dados sobre o tema. “A ideia é utilizar esse material como fonte de informação para educação ambiental”, explica Thiago Medaglia.
Apresentação de próximo passos e a continuidade do Rio 60 °C Fonte: Julia Lima
No site, é possível visualizar a cidade do Rio através de mapas interativos que indicam regiões mais suscetíveis a deslizamentos e inundações. Medaglia contou que o número “60°C”, que faz parte do nome do projeto, inicialmente não era esse, mas com a sequência de temperaturas recordes que ultrapassaram sensações térmicas de 40°C, 50 °C, e, mais recentemente 60 °C, atualizou a numeração do projeto.
A cidade registrou o recorde de 62,3°C no dia 17 de março de 2023. É a maior sensação térmica registrada desde 2014, quando o Sistema Alerta Rio começou a fazer a medição.
Mecanismo de monitoramento de chuvas
No site da Defesa Civil do Rio de Janeiro há um manual explicativo sobre deslizamento e alguns sinais que podem identificar se o domicílio oferece algum risco. A prefeitura do Rio disponibiliza em seu site Alerta Rio o monitoramento em tempo real sobre a quantidade de chuva nos bairros da cidade.
Se você mora em um desses municípios – Angra dos Reis/RJ, Blumenau/SC; Cachoeiro de Itapemirim/ES; Gaspar/SC; Indianópolis/MG; Morretes/PR; Muçum/RS; Petrópolis/RJ; Roca Sales/RS; São Sebastião/SP; União da Vitória/PR -, a Anatel notifica por mensagem de texto quando há locais de risco com iminente de desastres sem precisar ter um cadastro prévio na plataforma. A escolha de cidades a ofertar o serviço foi realizada a partir do volume de alertas emitidos em 2023 pela Defesa Civil e desastres recentes de grande impacto.
SERVIÇO
199 – Número da Defesa Civil.
193 – Corpo de Bombeiros.
192 – Ambulância
Em casos de emergência, como solicitação de vistoria, acione esses órgãos.
Festival 3i discute desinformação e os interesses por trás dela
Evento de jornalismo promovido pela Ajor aconteceu neste fim de semana no Rio de Janeiro
Por Everton Victor e Julia Lima
Mesa sobre Desinformação no Festival 3i. Da esquerda para a direita: Ellen Guerra Cerqueira, Talita Bedinelli, Max Resnik, Erick Terena. Foto: Julia Lima
Aquela mensagem alarmista repassada pelo WhatsApp, o corte específico de uma fala e até a manipulação de vídeos feita por IA: a desinformação não surge “do nada” e costuma estar atrelada a interesses econômicos e políticos. Este foi um dos debates centrais da 6° edição do Festival 3i, promovido pela Ajor (Associação de Jornalismo Digital) entre os dias 6 e 8 de junho na Glória, Zona Sul do Rio de Janeiro.
As redes sociais muitas vezes funcionam como grandes potencializadores da desinformação, e a falta de uma regulamentação específica fortalece estes discursos. O movimento anticiência, por exemplo, nega estudos e notícias comprovadamente verdadeiras, manipula informações e chega a colocar em risco a vida das pessoas – impulsionado pelos algoritmos das plataformas. Foi o que apontou a mesa “Construindo vínculos entre jornalismo e comunidades como estratégia de combate à desinformação”, do Festival 3i.
Jornalista fundador do portal “Mídia Indígena”, Erick Terena
Erick Terena, fundador do portal Mídia Indígena, afirma que o jornalismo de território é um mecanismo crucial para combater a desinformação. Para ele, existe uma necessidade de um jornalismo preocupado essencialmente com o espaço onde está localizado, e não restrito ao eixo Rio-São Paulo-Brasília. “A gente não trabalha o jornalismo, a gente vê a comunicação como sobrevivência. Se deixarmos de nos comunicar, pessoas e biomas vão ser impactadas”, afirma.
De acordo com o Instituto Locomotiva, 90% dos brasileiros afirmam ter acreditado em alguma fake news. Uma das ações recentes pelo Judiciário sobre o tema foi durante a eleição presidencial de 2024. O Artigo 9 da Resolução 23.732/24 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) veda a “divulgação ou compartilhamento de fatos notoriamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral”. Apesar da iniciativa, o Brasil não tem uma tipificação para outros contextos de desinformação.
A promoção da desinformação ganha liberdade e espaço nas redes, e a sensação de impunidade fortalece esses fenômenos fora delas. Entre os limites entre ativismo e jornalismo, Erick Terena reforçou no evento o dever de informar e o papel do jornalismo de se contrapor a desinformação. A defesa do meio ambiente, principalmente por conta de sua origem indígena, e o combate às notícias falsas ou manipuladas são ferramentas em que, segundo ele, não existem lados a serem disputados. “Ativismo não é uma profissão, nós fazemos isso há milhares de anos”, afirma.
O Brasil não possui legislação sobre regulamentação das redes sociais, mas discute Projetos de Lei (PL) sobre o tema. Está em tramitação no Congresso Nacional o PL 2338/23, que institui um marco legal com mecanismos e orientações para regulamentar a inteligência artificial no Brasil. Em paralelo, também tramita no Congresso o PL 2.159/21, apelidado “PL da Devastação”. Entre as ações está a flexibilização do licenciamento ambiental, o que pode expandir o desmatamento, de acordo com Greenpeace e outras organizações ambientais.
Ferramentas de checagem cada vez mais necessárias
Com o aumento da desinformação, fez-se necessária a criação de ferramentas e até sites inteiros focados apenas em esclarecer se as mensagens que circulam na internet são verdadeiras ou falsas. O Aos Fatos, criado em julho de 2015, é um dos veículos nascidos com essa proposta, e apresentou um de seus resultados durante o Festival 3i: no projeto Check-Up, a equipe do Aos Fatos pesquisou nove portais de notícias, mapeou anúncios em formato de matérias jornalísticas e concluiu que 90% deles espalham desinformação sobre saúde.
Leonardo Cazes, editor-executivo de Aos Fatos. Foto: Julia Lima
Leonardo Cazes, editor-executivo do site, afirmou que o trabalho demorou cerca de 6 meses. Usando ferramentas específicas, a equipe coletou 242 mil dos chamados anúncios nativos relacionados à saúde – as matérias pagas por anunciantes. Segundo ele, o principal tema é a cura “milagrosa” de doenças como diabetes e dores crônicas – que não têm cura cientificamente comprovada, apenas meios de controle.
O jornalista aponta o uso do argumento de autoridade como o principal fator de convencimento nas desinformações, como falas inventadas do médico Drauzio Varella, e até a atribuição de funções falsas a instituições científicas: “Dizem que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou X remédios, quando na verdade ela só autoriza o uso das coisas”.
Central da COP dá cartão vermelho para a desinformação e defende debate climático no cotidiano
Parceria entre Agenc e Observatório do Clima realizou mesa-redonda na última segunda (2), durante a Semana de Meio Ambiente da Uerj
Por Julia Lima
Da esquerda para a direita: Isvilaine Silva, Ana Carolina Lourenço, Fernanda da Escóssia, Petroleco e Cláudio Ângelo. Foto: Letícia Santana.
A desinformação climática e o desafio de mobilizar a sociedade civil em defesa do planeta foram os temas abordados na “Central da COP: a mesa-redonda do clima”, evento realizado na última segunda-feira (2) na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). A mesa teve a presença dos debatedores Claudio Angelo, Ana Carolina Lourenço e Fernanda da Escóssia, com apresentação de Isvilaine Silva. Parceria entre a Agência de Notícias Científicas da Uerj e do Observatório do Clima, a Central da COP seguiu o modelo das famosas mesas-redondas de futebol, em que um tema é lançado – neste caso, um assunto relacionado à COP30 – e os comentaristas se revezam para dar suas opiniões.
E, como o jornalismo ouve os dois lados, a mesa teve a presença do Petroleco, lobista da indústria do petróleo, que pôde contribuir – ou nem tanto – para o enriquecimento do debate. A mesa discutiu os principais temas da COP30, a Conferência do Clima da ONU que acontece em novembro em Belém, o PL da Devastação, a agressão sofrida pela ministra Marina Silva e a desinformação sobre a mudança do clima.
O jornalista Claudio Angelo, do Observatório do Clima, comentou o episódio de agressão à ministra Marina Silva em audiência no Senado Federal. “Armaram uma arapuca contra a ministra do Meio Ambiente. Mal sabiam eles que ela já era senadora quando eles tomavam Toddynho”, afirmou.
Um dos episódios de desinformação discutidos foi a entrevista de Elon Musk à rede de TV Fox News, em que afirmou que não é necessário criar pânico em torno do assunto, e que todos poderão continuar “comendo seu churrasco”. Com relação a essa fala, Ana Carolina comentou: “Ele afirma que a principal função de nós aqui nessa mesa, o movimento climático global, é tirar o churrasco das pessoas”.
Realizado no auditório 91 da Uerj, o evento reuniu cerca de cem pessoas, entre professores e estudantes de diversos cursos, além de técnicos. Ao final da discussão entre os debatedores, a plateia pôde fazer perguntas e tirar dúvidas sobre a COP30 e o atual cenário ambiental no Brasil e no mundo. O público também participou da mesa a partir de um bingo. Quem completava a cartela com palavras relacionadas ao tema ganhava um álbum de figurinhas exclusivo da Central da COP.
Álbum de figurinhas da Central da COP. Foto: Letícia Santana.
De acordo com Fernanda da Escóssia, professora da Uerj e coordenadora da Agenc, “o clima é um assunto político, mas não é dos políticos”. E é por isso, segundo a jornalista, que é necessário que o tema seja cada vez mais levado para o debate entre membros da sociedade civil. A professora destacou a relevância do jornalismo para combater a desinformação e o negacionismo que costumam acompanhar debates climáticos.
Ana Cláudia Campos, estudante de biomedicina, contou à Agenc, que conhecia pouco sobre a COP, e que foi bom ter uma visão mais detalhada do assunto. “Ter pessoas especializadas falando do assunto e como realmente nos afeta é importante para causar comoção e o sentimento de que devemos lutar pelo nosso planeta”, finaliza.