Mitigação e adaptação climática: entenda dois dos principais conceitos da COP30
Conceitos têm sentidos diferentes e expressam necessidades distintas diante da crise climática
Por: Sofia Inerelli e Maria Luísa Fontes

“Mudo uma planta de lugar.” O gesto eternizado na voz de Cássia Eller nos anos 90 como símbolo de mudança e ajustes ganha um sentido atual no contexto da crise climática. Já não se trata apenas de mudar a planta de lugar – é preciso reconfigurar todo o sistema em que ela cresce. Adaptação climática é um dos conceitos centrais da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que acontece em novembro em Belém do Pará.
A Meta Global de Adaptação às Mudanças Climáticas foi um dos tópicos do Acordo de Paris criado em 2015 na COP 21. A proposta é fortalecer a adaptação para diminuir a vulnerabilidade dos seres vivos diante das mudanças no clima que já estão em andamento. É uma forma de buscar soluções diante de um mundo cada vez mais quente. Significa ajustar a vida humana, animal e vegetal de acordo com as mudanças climáticas atuais ou que ainda irão acontecer. Ela tem a finalidade de reduzir a exposição e a vulnerabilidade dos seres vivos frente aos efeitos do clima intensificados pelos próprios humanos.
Já a mitigação é uma estratégia cujo foco é limitar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) para reduzir o aquecimento global. Ou seja, é o trabalho para reduzir problemas já em andamento.
Para o professor de Ecologia da UFRJ Rodrigo Tardin, nesse momento a mitigação é mais urgente. “Mas, ao mesmo tempo que a gente está fazendo estratégias, unindo esforços para mitigar, a gente também pode ir adaptando”. O pesquisador considera que uma das melhores maneiras de mitigar é através dos manguezais, vegetação comum no Hemisfério Sul, nos quais captam cinco a seis vezes mais carbono que florestas tropicais. Ele ainda aponta que há muito preconceito por parte da sociedade, que enxerga o organismo como poluído – devido ao seu cheiro forte -, o que dificulta a mobilização para proteger esse ecossistema.
Tardin destaca três cenários possíveis para os resultados das estratégias de mitigação climática. O primeiro cenário é descrito como otimista, pois conseguiria de fato reduzir o aumento da temperatura média global a 1,5°C. O cenário intermediário é uma previsão de que, até 2050, a produção dos gases GEE irá crescer mas, a partir desse momento, a sociedade vai mudar seu rumo e começar a reduzir as emissões. E o terceiro cenário apresentado pelo professor é pessimista: “Apesar de todos os esforços que existem, ninguém se mudou, ninguém se tocou para mitigar”. É o mundo em que a sociedade permaneceria em total dependência dos combustíveis fósseis.
Nesse cenário, criar um plano de adaptação climática torna-se extremamente essencial. Segundo o relatório de 2025 da Transparência Internacional-Brasil, apenas um em cada oito municípios brasileiros conta com um plano de adaptação climática. Tardim destaca que na última década, o país enfrentou diversos desequilíbrios ambientais como a invasão do mar na orla da Zona Sul carioca e as enchentes que deixaram dezenas de mortos no Rio Grande do Sul.
As estratégias de adaptação climática devem ocorrer tanto na esfera federal, quanto na estadual e municipal. O programa do governo federal Novo Brasil, que é um Plano de Transformação Ecológicas, divulgou 150 resultados dos 250 propostos desde sua criação em 2023. Dentre eles, destaca-se a construção de usinas eólicas; o Programa Cidades Verdes e Resilientes, que procura aumentar a resiliência e a qualidade ambiental das cidades no combate às mudanças climáticas; o Plano Nacional da Defesa Civil, que apresenta diretrizes para redução de riscos na gestão de desastres naturais; e o Plano Clima, que envolve a redução das emissões de GEE e a adaptação aos impactos das mudanças climáticas.
Entretanto, não cabe somente ao governo pensar nas estratégias de mitigação e adaptação climática. A sociedade também precisa se mobilizar no combate às mudanças no clima. O site do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima criou uma consulta participativa sobre o tema. “O governo tem que estabelecer as diretrizes, ao mesmo tempo que as pessoas têm que dar as opiniões e fazer as ações também”, afirma Tardin.
Adaptação e mitigação são estratégias cruciais rumo a uma mudança sistêmica. Isso vale para tudo: infraestrutura pública, decisões econômicas, políticas sociais. Só assim será possível enfrentar de fato os desafios da emergência climática: transformando o próprio sistema em que ela está inserida.










