FCS – Pensa Pandemia #36 – Karine Hugen

Educação Infantil na pandemia: trabalho diferenciado, individualizado e com o apoio dos pais  

Nesta 36ª edição do FCS pensa a pandemia trouxemos o tema da Educação Infantil. Na entrevista de capa, Fábio Grotz conversou com a mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Débora de Lima do Carmo, que relatou com precisão o impacto da pandemia sobre a primeira etapa de escolarização. Segundo a professora, “as relações entre discentes e docentes adentram as dimensões do cuidar e educar, indissociáveis, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEI -2009)”.  Neste espaço, fomos a outro estágio do universo da educação, o último ano do ensino fundamental. Uma fase de transformações, em que crianças estão prestes a entrar na adolescência e começam a definir seus caminhos. Para entendermos melhor esse processo onde, afora o isolamento social provocado pela pandemia, já se apresenta como um período doloroso, repleto de dúvidas, medos, anseios e transformações, de ordem física e emocional, conversamos com a pedagoga Karine Hugen, professora e diretora de um curso preparatório para concursos de colégios militares, escolas técnicas e para o colégio Pedro II.  

Karine Hugen

FCS pensa a pandemia – Você é pedagoga por formação, professora e dona de um curso preparatório.  Qual o impacto da pandemia na preparação desses alunos?

Karine Hugen – O que pude perceber é que houve pouca interferência. Quem já se dedicava, era empenhado nos estudos, apesar da pandemia trazer algumas dificuldades, continuou se dedicando e se esforçando para alcançar seus objetivos. Mas, com aqueles alunos que sempre precisam de um “empurrãozinho”, ficou mais difícil. Para quem teve interesse, na verdade, as videoaulas gravadas, que fizemos por conta da pandemia, tornaram-se um forte aliado na preparação desses alunos. Destaco que outro ponto forte para quem se dedicou ao concurso foi o fato de que, com o ensino curricular mais fraco (não que fosse muito melhor antes), sobrou mais tempo para se investir na preparação individual.

FPP – O pedagogo é o profissional especialista em educação que associa o aprendizado às questões sociais e à realidade em que o estudante se encontra. Como você e seus alunos têm se adaptado às condições do ensino remoto?

KH – Buscamos investir no que podemos para entregar a melhor aula possível para nossos alunos. Investimos em computador, câmera, microfone, mesa de digitalização e na adaptação do conteúdo, na forma de repassá-lo aos nossos alunos. Em nossas videoaulas, literalmente, desenhamos as questões de Matemática e detalhamos as questões de Língua Portuguesa. Para alguns, está muito melhor. Outros, tiveram alguma dificuldade.

FPP – Em entrevista à esta edição do FCS pensa a pandemia, Débora de Lima do Carmo, mestra em educação, falou sobre o blog do Colégio Pedro II de Realengo usado durante a pandemia para oferecer às crianças “memórias escolares” com fotos e vídeos, entre outros materiais, que ilustravam o cotidiano vivido nos anos anteriores. Sua escola tem como foco crianças com um pouco mais de idade. Quais ferramentas você criou para evitar um distanciamento de seus alunos com uma memória afetiva que eles possam ter construído com o espaço físico da escola?

KH – Em 2020, fazíamos lives uma vez por semana e trazíamos o conteúdo em forma de competição, estimulando a interação. A resposta foi muito positiva. Eles adoravam. Para este ano, já tivemos a possibilidade de algumas aulas presenciais, utilizando 30% da capacidade de uma sala de aula em receber alunos. Por ser aula de curso preparatório, trouxemos uma “pegada” mais descontraída, mais leve, para as aulas presenciais. Deixamos também os conteúdos online mais interativos, com uma plataforma que possibilita a conversa entre os participantes. 

FPP – As aulas presenciais são também espaços de convivência, onde relações afetivas são construídas, algumas chegando a se perpetuar por toda a vida. São também espaços onde as crianças aprendem a “negociar” espaços, estabelecer limites, a conviver e como se posicionar em relação ao outro. O que pode ser feito para amenizar esse processo durante um longo período de isolamento da convivência escolar?

KH – Boa pergunta! Sinceramente, ainda não consegui pensar uma forma de amenizar essas perdas. Acredito que nem exista. Penso que talvez tenhamos que, pelo menos por enquanto, substituir essas relações que tínhamos em ambientes como a escola e o trabalho por novas relações, como essas que tivemos que adaptar no ambiente de casa. Pois também tivemos que aprender, “na marra”, a trazer o trabalho para dentro de casa e administrar essa relação com a vida doméstica. Em casa, estamos todos juntos, agora, 24 horas por dia, dividindo o mesmo espaço. São novas formas de relação que se constroem também.


FPP –
No seu caso particular, em sua maioria, seus alunos são crianças que estão fazendo a transição para a adolescência. Existe uma transformação natural desses alunos que causa alguma tensão. Somada à pressão de estar num curso preparatório para concursos, acrescidos os medos e as incertezas provocados pela pandemia. Como você enxerga o trabalho do pedagogo nesse cenário?

KH – Pressão em concurso sempre vai existir. É um novo cenário, tudo é ainda muito novo. Em 2020, trabalhamos de uma forma. Já em 2021, de outra. Em relação ao ano passado, apesar de todas as dificuldades, muitos alunos atingiram seus objetivos. O que posso dizer é que os alunos que alcançaram suas vitórias foram aqueles que não apenas mais se dedicaram aos estudos, mas também aqueles que mais buscaram por uma orientação minha (da professora), e contaram com o apoio dos pais. Isso faz toda a diferença, seja qual for o cenário. Sempre fez e sempre fará muita diferença!!!

 


FPP –
Mesmo antes da pandemia, quando se falava em ensino à distância (EAD), havia uma preocupação com as formas e a qualidade da mediação pedagógica que se estabelece entre os estudantes e o tutor ou mediador.  Que tipo de adaptação foi possível realizar para não desamparar essas crianças e seus familiares num momento tão complicado? 

KH – Não posso dizer que houve muita mudança em relação ao meu trabalho. Sempre acompanhei meus alunos de forma muito próxima, de forma diferenciada e individualizada, entendendo que cada aluno é uma criança com suas dificuldades próprias. Então, já trabalho de forma muito próxima aos pais e alunos. Desde o ano passado me coloquei à disposição 24 horas por dia, 7 dias da semana. Passei meu número de celular, fui professora, pedagoga, psicóloga…enfim. Nessa condição de pandemia, sempre estive à disposição. Este ano, com a volta das aulas presenciais, mesmo que de forma reduzida, está mais tranquilo para esse apoio tão essencial. 

 

Por Henrique Biscardi