FCS – Pensa Pandemia #36 – Moisés Vieira e Daniel Costa

Pais relatam demandas dos filhos para dar seguimento aos estudos durante a pandemia  

Quem nunca desejou, ao menos uma vez, ser criança para não ter que lidar com as asperezas da vida adulta, não é mesmo? Esse mundo livre de problemas, no entanto, pode ser apenas mais uma das ilusões que nós, adultos, alimentamos para não termos que ver nossos filhos e netos crescerem. E, talvez, a pandemia tenha escancarado isso. Conforme ressalta a entrevistada principal desta edição do FCS pensa a pandemia e mestra em Educação Débora de Lima do Carmo, desde que o coronavírus se tornou um problema global, os pequenos têm que lidar com inúmeras inseguranças por causa das transformações do ensino remoto e das restrições variadas na vida cotidiana. Por isso, queremos saber dos pais como as crianças se adaptaram e lidaram com a pressão para continuar os estudos neste momento atípico. Moisés Vieira, de 43 anos, é empregado público e tem uma filha de 10 anos, a Maytê, cuja escola rapidamente se deslocou para o modelo online. Já Daniel Costa, de 23 anos, é supervisor de pós-vendas e pai do pequeno Antônio, de três, que apresentou dificuldades no período longe da escola.

Moisés Vieira (à esquerda) e Daniel Costa

FCS pensa a pandemia — Como foi a reação do(a) seu(a) filho(a) ao saber que não poderia mais ir para a escola presencialmente?

 Moisés Vieira — No início, a pior possível, porque é um giro de 180º graus na cabeça da criança. Com apenas 9 anos de idade na época, minha filha, como outras crianças, teve que encarar essa mudança radical. Já havia toda uma rotina, a criança já sabia o que fazer, que horas acordar… e tinha o convívio com os amigos. Então, mudou todo o ambiente escolar. Ela passou 2020 inteiro sem poder estar com os colegas, com a professora e sem acessar as instalações da escola.

 

Daniel Costa — Meu filho ficou bem triste, ele gosta bastante de ir pra escola, ver os amiguinhos e de toda a interação. Então, ele ficou bem triste.

Fpp — E a escola forneceu aulas online? A criança conseguiu/consegue acompanhar as aulas? Você notou alguma mudança no comportamento ou na capacidade cognitiva?

MV — Sim, desde o início da pandemia. O desempenho da minha filha, mesmo no ensino remoto, não nos decepcionou, as notas continuaram boas. Ela se esforçou ao máximo, mesmo nem sempre querendo assistir às aulas — porque ter que ficar sentado na frente de um computador não é a mesma coisa que estar numa sala de aula. Como eu disse, inicialmente, ela não havia se adaptado a essa nova modalidade, então houve, sim, algumas alterações no comportamento. Tal qual um adulto, tinha dias em que ela ficava irritada. Ficar duas horas e mais sem parar, sentada em frente ao computador, com câmera e microfones controlados pelos professores… às vezes, você vai fiscalizar, e a criança está deitada ou brincando. Uma série de coisas foi modificada, inclusive, a questão da saúde — porque, na escola, tinha um tempo dedicado às atividades físicas e podia correr, brincar. Em casa, isso mudou. Então, ela teve algumas alterações nas taxas, ficou um pouco acima do peso, mas, felizmente, conseguimos controlar. Tentamos orientar da melhor maneira possível e, apesar das mudanças comportamentais, a capacidade dela de absorver o conhecimento não mudou.

DC — Bem, a professora mandava trabalhos pelo e-mail, mas era pouca coisa. Não chegou a ter aulas online. Eu, particularmente, percebi que ele diminuiu o progresso que estava tendo em relação à fala.

 

Fpp — Você e/ou outros responsáveis precisaram/precisam fornecer algum apoio, seja financeiro, educativo ou emocional? Isso gerou/gera alguma sobrecarga? Como sua vida e seu cotidiano foram afetados pela transformação da casa em ambiente escolar?

 MV — Já se foi um ano e alguns meses de pandemia e, até o dia de hoje, precisamos fornecer algum apoio emocional. Na escola da minha filha, o ensino está híbrido e, quando ela fica em casa, é uma dificuldade muito grande para acordar. No presencial, ela arruma o material no dia anterior, levanta no horário certo e quer sair de casa o quanto antes. Já em casa, costuma acordar entre cinco e dez minutos antes da aula, costuma entrar um pouco atrasada… e tem a questão do café. Quase todo dia, ela toma café no horário da aula. Então, a gente precisa dar um apoio nesse sentido, além de um auxílio nas atividades. Quando se está com a professora, é uma coisa. Quando se está com os pais, que não são da área da educação, dificulta, porque a gente precisa ensinar de uma forma que não entrará em conflito com o método da professora. Sobre a questão financeira, tivemos uns computadores que não funcionavam bem no início, ela teve que aprender a utilizar, mas conseguimos nos adaptar. E, por fim, o cotidiano da família toda muda, porque o trabalho dos pais também é remoto, tem que haver um revezamento de computadores. Mas a gente vai vencendo uma batalha por dia, esperando que as coisas se normalizem para que ela possa estar na escola durante todos os dias letivos.

DC — Com certeza! Com ele em casa o tempo todo, tivemos que suprir a atenção que a escola fornece, e ele, bem ou mal, sentiu falta disso.

 

Fpp — Agora, muitas escolas estão retomando as atividades presenciais. A escola do(a) seu(a) filho(a) também retornou? Qual foi a reação dele(a) ao saber que poderia ver pessoalmente os amigos e professores?

 MV — Sim, como eu disse, está em ensino híbrido, ela vai uma semana e fica em casa na outra. A reação dela foi ótima quando soube que estaria na escola e veria os amigos. Mas, quando soube que seria híbrido… na sexta-feira de aula presencial, ela já retorna para casa irritada. Aí, entra novamente o trabalho emocional. Temos que preparar a mente e o coração dela para a semana seguinte.

DC — Sim, ele retornou sim! Ficou muito feliz! Ele já está melhorando a questão da dicção!

 

Fpp — Ainda sobre a pergunta acima, você considera que a escola esteja seguindo devidamente os protocolos sanitários? Como eles estão sendo transmitidos à criança? Ela comenta algo sobre?

MV — Sim, a escola é bem adaptada, tem os acessos, o distanciamento, a higiene — quando as crianças chegam, tem aquele tapete higienizador, as mochilas são higienizadas também — e as crianças não podem nem se tocar, tem que manter uma distância adequada e sempre há pessoas para fiscalizar. A própria divisão entre semanas impede a aglomeração, porque duas turmas do mesmo ano vão em semanas alternadas, e os horários de entrada, saída e recreio também foram adaptados para cada turma. Antes do retorno, a escola fez uma reunião online para que os pais pudessem expor o porquê de seus filhos retornarem ou não à escola. Nós ficamos com a missão de transmitir as informações às crianças, além de terem sido reforçadas em sala. Inclusive, minha filha sempre comenta que o distanciamento faz com que ela tenha que falar mais alto, e a professora sempre reclama [risos]. Na hora do recreio, ela diz que também não pode dividir a merenda com o amigo — quando pensa em dividir, já aparece alguém dizendo “olha, não podem dividir o lanche. Não podem se tocar. Não podem se abraçar.” De tudo isso ela reclama, mas foi bem mais tranquilo para superar do que o fato de não poder estar na escola. A preocupação com a parte sanitária é tanta que a escola deixa de se atentar a outras questões, como o excesso de tarefas de casa. A criança também não tem tanta oportunidade de falar, principalmente, no online. Mas nós seguimos para vencer mais este ano de 2021, aguardando que, no segundo semestre, as aulas voltem 100% presencial.

DC — Sim, eu visitei o colégio e notei que está tudo certinho na questão da limpeza da sala, no uso do álcool em gel, no incentivo a lavar as mãos e na obrigatoriedade de máscara infantil. Então, acredito que eles estejam bem preparados.

 

Por: Fernanda Vitória e Sarah Barros