A Faculdade de Comunicação Social (FCS) da UERJ é reconhecida pela excelência em seus cursos e pela formação de profissionais críticos e éticos. Destaca-se como a única universidade pública do Rio a oferecer Relações Públicas e tem um prestigiado curso de Jornalismo, com egressos amplamente recomendados no mercado.
Escola Maria Felipa promove educação afro-brasileira
Conheça a primeira escola afro-brasileira do país
Por: Alice Moraes e Thaísa de Souza
Fachada da Escola Maria Felipa. Foto: Alice Moraes.
Com intenção de construir uma educação igualitária que valorize as raízes africanas da história e cultura brasileira, a Escola Maria Felipa está começando no Rio de Janeiro. Localizada no Boulevard 28 de setembro, em Vila Isabel, e tendo sede nacional na Bahia, a escola propõe uma educação que une conhecimento, cultura e inclusão.
A Escola Maria Felipa surgiu em 2017, na Bahia, a partir de um projeto idealizado por Bárbara Carine. Sendo uma mãe preta, sua ideia era um colégio que atendesse a sua filha e que valorizasse a ancestralidade africana. Em Salvador, a instituição se localiza na rua ComendadorJosé Álvares Ferreira, número 60. A oportunidade de trazê-la para o Rio de Janeiro aconteceu em 2024 e as aulas tiveram início neste ano de 2025.
Segundo informações contidas no site oficial da Escola Maria Felipa, um dos seus papéis é construir uma educação que amplie o conhecimento da constituição histórica a partir de outras narrativas, quebrando o modelo eurocêntrico de ensino. Para a pedagoga e diretora da unidade carioca, Maíra Costa, de 30 anos, isso significa pensar numa proposta pedagógica inclusiva e decolonial.
Parte interna da Escola Maria Felipa. Foto: Alice Moraes.
Com currículo estruturado com base nas Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, essas perspectivas recebem um foco especial, que criam um espaço onde crianças negras, pardas e indígenas possam se ver representadas e desenvolver um senso de autoestima desde cedo.
Na prática, isso se traduz em uma vivência escolar que inclui brincadeiras africanas (como a tradicional “mamba”, uma versão sul-africana de pega-pega), aulas de música, capoeira, português, inglês e Libras. Tudo a partir de uma perspectiva antirracista e integradora. A valorização do ensino da língua inglesa em Maria Felipa traz uma ruptura no pensamento de que apenas o europeu fala inglês. Muitos países do continente africano também falam o idioma. Por isso, o educandário assumiu o papel de trazer esse viés.
Além disso, a sede em Salvador oferece projetos como a Afrotech, uma feira de ciência africana e afrodiaspórica, e a Decolônia de Férias. A diretora Maíra acrescentou: “Eu sempre penso na escola como uma escola que eu nunca tive. Nós estamos construindo uma que não tivemos, e que desejamos que nossas crianças tenham, que os que estão por vir consigam ter esse lugar de exercer toda a sua potencialidade”.
Ainda no seu primeiro ano de funcionamento, a instituição oferece apenas três turmas da Educação Infantil, todas nomeadas a partir de impérios africanos e indígenas. “Temos a turma que se chama Reino de Daomé, a turma Império Inca e a turma Reino do Mali”, listou a diretora. De acordo com ela, está prevista para 2026 uma expansão para o Ensino Fundamental. Essa será uma etapa importante no crescimento e consolidação da escola, que pretende formar cidadãos conscientes e conectados com suas raízes.
Arte na sala da turma Império Inca. Foto: Thaísa de Souza.
Um dos principais desafios enfrentados em Maria Felipa é o combate ao racismo epistêmico — aquele que nega ou desvaloriza saberes que não se enquadram dentro do padrão eurocêntrico. “A gente está nesse lugar de desmistificar, de entender que, tudo bem, a Europa fez coisas. Mas outros países, outros continentes tiveram feitos importantes também”, enfatiza a diretora.
“A gente sai desse lugar de trazer uma história única. Nós trazemos a perspectiva dos povos africanos, que foram os povos que trouxeram uma potencialidade, entende?”, continua ela. A proposta da Escola Maria Felipa é, então, oferecer uma educação que reconheça a pluralidade de saberes, práticas e culturas.
Outro ponto é a desmistificação estética e cultural da proposta. O lugar não é voltado exclusivamente para crianças negras. “Tem esse imaginário de que aqui é uma escola apenas para crianças pretas. Não é. É uma escola para todas as crianças, rompendo com esse lugar colonizador e violento, que foi construído e nos foi dado sem questionar”, diz Maíra. A escola atua também na construção da autoestima dos alunos negros desde a primeira infância. Isso incentiva as crianças a se reconhecerem como belas, potentes e protagonistas da própria história.
A Escola Maria Felipa é, portanto, um projeto de futuro que nasce do passado: resgata memórias, honra ancestralidades e projeta um novo modelo de educação para o país. Para mais informações sobre a escola, o contato pode ser feito pelo celular (21) 99959-3032 ou pelo instagram da instituição @escolamariafelipa.
Em encontro de representantes financeiros dos países emergentes, sociedade civil cobra políticas de habitação e apoio à população em situação de rua
Por Everton Victor e Julia Lima
Encontro da Trilha de Finanças dos BRICS com a sociedade civil no Rio de Janeiro. Foto: Everton Victor
Para apresentar as principais prioridades da presidência brasileira nos BRICS, a Trilha de Finanças realizou um encontro com a sociedade civil no dia 24 de março no Rio de Janeiro. Entre as propostas apresentadas à população está um maior investimento em fundos climáticos e a coordenação de reformas do sistema monetário e financeiro internacional.
Na análise da professora Ana Garcia, pesquisadora do Brics Policy Center, as negociações dos BRICS historicamente são restritas aos países-membros, com pouco espaço para a participação social. De acordo com ela, esta realidade vem mudando nos últimos anos com mecanismos de participação social. “Com o retorno da presidência para o Brasil, tendo em vista a experiência com o G20 Social, o governo brasileiro está mais aberto a criar espaços de informação. A participação da sociedade civil está mais frequente, com espaços para transparência e informação de demandas, pautas e lutas sociais”.
Ana Garcia, pesquisadora do Brics Policy Center. Foto: Everton Victor
É a quarta vez que o Brasil assume a presidência do BRICS desde sua criação, em 2001. O grupo reúne África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Irã e Rússia integram o foro como países membros. Outras nações participam do agrupamento como convidados e parceiros, cujos representantes também participam da Cúpula dos BRICS em julho deste ano, no Rio de Janeiro.
O BRICS se divide em diferentes trilhas que discutem múltiplos temas de interesses das economias emergentes, como trabalho, inteligência artificial, reforma da governança global e enfrentamento às Mudanças Climáticas. Este ano estão previstas mais de 100 reuniões envolvendo representantes dos países-membros.
De acordo com a pesquisadora, o encontro promovido pela Trilha de Finanças com a sociedade civil no Rio representa uma aproximação do que os países membros discutem com suas populações. Uma das prioridades apresentadas no evento foi realizar reformas do sistema monetário e financeiro internacional, além de facilitar o comércio e os investimentos entre países BRICS. A ideia é impulsionar as negociações entre os integrantes do bloco, com transações que poderiam ser feitas com as moedas dos países membros, o que pode representar uma menor dependência em relação ao dólar.
Nos debates iniciais, a Trilha explicou a intenção de expandir o NBD (sigla), um dos principais bancos de desenvolvimento do Sul Global. O banco é responsável por financiar projetos de infraestrutura em diferentes países. E, durante o encontro com a sociedade, uma das metas previstas é a adesão de novos membros do NBD. Avançar em diálogos sobre temas alfandegários e parcerias público-privadas também são alguns objetivos da trilha.
Flávio Lino, secretário-executivo do Movimento Nacional de População em Situação de Rua. Foto: Julia Lima
Flávio Lino, secretário-executivo do Movimento Nacional de População em Situação de Rua (MNPSR), alertou que é preciso que a aproximação com a sociedade civil se converta em políticas públicas. “Estar ocupando este espaço é trazer as nossas experiências, esperanças e expectativas de que políticas internacionais de desenvolvimento cheguem à população em situação de rua”.
De acordo com o levantamento do Participa + Brasil de 2022, são mais de 4,5 milhões de pessoas em situação de rua nos países fundadores dos BRICS (África do Sul, Brasil, China, Rússia e Índia). “O BRICS trata desenvolvimento, mas desenvolvimento sem pessoas não é a mesma coisa”, afirma o secretário.
Lino coordenou o subgrupo para a População em Situação de Rua durante o G20 Social no ano passado. O secretário adiantou à Agenc que o movimento está elaborando um documento com sugestões a serem entregues para a Trilha de Finanças dos BRICS. Entre as possíveis propostas está a criação de um fundo internacional de habitação e assistência social.
A missão do Brasil não estará restrita apenas à coordenação deste agrupamento. A COP30 acontece este ano em Belém do Pará. O Brasil tem procurado pautar nos BRICs discussões sobre a questão ambiental e caminhos para uma economia mais sustentável. Taxonomias verdes, finanças mistas e transição energética são algumas introduzidas no agrupamento pela presidência brasileira. O alinhamento ambiental pode ser um grande desafio de alinhamento com os países BRICS, segundo a pesquisadora do Policy Brics Center.
Evento terá abertura oficial no dia 24, na Capela Ecumênica da Uerj
Por Alice Moraes
Imagem: usm.uerj.br
A 33ª edição do Uerj Sem Muros (USM) já tem data marcada e ocorrerá na semana do dia 24 ao dia 28 de março. O evento oferece interação com a comunidade externa, o que proporciona aos moradores do Rio de Janeiro uma oportunidade de conhecer os projetos desenvolvidos pelos professores, funcionários e estudantes da Uerj. As apresentações serão realizadas em diferentes locais da Universidade, entre eles o corredor da Concha Acústica e o bloco F do primeiro andar.
Originalmente, a 33ª edição do evento estava prevista para ocorrer em setembro de 2024. Mas, precisou ser adiada por conta da greve estudantil. O tema dessa edição será “Democracia, sustentabilidade e Justiça Social”, já que a USM está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo informações contidas no site oficial do evento.
As propostas dos ODSs podem ser consultadas no site Nações Unidas Brasil. Entre elas, destacam-se: ações com apelo para acabar com a pobreza, proporcionar proteção do meio ambiente e dapaz e prosperidade às pessoas de todos os lugares.
A participação da comunidade da Uerj é fundamental no evento, assim como a presença do público externo para prestigiar as atividades desenvolvidas pelo corpo docente, técnico e discente da Universidade. Confira as apresentações que serão realizadas:
22ª Semana de Graduação
O objetivo é divulgar e avaliar as vivências de aprendizado dos estudantes da Uerj. As ações proporcionarão interação com a comunidade externa e contará com uma atividade de recepção na qual alunos de ensino médio, oriundos de escolas públicas, visitarão o CampusFrancisco Negrão de Lima e conhecerão os cursos da graduação.
Ocorrerá de terça-feira (25) a sexta-feira (28), na parte da manhã a partir das 9h30 às 12h30 e àtarde, de 13h30 às 16h30.
33ª Semana de Iniciação Científica
Nesse evento, os bolsistas de Iniciação Científica apresentarão seus trabalhos. A programação ocorrerá na quarta-feira (26) e na sexta-feira (28). Na parte da manhã acontecerá a partir das 9h30 às 12h30 e, durante a tarde, de 13h30 às 16h30.
26ª Mostra de Extensão
A Mostra de Extensão tem como objetivo apresentar as produções e ações dos projetos de extensão e cultura. Terá diferentes formas de apresentação, como pôsteres, Feira de Prestação de Serviços, Espaço Ciência e Evento Cultural. As atividades culturais englobam canto, dança, apresentação teatral, exposições de obras de arte, entre outras.
A Mostra ocorrerá na segunda-feira (24) e na quinta-feira (27), no turno da manhã, de 9h30 até 13h30 e, na parte da tarde, de 13h30 às 16h30. A abertura oficial do USM ocorrerá no dia 24, às 17h, na Capela Ecumênica.
Para mais informações sobre a programação e as atividades do Uerj Sem Muros, acesse o site usm.uerj.br ou o Instagram oficial: @uerjsemmuros.
Caravana da Coca-Cola chega ao Rio e passará pela Grande Tijuca
Por Alice Moraes
Imagem: G1 – Lening Abdala/Divulgação
Faltando poucos dias para o Natal, as ruas dos bairros da Grande Tijuca já estão bastante movimentadas, e uma das atrações natalinas da região será a Caravana de Natal da Coca-Cola.O site oficial da empresadisponibilizou o itinerário da Caravana no estado do Rio de Janeiro. Um dos destinos é a Grande Tijuca, onde a Caravana passará nestasexta, dia 13, começando às 19h.
Os desfiles natalinos no Brasil percorrerão aproximadamente 50 cidades em 15 estados. A Caravana, nesteano, se iniciou dia 27 de outubro, em Crato (CE), e está prevista para finalizar no dia 22 de dezembro, em Natal (RN).
Além de oferecer lazer para a população, o evento garante diversão para as crianças, oferecendo interação com o Papai Noel. Com a intenção de promover o espírito natalino entre as famílias, os veículos iluminados e enfeitados são uma oportunidade para o morador da Grande Tijuca tirar belas fotos para serem exibidas nas redes sociais.
A partir das 19h destasexta (13), a Caravana de Natal passará pelos seguintes pontos de referência: Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Essa é a parte 1 da Caravana na Grande Tijuca. A parte 2, no mesmo dia, terá os mesmos pontos de referência, mas o trajeto ocorrerá em ruas diferentes.
Confira as ruas do primeiro trajeto, desde o ponto de início até a última parada: Rua Mariz e Barros, Rua Almirante Cochrane, Rua Santo Afonso, Rua Major Ávila, Avenida Maracanã, Rua Barão de Mesquita, Rua Agostinho Menezes, Rua Maxwell, Rua Teodoro da Silva, Boulevard 28 de Setembro, Rua Barão de Cotegipe, Rua Mendes Tavares, Rua Barão de São Francisco e Rua Barão de Mesquita, onde a caravana se despede da população no primeiro percurso.
Peça usa mito de Sherazade para falar de violência contra mulher
Em cartaz no Teatro Municipal Ziembinski, na Tijuca, a adaptação do livro da escritora Libanesa Joumana Haddad critica uma das personagens mais famosas da literatura oriental
Por Vinicius Rodrigues
Poster de divulgação da peça Eu Matei Sherazade. Foto: Instagram Teatro Municipal Ziembinski
No último dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, foi divulgado que uma mulher é morta por feminicídio a cada 10 minutos no mundo. Em meio a este cenário, uma peça de teatro tem chamado a atenção para este grave problema enfrentado pelas mulheres: “Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria”.
A peça é a adaptação livre do livro de Joumana Haddad em solo brasileiro, idealizada e protagonizada pela atriz Carol Chalita, com direção de Miwa Yanagizawa e trilha sonora original de Beto Lemos. O monólogo aproxima a realidade da mulher árabe da mulher brasileira, e está em cartaz até 15 de dezembro no Teatro Municipal Ziembinski, próximo à estação de metrô São Francisco Xavier, na Tijuca, Zona Norte do Rio, às sextas, 20h, e aos sábados e domingos, às 19h. Os ingressos custam entre R$25 e R$50, e podem ser comprados na bilheteria do teatro ou online no site Teatro Municipal Ziembinski
A peça tem valor promocional para estudantes e servidores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj): R$20, na bilheteria do teatro, só é necessário informar que veio pela Uerj.
O conto clássico árabe As Mil e uma noites, muito famoso no Oriente Médio, conta a história de um rei que foi traído por uma de suas esposas, e como punição, a mata. Além disso, rancoroso pela traição, ele passa a se casar com moças virgens do seu reino e matá-las ao amanhecer, como forma de vingança. Então, entra Sherazade, a moça que irá quebrar esta corrente de violência contra as mulheres. Ela casa-se com o rei assassino, e para evitar ser morta, passa a contar histórias a ele, e as interrompe antes do amanhecer, tática que se estica por mil e uma noites. Dessa forma, Sherazade consegue fazer o assassino se afeiçoar a ela, que desfaz o rito das mortes e salva as mulheres do reino.
A personagem Sherazade foi cultuada como uma figura de força feminina por tempos ao redor do mundo, algo que a escritora, ativista e jornalista libanesa Joumana Haddad discorda, e critica em seu livro Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria, que visa desmistificar esta
personagem clássica, através do olhar de uma mulher no mundo árabe, em que a morte de Sherazade simboliza o fim da submissão das mulheres diante do patriarcado.
O Notícias da Vila conversou com a atriz Carol Chalita sobre a adaptação da obra e a sua importância no Brasil:
Qual a importância da peça Eu Matei Sherazade no Brasil?
É entender que a relação da mulher e da formação do feminino independe de qualquer cultura, pois a cultura patriarcal é globalizada. Então, trazer o texto de uma mulher árabe, libanesa, que carrega em si um monte de preconceitos em ser uma mulher árabe, como se a mulher árabe não tivesse uma objetividade ou liberdade, não tivesse nenhum tipo de revolta sobre a cultura patriarcal opressora, já é um erro. E trazer esse texto para o Brasil significa aproximar a realidade da mulher árabe para a da mulher brasileira, e dizer que os problemas de lá são os mesmo daqui. É alarmante que o Brasil é o quarto país em feminicídios do mundo, e se aproxima do Afeganistão com a lei antiaborto que os políticos querem aprovar. Logo, a verdade é aproximar as realidades e questionar, desvelar os véus da sociedade brasileira sobre o problema crônico que é a violência contra as mulheres no Brasil.
Como foi adaptar o livro Eu Matei Sherazade para teatro? Houve muitas mudanças para o contexto brasileiro?
Na verdade, a gente selecionou o que fazia sentido para mim, como artista, o que eu queria, o que eu tinha desejo de falar, e eram muitas coisas. A gente se surpreendeu muito como se aproxima da nossa realidade, de ser mulher no Brasil. A gente acrescentou o mito de Sherazade, inicialmente na peça, que não está no livro da Joumana, para poder mostrar quem é ela, e do maior arquétipo feminista árabe, que, na verdade a Joumana oferece um novo olhar sobre arquétipo, que, na verdade, ela não subverte a lógica da submissão, mas com seus dotes e inteligência, ela ainda precisa subornar o homem com as suas histórias intermináveis das mil e uma noites para sobreviver. Então, ela não pode viver a vida que ela escolheu ser, ela ainda está presa como subalterna de um homem. Logo, nós colocamos esse mito inicial para poder mostrar o quão não queremos negociar nenhum tipo de liberdade, nenhum tipo de vontade, pois isso é uma sobrevida. A mulher não tem que agradar um homem para ela sentir que está salva. Ela não tem que dar para ele nada do que a gente tem que ele queira para se sentir segura. A gente tem que se sentir segura por simplesmente se existir mulher. A questão de matar Sherazade é que não queremos mais esse arquétipo de subornar um homem para sobreviver. Não temos que subornar ninguém para sobreviver. Nós temos que simplesmente existir.
Para você, como atriz, houve algum desafio para fazer esta peça no Brasil?
É um projeto que tem 11 anos que ele foi concebido e idealizado, que só agora, depois desses 11 anos, eu consegui fazer sem patrocínio, sem nada, a não ser na pandemia, que conseguimos fazer um experimento online pela lei Aldir Blanc. Mas as empresas não têm muito interesse em falar sobre a liberdade feminina. Até mesmo as empresas com bandeiras sobre o feminismo, eu senti uma resistência. Até porque, nós trazemos uma árabe falando de uma forma crua e sem pudor, e colocando o dedo em feridas muito nevrálgicas da nossa sociedade brasileira, ela escancara uma hipocrisia brasileira, apesar de estar falando da realidade árabe, que muitas empresas não tinham o interesse no tema. A liberdade feminina ainda é um tabu, a liberdade sexual feminina, a liberdade de mulheres no poder, de liderança feminina ainda tem uma força muito oposta para que a gente fique no apagamento. Existe um medo muito grande de mulheres estarem em liderança, pois nós temos muito poder. E isso assusta os homens. A gente lida agora com uma sociedade na minha cabeça que é o tempo das Valkírias: são mulheres independentes, mulheres que têm sua vida, sua vida financeira, sua liberdade sexual e é por isso que o feminicídio tem aumentado tanto. Os homens não estão sabendo lidar com a liberdade feminina. Logo, eu acho que vivemos os tempos das Valkírias, e essa repreensão violenta sobre os nossos corpos têm tudo a ver com a gente estar aumentando o nosso espaço de liberdade.
Recentemente, na Câmara de deputados, foi aprovada uma PEC que pode acabar com o aborto legal no Brasil. Diante disso, qual o papel da arte, da peça, para debater e ajudar a compreender as necessidades e direitos das mulheres no país?
Essa PEC que estão tentando aprovar só reforça essa cultura patriarcal opressora e assassina que está se sentindo ameaçada, e eles precisam ter poder sobre os nossos corpos, e o aborto é uma das formas. Eu acho que a Joumana Haddad deixa um legado para nós no Brasil: ela foi eleita pelo voto direto para exercer um cargo no parlamento libanês e os homens não deixaram ela exercer o cargo. E ela manteve a força de resistência. Então, ela criou um programa, ela não para de escrever, ela não para de falar sobre o assunto, e ela disse: “me perguntam muitas vezes porque eu continuo escrevendo livros? Será que isso tem eficácia?. Quanto mais eu escrevo, quanto mais eu falo, maior poder eu tenho de entrar na mentalidade das pessoas”. Logo, esse é o nosso papel na arte, a gente combater de forma lúdica, trazendo sempre polêmicas e tirando do conforto a nossa realidade. Cada vez mais fazer essa peça, a gente está levantando essa bandeira de conscientização para homens e mulheres dos nossos deveres, e ressignificar os padrões de relação. Pois, os padrões de relação que estão aí não funcionam, são padrões assassinos. Então, nós trazemos através da arte uma provocação que fique dentro de cada um que assistir à peça, uma possibilidade de refazer seus pactos dentro do seu ambiente, seja na sua casa, na sua família ou no seu trabalho.
Como você espera que o público saia após assistir à peça Eu Matei Sherazade?
O que eu espero já está acontecendo, pois as pessoas estão saindo arrebatadas da peça, elas estão repensando suas vidas, elas repensam seus relacionamentos, tanto homens, quanto mulheres sobre como essa formação patriarcal tem sido nociva para gente construir o imaginário social de que homens e mulheres tenham equidade de gênero, que tenham direitos parecidos, direitos que não oprimam uns aos outros, mas que sejam complementares, que sejam uma troca, que sejam uma relação absolutamente frutífera que some, não que elimine um para o outro existir. O que a gente vê, na verdade, a violência doméstica não só fere a mulher que é vítima, mas toda uma família, toda uma sociedade, e inclusive os serviços de saúde, pois é uma destruição em massa. Imagina o psicológico de uma criança que vê o pai assassinando a mãe. Enfim, eu acho que a peça traz à tona esse lugar, essa construção, essa mentalidade patriarcal que precisa ser absolutamente desconstruída e revista. E o lugar da mulher onde ela tenha coragem de querer ser o que ela quiser ser na hora que ela quiser e quando ela quiser. É um estado de impermanência, ela pode ser tudo o que ela quiser na hora que ela quiser, ela pode mudar completamente da água para o vinho quando ela quiser. É um lugar de estado de liberdade mesmo. Eu espero que a peça provoque isso, e ela está provocando, e mais do que isso. Que a gente fique em cartaz por muitos anos, para estar trazendo esse tipo de discussão, e pensar de que forma nós influenciamos as próximas gerações, para que daqui a alguns anos, a gente não precise fazer essa peça, que sejam novas discussões. É isso que eu espero. Que o público cada vez vá mais ao teatro, ampliando cada vez mais as possibilidades de transformações em suas vidas.
Saúde mental em foco: especialista explica importância do cuidado
Atendimentos gratuitos são oferecidos pelo Serviço de Psicologia Aplicada da Uerj.
Por Alice Moraes
Imagem: Blog AmorSaúde
De acordo com o Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, 68% dos brasileiros relatam sentimentos de nervosismo, ansiedade e tensão. A pesquisa, divulgada em junho deste ano, também mostrou que 55,8% das pessoas não buscam ajuda profissional.
A pesquisa “Panorama da Saúde Mental” foi realizada com intuito de mostrar dados para chamar atençãosobre a saúde mental da população brasileira. Ela foi feita de forma representativa: 3.266 pessoas foram ouvidas entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. Esses participantes são brasileiros acima de 16 anos e moradores das cinco regiões do país. Os autores do estudo reforçam que é importante ampliar práticas de prevenção e promoção de saúde mental para a população em geral.
O psicólogo clínico Pedro Casarim apontou quais são os sinais de problemas na saúde mental: “O sinal mais claro de que algo não está legal na saúde mental é quando isso compromete as tarefas do cotidiano”. Ou seja, a pessoa não tem mais interesse em atividades que a interessava antes.
Além disso, a pessoa tende a ficar mais isolada, afastada dos ambientes sociais. “Esses são indícios muito fortes de que a depressão pode estar acontecendo”, pontua o psicólogo. Quando algo começa a incomodar, “já é motivo para procurar tanto um médico clínico geral quanto um psicólogo”, ele alerta.
Qual a importância de cuidar da saúde mental?
Segundo o especialista, muitos indivíduos tendem a cuidar mais da saúde física, negligenciando a saúde mental. A qualidade de vida, na verdade, se baseia em tratar tanto da saúde física quanto da saúde mental. Sobre isso, o psicólogo orientou: “A saúde física e a mental andam lado a lado. Eu vejo que ainda existe esse estigma com relação à saúde mental, mas, depois da pandemia, tivemos um aspecto positivo: as pessoas passaram a enxergar a saúde mental da maneira que ela precisa ser enxergada”.
Segundo Pedro, a resistência em cuidar da saúde mental pode vir não só por influência alheia, mas também por pensamentos da própria pessoa. “Se a pessoa percebe que não está legal, e ela não procura ajuda, muito provavelmente essa resistência parte mais dela do que de outro alguém. Eu acho importante furar esse bloqueio, sair da zona de conforto. Procurar ajuda pro campo da saúde mental vale a pena, porque vai trazer qualidade de vida”.
A falta de cuidado com a saúde mental pode levar a consequências graves, como alcoolismo e dependência química. É essencial buscar ajuda especializada antes que esses comportamentos se tornem problemas irreversíveis.
Quais são os benefícios da psicoterapia?
O psicólogo Pedro Casarim gostaria que todos tivessem a oportunidade de passar por terapia. “Acho que seriamuito importante que todos tivessem pelo menos um contato com a terapia, se fosse possível. Antes mesmo da adolescência, num sentido de prevenção”.
De acordo com ele, um dos benefícios da terapia é ajudar o paciente a conseguir lidar de forma consciente com suas questões pessoais. O autoconhecimento também pode ser listado como um dos benefícios oferecidos pela psicoterapia. “Saber quem a gente é, isso é libertador”, finaliza o psicólogo.
Pedro Casarim, de 30 anos, é psicólogo clínico há três anos. Formado em psicologia pela Estácio, ele realiza atendimentos online com valores sociais e promocionais para estudantes da Uerj. Para agendar uma terapia, encaminhe mensagem para seu contato: (21) 97291-4075.
Serviços oferecidos pelo SPA
O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), localizado no bloco D do décimo andar da Uerj, no Campus Maracanã, oferece atendimento gratuito tanto para os alunos da Universidade quanto para o público de fora. Para realizar ainscrição, o perfil do Instagram @psicologiauerj disponibiliza o formulário uma vez por semestre. Para esclarecimento de dúvidas, entre em contato pelo e-mail acolhimentoeacompanhamento.spa@gmail.com.
O Plantão Psicológico da Uerj fornece escuta psicológica gratuita. A escuta é um acolhimento emergencial e não precisa de inscrição prévia. Aos interessados, a secretaria (sala 10.006) do bloco D do décimo andar direciona o paciente à sala que proporciona o serviço. Ele funciona às quartas, das 14h às 16h.
Novembro Azul: especialistas destacam a importância do diagnóstico precoce na cura do câncer de próstata
Exames preventivos estão disponíveis gratuitamente no Hupe/ Uerj
Por: Gabriela Martin e Alice Moraes
Reprodução: Agência Gov
No último domingo (17) ocorreu o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, movimento que se estende para o restante do mês de novembro e que ficou conhecido como “Novembro Azul”. Com o intuito de diminuir os casos graves de câncer de próstata, a campanha busca conscientizar os homens sobre a importância do diagnóstico precoce da doença.
O movimento que chegou ao Brasil em 2011, graças ao Instituto Lado a Lado pela Vida, tem exercido uma função primordial de alerta e incentivo aos homens para buscarem cuidados médicos. Segundo pesquisas da Sociedade Brasileira de Urologia, o público masculino não possui o hábito de fazer exames médicos com a frequência ideal e estão bem atrás das mulheres quando o assunto é atenção à saúde.
O que é o câncer de próstata?
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. O câncer ocorre quando as células da próstata se multiplicam de forma anormal, formando tumores. Alguns deles podem crescer de forma rápida e se espalhar para outros órgãos do corpo. De acordo com o Ministério da Saúde, um brasileiro morre a cada 38 minutos em decorrência dessa doença.
A importância do diagnóstico precoce
O doutor Danilo Souza Lima, urologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), ressalta que “quanto mais cedo se faz o diagnóstico do câncer de próstata, maiores as chances de cura em relação ao seu tratamento”. Ele afirma que, quando se realiza um diagnóstico precoce, as chances de cura são de 80% a 90%.
Por isso, é fundamental que o homem tenha sua rotina médica atualizada anualmente. Os principais exames preventivos recomendados são o de toque retal e o PSA (Antígeno Prostático Específico), que devem ser feitos a partir dos 50 anos ou em casos de fatores de risco. Esses exames estão disponíveis gratuitamente no Hupe, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Exercício físico, evitar o tabagismo e boa alimentação são hábitos recomendados pelo médico para a promoção e prevenção da saúde dos pacientes. Eles servem não só para a prevenção do câncer de próstata, mas para a imunidade de maneira geral. O médicoainda enfatiza que não existe nenhum alimento ou medicação, comprovado cientificamente, que evite ou cure o câncer de próstata.
Como o Hospital Universitário Pedro Ernesto atua na campanha
O urologista explica que, nos anos anteriores, o hospital realizava uma ação em prol do Novembro Azul na Cinelândia. Ele ressalta que, embora em 2024 o hospital não tenha realizado essa campanha, eles buscam conscientizar os pacientes no consultório.
Sobre a importância da conscientização, o doutor disse: “A conscientização é muito importante justamente para que a gente consiga fazer o diagnóstico precoce”. Por isso é necessário que os homens ajamde maneira preventiva, realizando os exames anualmente. O urologista acrescenta: “Assim, se houver alguma alteração nos exames, a gente consegue fazer o diagnóstico cedo e curar o paciente”.O doutor Danilo aconselha os homens a cuidarem da saúde e a realizarem os exames de toque e PSA. Ele enfatiza que “eles ajudam na prevenção e evitam com que a doença, se aparecer, venha de uma forma muito agressiva e já tardia”.
“Omissão do Conselho de Segurança ameaça paz internacional”, afirma Lula no G20
Reforma da governança global está entre os três pilares estabelecidos pela presidência brasileira do G20; discussão dos líderes mundiais sobre o tema aconteceu na tarde do primeiro dia da Cúpula e pode ser uma das sugestões do documento final
Por Everton Victor e Julia Lima
Mesa de discussões do G20, no Rio de Janeiro. Foto: Isabela Castilho/G20
A urgência de uma reforma da governança global foi um dos eixos do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, (18) primeiro dia da Cúpula do G20. Na prática, isso significa dar mais espaço aos países em desenvolvimento nos órgãos de decisão da política internacional. O presidente Lula voltou a cobrar, por exemplo, mudanças no Conselho de Segurança da ONU: “A globalização neoliberal fracassou. A omissão do Conselho de Segurança tem sido, ela própria, uma ameaça à paz e à segurança internacional”, afirmou Lula.
Além de mudanças na ONU, a reforma da governança global teria o objetivo de mudar a composição e o funcionamento de outras organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Outros grupos de trabalho do G20 já vinham discutindo esse tema.
O entendimento de muitos membros do G20, o Brasil entre eles, é de que há no Conselho de Segurança uma concentração de poder que não reflete mais a geopolítica atual e não é eficiente no combate e encerramento de guerras. Uma das propostas é o aumento no número de membros permanentes e rotativos, que hoje são 5 e 10, respectivamente. Essa reformulação deveria assegurar a participação de países do Sul Global no grupo.
O Sul Global é composto por países em desenvolvimento – e o conceito, mais que geográfico, é político, relacionando-se ao contexto socioeconômico desses países. Toda a América Latina, todo o continente africano e grande parte dos países asiáticos compõem esse bloco.
Sob liderança do Brasil, Aliança contra a Fome reúne esforços de 82 países
Argentina havia se recusado a aderir ao pacto, mas voltou atrás; países participantes precisam implementar medidas concretas para reduzir a insegurança alimentar e a pobreza
Por Everton Victor e Julia Lima
Mesa de abertura do G20, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Com a adesão de 82 países, a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza foi lançada hoje (18) pelo presidente Lula, durante o primeiro dia da Cúpula dos Líderes do G20. Além das nações, 2 blocos continentais, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais também assumiram um compromisso com a Aliança. Inicialmente, a Argentina não aderiu à proposta, mas voltou atrás depois do lançamento e assinou.
Para confirmar a adesão, os países tiveram que anunciar medidas concretas para combater fome e pobreza internamente e de forma global. A Aliança proposta e liderada pelo Brasil é uma forma de acelerar o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, segundo o governo. Entre os objetivos estão fome zero e agricultura sustentável, redução das desigualdades e erradicação da pobreza.
Impasses não impedem consenso
A recusa inicial da Argentina veio após sinalizações de que Milei impedirá consensos sobre igualdade de gênero e taxação de super-ricos na declaração final do grupo. Reportagem da Folha de S.Paulo indica que o Brasil manterá os temas no documento, apesar das restrições argentinas.
A falta de consenso da Argentina com os demais integrantes do bloco não impede a implementação de medidas nos países que já se comprometeram com a Aliança. Isso porque um país pode recusar um documento – o que, a depender da quantidade de recusas, enfraquece a força desse documento. Outra opção é o país não recusar o documento, mas não aceitar o consenso, o que obriga os demais países a fazerem modificações até que se chegue a um consenso.
Tampouco é inédito um país se recusar a assinar algum comunicado conjunto no G20, até que, com modificações, o conjunto de países chegue ao consenso ou então que o documento seja liberado mesmo com algumas oposições públicas. Durante a Cúpula do G20 em 2023, na Índia, alguns países membros se opuseram a termos utilizados referentes à guerra que acontece na Ucrânia.
Conselho dos Campeões
Além da Aliança Global, foi instituído o Conselho dos Campeões, formato de governança adotado pelo programa e que está vinculado ao G20 – mas não restrito a ele. Os escolhidos são os gestores da Aliança Global contra a Fome e Pobreza em diferentes lugares do mundo e atuam como conselheiros. Até que ele seja instituído completamente, haverá o Mecanismo de Apoio, em que o Brasil oferecerá suporte para a administração.
Os 18 primeiros campeões foram anunciados hoje. Para que sejam escolhidos, eles devem ser representantes reconhecidos em seus países ou organizações e ter o poder de implementar ações relacionadas ao tema da Aliança. O campeão escolhido pelo Brasil foi o ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. A escolha dos 18 conselheiros está relacionada à sua participação na construção da Aliança em seus territórios e em suas atuações no G20.
A primeira reunião do conselho acontecerá no primeiro trimestre de 2025, quando o órgão então será instituído oficialmente. Esses conselheiros têm a responsabilidade de acompanhar o andamento e o progresso efetivo das ações planejadas pelos países. Até a sua constituição completa, o conselho poderá ter até 50 membros, sendo 25 países e 25 organizações, e a ideia é que países que não compõem o G20, mas que se uniram à Aliança, também participem do Conselho. A África do Sul, próximo país a sediar o G20, também compõe o conselho.
O próximo passo da Aliança será implementar as medidas propostas. Cada país tem liberdade para aprimorar projetos já existentes, como é o caso de Serra Leoa, na África Ocidental, que pretende expandir a alimentação de 54% para 100% dos estudantes até 2030. Ou pode criar novos programas para diminuir a pobreza e a fome em seus territórios. Na prática, com a Aliança existirá uma coordenação global de 81 países integrada ao Conselho de Campeões. Uma das sedes do projeto será em Roma, onde já fica o escritório da FAO (órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), e a outra será no Brasil.
Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será lançada pelo presidente Lula na Cúpula do G20
Da distribuição de renda à melhora na merenda escolar, conheça as propostas dos países que aderiram publicamente ao pacto mundial contra a fome; a África do Sul, sede do próximo G20, se comprometeu manter o tema na cúpula do ano que vem
Por Everton Victor e Julia Lima
Ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, durante a entrevista coletiva sobre as ações da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Foto: Maria Eduarda Galdino
Reduzir a mortalidade materna e infantil, aumentar a distribuição de renda e melhorar a alimentação escolar. Esses são alguns dos compromissos da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, proposta lançada pelo Brasil no G20 e que já conquistou a adesão pública de 41 países. O anúncio final dos países e organizações que integram a Aliança será feito pelo presidente Lula, na próxima segunda (18), durante a Cúpula do G20.
No evento de divulgação, nesta sexta (15), participaram o ministro de Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e a representante permanente da África do Sul na Agência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Nosipho Jezile.
Até o momento, países como Alemanha, Estados Unidos e Bangladesh já aderiram à iniciativa proposta pela presidência brasileira para o enfrentamento à fome. A iniciativa une países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que para o ministro Wellington Dias é uma demonstração da urgência do tema não só no Brasil, mas no mundo. “Cresceu a compreensão de que o problema da fome e da pobreza também é uma preocupação de quem já alcançou o bem-estar social”, afirmou o ministro à Agenc.
Só no Brasil, 8,4 milhões (3,9%) de pessoas convivem diariamente com a insegurança alimentar severa, segundo a FAO; ou seja, não existe qualidade e nem uma quantidade suficiente na alimentação desta pessoa. Hoje o Brasil integra o Mapa da Fome, lista em que estão nações que têm 2,5% ou mais de sua população em situação de subalimentação. O ministro afirmou que o Brasil sairá do mapa da fome até 2026 e que o mundo terá com a Aliança Global uma coordenação efetiva na diminuição da fome. “Não se trata de levar apenas comida, nós estamos falando de um plano de desenvolvimento nos lugares que historicamente foram afetados pela fome e pobreza”.
Aliança contra fome não só do G20, mas de todo o planeta
A ideia é a Aliança não ficar restrita apenas ao G20, pelo fato de a liderança ser alternada a cada ano. A continuidade da Aliança Global Contra a Fome e Pobreza será acompanhada por uma governança própria, vinculada ao G20, mas não dependente dele. Todas as ações do G20 precisam ter consenso entre seus integrantes. No caso da Aliança, apesar de um país endossar e concordar com ela, ele não precisa necessariamente aderir.
Cada país participante tem independência para implementar ações específicas ao seu contexto interno. Ou seja, um país pode investir em uma nova transferência de renda direta ou mesmo fortalecer as políticas de combate à fome existentes. A Aliança servirá para captar recursos e investimento – tanto de nações, quanto de organizações – para destinar aos países que precisam de socorro financeiro. A iniciativa não prevê mecanismos de vigilância e fiscalização dos investimentos destinados aos países, isso será de responsabilidade do detentor do recurso.
O Brasil assumiu o compromisso da criação de uma aliança mundial contra a fome e a pobreza ainda durante a Cúpula do G20 na Índia, em 2023. Hoje, após mais de 41 países terem aderido à proposta, o enfrentamento à fome continuará presente na próxima edição do G20. À Agenc, Nosipho Jezile, representante Permanente da África do Sul na Agência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) afirmou que o seu país “não deixará a bola cair”, em referência à manutenção da Aliança na próxima Cúpula.
Conheça algumas propostas
Os países que integram a aliança já apresentaram medidas de combate à fome que, através da ajuda financeira, poderão ser implementadas. Serra Leoa, país da África Ocidental, pretende expandir a alimentação escolar de 54% para 100% dos estudantes até 2030. A Indonésia, no sudeste asiático, comprometeu-se a atingir 78 milhões de estudantes com refeições nas escolas.
Com relação à promoção do bem-estar social, a Palestina assumiu o compromisso de oferecer tratamentos de emergência para 155 mil grávidas e lactantes, além de serviços médicos e sociais para aproximadamente 10 mil crianças que perderam seus responsáveis. Já a Tanzânia, na África Oriental, quer expandir os serviços para o desenvolvimento infantil para cobertura nacional até 2030.