Brincando no Hupe: transformando a rotina hospitalar das crianças

Brincando no Hupe: transformando a rotina hospitalar das crianças

Brinquedoteca do hospital da Uerj é ferramenta de humanização e acolhimento

Por: Alice Moraes e Thaísa de Souza

 
 
Mascote da brinquedoteca do Hupe. Foto: Alice Moraes

Prateleiras com brinquedos e vários jogos de tabuleiros empilhados estão disponíveis para as crianças escolherem livremente na brinquedoteca do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe). As cores, as bonecas, os dinossauros, os carrinhos e o grande urso que é mascote da brinquedoteca despertam a atenção de quem entra na sala.

A brinquedoteca se localiza no ambulatório de pediatria do Hupe e desempenha um papel fundamental em consolar e humanizar a experiência da criança no hospital. A equipe da brinquedoteca explica que a criança muitas vezes chega assustada para as consultas, então a brinquedoteca presta esse acolhimento e quebra o ambiente desconfortável que o hospital pode ser para os pequenos.

Cândida Mirian Vasconcelos Santos, de 73 anos, é coordenadora da brinquedoteca e assistente social. Ela explica qual o papel de um brinquedista: “É um profissional da área de ludicidade, formado pela Associação Brasileira de Brinquedoteca, que atua com as crianças nos hospitais, oferecendo atividades lúdicas”. A equipe também esclarece que a brinquedoteca é um espaço essencial que deveria ter em mais hospitais do país. De acordo com eles, a brinquedoteca é um local com brinquedos e profissionais capacitados para apresentar à criança a possibilidade enorme de brincar.

“Essas crianças vêm com um sofrimento, vêm incapacitadas. O convite para brincar dá a elas a oportunidade de decidir como e com o quê brincar. Algumas crianças até brincam de dar vacina no brinquedista, então [elas vão] representando e entendendo o que está acontecendo”, explica Maira Martins, de 67 anos, psicóloga do espaço lúdico.

O condutor da brincadeira tem papel de amenizar as dores. “A criança quando entra aqui não tem escolhas, ela tem que tomar injeção etc. O único momento que ela tem voz é na parte do brincar”, explica a brinquedista Flavia Vieira, de 49 anos, ressaltando o quanto é importante a autonomia que a brinquedoteca proporciona à criança no ambiente hospitalar.

A brinquedoteca facilita também a relação da criança com a equipe da enfermaria, como ressalta Graziene Costa, de 39 anos, brinquedista e secretária do local. A brinquedoteca transforma a ida ao médico em algo prazeroso, já que, segundo a equipe, muitas crianças saem de lá empolgadas para voltar outro dia e brincar de novo.

A equipe também ressalta que a brinquedoteca não beneficia apenas as crianças, mas também os familiares e acompanhantes, que encontram ali um espaço de acolhimento e alívio em meio à tensão hospitalar. “Facilita bastante a ligação das mães, dos acompanhantes, com a própria criança, porque a mãe fica hospitalizada junto por muito tempo, dependendo da situação, e também sofre com a casa, os filhos, o marido e o trabalho”, afirma Maira.

O lugar proporciona uma interação especial entre a criança e a família, como Graziene reforça: “A família muitas vezes não tem tempo para brincar com o filho. Então o momento que é pra ser chato, a hora da consulta, acaba sendo prazeroso porque a mãe tem um tempo a mais para estar com a criança”.

Prateleira de brinquedos. Foto: Alice Moraes e Thaísa de Souza

A brinquedoteca é fruto de uma longa história de resistência. Criada em 2003, o espaço já enfrentou dificuldades para se manter ativo, mas a equipe nunca deixou de lutar pela importância do brincar dentro do hospital. Essa luta ganhou reforço recentemente com a regulamentação da profissão de Brinquedista, reconhecida oficialmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego com o código 3714-15 na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), o que diferencia o profissional de outros ocupantes da área de recreação e fortalece políticas públicas, cursos de qualificação e a correta atribuição de funções nos hospitais.

Como destaca Matheus do Valle, de 29 anos, psicólogo e brinquedista: “[A regulamentação] abre as portas para terem outros hospitais também. É lei que todo hospital que tem internação pediátrica tem que ter uma brinquedoteca, tem que ter brinquedista”. Esse reconhecimento não é apenas um marco para os profissionais, mas também uma vitória para as crianças hospitalizadas, garantindo que o brincar seja um direito respeitado e integrado à assistência hospitalar.

Além da atuação no dia a dia, o grupo investe em iniciativas que expandem o alcance do projeto, como a Brinquedoteca do Adolescente e a Brinquedoteca Universitária. Há ainda o Mundo dos Sonhos, livreto lúdico pensado para crianças que enfrentam cirurgias: “As crianças às vezes [falam] ‘ah, eu não quero ir pra cirurgia’, ‘o que eu vou fazer na cirurgia?’ Então a gente conversa sobre o que vai acontecer e conta essa história com uma cartilha”, explica Cândida. Essas frentes reforçam a ideia de que o brincar é essencial em todas as fases da vida, adaptado às necessidades de cada público.

Brinquedos nas prateleiras. Foto: Alice Moraes e Thaísa de Souza

A produção científica e cultural do grupo, que inclui um livro, artigos e participação em congressos, também ajuda a consolidar a credibilidade do trabalho e ampliar seu impacto. “Em 2023, a gente lançou o livro da Brinquedoteca na Bienal. A equipe toda escreveu. Ele fala sobre as rotinas da brinquedoteca, o que é o brincar, por que o brincar é importante e a história da brinquedoteca em si”, explicou Matheus. Além disso, a Brinquedoteca é referência nacional. “Temos autorização para fazer cursos de brinquedista, fórum, seminário. Somos núcleo da Abbri, somos núcleos do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), fizemos o 1º Congresso Internacional Brincar, Brinquedista, Brinquedoteca… Então, a gente faz bastante coisa. Só precisamos de mais apoio”, conta Cândida.

Qual seria esse apoio? A coordenadora explica que seria um apoio político: “Muita gente reconhece nosso trabalho, mas não dá gás, a gente precisa de gás. Por exemplo, agora nós fizemos um concurso público; hoje estou com apenas dois funcionários concursados. Eu estou para sair ano que vem, não porque eu quero. Tenho 73 anos, aos 74 eu tenho que pedir, não tem jeito. Mas eu não quero que isso aqui morra”. Ela também fala sobre a importância do projeto em sua vida. “As pessoas dizem: ‘Cândida, você tá doente com esse trabalho’. Para mim, não é uma doença. A minha saúde, a minha energia é isso aqui. Isso aqui faz a gente ficar jovem, não tem jeito, entendeu? Então, a gente tem que continuar. Eu brigo muito por esse trabalho, pelo espaço que nós perdemos, mas a gente tá aqui, alojado, ainda de mudança, esperando uma nova etapa que com certeza vai acontecer”.

A sala pequena, a falta de recursos e até doações inadequadas de brinquedos limitam o potencial de atuação. Ainda assim, a dedicação dos brinquedistas garante que o espaço continue vivo e transformador. Como destaca a equipe, mais do que apenas um local para se divertir, a brinquedoteca é um espaço de humanização, que devolve à criança a chance de ser protagonista mesmo em meio à experiência difícil da hospitalização.

O que é a COP30 e por que é tão importante que ela aconteça no Brasil

O que é a COP30 e por que é tão importante que ela aconteça no Brasil

Evento da ONU será realizado em novembro no Pará; mudança climática e transição energética estarão no centro dos debates 

Por Everton Victor e Julia Lima

Amazônia, sede da COP30. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O Brasil receberá em novembro a COP30, a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Clima. Pela primeira vez a Amazônia, tema central dos debates, será também palco do encontro, que acontecerá na cidade de Belém, no Pará.

A sigla COP significa “Conferência das Partes”. Ela foi criada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para ser o órgão responsável por implementar as metas assumidas pelos países no combate à mudança do clima. Atualmente, 198 países fazem parte da Convenção, incluindo o Brasil.

 
 

A escolha de Belém para sediar o evento não foi coincidência: a cidade está em meio à Floresta Amazônica, espaço crucial na regulação do clima e do equilíbrio dos ecossistemas de todo o planeta. Além de falar de florestas, a edição deste ano da COP tem foco especial na adaptação aos eventos climáticos extremos, na produção de energia limpa e no financiamento climático.

Também serão discutidos durante a conferência o Acordo de Paris, compromisso firmado por 195 países em 2015 para que a temperatura mundial aumente no máximo 1,5°C até 2030; e o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 para a redução de emissão de gases de efeito estufa, principalmente por países mais desenvolvidos.

 

Participação esvaziada

A edição deste ano da Cúpula do clima está enfrentando críticas de delegações estrangeiras e membros da sociedade civil pela falta de infraestrutura física de Belém para receber as 50 mil pessoas esperadas pela organização. O governo brasileiro e o governo do Pará têm sido cobrados também por não conseguirem organizar com a rede hoteleira local um sistema de hospedagem sem preços tão altos. Além disso, os custos de deslocamento e hospedagem fizeram com que países menos desenvolvidos colocassem em dúvida suas participações e que europeus diminuíssem suas delegações.

Países como Japão, Portugal, Egito, Noruega e República Democrática do Congo chegaram a enviar uma carta ao presidente da COP30, o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, solicitando que o evento fosse retirado de Belém. Lago afirmou que “não existe a possibilidade de o evento ser transferido da capital amazônica” e que o governo trabalha junto com a rede hoteleira para reduzir os custos das hospedagens.

Nesta quarta (17), a Defensoria Pública do Pará moveu uma ação civil pública para que as plataformas de hospedagem expliquem porque estadias durante a conferência estejam até 20 vezes mais cara que no período do Círio de Nazaré, evento em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré que atrai cerca de 2 milhões de visitantes todos os anos. Até a conclusão desta reportagem, 140 dos 198 países já haviam confirmado presença no evento, segundo o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

Cozinha que une

Cozinha que une

Oficinas de culinária na Uerj incentivam uma dieta mais sustentável 

Por: Alice Moraes

Laboratório de Técnica e Dietética. Foto: Karen Teixeira

Geladeiras, liquidificadores, microondas e grandes armários compõem o Laboratório de Técnica e Dietética do Instituto de Nutrição da Uerj.  A ampla cozinha, repleta de utensílios, talheres e panelas guardados nos compartimentos abaixo das cinco bancadas, é o lugar que une culinária e aprendizado. 

Também é possível avistar as balanças de cozinha e, dentro dos armários, jarras, bandejas, diferentes tipos de pratos e tigelas para servir refeições. Tudo isso está disponível para ser utilizado pelos participantes das oficinas de culinária promovidas pelo projeto Habilidades Culinárias. 

As oficinas, que contemplam o público interno e externo da Uerj, são abertas semestralmente e propõem uma cozinha coletiva de aprendizado sobre grãos. A última edição do Cozinhando com Grãos ocorreu no último semestre e a previsão de abertura de inscrições para o segundo semestre de 2025 é em meados de setembro. 

Interior do armário do Laboratório. Foto: Karen Teixeira

Nas oficinas, os participantes têm contato maior com os grãos, especificamente as leguminosas como feijões, grão-de-bico, lentilha e ervilha. 

“Para os alunos de Nutrição, por meio das oficinas eles desenvolvem capacidade de organização e planejamento, das compras e da elaboração das fichas técnicas”, disse Ana Cláudia Mazzonetto, nutricionista, professora do Instituto de Nutrição e coordenadora do projeto. A especialista afirma que poucas receitas são divulgadas e testadas com o uso das leguminosas, apesar do alto teor de nutrientes nelas. Por isso, as oficinas incentivam o estudante a ter a prática da culinária com grãos para seu futuro profissional e pessoal”, acrescenta a professora.

Não apenas para os estudantes de Nutrição, mas também para alunos de outros cursos e para o público externo da Uerj, as oficinas de culinária incentivam uma dieta mais sustentável, oferecem aprendizado sobre os grãos na cozinha e incentivam a produção de refeições de qualidade, com menos uso de ultraprocessados. “As oficinas facilitam o uso das leguminosas na culinária, despertam esse conhecimento e curiosidade. Observamos também os participantes perdendo o medo da panela de pressão”, comentou Ana Mazzonetto sobre o resultado positivo contemplado por meio das oficinas. 

A nutricionista também compartilha que, ao final das oficinas, são realizadas rodas de conversa sobre a experiência obtida na cozinha. De acordo com ela, participantes costumam comentar sobre como a culinária proporcionou criatividade, aumento do repertório e abertura para conhecer novos alimentos, que muitas vezes os participantes tinham resistência em provar. 

“A comida aproxima demais”, diz ela sobre a união que a cozinha proporciona entre os participantes, “quando cozinhamos juntos, vemos como as pessoas se aproximam e abrem um espaço de conversa, de conhecer umas às outras e quem sabe até fazer novas amizades”.

Estudante participando da oficina. Foto: Nathalia Nunes

Para acompanhar o projeto e as próximas inscrições para oficinas, siga o Instagram @hcuerj.

Declaração de líderes do BRICS condena guerras e cobra reforma da governança global

Declaração de líderes do BRICS condena guerras e cobra reforma da governança global

Documento foi divulgado ainda durante o primeiro dia da Cúpula (6)

Por Julia Lima e Eduarda Galdino

Representantes dos países-membros do BRICS. Foto: Paulo Mumia/BRICS Brasil

Condenação às guerras, reforma de organismos internacionais, combate à mudança do clima e cooperação entre os países-membros estão entre os principais pontos da Declaração de Líderes do Brics. O documento foi aprovado pelos integrantes do BRICS ainda no primeiro dia da cúpula de líderes, que acontece no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho.

O texto reitera em diferentes pontos a necessidade de que organizações como o Conselho de Segurança da ONU e o Fundo Monetário Internacional tenham maior representação de países fora do eixo Estados Unidos – Europa. Também condena ataque de Israel ao Irã – país integrante do Brics -, mas não faz críticas duras ao país judeu. Também poupa a Rússia – que também faz parte do BRICS – de palavras mais pesadas quanto à guerra na Ucrânia.

A seguir, acompanhe os pontos principais da declaração:

  • Condenação às guerras

O texto condena os ataques ao Irã e à Ucrânia, mas poupa críticas a Rússia e Israel. A declaração também expressou preocupação com a ocupação da Palestina, e afirmou que a solução passa integralmente pela criação do Estado Palestino em paralelo ao Estado de Israel, como previa a Resolução das Nações Unidas em 1967.

As nações expressaram preocupação com as recorrentes ameaças de uso de armas nucleares pelo mundo, ainda que o Irã esteja entre este grupo. Reiteraram também a necessidade da continuidade de programas de desarmamento, controle e não-proliferação de armas para que a paz seja mantida.

  • Inteligência Artificial

O BRICS afirma compreender a importância da Inteligência Artificial no desenvolvimento atual dos países, mas define que haja limites claros sobre propriedade intelectual. Os integrantes também defendem que desenvolvimento da tecnologia tenha como objetivo o bem da humanidade e que sejam mitigados possíveis riscos decorrentes de seu uso.

  • Crescimento econômico inclusivo e sustentável 

Ao aprofundar as cooperações internacionais na economia, comércio e finanças, os países do Brics se comprometeram a fortalecer as relações de comércio com o objetivo de promover um crescimento inclusivo e sustentável. Além disso, foi reforçado que as cooperações econômicas vão estar de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

  • Financiamento para transições energéticas

Os membros do Brics reconheceram a necessidade de preencher as lacunas de financiamento das transições energéticas. Para isso, definiram a alocação de investimento concessional adequado e de baixo custo dos países desenvolvidos para países em desenvolvimento, de forma que haja uma transição energética justa e inclusiva.

  • Governança global mais diversa e inclusiva

Os membros do Brics se comprometeram a reivindicar maior presença de países menos desenvolvidos e emergentes em posições decisórias globais, para que estas sejam mais conectadas com a realidade desses locais. Além disso, o BRICS defendeu a presença de mais mulheres em cargos de liderança dentro dos organismos internacionais  – especialmente de países da África, América Latina e Caribe.

A reforma do Conselho de Segurança da ONU foi apoiada pelos países. Para eles, é preciso que mais países emergentes estejam entre os 15 membros do Conselho – a fim de que a representatividade seja maior-, e também que haja igualdade de votos entre eles, ou seja, ninguém teria poder de vetar sozinho toda uma deliberação.

  • Compromisso em alcançar as metas no Acordo de Paris 

Os integrantes do BRICS assumiram também o compromisso de cumprir as metas do Acordo de Paris e os objetivos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a mudança do clima (UNFCCC). Além de manterem seu compromisso com os acordos, os membros desejam ampliar as ações para o combate à crise climática e os mecanismos ligados à diminuição, adaptação e provisão de meios para implementar essas medidas em países em desenvolvimento. 

Os membros do BRICS também declararam apoio à presidência brasileira na COP30, que acontecerá em novembro deste ano no Pará. No documento foi reforçado o fato de a COP estar alinhada com todos os pilares da UNFCCC, considerando o compromisso que cada país estabeleceu nos acordos.

  • Tecnologias de Informação e Comunicação

Os países do BRICS enfatizaram o potencial das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para diminuir as desigualdades digitais entre os países. Os chefes de estado citaram as Nações Unidas como organização responsável por estabelecer normas e princípios para o uso responsável das TICs no mundo.

  • Apoio ao NBD e expansão de seu número de membros

Os países reconheceram a importância do Novo Banco de Desenvolvimento como um instrumento de inovação e modernização dos países do Sul Global. Foi incentivada a ampliação no número de membros da organização, com o objetivo de aumentar a eficácia operacional e resiliência institucional do banco.

  • Exploração espacial

Os países reconheceram a importância de que pesquisas feitas no espaço tenham fins pacíficos e científicos. A militarização e uma nova corrida espacial foram condenados.

  • Financiamento climático 

O BRICS reforçou que garantir financiamentos climáticos justos para países emergentes é essencial para o combate às mudanças do clima. Além disso, reconheceram o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) – compensação econômica para países que preservarem florestas tropicais – como  um mecanismo inovador e eficiente para a conservação ambiental.

  • Combate ao preconceito

Os países reiteraram a necessidade de combater racismo, homofobia, xenofobia e intolerância religiosa, assim como a tendência atual de propagação destes conteúdos por meio de desinformação.

Reunião de banco do BRICS tem novas adesões e acenos por uma “reglobalização sustentável”

Reunião de banco do BRICS tem novas adesões e acenos por uma “reglobalização sustentável”

Novo Banco de Desenvolvimento celebra dez anos de existência e promete reforçar investimentos no Sul Global

Por Everton Victor e Julia Lima

Presidente do NDB, Dilma Rousseff, durante entrevista coletiva. Foto: Julia Lima.

O segundo e último dia da 10ª Reunião Anual do Novo Banco de Desenvolvimento foi marcada pela adesão de dois novos membros e apelos por reglobalização sustentável e um “FMI mais representativo”. Os acenos foram feitos por Dilma Rousseff, presidente do NDB, o banco dos BRICS, e por Fernando Haddad, ministro da Fazenda do Brasil. A reunião que marca os dez anos de fundação do banco acontece nos dias 04 e 05 de julho no Rio de Janeiro, às vésperas da Cúpula do BRICS, que também será realizada na cidade.

O Conselho de Governadores do NDB aprovou neste sábado a adesão de Colômbia e Uzbequistão à organização. Com a entrada dos dois países, o banco chega ao total de 11 membros; Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito e Argélia já fazem parte da organização.

A adesão de novos membros ao banco do BRICS acontece de forma paralela à entrada de países-membros do agrupamento de economias emergentes. Ou seja, nem todos que ingressam no NDB entram no BRICS.

Durante coletiva, Dilma Rousseff também reforçou as prioridades da organização: a adesão de novos membros, financiamento e captação em moedas locais e investimento em infraestrutura. Uma das estratégias do banco é  conceder 30% de financiamentos em moedas locais no período de 2022-2026. Para a presidente, estas ações consolidam o banco como “feito pelo Sul Global para o Sul Global”. 

 

Acenos de Haddad

1ª Reunião de Ministros das Finanças e Governadores de Bancos Centrais do Brics. Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda.

Durante discurso para os ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais dos países BRICS, o ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que está em negociação o documento intitulado “Visão do Rio de Janeiro para o FMI”. O foco seria um endosso conjunto dos representantes de economias do Sul Global para um Fundo Monetário Internacional (FMI) mais representativo. 

O documento inédito citado por Haddad faz parte das discussões dos países do Sul Global para obter mais representatividade em conselhos e foros internacionais. Na Cúpula do G20 no ano passado, que também teve o Brasil na presidência, as 19 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana aprovaram em consenso um documento que reivindica uma reforma na governança global em diferentes setores. 

No evento do G20, foi proposta a reforma do Conselho de Segurança e do secretariado da ONU, a fim de incluir mais mulheres e países da Ásia, África, América Latina e Caribe. Também foi sugerida a criação da 25º cadeira no Fundo Monetário Internacional,  para que haja representação da África Sub-Saariana. 

O ministro também citou a “reglobalização sustentável” em seu discurso. Segundo ele, o movimento seria uma nova globalização, baseada no desenvolvimento igualitário da humanidade em aspectos sociais, econômicos e ambientais. As propostas para isso seriam:

  • facilitar o comércio e o investimento entre os países do BRICS.
  • reforçar a coordenação sobre as reformas do sistema monetário e financeiro internacional
  • diálogo intra-BRICS sobre parcerias público-privadas, tributação e aduanas, com especial atenção à tributação de indivíduos de altíssima renda
  • Tropical Forest Forever Facility, um modelo de financiamento climático no qual países que tenham florestas tropicais e que atuem na sua preservação sejam recompensados financeiramente; o BRICS trabalharia em conjunto com a presidência brasileira para lançar essa proposta na COP30

A Cúpula do BRICS deve voltar a discutir questões relacionadas ao que foi apresentado na 10° Reunião do Novo Banco de Desenvolvimento. O encontro dos países membros do BRICS acontecerá nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, mas o Brasil seguirá na presidência do conjunto de países emergentes até 31 de dezembro de 2025.

Financiamento climático é o foco do Banco do BRICS

Financiamento climático é o foco do Banco do BRICS

Segundo Lula, banco já investiu US$ 40 bilhões em ações no setor

Por Everton Victor e Julia Lima

Sessão de abertura da 10ª Reunião Anual do Novo Banco de Desenvolvimento. Reprodução: Douglas Schineidr/Agência Brasil.

O financiamento climático foi o principal tema da abertura da 10ª Reunião Anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), realizada na sexta-feira, 4 de julho, no Rio de Janeiro. Os destaques foram as ações do banco para energia limpa, eficiência energética, proteção ambiental e abastecimento de água, que somam cerca de US$ 40 bilhões de dólares. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a iniciativa atual do banco de direcionar 40% dos financiamentos para iniciativas de desenvolvimento sustentável vai constar da declaração final do encontro do Brics, que acontece nos dias 6 e 7 de julho, também no Rio. 

O Novo Banco de Desenvolvimento é um banco multilateral, criado em 2015 pelos cinco países fundadores do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), com o objetivo de financiar projetos e países emergentes. A atual presidente da organização, Dilma Rousseff (ex-presidente do Brasil), afirmou que o NDB deve estar na vanguarda dos investimentos para adaptação climática e transição energética, priorizando principalmente países mais afetados por eventos climáticos extremos. Lula enfatizou a rápida liberação de verbas após a tragédia no Rio Grande do Sul, ocorrida em 2024.

De acordo com a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), financiamento climático é todo investimento – público ou privado, nacional ou internacional, uni, bi ou multilateral – que tenha como objetivo apoiar ações que busquem a mitigação e a adaptação à mudança do clima.

No Brasil, o Banco de Desenvolvimento do BRICS, através de seu Conselho de Administração, já aprovou 29 projetos, totalizando um investimento de 6,4 bilhões de dólares. Um dos mais recentes é o Projeto de Desenvolvimento Sanitário no Pará (Pará Sanitation Development Project), com um financiamento de 50 milhões de dólares, aprovado pelo NBD em março deste ano. Dentre as propostas está um avanço na qualidade do saneamento básico com impacto na capital paraense, Belém, que sediará a Conferência do Clima da ONU em novembro, e mais sete municípios. 

O banco arrecada recursos tanto com seus membros quanto em outros mercados internacionais. Uma das fontes de recursos é a emissão de títulos em moedas locais – alinhada à estratégia de diversificar outras formas de transações além do dólar. O ciclo estratégico da instituição para o período 2022-2026 prevê uma meta de investimento de 30 bilhões de dólares.

A instituição é formada por 10 membros: além dos 5 fundadores, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito, Argélia e, mais recentemente, Uruguai, que está em processo de adesão. A ampliação do número de países-membros deve continuar ao menos até 2026. A ideia é expandir a influência e relevância da instituição no globo e consolidar como ferramenta de cooperação entre os países emergentes e em desenvolvimento.

Pesquisadores do Brasil e China discutem cooperação e limites éticos para uso de IA

Pesquisadores do Brasil e China discutem cooperação e limites éticos para uso de IA

Evento realizado na PUC-Rio reafirmou a relação entre as duas nações e a união dos países emergentes nos avanços tecnológicos

Por Everton Victor

Encontro de Pesquisadores Brasil-China no BRICS Policy Center. Foto: Eduarda Galdino

Pesquisadores do Brasil e da China defenderam uma maior aproximação no campo científico entre as duas nações e ampliação da discussão sobre Inteligência Artificial. O encontro intitulado Diálogo Brasil-China aconteceu na última quinta (3) no BRICS Policy Center, think thank da PUC-Rio com enfoque no estudo de economias emergentes, em parceria com o Beijing Club for International Dialogue.

Segundo os pesquisadores, a Inteligência Artificial não está restrita às mudanças no meio digital. Seja em soluções inteligentes na agricultura, seja para interpretar grandes volumes de dados em empresas, identificar padrões e ser uma aliada nas pesquisas científicas, o uso da IA se torna cada vez mais importante e estratégico para as nações. Nas redes, por exemplo, a criação de chatbots – processadores de conversação com seres humanos – e modelos de IA Generativa – que podem criar imagens – vem se popularizando. Como calibrar esses avanços com padrões éticos é a pergunta que diferentes nações já fazem.

Em fóruns como o G7 (grupo das sete maiores economias do mundo), o G20 (que reúne as 19 maiores economias) e conferências da ONU, estão sendo discutidas formas de garantir a incorporação da IA de forma ética. O tema não é recente, mas tem intensificado a discussão sobre garantir uma governança da inteligência artificial.  No encontro do BRICS, que acontece nos dias 6 e 7 de julho no Rio, o tema da IA também está em discussão.

No debate na PUC, os pesquisadores ressaltaram a importância de o Sul Global avançar o quanto antes neste tema para não ficar para trás. Para a professora Maria Helena Rodríguez, presente no evento, esse avanço deve endereçar os benefícios da Inteligência Artificial, como um facilitador no cotidiano das pessoas. 

A governança da Inteligência Artificial nada mais é do que a estruturação de políticas e mecanismos que garantam o desenvolvimento ético e responsável. Apesar de consensos sobre a necessidade de regulamentar a IA, a forma como iso será feito ainda é um ponto de discussão. A necessidade de cooperação, endossada no encontro de pesquisadores, reforça uma união no campo tecnológico que seja adaptada aos países  – para reduzir as discriminações provenientes de modelos de IA e fortalecer a diversidade cultural também neste desenvolvimento.

Brics Policy Center na PUC-Rio. Foto: Eduarda Galdino

Zhao Hai, diretor do Programa de Política Internacional do Instituto Nacional de Estratégia Global Academia Chinesa, endossou a atuação em conjunto nos temas da IA, e disse que a cooperação neste setor é crucial entre países do Sul Global. A possibilidade de criação de centros de treinamentos em conjunto – uma espécie de hub de talentos para compartilhar as melhores práticas dos países no campo da tecnologia – também foi um dos debates citados no encontro Brasil-China. 

A ideia é desenvolver modelos de IA que reflitam parâmetros de todo o globo. No encontro no BRICS Policy Center, os pesquisadores reforçaram a importância de avançar nas discussões sobre o tema envolvendo países emergentes. O BRICS conta com 11 países-membros – Brasil, África do Sul, Árabia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Indonésia, Irã e Rússia, além de países parceiros e convidados

Educação que salva: projeto da Uerj transforma ensino sobre hemoterapia e conscientiza novos doadores

Educação que salva: projeto da Uerj transforma ensino sobre hemoterapia e conscientiza novos doadores

Por: Alice Moraes e Thaísa de Souza

 
 
Entenda a necessidade de uma educação em hemoterapia. Imagem: Freepik

No Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), um projeto de extensão vem mudando a forma como a hemoterapia é compreendida — tanto dentro quanto fora das salas de aula. Coordenado pela médica e professora Flavia Miranda Bandeira, o projeto de extensão Educação em Hemoterapia une ensino, ciência e engajamento social para suprir uma lacuna histórica na formação de profissionais da saúde.

A iniciativa nasceu em 2021, após a constatação de que o tema da hemoterapia ainda recebe pouco espaço nos currículos de cursos como Medicina e Enfermagem. “A gente via a deficiência dos alunos, inclusive trabalhos [dentro] e fora do Brasil mostram como se fala pouco sobre transfusão, tanto para o profissional quanto para o receptor”, explica a dra. Flavia, de 62 anos, que também atua no banco de sangue do Hupe. Diante disso, surgiu a proposta de um projeto que não só abordasse a doação de sangue, mas também temas como a lógica das transfusões, os testes laboratoriais envolvidos e os direitos do paciente transfundido.

Com uma equipe atualmente formada por sete alunos, incluindo bolsistas, o projeto se articula em diversas frentes: produção de conteúdo nas redes sociais, organização de rodas de conversa — presenciais e online —, visitas a escolas e unidades de saúde, e participação em congressos científicos. A estudante Carolina Godoy, de 23 anos, da Faculdade de Medicina da Uerj, entrou para o projeto no quarto ano da graduação e destaca o impacto da experiência: “Mesmo não querendo me especializar na área, entendi que a hemoterapia está presente em qualquer campo da medicina. Saber mais sobre isso virou uma necessidade.”

Agência transfusional do Hupe. Foto: Alice Moraes e Thaísa de Souza

A estudante de Medicina afirma que os alunos do curso passam apenas uma semana estudando sobre hematologia e hemoterapia, o que, de acordo com ela, não é o suficiente para o aprendizado. Ela conta que se interessou em fazer parte do projeto ao ver a divulgação do processo seletivo para bolsistas no Instagram oficial: @hemoterapia.uerj. Carolina diz: “O conhecimento em hemoterapia, ele não deve ser restrito a quem é especialista na área. Eu acho que todo mundo deveria saber, até quem não é da área da saúde. ”

O projeto, além de oferecer mais aprendizado e estimular a pesquisa para Carolina e para os demais estudantes que participam dele, leva o conhecimento para o público interno e externo, promovendo conscientização sobre hemoterapia. 

Além de produzir e divulgar informações baseadas em evidências, os alunos têm contato direto com a comunidade e se tornam referência entre os colegas. “Meus amigos da faculdade vêm tirar dúvidas sobre hemoterapia comigo. Muitas vezes eu não sei, então, eu sempre sou estimulada a pesquisar, sabe?”, relata Carolina. Segundo Flavia, esse é um dos principais valores do projeto: “Quando a gente pesquisa, às vezes a gente aprende muito mais fácil do que aquele conhecimento que vem passado para a gente.”

A professora e a aluna informam que o projeto vai além do Instagram. Eles também fazem trabalhos para levar em congressos, para eventos médicos e da área da saúde em geral, participam de rodas de conversa presenciais e online, realizam visitas a pacientes do Hupe e estiveram presentes no evento Uerj Sem Muros, ocorrido em março deste ano.

 

Doação de sangue: Mitos e verdades

A professora Flavia desconstrói o mito de que para doar sangue é necessário estar em jejum. “Na realidade, a pessoa tem que doar estando bem alimentada. Uma refeição leve, mas a doação não tem que acontecer em jejum”, ela explica. 

O segundo mito que a doutora esclarece é o de que as mulheres não podem doar estando menstruadas. Ela enfatiza: “Você pode doar estando menstruada, dependendo de como você esteja naquele momento.” O terceiro mito listado pela profissional é o de que pessoas com tatuagem ou piercing não podem doar. Sobre esse, ela diz: “Essas pessoas podem doar depois de seis meses de colocada ou feita a tatuagem. E se o piercing não for em boca, nem cavidade sexual, você pode doar sangue também.” 

Ela também explica sobre o que chamou de “o mito da acomodação”. Este se refere às pessoas que se impedem de doar, por achar que já tem bastante gente doando. Menores de idade podem realizar doações, os idosos podem doar até os 69 anos de idade e doar sangue não transmite doenças, pois todo o material utilizado durante o processo é descartável. A doutora Flavia alerta: “São mitos que as pessoas caem no imaginário popular e não tem nenhuma evidência, não tem nem embasamento científico.”

 

A importância da Educação em Hemoterapia

A estudante Carolina afirma ter certeza de que há uma carência desse tipo de ensino. Ela relata ter a percepção de que cada vez mais as pessoas não estão doando sangue. Era um hábito mais comum antigamente, então os indivíduos que doavam mais estão envelhecendo, enquanto a nova geração doa menos. A demanda por doadores, no entanto, cresce cada vez mais, embora as doações não acompanhem o crescimento da demanda. 

Carolina ressalta que o projeto é importante não só porque falam sobre doar sangue, mas por causa da conscientização que busca despertar nas pessoas a vontade genuína e voluntária de serem doadoras. De acordo com a doutora Flavia, o Brasil não tem uma cultura de incentivo à doação de sangue voluntária e espontânea, e sim uma cultura de doação de reposição. “Esse é o trabalho do projeto de extensão, levar isso para a comunidade, explicar o porquê. Por que eu tenho que receber sangue? Que sangue é esse? O que é que ele faz no meu corpo? A gente passa esse direito de informação à população”, esclarece a doutora. 

Por meio do Instagram, a educação em  hemoterapia vem alcançando mais pessoas. A página oficial do projeto recebe bastante retorno nessa rede social digital. A equipe enxerga o aumento de novos seguidores interessados em conhecer o trabalho deles. Carolina compartilha que os estudantes que integram o projeto se alegram quando recebem perguntas e dúvidas pelo Instagram. Eles já receberam mensagens até mesmo de seguidores que não têm relação direta com a hemoterapia, mas que queriam esclarecimentos e curiosidades. Esses pequenos acontecimentos marcam o objetivo do projeto sendo alcançado.  

 

Como incentivar a doação sanguínea? 

A primeira questão indicada pela dra. Flavia é a educação. A educação parte de falar sobre a necessidade de doar sangue desde as escolas primárias. Ela detalha: “Alguém explicando para a população quais são os requisitos básicos para doação de sangue, que é uma coisa tão banal, mas as pessoas não sabem. Então, outra coisa também é a gente ter mais acesso a mais, digamos, postos de doação.” 

De acordo com ela, o governo também deveria propor algum lugar para falar sobre o assunto. Uma campanha maciça feita pelo governo teria papel essencial no incentivo da doação de sangue. “A gente vê de vez em quando, mas não é uma coisa sistemática. Então, o governo tinha que realmente se envolver com isso, divulgar e usar espaço de mídia formal, tipo a televisão e o rádio, já que a gente sabe que muita gente ainda escuta rádio e televisão”, conclui a médica.

Projeto da Uerj oferece exercício físico gratuito para gestantes

Projeto da Uerj oferece exercício físico gratuito para gestantes

Profissional de educação física destaca a importância da atividade física durante a gravidez e como o projeto pode ajudar

Por Alice Moraes

                          Imagem: Freepik

O Programa de Extensão Práticas Corporais de Saúde (Pracorsau)  agrega cinco projetos de atividade física específica para diferentes pacientes. Dentre eles, há o projeto que oferece exercícios físicos adaptados para gestação e pós-parto. Todos os projetos disponibilizados pelo Pracorsau são gratuitos e abertos para a comunidade interna e externa. 

A reportagem conversou com a servidora do programa, Camila Pereira, de 37 anos,  formada em Educação Física pela Uerj e ex-estagiária do Pracorsau. Ela ressaltou: “A gestante ser liberada para fazer exercício é ainda uma coisa nova. Alguns médicos ainda são bem conservadores e não se sentem seguros em liberar uma gestante para academia”. Camila explica que não há problema a grávida realizar exercícios, desde que não haja ou exista nenhuma contraindicação. O Ministério da Saúde, por meio do Guia de Atividade Física para a População Brasileira, assegura que ter um dia a dia fisicamente ativo é bastante seguro para a maioria das gestantes e mulheres que estão no período pós-parto. O guia afirma, também, que a preocupação com lesões ou problemas de saúde não devem impedir a mulher de praticar exercício físico. 

Os benefícios do exercício físico adaptado para gestantes são: menor risco do feto desenvolver doenças metabólicas, menor risco de complicações no parto, mais chances do parto vaginal – mais saudável para o bebê –, prevenir diabetes gestacional e doenças de hipertensão arterial. De acordo com Camila, o Pracorsau oferece um espaço para as gestantes realizarem atividade física com uma pista de caminhada, bicicleta para exercício aeróbico, fortalecimento muscular por meio de aparelhos de musculação, exercícios de agachamento e elevação de calcanhares, elásticos para fortalecer os membros superiores. Camila reforça: “Nós não ficamos tão dependentes de aparelhos. O exercício sem aparelho é importante para ajudar a gestante na postura. Com os elásticos, por exemplo, ela está sempre fortalecendo o corpo todo”. 

O projeto também oferece às gestantes, exercícios de respiração para aliviar o estresse. A respeito de outras atividades fornecidas, Camila complementa: “A gente faz exercício de fortalecimento abdominal. A gente alonga um pouquinho,  alguns grupamentos que ficam mais rígidos por causa do crescimento do abdômen. Não alongamos o abdômen da gestante, mas a parte da coluna lombar, que fica tensa ali, por causa da barriga”. 

O guia montado pelo Ministério da Saúde assegura que a prática de atividade física durante a gravidez não aumenta o risco de malformação no bebê, não aumenta o risco de ruptura da bolsa, não induz ao trabalho de parto, não aumenta o risco de aborto e não altera o leite materno. 

Os exercícios físicos para gestantes também contribuem de forma positiva na autoestima delas. Camila conta a experiência de uma gestante que se sentiu mais confiante ao retornar aos exercícios algum tempo após ter engravidado. Ela afirma: “Melhora muito a autoestima, a postura. Os hormônios do bem-estar, como a serotonina e a endorfina, são liberados durante o exercício”. A profissional diz que as gestantes se sentem mais acolhidas pelo projeto porque em uma academia nem todas têm condições de pagar por um professor particular. Por meio do projeto, ela pode atender cada uma de forma mais individualizada. 

O Pracorsau tem um perfil no Instagram, @pracorsau, no qual as gestantes podem entrar em contato caso tenham interesse em participar das aulas de atividade física, que são oferecidas às quartas e sextas, de 10h40 às 11h30, no Instituto de Educação Física da Uerj. De acordo com Camila, o projeto tem intenção de oferecer bolsas para estudantes, a fim de montar mais turmas e, assim, atender maior número de gestantes. 

Central da COP dá cartão vermelho para a desinformação e defende debate climático no cotidiano

Central da COP dá cartão vermelho para a desinformação e defende debate climático no cotidiano

Parceria entre Agenc e Observatório do Clima realizou mesa-redonda na última segunda (2), durante a Semana de Meio Ambiente da Uerj

Por Julia Lima

Da esquerda para a direita: Isvilaine Silva, Ana Carolina Lourenço, Fernanda da Escóssia, Petroleco e Cláudio Ângelo. Foto: Letícia Santana.

A desinformação climática e o desafio de mobilizar a sociedade civil em defesa do planeta foram os temas abordados na “Central da COP: a mesa-redonda do clima”, evento realizado na última segunda-feira (2) na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). A mesa teve a presença dos debatedores Claudio Angelo, Ana Carolina Lourenço e Fernanda da Escóssia, com apresentação de Isvilaine Silva. Parceria entre a Agência de Notícias Científicas da Uerj e do Observatório do Clima, a Central da COP seguiu o modelo das famosas mesas-redondas de futebol, em que um tema é lançado – neste caso, um assunto relacionado à COP30 – e os comentaristas se revezam para dar suas opiniões.

E, como o jornalismo ouve os dois lados, a mesa teve a presença do Petroleco, lobista da indústria do petróleo, que pôde contribuir – ou nem tanto – para o enriquecimento do debate. A mesa discutiu os principais temas da COP30, a Conferência do Clima da ONU que acontece em novembro em Belém, o PL da Devastação, a agressão sofrida pela ministra Marina Silva e a desinformação sobre a mudança do clima. 

O jornalista Claudio Angelo, do Observatório do Clima, comentou o episódio de agressão à ministra Marina Silva em audiência no Senado Federal. “Armaram uma arapuca contra a ministra do Meio Ambiente. Mal sabiam eles que ela já era senadora quando eles tomavam Toddynho”, afirmou.

Um dos episódios de desinformação discutidos foi a entrevista de Elon Musk à rede de TV Fox News, em que afirmou que não é necessário criar pânico em torno do assunto, e que todos poderão continuar “comendo seu churrasco”. Com relação a essa fala, Ana Carolina comentou: “Ele afirma que a principal função de nós aqui nessa mesa, o movimento climático global, é tirar o churrasco das pessoas”.

Realizado no auditório 91 da Uerj, o evento reuniu cerca de cem pessoas, entre professores e estudantes de diversos cursos, além de técnicos. Ao final da discussão entre os debatedores, a plateia pôde fazer perguntas e tirar dúvidas sobre a COP30 e o atual cenário ambiental no Brasil e no mundo. O público também participou da mesa a partir de um bingo. Quem completava a cartela com palavras relacionadas ao tema ganhava um álbum de figurinhas exclusivo da Central da COP.

                                                      Álbum de figurinhas da Central da COP. Foto: Letícia Santana.

De acordo com Fernanda da Escóssia, professora da Uerj e coordenadora da Agenc, “o clima é um assunto político, mas não é dos políticos”. E é por isso, segundo a jornalista, que é necessário que o tema seja cada vez mais levado para o debate entre membros da sociedade civil. A professora destacou a relevância do jornalismo para combater a desinformação e o negacionismo que costumam acompanhar debates climáticos.

Ana Cláudia Campos, estudante de biomedicina, contou à Agenc, que conhecia pouco sobre a COP, e que foi bom ter uma visão mais detalhada do assunto. “Ter pessoas especializadas falando do assunto e como realmente nos afeta é importante para causar comoção e o sentimento de que devemos lutar pelo nosso planeta”, finaliza.