Festival 3i discute desinformação e os interesses por trás dela

Festival 3i discute desinformação e os interesses por trás dela

Evento de jornalismo promovido pela Ajor aconteceu neste fim de semana no Rio de Janeiro

Por Everton Victor e Julia Lima

Mesa sobre Desinformação no Festival 3i. Da esquerda para a direita: Ellen Guerra Cerqueira, Talita Bedinelli, Max Resnik, Erick Terena. Foto: Julia Lima

Aquela mensagem alarmista repassada pelo WhatsApp, o corte específico de uma fala e até a manipulação de vídeos feita por IA: a desinformação não surge “do nada” e costuma estar atrelada a interesses econômicos e políticos. Este foi um dos debates centrais da 6° edição do Festival 3i, promovido pela Ajor (Associação de Jornalismo Digital) entre os dias 6 e 9 de junho na Glória, Zona Sul do Rio de Janeiro.

As redes sociais muitas vezes funcionam como grandes potencializadores da desinformação, e a falta de uma regulamentação específica fortalece estes discursos. O movimento anticiência, por exemplo, nega estudos e notícias comprovadamente verdadeiras, manipula informações e chega a colocar em risco a vida das pessoas – impulsionado pelos algoritmos das plataformas. Foi o que apontou a mesa “Construindo vínculos entre jornalismo e comunidades como estratégia de combate à desinformação”, do Festival 3i. 

 

Jornalista fundador do portal “Mídia Indígena”, Erick Terena

Erick Terena, fundador do portal Mídia Indígena, afirma que o jornalismo de território é um mecanismo crucial para combater a desinformação. Para ele, existe uma necessidade de um jornalismo preocupado essencialmente com o espaço onde está localizado, e não restrito ao eixo Rio-São Paulo-Brasília. “A gente não trabalha o jornalismo, a gente vê a comunicação como sobrevivência. Se deixarmos de nos comunicar, pessoas e biomas vão ser impactadas”, afirma.

De acordo com o Instituto Locomotiva, 90% dos brasileiros afirmam ter acreditado em alguma fake news. Uma das ações recentes pelo Judiciário sobre o tema foi durante a eleição presidencial de 2024. O Artigo 9 da Resolução 23.732/24 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) veda a “divulgação ou compartilhamento de fatos notoriamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral”. Apesar da iniciativa, o Brasil não tem uma tipificação para outros contextos de desinformação.

A promoção da desinformação ganha liberdade e espaço nas redes, e a sensação de impunidade fortalece esses fenômenos fora delas. Entre os limites entre ativismo e jornalismo, Erick Terena reforçou no evento o dever de informar e o papel do jornalismo de se contrapor a desinformação. A defesa do meio ambiente, principalmente por conta de sua origem indígena, e o combate às notícias falsas ou manipuladas são ferramentas em que, segundo ele, não existem lados a serem disputados. “Ativismo não é uma profissão, nós fazemos isso há milhares de anos”, afirma. 

O Brasil não possui legislação sobre regulamentação das redes sociais, mas discute Projetos de Lei (PL) sobre o tema. Está em tramitação no Congresso Nacional o PL 2338/23, que institui um marco legal com mecanismos e orientações para regulamentar a inteligência artificial no Brasil. Em paralelo, também tramita no Congresso o PL 2.159/21, apelidado “PL da Devastação”. Entre as ações está a flexibilização do licenciamento ambiental, o que pode expandir o desmatamento, de acordo com Greenpeace e outras organizações ambientais.

Ferramentas de checagem cada vez mais necessárias

Com o aumento da desinformação, fez-se necessária a criação de ferramentas e até sites inteiros focados apenas em esclarecer se as mensagens que circulam na internet são verdadeiras ou falsas. O Aos Fatos, criado em julho de 2015, é um dos veículos nascidos com essa proposta, e apresentou um de seus resultados durante o Festival 3i: no projeto Check-Up, a equipe do Aos Fatos pesquisou nove portais de notícias, mapeou anúncios em formato de matérias jornalísticas e concluiu que 90% deles espalham desinformação sobre saúde.

Leonardo Cazes, editor-executivo de Aos Fatos. Foto: Julia Lima

Leonardo Cazes, editor-executivo do site, afirmou que o trabalho demorou cerca de 6 meses. Usando ferramentas específicas, a equipe coletou 242 mil dos chamados anúncios nativos relacionados à saúde – as matérias pagas por anunciantes. Segundo ele, o principal tema é a cura “milagrosa” de doenças como diabetes e dores crônicas – que não têm cura cientificamente comprovada, apenas meios de controle. 

O jornalista aponta o uso do argumento de autoridade como o principal fator de convencimento nas desinformações, como falas inventadas do médico Drauzio Varella, e até a atribuição de funções falsas a instituições científicas: “Dizem que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou X remédios, quando na verdade ela só autoriza o uso das coisas”.

 

Chanceleres do BRICS reiteram necessidade de mudança da governança global

Chanceleres do BRICS reiteram necessidade de mudança da governança global

Com 11 países-membros e 9 convidados, a primeira reunião expandida dos BRICS discutiu reformas na gestão política e a reforçou apelo em defesa da paz

Por Everton Victor

Segundo dia de reunião de Ministros das Relações Exteriores no Palácio do Itamaraty. Foto: Isabela Castilho I BRICS Brasil

Em seu primeiro encontro, os chanceleres dos países integrantes dos BRICS defenderam a necessidade de que o bloco dos países emergentes não seja ideológico, mas multipolar. Foi a primeira reunião dos chanceleres após a expansão do agrupamento, agora com 11 países-membros e 9 parceiros. Os representantes se reuniram nos dias 28 e 29 de abril, no Palácio do Itamaraty, Centro do Rio. 

Entre os consensos do encontro estavam o endosso à reforma da governança global e a mecanismos financeiros internacionais, além do rechaço a guerras e a defesa do compartilhamento de conhecimento nas áreas de saúde e tecnologia. Apesar de o documento oficial do encontro ainda não ter sido divulgado, as diferenças dos países não foram maiores do que o consenso em temas comuns, segundo Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil. A reorganização da governança global foi um desses consensos. 

Na prática, os países do Sul Global pedem uma maior diversidade nas instituições internacionais da geopolítica, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, composto desde 1945 por cinco membros permanentes com direito a veto  e dez não permanentes sem direito a veto.

Segundo dia de reunião de Ministros. Foto: Isabela Castilho | BRICS Brasil

O movimento pela reforma do Conselho de Segurança não é recente. Cúpulas anteriores dos BRICS e outros foros de relevância internacional também pressionam pela reorganização da governança global. Durante o G20 no ano passado, por exemplo, o tema também apareceu na declaração final dos líderes. O consenso dos países integrantes do G20 – com China, Rússia, Estados Unidos, França e Reino Unido, os cinco membros permanentes do Conselho – já sugeriu a reforma do Conselho de Segurança e do secretariado da ONU, a fim de incluir mais mulheres e países da Ásia, África, América Latina e Caribe nesses colegiados.

De acordo com Pablo Saturnino, professor do Instituto de Relações Internacionais da Uerj, a ascensão do Sul Global em um contexto de crescimento econômico, aliada à crise dos países desenvolvidos, pode contribuir no avanço da reorganização da governança global. O protagonismo chinês no mundo é um exemplo disso, segundo Saturnino. No ano passado, o Produto Interno Bruto da China foi de 134.9 trilhões de yuans (em torno de 18,5 trilhões de dólares) , um crescimento de 5% em relação ao ano anterior,  segundo o Departamento Nacional de Estatística da China (DNE).

Saturnino afirma que a relevância do Brasil presidir o agrupamento desta vez com mais membros é entender a capacidade prática de diálogo em questões complexas que o país sempre levantou, como transição energética, direitos humanos e a paz mundial. O primeiro encontro dos chanceleres dos BRICS já mostrou alguns desses indícios da capacidade de mediação e liderança do Brasil. 

Neste primeiro encontro, o grupo de chanceleres também endossou o “rechaço” ao protecionismo – em sinalização a um mundo cada vez mais multipolar, com maior participação do Sul Global nas organizações financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Comércio. 

A primeira reunião sinaliza questões de consenso entre os integrantes dos BRICS quando seus líderes se reunirem entre os dias 6 e 7 de julho na cidade do Rio. “Os chanceleres representam um arranjo preparativo para o encontro dos chefes de Estado. É uma forma de produzir convergências e deixar o processo de negociação mais afinado”, explica o professor Saturnino.

Coletiva com o ministro das Relações Exteriores do Brasil Mauro Vieira. Foto:Leticia Santana I Agenc Uerj

O ministro Mauro Vieira afirmou que a primeira reunião construiu pontes. Temas comuns a todos ganharam mais espaço que as diferenças. Além dos fundadores Brasil, África do Sul, China, Índia e Rússia, outras nações passaram a integrar o bloco e participar das discussões. Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã agora também integram o foro. Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão, e, mais recentemente, Nigéria,  irão participar de algumas reuniões como convidados.

Organizações da sociedade civil apresentam reivindicações a representantes do BRICS

Organizações da sociedade civil apresentam reivindicações a representantes do BRICS

Documento da iniciativa People To People inclui demandas como menor dependência do dólar e maior presença do banco de desenvolvimento em países do Sul Global

Por Everton Victor

Deputado Federal Fausto Pinato, senador Humberto Costa, presidente do MST João Paulo e o secretário nacional da Juventude Ronaldo Sorriso (da esquerda para a direita). Foto: Leticia Santana

Em meio a tarifaços de Trump e instabilidade global com a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, representantes da sociedade civil dos países emergentes elaboraram um documento com suas demandas, entregue na última quinta (24) aos representantes dos BRICS. Entre as reivindicações, estão a  redução da dependência do dólar; atuação maior do NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), o banco dos BRICS, nos países do Sul Global; aproximação dos povos dos países integrantes dos BRICS e o fim das guerras. Estes foram alguns dos temas presentes no documento final da iniciativa People to People (P2P) dos BRICS.

Participaram da formulação das demandas aos Líderes dos BRICS, sociedade civil dos países membros. O documento ainda não foi divulgado oficialmente, mas parte de seu conteúdo foi citado em entrevista coletiva realizada no Centro Cultural Light, no Centro do Rio. O People to People, em tradução literal, Pessoas para Pessoas, é um mecanismo dos BRICS para aproximar a sociedade civil e órgãos não governamentais dos países integrantes do bloco. A ideia é aproximar essas populações dos debates que seus líderes estão travando.

De acordo com Fernanda Nanci, professora do Departamento de Relações Internacionais da Uerj, a participação da sociedade civil no Foro People to People indica um encontro dos BRICS mais atento ao que suas populações querem. “Ainda é cedo para afirmar que a sociedade civil exerce protagonismo nas decisões do BRICS, mas há sinais de abertura. É importante destacar que a participação destes atores é filtrada por governos, o que limita a influência da sociedade no BRICS”, explica.

João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Sem Terra Foto: Maria Eduarda Galdino

João Pedro Stédile, coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), afirmou que o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) é uma das sugestões do People To People. O grupo reforçou que o banco desenvolvimentista comandado pela ex-presidenta do Brasil Dilma Rousseff deve intensificar investimentos em industrialização do Sul Global e, para isso, seria necessário um maior aporte dos países-membros na instituição.

Frente aos tarifaços de Donald Trump em diversos países, em especial a China, que chegou a ser taxada em 245%, a sociedade civil, também segundo Stédile, propôs medidas para uma menor dependência de suas nações em relação ao dólar. 

O  People To People não está restrito apenas à sociedade civil. Think tanks, empresas privadas e outros entes não governamentais também podem participar. Ao todo 11 países são membros dos BRICS: Brasil, África do Sul, Arábia Saudita,  China, Rússia, Egito, Índia, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

A paz do mundo e a inserção de outras sociedades como prioridades para as economias emergentes também ganharam espaço no documento. Os movimentos sociais brasileiros cobraram que o encontro dos BRICS seja cada vez mais internacionalista, com mais países integrando o agrupamento. Para isso se concretizar, além da nação convidada aceitar, os demais países membros precisam concordar.

O desafio de uma maior participação também está representado nos entraves, diálogos e debates de diferentes culturas e povos que compõem os BRICS. O agrupamento é responsável por mais de 40% da população mundial, segundo o Fórum Econômico Mundial. Parte desta população vive sob governos autoritários, como o Irã, investigado pela Organização das Nações Unidas (ONU) por violar os direitos humanos e cometer crimes contra a humanidade em 2022. O Irã estava sob  uma onda de protestos após a jovem Mahsa Amini (22), presa por “não usar o hijab corretamente”, morrer sob custódia da polícia após sofrer uma parada cardíaca e entrar em coma, segundo as autoridades locais. 

Apesar das diferenças, a professora acredita na viabilidade de que esses espaços tragam algum avanço nas questões de direitos humanos nos países-membros, através de trocas e demandas coletivas das sociedades integrantes dos países emergentes.

“A participação da sociedade é muito importante para inclusive questionar os regimes autoritários que integram o grupo BRICS, onde não há espaço para uma ampla participação social em decisões e onde existem denúncias de violações de direitos humanos, espaços sociais do BRICS podem gerar pressões para estes Estados terem mais atenção aos temas de direitos humanos e diálogo com a sociedade”.

Lugar de mulher também é na tecnologia

Lugar de mulher também é na tecnologia

Programa investe mais de R$ 3 milhões em negócios comandados por mulheres; na Web Summit Rio, ministra defende diversidade para ampliar excelência da produção científica brasileira

Por Letícia Santana

Ministra Luciana Santos, na cerimônia de abertura do Web Summit. Foto: Letícia Santana

O Web Summit Rio é um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. Na  edição de 2024,  47,5% do público era formado por mulheres, e 45% das startups participantes tinham fundadoras à frente dos negócios. Sede do encontro pelo terceiro ano seguido,  o Rio de Janeiro é destaque global na inclusão de mulheres no ecossistema tech. Ficou à frente até mesmo de Lisboa, onde a média de liderança feminina em startups presentes na edição portuguesa, em 2024, foi de  33%.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Informação, Luciana Santos, falou na noite de abertura do evento ao lado do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do CEO do Web Summit, Paddy Cosgrove, sobre a participação feminina na produção científica. A ministra  anunciou a continuidade do Programa Mulheres Inovadoras, que vai investir mais de R$ 3 milhões para incentivar a participação de mulheres em start-ups.

Nesta edição serão selecionadas dez empresas de cada região do país. As 50  startups, que serão divididas em dois grupos de 25, um de empresas iniciantes e outro de avançadas. A primeira colocada de cada região receberá um investimento de 100 mil reais, e as demais, 51 mil reais. Segundo a ministra, o foco do programa é a capacitação e o reconhecimento dessas profissionais no país.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), no Brasil as mulheres correspondem a 20% dos profissionais de tecnologia, e de acordo com o Fórum Econômico Mundial somente 22% dos profissionais que trabalham com inteligência artificial são mulheres. Os dados refletem a constante desigualdade de gênero na área da tecnologia. Por isso a Rio Web Summit retornou com o programa Women in tech, com a proposta que mulheres compartilhem suas histórias, façam networking e colaborem umas com as outras. Por meio dessa iniciativa, ingressos foram disponibilizados com 90% de desconto para mulheres atuantes na área, promovendo um maior acesso ao evento.

A Agenc conversou com algumas mulheres que apresentaram paineis durante o evento. Marina Godoi (32), ex-advogada que mudou de carreira para trabalhar com tech, atualmente está na Inspira, um legaltech de pesquisa de jurisprudência e recursos de inteligência artificial para facilitar a rotina da advogada. Marina contou sobre o dia a dia e participação feminina na área de tecnologia. “Eu achava que teriam até bem menos mulheres, mas lá, pelo menos na Inspira, tem bastante mudança. Comemoramos no ano passado quando o número de mulheres ultrapassou o dos homens na empresa, inclusive no time de tecnologia, não só no comercial e pós-vendas”, afirmou.

Debora Oliveira no painel expositivo da Ximple durante o evento. Foto: Letícia Santana

Já Débora Oliveira (26) é líder técnica na Ximple, startup mexicana focada em conceder acesso ao crédito a pessoas sem acesso a banco, principalmente pessoas que vendem por catálogos. Ela falou sobre a sua visão sobre o impacto da empresa em que ela trabalha na vida das mulheres: “A maioria das pessoas que vendem por catálogo são mulheres. Então, o que a gente está investindo é justamente no empreendedorismo feminino. Porque quando a gente investe numa mulher que é mãe, tem ali todo um ambiente que ela tem que tomar conta, a gente está trazendo o bem. O empreendedorismo dela vai crescer, mas a gente também está impactando várias outras pessoas que estão ao redor delas.”

O evento ainda não divulgou a porcentagem de participações divididas por gênero, porém uma das metas para esse ano é o aumento significativo na participação das mulheres no mundo da tecnologia.

 

Conheça os BRICS – o encontro das economias emergentes do Sul Global

Conheça os BRICS - o encontro das economias emergentes do Sul Global

Encontro de líderes acontecerá no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho

Por Everton Victor e Julia Lima

Brasil divulga identidade visual para cúpula de 2025 do Brics
Símbolo dos BRICS em 2025, inspirado na árvore amazônica Sumaúma Reprodução: BRICS

O Brasil irá presidir neste ano o encontro dos BRICS –  o grupo de países do Sul Global integrantes da chamada economia emergente. Os BRICS surgiram em 2006, inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia, e, na III Cúpula do bloco em 2011, a África do Sul também passou a compor o bloco econômico.

A reunião dos líderes dos BRICS acontecerá na cidade do Rio durante os dias 6 e 7 de julho, mas antes disso, já estão previstas mais de 100 reuniões em diferentes estados brasileiros. 

O surgimento dos Brics está relacionado com o estudo “Building Better Global Economic BRICs”, publicado em 2001 pelo britânico Jim O’Neil, economista-chefe do banco multinacional Goldman Sachs. O estudo reunia dados que mostravam o rápido crescimento dessas economias emergentes no início dos anos 2000, especialmente da China. Ao longo do estudo, o economista aponta como isso representa o surgimento de novas potências e poderia representar a necessidade da reforma da governança global para incluir essas nações.

Além dos fundadores, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã também integram o foro. Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão, e, mais recentemente, Nigéria,  irão participar de algumas reuniões como convidados, após consulta aos países membros e decisão por consenso.

Inicialmente, o BRICS surge com a aproximação dessas nações sem um caráter formal de acordos unificados entre os países, decisões em nome do bloco, nem mecanismos que representem o grupo. Ao longo das Cúpulas, realizadas anualmente, as nações integrantes firmaram acordos e diferentes meios cooperativos que se intensificaram ao longo dos anos. Hoje,  o fórum dos Brics é um dos principais encontros de articulação político-diplomática do Sul Global. 

De acordo com a professora Fernanda Nanci, do Departamento de Relações Internacionais da Uerj, a liderança do Brasil no agrupamento este ano será estratégica, colocando-o como porta-voz do Sul Global. “A presidência pode ajudar a reforçar uma agenda de cooperação entre os países do BRICS, em um momento de expansão do agrupamento, como facilitação do comércio e investimentos entre os países, financiamento para enfrentar as mudanças climáticas e projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde pública”.

Meses antes de sediar a Cúpula, o Brasil trouxe algumas novidades para os BRICS, como é o caso da plataforma BRICS P2P, destinada a sociedade civil e órgãos não governamentais dos países membros. O objetivo é trazer para o público os diferentes temas que serão discutidos este ano e disponibilizar fóruns, conselhos e reuniões. O modelo é parecido com o G20 Social Participativo, plataforma criada pelo Brasil durante sua gestão do G20 em 2024.

Sobre a posição esperada do Brasil na condução do agrupamento, a professora destaca a possibilidade de um ativismo diplomático com foco em retomar um papel de protagonismo do Brasil entre os países em desenvolvimento. Com o lema: Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável, a presidência brasileira pretende pautar uma série de temas de interesses comuns das nações integrantes com acordos sobre financiamento climático, maior integração comercial e cooperação em diferentes setores da saúde. Discussões sobre inteligência artificial e desenvolvimento institucional do grupo também são algumas das prioridades brasileiras a serem discutidas durante as mais de 100 reuniões previstas do grupo em 2025.

Os olhos do mundo este ano não estarão voltados apenas para os BRICS. O Brasil também presidirá a COP30, a conferência mundial do clima, encontro que acontecerá entre 10 e 21 de novembro em Belém, capital paraense. Mas a capacidade do país em pautar ações concretas sobre a temática ambiental será testada antes mesmo da Cúpula da COP. O que for firmado nos BRICS no âmbito ambiental poderá ser termômetro da capacidade do Brasil liderar a temática ambiental. “Certamente se o Brasil falha ao engajar suas contrapartes dos BRICS em uma discussão mais engajada sobre meio ambiente, sua liderança perde força na temática ambiental. Isso prejudica a projeção internacional do país em um ano que é central, com Belém sendo sede da COP30”, explica Nanci.

O BRICS tem ganhado cada vez mais relevância no cenário mundial. Um dos principais mecanismos é o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado na IV Cúpula do bloco, em julho de 2014, em Fortaleza, e que entrou em vigor anos depois. Seu foco é a representatividade do desenvolvimento sustentável do Sul Global. O banco é responsável por financiar projetos de infraestrutura em diferentes países. Paralelamente, o Arranjo Contingente de Reservas (CRA), é um dos principais mecanismos de proteção do grupo que, através de uma reserva financeira, ajuda as nações integrantes a protegerem suas economias, como um instrumento de liquidez frente a eventuais pressões financeiras que surjam.

Apesar da responsabilidade, não é a primeira que o Brasil pautará em um bloco internacional a questão ambiental. Durante o último, o país presidiu o G20 e a formulação da Declaração dos Líderes do bloco. Entre os consensos presentes na Carta, o compromisso de limitar o aumento da temperatura média global para menos de 2°C. As nações também sinalizaram um esforço para uma outra meta, ainda mais ousada, de limitar o aumento a 1,5°C – o que, segundo o documento, teria efeitos “significativamente melhores”. 

Além do modelo tradicional de participar dos BRICS (como nação integrante ou convidada), um país pode ser convidado para o encontro por meio do modelo “BRICS Outreach” – para nações próximas regionalmente do país que está presidindo o foro. O BRICS plus destinado ao país que preside convida qualquer país independente da proximidade regional. México, Colômbia e Uruguai foram convidados pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para participar dos BRICS neste ano.

Milhões de brasileiros se preparam para as eleições municipais de outubro

Milhões de brasileiros se preparam para as eleições municipais de outubro

A eleição irá determinar os prefeitos, os vice-prefeitos e os vereadores das 5.568 cidades brasileiras

Por: Manoela Oliveira

Reprodução: Pixabay

Em 6 de outubro, cerca de 152 milhões de eleitores participarão da eleição municipal para decidir os vereadores, os prefeitos e os vice-prefeitos de todo o Brasil. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso nenhum candidato consiga metade dos votos válidos em cidades de mais de 200 mil eleitores, o segundo turno ocorrerá em 27 de outubro.

A Lei das Eleições permite o registro de candidatos e de candidatas pelas coligações e pelos partidos políticos até 15 de agosto. O atual prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) pretende se reeleger com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na eleição de 2020, Paes obteve 64,7% dos votos no segundo turno, derrotando o seu concorrente, o então prefeito Marcello Crivella. Paes foi o candidato preferido em todas as zonas eleitorais neste turno, segundo o TSE.

Mapa de apuração das eleições municipais de 2020 / Reprodução: Manoela Oliveira

Na última eleição para prefeito, Paes disparou na região da Grande Tijuca do Rio de Janeiro. De acordo com o TSE, na 229º e na 170º zonas eleitorais, localizadas no Maracanã, ele obteve 75,92% e 77,93% dos votos, respectivamente. Paes também alcançou 78,33% dos votos na Tijuca e conseguiu atingir cerca de 140 mil votos nessas três zonas eleitorais. O atual prefeito é uma aposta para a eleição de 2024, especialmente na Grande Tijuca.

Outros candidatos como Tarcísio Motta (PSOL), Alexandre Ramagem (PL), Cyro Garcia (PSTU), Pedro Duarte (Novo) e Otoni de Paula (MDB) são cotados para concorrerem na disputa eleitoral pela Prefeitura do Rio. Dani Balbi (PCdoB), Marcelo Queiroz (PP) e Juliete Pantoja (UP) também são nomes esperados para a disputa do cargo.

Para os políticos que pretendem ser vereadores, a data-limite para trocar de partido sem a perda do mandato foi 5 de abril. Porém, assim como os candidatos à Prefeitura, eles têm até 15 de agosto para registrarem a candidatura.

Os cidadãos com idade entre 18 a 70 anos são obrigados a votar nas eleições. O voto facultativo é para pessoas com mais de 70 anos, para os analfabetos e para os jovens com idades entre 16 e 18 anos. Segundo o TSE, o prazo para emitir e regularizar o título eleitoral é até o dia 8 de maio.

O TSE disponibiliza atendimento remoto para realizar o alistamento eleitoral e a regulamentação do título de eleitor.