Assédio nas universidades e seus impactos

Assédio nas universidades e seus impactos

Um retrato da violência silenciada em espaços acadêmicos

 

Por Samira Santos

O ambiente universitário, frequentemente idealizado como um espaço de aprendizado e transformação, tem sido palco de uma problemática séria: o assédio. Dados da Controladoria-Geral da União (CGU) revelaram 557 denúncias de assédio em instituições públicas federais em 2024, o que equivale a uma média de duas por dia. Esses números expõem a persistência de uma cultura de silenciamento e impunidade em relação a essa prática, que afeta professores, funcionários e, principalmente, estudantes, especialmente mulheres.

Assédio moral e sexual no estágio (Foto: Pexels)
Assédio moral e sexual no estágio (Foto: Pexels)

 O silêncio das denúncias e subnotificações

Apesar da gravidade do problema, pesquisas apontam que a maioria dos casos de assédio não chega ao conhecimento das autoridades. Um levantamento realizado em 2022 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicou que apenas 10% das ocorrências são formalmente registradas. A subnotificação é reflexo de uma série de fatores, como medo de represálias, falta de apoio institucional e a burocracia envolvida nos processos de denúncia.

Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, em uma década, apenas seis processos administrativos foram abertos relacionados ao tema, e apenas um resultou em punição. Recentemente, um professor da instituição foi suspenso por 15 dias após ser acusado de assédio sexual por duas colegas, gerando críticas sobre a falta de penalidades aplicadas.

Assédio e suas várias formas

O assédio nas universidades pode se manifestar de diferentes formas. O assédio moral envolve condutas abusivas reiteradas, como humilhações e ameaças, que degradam o ambiente acadêmico e afetam a saúde mental das vítimas. Já o assédio sexual inclui desde comentários inapropriados até exigências explícitas de favores sexuais, muitas vezes por pessoas em posições hierárquicas superiores, como professores ou orientadores.

A legislação brasileira tem avançado no enfrentamento a essas práticas. Desde 2001, o Código Penal inclui o assédio sexual como crime, com pena de detenção de um a dois anos. Em 2018, o artigo 215-A ampliou a abrangência para incluir a importunação sexual. Contudo, lacunas permanecem, especialmente na proteção de estudantes em relação a seus orientadores, onde o poder hierárquico é muitas vezes utilizado como instrumento de coerção.

O impacto na saúde mental

O assédio não afeta apenas o desempenho acadêmico, mas também a saúde mental das vítimas. A professora de psicologia Anna Uziel explica que a queda no rendimento, isolamento e desinteresse estão entre os sinais que podem indicar sofrimento psicológico. A professora sugere abordagens que vão além do suporte individual. “Grupos de acolhimento são importantes para fortalecer os estudantes e criar espaços de troca, onde possam compartilhar experiências e encontrar soluções coletivas”.

“Um primeiro ponto que acho muito importante é que, quando falamos de assédio, estamos falando de relações de poder”, afirma Uziel. Ela destaca que a universidade, muitas vezes, apresenta relações hierárquicas e verticalizadas que podem gerar conflitos. “Talvez agora, com o uso desse termo [assédio], estejamos conseguindo falar sobre essas questões e tratar dessas relações de poder que já causam sofrimento”.

O ambiente acadêmico deveria ser um espaço de incentivo e crescimento, mas para muitas mulheres torna-se um local de medo e retraimento. Dados do Instituto Avon,  em 2015, apontam que 67% das universitárias já sofreram algum tipo de violência no ambiente universitário, sendo o assédio sexual a forma mais recorrente, com 56% das alunas relatando experiências desse tipo. “A cultura do silêncio é ainda mais grave do que a da impunidade. Quando não podemos falar ou não encontramos escuta, perpetuamos o ciclo de violência”, explica a professora.

A face extrema da violência de gênero

O feminicídio, expressão máxima da violência de gênero, é um alerta de como práticas abusivas podem evoluir para consequências trágicas. Desde a sanção da Lei do Feminicídio, em 2015, pelo governo Dilma Rousseff, mais de 10 mil mulheres foram vítimas desse crime no Brasil. Em 2024, a Lei 14.994 aumentou a pena para 40 anos de reclusão para feminicídios, demonstrando a gravidade desse tipo de violência.

O discurso de Dilma ao sancionar a lei permanece atual: “Se mete a colher sim, principalmente se resultar em assassinato”. Essa fala ressalta a importância da denúncia e do apoio de familiares e amigos para evitar desfechos fatais.

A cultura do silêncio e a impunidade

A universidade, reflexo da sociedade, reproduz as mesmas opressões de gênero, classe e raça que estruturam a vida social. Pesquisas revelam que mulheres negras e indígenas estão ainda mais vulneráveis a violências, como o racismo interseccional. A escritora Grada Kilomba descreve essas experiências como “cicatrizes históricas que se perpetuam nas estruturas sociais e acadêmicas”.

Além disso, a falta de preparo institucional agrava a situação. Em 2022, apenas 25% das universidades possuíam políticas específicas para enfrentar o assédio, segundo pesquisa da professora Neiva Furlin da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Os Movimentos como o #MeToo e denúncias públicas têm pressionado por mudanças, mas a resistência à implementação de protocolos efetivos ainda é um desafio.

O silenciamento das vítimas (Foto: Freepik)
O silenciamento das vítimas (Foto: Freepik)

Caminhos para a transformação

A aprovação da Lei 14.540/2023, que institui o Programa de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Sexual em instituições públicas, é um passo importante. Ela obriga universidades e órgãos públicos a criar mecanismos de prevenção, acolhimento e responsabilização. Contudo, especialistas alertam que políticas só serão eficazes se acompanhadas de mudanças culturais profundas.

Iniciativas como a Comissão Permanente de Combate aos Assédios da Uerj mostram as estratégias integradas para enfrentar o problema. A Uerj implementou um fluxo institucional para acolher denúncias, apurar casos e promover ações educativas. Embora tenha criado uma cartilha sobre o combate do assédio sexual e moral, a universidade ainda encara dificuldades no acolhimento em sua Ouvidoria. Apesar dos avanços, a universidade ainda enfrenta desafios, como a sobrecarga de trabalho de membros da comissão e a falta de adesão de alguns setores. 

Derek Rabelo, único surfista cego que pega as maiores ondas do mundo

Derek Rabelo, único surfista cego que pega as maiores ondas do mundo

Capixaba, de 33 anos, é exemplo de superação e persistência.

Por: Livia Bronzato

Já se imaginou surfando a maior onda do mundo de Nazaré, em Portugal? E se isso tivesse que ser feito sem enxergar nada? Seria uma tarefa completamente assustadora para a maioria das pessoas, mas não para Derek Rabelo. Ele é o único capaz de pegar as ondas de Nazaré que chegam aos 30 metros, assim como as de Pipeline no Havaí e as de Teahupoo no Taiti.

 

Instagram /Reprodução

Derek Rabelo, surfista profissional cego, na Surf Land.


Derek nasceu em Guarapari (ES) com um glaucoma congênito e, em seus primeiros dias de vida, perdeu a visão. Mas, inspirado pelo pai e por seus tios, ele se interessou pelo surfe desde pequeno. Assim, desenvolveu sua forma única de surfar – ele escuta o barulho das ondas e do vento batendo no mar, sente as ondulações – e, utilizando os seus sentidos, compreende pelo feeling o momento certo de entrar na onda. Para além da prancha no mar, ele já demonstrou que possui também habilidades no skate downhill (modalidade em que o skatista desce uma ladeira em alta velocidade).

Desde então desafia a todos que desacreditam de sua competência e, hoje, além de ser um surfista profissional, palestra em grandes eventos para motivar outras pessoas a seguirem suas batidas nas ondas seus ouvintes. Abordando temas relacionados a superação e motivação, Derek já palestrou para grandes companhias e eventos pelo mundo afora, contando como vive diariamente superando seus próprios limites.


Instagram/Reprodução

Na Rio 2016, o surfista foi escolhido para carregar a Tocha Olímpica no encontro da terra com o mar.


Sua história é tão bonita que foi tema do documentário Além da visão, lançado em 2014 com direção de Bryan S. Jennings e de Bruno Lemos. Além disso, Derek possui sua bibliografia Beyond these eyes: The biography of blind surfer Derek Rabelo, escrita pela editora e jornalista Lynn Goldsmith, que conta em detalhes sua trajetória inspiradora carregada de resiliência.


Instagram/Reprodução

O surfista no mar de Teahupoo.


Confira as redes sociais do surfista: Instagram/DerekRabeloOfficial

Taxação de super-ricos, fim das guerras e metas ambientais urgentes: conheça a Declaração dos Líderes do G20

Taxação de super-ricos, fim das guerras e metas ambientais urgentes: conheça a Declaração dos Líderes do G20

Texto final foi aprovado pelos líderes das maiores economias do mundo ainda durante o primeiro dia da Cúpula; documento reforça acordos já previstos e se compromete com prazos para implementar medidas

Por Everton Victor e Julia Lima

Rio de Janeiro(RJ), 18/11/2024 – Fotografia oficial Aliança global contra a fome e a pobreza G20 Brasil. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com o compromisso de taxar os super-ricos, unir esforços pelo fim das guerras, combater as desigualdades e enfrentar as mudanças climáticas, a Declaração dos Líderes do G20 expressa preocupações com um mundo em transformação. O texto final foi divulgado na segunda-feira (18). 

Todas as decisões do texto foram definidas em consenso entre os países, já que essa é uma determinação da Cúpula.  A promoção da igualdade de gênero, alvo de críticas do presidente argentino, Javier Milei, também foi aprovada.

Os dois últimos encontros, na Indonésia e na Índia, não tiveram um documento oficial por não haver concordância entre os países. 

A seguir, alguns tópicos da declaração do G20:

  • Fim de conflitos armados

Os membros do grupo afirmaram que todos devem evitar ameaças e uso de forças para tomar território e soberania de outro Estado. O documento cita nominalmente a guerra na Ucrânia e seus efeitos negativos para todas as nações envolvidas. Também ressalta que todos os esforços para evitar o sofrimento humano são bem-vindos.

As nações integrantes do G20 também declararam a confiança na convivência pacífica entre o Estado da Palestina e o Estado de Israel, unanimemente, e se comprometeram novamente em avançar no esforço pelo fim das armas nucleares.

  • Taxação de super-ricos

Alvo de impasse com Javier Milei, a taxação dos super-ricos foi aceita pelos membros. Os países cooperarão compartilhando experiências positivas em seus países, promovendo debates sobre o tema e criando políticas contra a evasão de divisas. 

Os líderes mundiais concordaram em continuar debatendo a criação de uma Convenção-Quadro na ONU para cooperação tributária entre os países. Além disso, a tributação progressiva – quem tem mais dinheiro paga mais tributos -, recomendada pela Declaração Ministerial do G20 do Rio de Janeiro, foi endossada pelos líderes.

  • Mudanças climáticas

Para o enfrentamento às mudanças climáticas, as nações propuseram ações  urgentes e reforçaram acordos já existentes. A respeito do Acordo de Paris, o documento reforça o compromisso de limitar o aumento da temperatura média global para menos de 2°C. E, apesar de não garantirem, as nações sinalizam um esforço para uma outra meta, ainda mais ousada, de limitar o aumento a 1,5°C – o que, segundo o documento, teria efeitos “significativamente melhores”. 

O Consenso também abrangeu as emissões líquidas dos gases do efeito estufa. A expectativa do grupo é que até 2050 esse poluente não seja mais usado pelos países integrantes do G20. Também foi apresentada uma meta para o fim da poluição plástica até o final deste ano.

Para o financiamento, o grupo se comprometeu em promover e incentivar investimentos públicos e privados para Soluções Baseadas em Natureza. O presidente Lula conclamou os países a fazerem mais ações concretas. “Todos podem fazer mais”, afirmou o presidente.

O documento também endossou propostas das COPs (sigla de quê) 29 e 30. O presidente Lula afirmou que esta será a última chance para ações efetivas capazes de diminuir os efeitos das mudanças climáticas. “Conto com todos para fazer a COP de Belém ser a COP da Virada”, declarou o presidente.

  • Combate à fome e à pobreza e inclusão social

O principal projeto nesta área é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada na segunda (18). Vão participar 82 países, 2 blocos continentais, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais, que se comprometeram a fazer ações locais e contribuir para ações em outros lugares do mundo com financiamento ou experiências. Destacou-se que os países que estão em situação mais grave devem ser os que receberão maior ajuda, garantindo que “ninguém seja deixado para trás”.

As desigualdades foram reconhecidas pelos países-membros do G20 como um problema “intergeracional”,  que vai muito além de uma pessoa, mas afeta todo o seu conjunto familiar e suas próximas gerações. 

  • Saúde universal

A declaração firma um compromisso pelo avanço da abordagem “One Health”, que compreende as conexões entre as saúdes do meio ambiente e da humanidade e reconhece o potencial medicinal de práticas dos povos tradicionais. A erradicação de epidemias também está presente como prioridade dos países.

Ainda sobre Saúde, o grupo reiterou a legitimidade e a relevância da Organização Mundial da Saúde de coordenar uma “arquitetura global de Saúde” para a promoção de uma cobertura universal. O texto também reconhece a necessidade de se discutir a resistência antimicrobiana, que tem potencial de evoluir para novas pandemias.

  • Igualdade de gênero

Este ponto foi alvo de desacordo com o presidente argentino, Javier Milei, mas foi aprovado por unanimidade entre os líderes.

Além de destacar a criação do Grupo de Trabalho de Empoderamento Feminino, os líderes se comprometeram a indicar e apoiar mais mulheres em posições de poder, inclusive no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU.

  • Reforma da governança global

Os líderes destacaram que o modelo atual de governança não representa o mundo do século XXI, e que é necessária uma reforma para torná-la mais significativa, representativa, transparente e efetiva.

Foi proposta a reforma do Conselho de Segurança e do secretariado da ONU, a fim de incluir mais mulheres e países da Ásia, África, América Latina e Caribe. Também foi sugerida a criação da 25º cadeira no Fundo Monetário Internacional para que haja representação da África Sub-Saariana

  • Tecnologia

A necessidade de transparência e responsabilização das grandes plataformas também foi tema da Declaração. Segundo os líderes, haverá um trabalho conjunto com essas empresas para que sejam elaboradas políticas e estruturas legais capazes de suprir esse vácuo de legislação. 

A Inteligência Artificial foi reconhecida como um instrumento que pode ajudar a população, mas que tem o potencial de ser um risco para os empregos. A proposta dos países é uma regulamentação que possibilite que os usuários usufruam de todo o potencial da IA, mas que sejam protegidos dos riscos que ela pode oferecer.

Sem clima para notícias falsas

Sem clima para notícias falsas

Propagação de desinformação sobre o clima no Brasil foi tema no último dia do CRIA G20; especialistas discutiram o negacionismo climático, os riscos de  disseminar notícias falsas sobre eventos extremos e por que isso atrapalha o socorro às vítimas 

Por Everton Victor e Julia Lima

Apresentação do Instituto Democracia em Xeque durante oficina do CRIA G20. Foto: Maria Eduarda Galdino

Você já ouviu dizer que a Madonna trouxe chuva para o Rio de Janeiro? Ou que as antenas HAARP são responsáveis pelas enchentes no Rio Grande do Sul no início deste ano? As duas são notícias falsas sobre o clima, e, assim como elas, muitos outros tipos de desinformação a respeito do assunto circulam diariamente nas redes sociais. Para discutir a gravidade dessa divulgação, o CRIA G20 realizou neste sábado (16) a oficina “Mapeando a desinformação sobre clima no Brasil”, com participação de pesquisadores da UniRio, da UFRJ e Conscious Advertising Network (CAN), organização britânica que estuda o tema.

Para Giulia Tucci, doutora em ciência da informação pela UFRJ, quem propaga desinformação sobre o clima costuma ter dois principais objetivos: negar os efeitos das mudanças climáticas e descredibilizar instituições e atores ambientais que alertam para os riscos do negacionismo. 

Segundo o Instituto Democracia em Xeque, presente no evento, o maior alvo de desinformação climática é a Amazônia, especialmente no que diz respeito ao trabalho das ONGs que atuam na região. A CPI das ONGs, instalada no Senado Federal em junho de 2023, foi apontada como um dos instrumentos utilizados para a propagação de notícias falsas sobre a região. E elas não vêm somente em formato de matérias jornalísticas; podem ser teorias da conspiração, manipulação de dados de pesquisas científicas, vídeos e áudios.

A propagação de desinformação durante as enchentes do Rio Grande do Sul também foi pauta do encontro. De acordo com o Democracia em Xeque, esse fenômeno interferiu e dificultou as ações de busca, salvamento, doação e direcionamento da população a abrigos; o episódio se repetiu na cidade de Valência, na Espanha, que está sendo atingida por fortes chuvas.

“Mad men fuelling the madness” (Homens loucos alimentando a loucura): frase de António Guterres, secretário-geral da ONU, se tornou um apelo contra a desinformação – Foto: Letícia Santana

Para Jake Dubbins, especialista britânico no tema do clima, o processo de desinformação ocorre de forma coordenada – e não é, como se costuma pensar, algo aleatório restrito a uma ou outra pessoa. Assim, aquele “Tio do Zap” pode até ser uma pessoa real e que você conhece – mas ele consome e compartilha informação falsa porque a “notícia” é manipulada para prender sua atenção.

Essas informações falsas ou distorcidas, além de gerar desinformação, são monetizadas e estão presentes em discursos políticos. A dinâmica das redes, com a busca de cliques e o uso de “cortes rápidos” para exibir apenas trechos dos discursos, muitas vezes descontextualiza o que é fato. Tribunais Eleitorais, veículos de comunicação e plataformas do mundo todo discutem hoje como regulamentar as redes e impedir que discursos como estes impactem a democracia.

Dubbins alertou especialmente para o risco da desinformação em regiões que não têm veículos de checagem nem de jornalismo local. E afirmou que os desertos de notícias são um elemento relevante no processo de desinformação, pois a população não tem como conferir os conteúdos que circulam nas redes. Esta realidade não está distante do Brasil: segundo levantamento do Atlas da Notícia, 26,7 milhões de pessoas vivem em desertos de notícias no país. Os dados, referentes ao ano de 2023, indicam que há 2.712 cidades brasileiras nessa situação. A desinformação não está restrita a estes territórios, quase 90% dos brasileiros admitem ter acreditado em informações falsas, de acordo com o levantamento do Instituto Locomotiva para a Agência Brasil.

“Jesus de camarão”, imagem gerada por inteligência artificial que se tornou exemplo de informação manipulada e difundida nas redes – Foto: Letícia Santana

A oficina realizada no último dia da Cúpula G20 Social faz parte dos debates do Fórum sobre como regulamentar as redes e como enfrentar a desinformação. O tema esteve presente em diferentes reuniões de diferentes dos Grupos de Trabalho do G20. A expectativa é que a desinformação e seus danos à democracia marquem também os debates das principais economias do mundo durante a Cúpula do G20 nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

Ídolos que viraram técnicos

Ídolos que viraram técnicos

A mudança de carreira de Filipe Luís, Rogério Ceni, Gáucho e Zidane.

Por: Livia Bronzato

O Flamengo, sob o comando de Filipe Luís, conquistou a quinta Copa do Brasil do clube, no domingo (10). O técnico possui uma longa história com o rubro-negro, já que sempre declarou que esse era o seu time do coração. Como jogador, em 2019, começou a jogar pelo clube e, em dezembro de 2023, ele encerrou sua carreira de sucesso. Ao longo dos cinco anos, foram alcançados 10 títulos, nacionais e internacionais.

No ano seguinte, assumiu como treinador do sub-17 do Flamengo. Sua passagem na categoria foi rápida com apenas 5 meses, mas vitoriosa, conquistando a Copa Rio. Em seguida, então, enfrentou o desafio de comandar o sub-20 do time, em que também obteve êxito ao conquistar o Intercontinental.

Em outubro, Filipe Luís recebeu a proposta de treinar o profissional do Flamengo e estreou na semifinal da Copa do Brasil, em um jogo vencendo de 1 a 0 o Corinthians. Com um bom desempenho nesse curto período, o treinador conquistou a Copa do Brasil 2024, no início deste mês. Alcançando três títulos ao longo de um ano na nova carreira.

Foto: Gilvan de Souza e Marcelo Cortes / CRF

Assim como Filipe Luís, alguns jogadores, ao encerrarem seus caminhos dentro do campo, decidem investir na carreira de treinador devido ao conhecimento tático que foi adquirido ao longo do tempo. Quando o ídolo de um time retorna como técnico, é normal que a torcida crie expectativa devido ao entusiasmo que é ter uma figura importante de volta ao clube. Entretanto, alguns retornos não obtêm o sucesso esperado.

Rogério Ceni, que foi jogador do São Paulo por 25 anos, voltou como técnico duas vezes: em 2017 e 2021. Ele alcançou 18 títulos como jogador, todavia não obteve sucesso nos campeonatos em suas passagens como treinador. Essa situação pode ser inclusive o motivo de muitos ídolos não desejarem treinar seu time para evitar que sua carreira de sucesso como jogador seja manchada caso sua passagem como técnico não seja boa. Como por exemplo, Zico que nunca treinou o Flamengo. Já Roberto Dinamite arranhou o prestígio de ídolo ao virar presidente do clube, sendo muito contestado nessa função.

Em outros casos, o retorno é positivo e atende às expectativas da torcida. Renato Gaúcho chegou ao Grêmio como ponta-direita, em 1980. Três anos depois, alcançou a Copa Libertadores e a Intercontinental Cup. Firmando-se nessa década como um dos maiores craques do futebol brasileiro.

Renato Gaúcho em campo pelo Grêmio.

Atualmente, ele comanda o time como técnico. Já é sua quarta passagem: 2010 a 2011, 2013, 2016 a 2021 e 2022-atual. Com êxito, conquistou uma Libertadores, uma Copa do Brasil, uma Recopa Sul-Americana, cinco Campeonatos Gaúchos e duas Recopas Gaúchas. Como jogador e como técnico, ele é reverenciado pela torcida e considerado um dos maiores ídolos do clube.

Fora do Brasil, Zidane é um exemplo de sucesso na troca de carreiras. Ele foi meia do Real Madrid de 2000 a 2006 e, durante esse período, conquistou seis títulos: um Mundial, uma Liga dos Campeões da Uefa, uma Supercopa da Uefa, um Campeonato Espanhol e duas Supercopas da Espanha. Zidane também levou três bolas de ouro, sendo duas enquanto estava jogando pelo Real Madrid, em 2000 e 2003.

Zinédine Zidane pelo Real Madrid.

Zidane teve duas passagens como treinador do time. Na primeira, que ocorreu de janeiro de 2016 a maio de 2018, ele ganhou a Champions League, dois Mundiais, duas Supercopas da Uefa, dois Campeonatos Espanhóis e duas Supercopas da Espanha. Durante a segunda passagem, de 2019 a 2021, Zidane conquistou o Campeonato Espanhol e a Supercopa da Espanha de 2019/20. Além disso, em 2014, ele chegou a ser treinador do time B do Real Madrid, o Real Madrid Castilla. Seu currículo como técnico chama muita atenção, não apenas pelo número de títulos, mas pelo curto tempo em que isso ocorreu.

Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)

Empreendedorismo feminino: transformando realidades nas comunidades

Empreendedorismo feminino: transformando realidades nas comunidades

Instituto Dona de Si capacita a mulher, desenvolvendo sua autoestima e sua confiança 

 

Por Samira Santos

Nos últimos anos, a iniciativa de empoderamento feminino tem se mostrado uma ferramenta poderosa de transformação social, especialmente em comunidades e favelas do Rio de Janeiro. Entre os exemplos está o Instituto Dona de Si, fundado pela atriz Suzana Pires, em parceria com a Fundação Casas Bahia, que oferece capacitação gratuita e acolhimento para mulheres de várias regiões do Brasil, promovendo mudanças profundas na vida das participantes.

 

Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)
Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)

A Jornada Transformadora

 

O Instituto Dona de Si, em colaboração com a Fundação Casas Bahia, lançou um programa de capacitação em empreendedorismo focado no desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres. As participantes, residentes em locais como a Rocinha e o Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro, e em comunidades de São Paulo, Porto Alegre e Salvador, têm acesso a cursos que abordam desde a gestão de negócios e organização financeira até comunicação e marketing. O diferencial dessa formação está no acolhimento e na proximidade, com aulas presenciais e online, facilitando o acesso ao aprendizado, mesmo para aquelas com limitações de deslocamento ou com filhos pequenos, como destacou Semirames Santana, uma das alunas do Instituto.

 

Além da parceria com a Fundação Casas Bahia, responsável por apoiar a jornada de capacitação mencionada, o Instituto Dona de Si conta com outros parceiros de peso, como Animale e Prio, que ampliam as oportunidades de formação para as participantes. As educadoras do Instituto, conhecidas como “Educadonas”, orientam as alunas, chamadas de “Aceleradas”, ao longo do processo de desenvolvimento pessoal e profissional. A parceria com Animale, por exemplo, permite a realização de um desfile na Comunidade dos Prazeres, onde as alunas do laboratório de moda criam e apresentam suas próprias roupas, mostrando as habilidades adquiridas e conquistando visibilidade. O Instituto também oferece suporte psicológico, por meio do SAS Brasil, e jurídico, através das Justiceiras, reforçando o compromisso com o bem-estar integral e a autonomia das participantes.

 

“Participar dessas aulas perto de casa mudou tudo para mim. Com uma filha pequena, conseguir me capacitar sem me distanciar da minha rotina foi essencial. Hoje, trabalho em eventos como costureira e sou independente financeiramente”, comenta Semirames, que também compartilhou sobre o impacto do autocuidado em sua vida, tema abordado nos encontros. O apoio psicológico oferecido por meio da parceria com o SAS Brasil ajudou-a no autoconhecimento e autoestima, valores que ela leva para seu negócio.

 

Um dos grandes diferenciais do programa é o foco na saúde e no bem-estar emocional das mulheres, áreas que historicamente recebem pouca atenção nas comunidades. Janice Delfim, gestora do Instituto, enfatiza a importância dessas disciplinas, que vão muito além de ensinar sobre empreendedorismo. “A capacitação trabalha com a mulher como um todo, permitindo que ela se priorize, cuide de sua saúde emocional e compreenda seu valor. O empoderamento feminino começa dentro de cada uma e, a partir disso, elas conseguem cuidar melhor de seus negócios e de suas famílias”.

 

Aluna do Instituto Dona de Si (Foto: Reprodução)
Aluna do Instituto Dona de Si (Foto: Reprodução)

A abordagem integrada proporciona uma visão mais ampla de autoconhecimento e cuidado pessoal, e é esse diferencial que Janice destaca como transformador. A gestora menciona que as participantes, muitas vezes, chegam ao Instituto desgastadas emocionalmente e sem confiança. Com o tempo, elas aprendem a se valorizar e a lidar com as próprias inseguranças. Esse apoio permite que muitas mulheres saiam de situações de dependência emocional e financeira, desenvolvendo a autoestima e a confiança necessária para assumir a liderança de seus negócios.

 

Desafios e Superações 

 

A implementação das aulas presenciais e online encontrou desafios significativos, principalmente no início, como conta Janice Delfim. Convencer as mulheres de que o programa era uma oportunidade genuína de crescimento e totalmente gratuito foi uma barreira inicial, pois a desconfiança é comum em locais onde poucos recursos são oferecidos sem contrapartida. “As mulheres se perguntavam: ‘Será que é verdade? Será que é gratuito?’. Mas, com o depoimento das participantes da primeira turma, a adesão cresceu rapidamente”, explica Janice.

 

Esse processo de construção de confiança foi essencial para o sucesso da iniciativa. Hoje, o programa é procurado por mulheres de várias regiões, e o impacto positivo é notório nas comunidades atendidas. Além disso, a presença de educadoras locais que acompanham de perto as alunas reforça os laços e cria uma rede de apoio.

 

O Desfile dos Prazeres: Uma Passarela de Sonhos

 

Ao final da jornada, as alunas do laboratório de moda do Instituto participam de um desfile na Comunidade dos Prazeres, onde apresentam suas próprias criações. Esse evento é um marco de celebração, permitindo que as empreendedoras mostrem suas habilidades e conquistem o reconhecimento que muitas vezes lhes é negado.

 

Para Semirames Santana, desfilar com as roupas que ela mesma desenhou, modelou e costurou é a realização de um sonho. “A sensação de ver meu trabalho valorizado e de me ver reconhecida como profissional é incrível. Esse evento é muito mais que um desfile; é uma demonstração de tudo o que conseguimos alcançar com dedicação e aprendizado”.

 

O futuro promete novas capacitações, incluindo técnicas específicas como o macramê, tranças e confecção de itens em cetim, visando expandir o portfólio das empreendedoras e gerar novas fontes de renda. Janice Delfim destaca que o objetivo é, eventualmente, criar uma marca coletiva, unindo as participantes em uma rede de apoio para que possam participar de feiras e eventos, solidificando a marca Dona de Si como símbolo de empoderamento e transformação.

 

As histórias das mulheres que participam do Instituto Dona de Si revelam a importância do empreendedorismo feminino como ferramenta de transformação social e de emancipação. Como conclui Ana Cristina Oliveira, uma das alunas da Fundação Casas Bahia: “O curso nos ensina que somos protagonistas de nossa história e que, com apoio e conhecimento, podemos superar desafios e construir uma vida melhor”. Essas trajetórias inspiradoras nos lembram que o empoderamento feminino não é apenas um conceito, mas uma prática diária que transforma vidas e gerações. 

 

Mostra leva visitantes a refletirem sobre danos na sociedade

Mostra leva visitantes a refletirem sobre danos na sociedade

Por Alice Moraes

 

 
Galeria Gustavo Schnoor, exposição Danos. Foto: Alice Moraes
Galeria Gustavo Schnoor, exposição Danos. Foto: Alice Moraes

 

O Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)  inaugurou a exposição “Danos” no dia 24 de outubro. A exposição gratuita está localizada na Galeria Gustavo Schnoor, no Centro Cultural da Uerj, e estará disponível para visitação das 10h às 19h, até o dia 22 de novembro.

Com organização de Lilian do Valle e curadoria de Analu Cunha e Jefferson Medeiros, a exposição tem como objetivo trazer uma reflexão sobre os danos na sociedade. Essa reflexão remete à desigualdade e à questão da arte política.

O mediador do DeCult e estudante do Instituto de Artes da Uerj, Renan Henrique Carvalho, de 25 anos, explicou sobre a ideia de “Danos”. Ele afirmou que “os artistas dessa exposição abordam em diferentes linguagens como podemos ver os diferentes danos em nossa sociedade. “O trabalho de Arthur Palhano, por exemplo, vai tratar o dano de uma maneira mais visceral, mais visível”, comentou Renan. 

A exposição conta com trabalhos de 12 artistas, sendo eles: Amador e Jr., Arthur Palhano, André Vargas, Cláudia Hersz, Cristina Salgado, Davi Baltar, Fel Barros, Gabriel Fampa, Lyz Parayzo, Marcos Roberto, Priscila Rezende e Pio Drummond.

 

Obras de Marco Roberto: “Frio vai, frio vem”, “Leito de papelão” e “O fogo não pode apagar”, 2021. Foto: Alice Moraes
Obras de Marco Roberto: “Frio vai, frio vem”, “Leito de papelão” e “O fogo não pode apagar”, 2021. Foto: Alice Moraes

Segundo o mediador,  as obras na foto acima tem como intenção fazer o visitante pensar nas pessoas em situação de rua. Renan esclareceu que as obras de Marco Roberto tratam a questão da desigualdade. “Essa arte aborda a situação dos moradores de rua, vai associar (a situação deles)  às placas de trânsito e ao cotidiano, como uma forma de nos levar a pensar nessas circunstâncias”, explica o mediador. 

As galerias de arte da Universidade são essenciais para oferecer aos alunos e ao público de fora acesso à arte e à cultura. Nelas, os visitantes têm a possibilidade de fazer reflexões valiosas através das obras de arte. Na Galeria Gustavo Schnoor, artistas de todo o Brasil conseguem expor suas obras não só para os estudantes de arte, mas também para todos os que se interessam pelo tema. 

Sobre isso, Renan Henrique Carvalho pontuou que as exposições nas galerias valorizam a cultura da Universidade. “A galeria mostra que a Uerj não é aquele clichê de bagunça e baderna, porque também produzimos muito conteúdo, conhecimento e fazer artístico”, disse ele

Inteligência Artificial e a luta contra o câncer de mama: desafios, potenciais e realidade brasileira

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Outubro passou, mas a prevenção ao câncer de mama deve ser feita ao longo do ano todo, alertam especialistas

Por Samira Santos

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre mulheres em todo o mundo, representando cerca de 28% dos novos casos de câncer em mulheres no Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Embora raro em homens, a doença também afeta o sexo masculino, correspondendo a menos de 1% dos casos. Com aumento na incidência após os 50 anos e diversos fatores de risco associados, como idade e obesidade, a luta contra o câncer de mama enfrenta desafios que vão desde a falta de conscientização até limitações tecnológicas no diagnóstico precoce.

 

Exame de mamografia (Foto: Agência Brasil)
Exame de mamografia (Foto: Agência Brasil)

 

A nova fronteira: Inteligência Artificial no diagnóstico de câncer do mama

Com a evolução das tecnologias de diagnóstico por imagem, como mamografias e ultrassonografias, uma das inovações mais promissoras é a inteligência artificial (IA). A aplicação de IA no campo da medicina, especialmente no diagnóstico de câncer de mama, promete transformar a detecção precoce. Para entender melhor como a IA pode ajudar no combate ao câncer de mama, entrevistamos o Dr. Luiz Fernando Amaral, mastologista e chefe do Ambulatório de Mastologia do Hupe-Uerj. Com experiência acumulada desde 1997, ele compartilha os benefícios e as limitações do uso de IA no Brasil, trazendo uma visão prática e realista sobre o tema.

 

Questionado sobre as vantagens da IA no diagnóstico precoce do câncer de mama, o Dr. Luiz destaca que o uso representa “um grande avanço, principalmente na leitura de mamografias, ultrassons e ressonâncias magnéticas”. Ele explica que a tecnologia ajuda a identificar padrões complexos e sutis no tecido mamário que podem indicar a presença de um tumor em estágio inicial, o que seria impossível de detectar pelo olho humano.

 

Ainda assim, o Dr. Luiz alerta para a realidade dos mamógrafos no Brasil: “Apenas 60% dos mamógrafos no Sistema Único de Saúde (SUS) são digitais. Então, temos que ter cautela com o entusiasmo pela IA, pois essa tecnologia ainda não é amplamente acessível e enfrenta desafios estruturais”. Esse cenário revela um desafio importante: enquanto países desenvolvidos avançam rapidamente no uso de IA, o Brasil ainda precisa enfrentar a falta de equipamentos modernos.

 

Embora a mamografia digital seja uma ferramenta central, o Dr. Luiz reforça a importância de métodos complementares, como ultrassonografia e ressonância magnética. “Na maior parte do Brasil, a acessibilidade a esses exames ainda é limitada”, observa. Segundo ele, a detecção precoce é possível com mamografia anual, especialmente para mulheres a partir dos 50 anos. Ele destaca a necessidade de melhorar a cobertura e acesso ao exame, inclusive recomendando o início do rastreamento aos 40 anos, conforme indica a Sociedade Brasileira de Mastologia.

 

Com modelos de IA desenvolvidos em instituições como o MIT, hoje é possível prever o câncer de mama com até cinco anos de antecedência. Esses sistemas analisam um vasto banco de dados e identificam padrões associados ao risco de câncer. “A IA pode sinalizar alertas em casos onde há histórico familiar, aumentando as chances de detectar o câncer em estágios iniciais. Entretanto, a aplicabilidade é limitada no Brasil, onde o sistema de saúde ainda carece de mamógrafos digitais em grande parte do país”, explica o Dr. Luiz.

 

Ele ressalta que, embora os algoritmos sejam promissores para auxiliar na avaliação de risco, uma boa anamnese e a integração com bancos de dados específicos de cada país são cruciais para adaptar a tecnologia à realidade local. Esse tipo de IA pode ser especialmente útil para identificar padrões de risco em pacientes que apresentam histórico familiar de câncer.

 

O avanço da IA poderia impactar a frequência e tipo de exames recomendados, mas, segundo Dr. Luiz, “antes de implementar a IA em grande escala, o Brasil precisa assegurar que todas as mulheres tenham acesso à mamografia”. Com o rastreamento adequado, mesmo antes do uso da IA, já seria possível aumentar significativamente a taxa de detecção precoce e reduzir a mortalidade. Para ele, o uso da IA pode ser um ganho importante no futuro, mas que ainda está distante da realidade brasileira.

 

Limitações e realidade brasileira

A prevenção continua sendo uma arma fundamental contra o câncer de mama. Dr. Luiz Fernando explica que, no caso das mulheres, fatores como a gravidez entre os 20 e 30 anos e o aleitamento materno reduzem o risco. Após a menopausa, manter uma rotina de atividade física e evitar o sobrepeso são medidas eficazes para prevenir a doença. “A falta de conscientização sobre o rastreamento é um desafio. Ainda há muitas mulheres que nunca fizeram uma mamografia, e muitos não sabem que homens também podem ter câncer de mama”.

 

Mesmo em países de primeiro mundo, a IA para o diagnóstico de câncer ainda está em fase inicial. O Dr. Luiz alerta para o problema estrutural de base no Brasil, onde o acesso a equipamentos modernos é uma barreira significativa. “Se conseguirmos garantir que todos os mamógrafos do SUS sejam digitais, já seria um avanço importante. A IA é promissora, mas ainda não é uma realidade para a maioria das localidades do país, que carecem de infraestrutura adequada”.

 

Importância da prevenção no outubro rosa (Foto: Canva)
Importância da prevenção no outubro rosa (Foto: Canva)

Ele finaliza com uma visão cautelosa, enfatizando que a inteligência artificial, embora revolucionária, ainda precisará de muito tempo e investimentos para estar plenamente acessível em um sistema de saúde tão desigual quanto o brasileiro.

 

A inteligência artificial surge como uma das principais promessas na luta contra o câncer de mama. Contudo, sua implementação no Brasil esbarra em limitações tecnológicas e estruturais. Como destaca o Dr. Luiz Fernando Amaral, a IA será uma grande aliada na medicina, mas é preciso garantir que o básico — como mamógrafos digitais acessíveis em todo o país — esteja ao alcance de todos.

 

Exposição “Amamentamos Esse País” chega à Uerj

Exposição “Amamentamos Esse País” chega à Uerj

Um grito da maternidade preta em forma de arte.

Por: Gabriela Martin

Fotografia da exposição “Amamentamos esse país”. Foto: Gabriela Martin

 

O Laboratório de Fotografia da Faculdade de Comunicação Social da Uerj inaugurou, na quinta-feira (24), a exposição “Amamentamos Esse País”, da artista visual Marina S. Alves. A instalação de fotografias e vídeo funcionará até dezembro, de segunda a sexta, das 9h às 19h, na sala 10.018, no 10° andar da Uerj.


Com a curadoria de Leandro Pimentel, o trabalho é o resultado do encontro de quatro mulheres que perderam seus filhos vítimas da violência do Estado. A artista visual reuniu Bruna, Mônica, Nadia e Nívia, que compartilharam memórias e documentos pessoais dos seus filhos.


Contrapondo-se ao discurso hegemônico, Marina busca, por meio de suas obras, humanizar os relatos dessas mães a partir da afetividade e das memórias em vida dos jovens. “Ele amava essa bermuda de bolinha que eu comprei lá em Madureira. Quando abriu atrás, ele mesmo costurou”, rememora Nadia, em vídeo produzido pela artista.

 

Roda de Conversa. Nivia, Marina, Mônica e Nadia. Foto: Gabriela Martin

 

Roda de Conversa. Foto: Lívia Maria Oliveira

 

Por meio das fotografias e vídeo, essas mulheres buscam denunciar o racismo entranhado na sociedade, evidenciando a impunidade e a justiça seletiva do país. “Amamentamos Esse País” é fruto da união e da corrente de apoio entre essas mães. “Você perde um filho e aí a quem você recorre? Quando você é uma mulher preta, periférica, o que você faz? Você se junta. Você se aquilomba. Esse projeto é um aquilombamento de mulheres pretas, com uma rede de apoio poderosa”, reflete a artista durante roda de conversa que inaugurou o evento.


A ressignificação de justiça em forma de afeto e arte é um conforto a essas mulheres, que sofrem todos os dias com o abandono e a violência causada pelo Estado. Sobre isso, Nívia cria um conceito chamado de “justiça afetiva”, e explica: “Por isso eu criei esse conceito de ‘justiça afetiva’, nós acreditamos muito mais nessa justiça, a que nós produzimos, do que nessa justiça criada de branco para branco”.

Sobre o processo artístico


Marina S. Alves, que, além de artista visual, é cientista social e angoleira, contou ainda na roda de conversa que inaugurou o evento um pouco do processo criativo e das técnicas utilizadas. A escolha de fotografar documentos como carteira de trabalho, boletim escolar e identidade tem um valor simbólico que materializa a existência daqueles jovens, além do viés de resistência, já que houve a tentativa do Estado de apagá-los ou destruí-los.

 

Fotografia da exposição “Amamentamos Esse País”. Foto: Gabriela Martin

 

Uma de suas obras é a fotografia da carteira de trabalho nunca assinada de uma das vítimas. Marina fala o quanto essa foto é significativa no contexto social brasileiro. “Pra mim, ela é um resumo do que é o Brasil estruturalmente. Os meninos nunca tiveram carteira assinada. E isso significa muita coisa. E não é porque eles não tentaram”.

 

Quanto à estética, a artista diz que o projeto foi separado em duas partes, a primeira feita em uma luz fria e direta, no porão de sua casa. Já a segunda foi fotografada ao ar livre, na natureza. Marina explica que utilizou um vidro que foi colocado na grama e, em cima dele, ela posicionou os documentos, fazendo uma conversa do céu, a partir do reflexo do vidro, com a terra.

WSL 2025: Estrelas brasileiras do surf

WSL 2025: Estrelas brasileiras do surf

Conheça os brasileiros que estarão entre a elite do surf mundial.

Por: Livia Bronzato

Doze surfistas representarão a Tempestade Brasileira na Championship Tour (CT) da World Surf League (WSL) em 2025. Os nomes foram confirmados após a etapa de Saquarema da Challenger Series, que aconteceu em 16 de outubro. Serão 11 surfistas no masculino e 1 no feminino. Confira os nomes abaixo.

Tatiana Weston-Webb será a única representante feminina na elite do surfe. Tati coleciona medalhas ao longo de sua carreira. Ela levou a prata nas Olimpíadas de Paris 2024. Já nos Jogos Pan-americanos, conseguiu alcançar o ouro na edição de 2023. Weston-Webb é uma grande atleta brasileira e possui grandes chances de alcançar o pódio na próxima edição da CT da WSL.

Foto: Ed Sloane/WSL

Tati Weston-Webb em sua performance.

O Brasil é muito bem representado na categoria masculina, possuindo muitos nomes talentosos. Ítalo Ferreira, Yago Dora e Gabriel Medina também estarão na CT de 2025.
Ítalo foi vice-campeão na WSL 2024, além de já ter conquistado o ouro nas Olimpíadas de Tóquio 2020. Medina é tricampeão mundial de surf da ASP World Tour (2014, 2018 e 2021), mas ficou de fora do Finals em 2024. E Yago Dora disputou o título esse ano, terminando em sexto lugar.

Foto: Matt Dunbar/WSL

Surfista Gabriel Medina.

Foto: Divulgação/WSL

Ítalo Ferreira em ação.

Na Challenger Series, os surfistas podem conquistar uma vaga para a Championship Tour. Entre as 10 disponíveis, 6 foram levadas por nossos atletas: Samuel Pupo, Miguel Pupo, Deivid Silva, Alejo Muniz, Ian Gouveia e Edgard Groggia.

Além disso, Filipe Toledo e João Chianca, conhecido como Chumbinho, participarão da CT de 2025. Eles estão como Wildcards, uma espécie de convite da WSL. Filipe é bicampeão mundial e não participou da CT deste ano, para cuidar da sua saúde psicológica.

Calendário completo de 2025:
  • Pipeline, Havaí: 27 de janeiro a 8 de fevereiro
  • Surf Abu Dhabi, Abu Dhabi: 14 a 16 de fevereiro
  • Peniche, Portugal: 15 a 25 de março
  • Punta Roca, El Salvador: 2 a 12 de abril
  • Bells Beach, Austrália: 18 a 28 de abril
  • Snapper Rocks, Austrália: 3 a 13 de maio
  • Margaret River, Austrália: 17 a 27 de maio
  • Lower Trestles, EUA: 9 a 17 de junho
  • Saquarema, Brasil: 21 a 29 de junho
  • Jeffreys Bay, África do Sul: 11 a 20 de julho
  • Teahupo’o, Taiti: 7 a 16 de agosto
  • Cloudbreak, Fiji: 27 de agosto a 4 de setembro (Finals)