Ator Benício Del Toro e atriz Mia Threaplenton em Esquema fenício 2025 (Reprodução: internet)
No novo filme do diretor americano Wes Anderson, Zsa-Zsa Korda (Benicio del Toro) é um magnata envolvido em uma série de polêmicas e odiado por muitos. Quando o empresário sofre um atentado à sua vida em um acidente de avião, ele percebe que todo o seu trabalho e fortuna estão sob ameaça. Por isso, ele decide nomear uma herdeira, mas escolhe uma figura um tanto quanto peculiar: sua filha Liesl (MiaThreapleton), uma noviça que está prestes a se tornar oficialmente freira e com quem mantém uma relação conturbada. Mas quando o maior projeto de Korda é ameaçado, pai e filha precisam viajar para negociar com os principais investidores envolvidos e garantir o sucesso do empreendimento.
O filme se estrutura em uma narrativa constituída por múltiplos capítulos, cada um associado a um dos investidores que Korda tenta persuadir a fim de conseguir auxílio para superar uma lacuna monetária no processo de construção desse grandioso projeto que, inclusive, dá nome ao filme, o esquema fenício. Dentre esses investidores se destacam alguns outros grandes nomes que compõem o elenco, como Scarlett Johansson, Tom Hanks, Bill Murray e Benedict Cumberbatch. Como característico do estilo de Wes Anderson, o filme se destaca por sua identidade visual bem singular, com muitos planos abertos e cenários que fazem uso de uma paleta de cores vívidas e de padrões extremamente simétricos.
O roteiro é marcado por uma oposição entre repetições e elementos extraordinários. Assim, enquanto algumas falas e ações se repetem várias vezes ao longo da obra (embora com novos significados em diferentes momentos), atos inesperados e situações completamente inusitadas também estão presentes na trama e deixam o público cada vez mais curioso para saber o que acontecerá em seguida. A natureza cômica do filme se pauta justamente nessa surpresa que se quer gerar na audiência, nesse sentido de uma coisa que é tão absurda, que é engraçada. São cenas de ação, ameaças de morte e eventos quase impossíveis que se entrelaçam com o cotidiano dos personagens e que são tratados com tanta naturalidade dentro da história que provocam esse efeito de humor.
Essas escolhas levam a obra a assumir um caráter completamente fantasioso, algo que foge totalmente do que pertence ao mundo real, sem precisar recorrer a elementos mágicos ou sobrenaturais, e é justamente por isso que diverte o público. Esse aspecto fantasioso é reforçado no comportamento e atitudes dos personagens. Zsa-zsa é a caricatura de um empresário corrupto e cruel. Um homem frio, inexpressivo, incapaz de manter boas relações pessoais e que não mede esforços para possuir dinheiro e poder.
Por outro lado, Liesl é uma moça correta e religiosa, que vive segundo as regras morais que aprendeu no convento onde foi criada e que busca acabar com o sofrimento alheio.
O mais interessante aqui, porém, é ver como esses papéis vão se transformando ao longo do filme e como a convivência entre pai e filha vai permitindo que novas facetas de ambos os personagens sejam reveladas.
O esquema fenício é um filme que pode não ser recebido tão bem por todas as pessoas por explorar um estilo de humor muito irônico e pela natureza peculiar de determinadas abordagens. Também não é um filme com uma emocionante lição de moral e talvez não seja a mais extraordinária obra de Wes Anderson. Mas é um filme que, por meio de personagens ora previsíveis, ora completamente surpreendentes, brinca com a capacidade humorística do acaso e que cumpre exatamente o que promete: um momento de diversão e entretenimento para o espectador.
Nota: 3.5/5