Estaduais: tradição e decadência

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Estaduais: tradição e decadência

De principais competições dos grandes clubes a torneios ‘descartáveis’, competições locais enfrentam grande crise.

Por: Isaque Ramos

Os estaduais foram durante um século as principais competições dos grandes clubes brasileiros, foram lá que nasceram e afloraram as rivalidades que conhecemos hoje em dia, afinal, foi em um estadual, no Campeonato Carioca de 1906, que foi jogado o primeiro Botafogo x Fluminense da história, o Clássico Vovô, o mais antigo do Brasil e o terceiro mais antigo do continente americano. Foi também no Campeonato Carioca que clássicos como o Fla-Flu e o Clássico dos Milhões tiveram os principais capítulos de suas histórias, desde o gol de barriga de Renato Gaúcho até o gol do Pet aos 43 minutos do segundo tempo.

Mas afinal, como um campeonato tão rico em história e com uma importância cultural tão grande chega ao ponto de ser “descartável” para, não só os clubes, mas também para os torcedores?                                  

                       

                                      Reprodução: Instagram (@Maracana)            

No início dos anos 2000, o desgaste dos Campeonatos Estaduais já era notório. Com a criação da Copa do Brasil no final do século XX, juntamente com a consolidação do Campeonato Brasileiro como a principal competição nacional – com o aditivo do ganho de importância da Copa Libertadores – os estaduais foram, cada vez mais, reduzidos a meros “coadjuvantes” no calendário esportivo dos grandes clubes do Brasil.

Outro ponto importante a ser levado em consideração é a questão financeira. A título de comparação, enquanto a Copa do Brasil pagou R$ 73,5 milhões ao campeão, o Campeonato Carioca desde 2021 não paga premiação ao seu campeão.

Diante desse cenário, é comum vermos clubes cada vez mais usando times alternativos durante o estadual, e às vezes até escalando apenas jogadores das categorias de base. Com esse claro desinteresse dos clubes, os torcedores obviamente também passam a tratar a competição de forma secundária. Não é incomum vermos os grandes clubes jogando para públicos minúsculos as suas primeiras partidas de estadual, explicitando o desinteresse cada vez maior do público com a competição.

A mudança constante de formato da competição também é um ponto que contribuiu para essa atual momento dos estaduais, dos anos 2000 pra cá o Campeonato Carioca passou por inúmeras mudanças de regulamento e formato, indo desde o tradicional formato do campeão da Taça Guanabara enfrentar o campeão da Taça Rio para decidir o título estadual, até um formato de turno único (Taça Guanabara) + mata-mata. Para o próximo ano, por exemplo, a Federação Estadual de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) já anunciou novas mudanças no formato do “Cariocão’, voltando ao sistema de grupos (abandonando o turno único) e com a final sendo disputada em jogo único. Isso sem contar é claro as várias mudanças referentes ao número de clubes participantes.

Somado a isso, nesta quarta-feira, o presidente da CBF Samir Xaud anunciou mudanças importantes referentes aos estaduais, como a diminuição de 16 para 11 datas, causando não só um impacto esportivo, como também um ainda maior impacto financeiro, já que, com menos jogos, se diminui também o dinheiro das cotas de TV. 

Como os estaduais irão ser percebidos a partir das mudanças já para o ano que vem é incerto, mas é possível notar que, se o interesse do público e dos clubes em relação a competição não mudar, os estaduais vão continuar perdendo relevância dia após dia.

                                                Reprodução: Instagram (@samir.xaud).

 

   

                  O presidente da CBF, Samir Xaud, anuncia mudanças no calendário dos estaduais.   

Estaduais: tradição e decadência

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