Quem é o maior estrangeiro da história do Flamengo?
Por Livia Bronzato
Arrascaeta tornou-se, com 78 gols, o segundo maior artilheiro estrangeiro do Flamengo. No início do mês passado, o atual camisa 10 marcou os dois e únicos gols na partida contra o Grêmio, pelo Brasileirão. Anteriormente, ele possuía 76 gols e estava empatado com Jorge Benítez. Mas e o número 1, quem é?
Esta é a lista dos 5 maiores goleadores estrangeiros:
1º – Doval: 94 gols (argentino, jogou de 1969 a 75)
2º – Arrascaeta: 78 gols (uruguaio, jogou de 2019 até hoje)
3º – Jorge Benítez: 76 gols (paraguaio, jogou de 1952 a 56)
4° – Petkovic: 57 gols (sérvio, jogou de 2000 a 02 e 2009 a 11)
5° – Sidney Pullen: 49 gols (inglês, jogou de 1915 a 25)
Narciso Doval
Crédito: Reprodução

O jogador chega, em 69, ao Flamengo, que faz uma péssima campanha no Robertão daquele ano, ficando em último lugar. Na Taça Rio, foi vice-campeão pelo Fluminense, por 1 a 0. Apesar da fase instável do Flamengo, Doval não deixava de elogiar o time e sua torcida rubro-negra desde sua chegada.
“Jogar no Flamengo é simplesmente fascinante. Essa história de que a camisa do Flamengo corre sozinha, dribla e faz gols é mais que uma história, é uma verdade. É gente que ganha o jogo nas arquibancadas. Seu grito é grito de guerra, que empurra o jogador para frente. A torcida rubro-negra é um milagre”, exclamou Doval, em 1970. Naquele ano, o time conquistou a Taça Guanabara, que, então, era um campeonato à parte, em cima do tricolor. No entanto, desentendimentos com o técnico Yustrich levaram o clube a emprestar o jogador.
Após uma temporada no Huracán, voltou ao rubro-negro em 1972. Não demorou para mostrar todo seu talento. Em um feriado de 7 de setembro, em que se comemoravam os 150 anos da Independência do Brasil, cerca de 130 mil pessoas foram ao Maracanã. Na final do Carioca, Flamengo e Fluminense se enfrentavam, e Doval, para a alegria da nação rubro-negra, fazia um dos gols do título, na partida que terminou em 2 a 1. Além disso, o argentino foi campeão carioca em 74, a vitória ficou com o Flamengo em uma final triangular: Flamengo ganhou do América e empatou com o Vasco, enquanto os outros dois times empataram entre si.
Durante sua passagem pelo time, o argentino entrou com processo de naturalização brasileira e gostava de se declarar carioca, ficando conhecido como “o argentino mais carioca do Brasil”. Doval era louro, de olhos azuis e clássico galanteador, sempre visto na praia de Ipanema com fãs e considerado um bon vivant fora de campo.
Saiu do Mengão no ano de 1975, fazendo sua última partida contra o Santa Cruz no Maracanã. No meio do jogo, a torcida pedia para que ele saísse do banco e entrasse na partida. Chegou a conseguir empatar momentaneamente, mas seu gol foi invalidado e, por fim, o time rubro-negro perdeu de 3 a 1.
Em entrevista para o LED, o professor da FCS Ronaldo Helal contou sobre sua relação com o argentino, que frequentava sua casa e foi considerado parte da família desde sua chegada ao Brasil. George Helal, pai de Ronaldo, era diretor de Futebol do Flamengo, quando Doval foi contratado. Inclusive, o contrato foi assinado na própria casa da família.
Foto: Arquivo pessoal/Ronaldo Helal

Doval e George Helal jogando sinuca no apartamento de George.
Ronaldo, que tinha 13 anos, relatou que Doval, durante as primeiras semanas no Brasil, ficou hospedado em sua casa e, logo, uma relação de afeto foi estabelecida entre ele e a família de Helal. Para nosso entrevistado, o jogador virou um grande ídolo e, durante sua adolescência, gostava de assumir a mesma posição de Doval, nas “peladas”.
Foto: Arquivo pessoal/Ronaldo Helal

Doval (primeiro à esq.), acompanhado de Zico e Ronaldo (terceiro e segundo à dir.).
Ronaldo Helal conta, também, sobre uma lembrança curiosa. Helal ficou um tempo sem encontrar Doval, após ele ingressar no Fluminense. Em um dia qualquer, ao chegar a casa, ouviu a voz do argentino em algum cômodo. Depressa, Helal correu para seu quarto e trancou a porta, em meio a lágrimas, acusava o jogador de “traição” por ter saído do rubro-negro e ido vestir a camisa tricolor. Depois de muita insistência, por parte do goleador, pedindo que Ronaldo abrisse a porta, se viram novamente e trocaram um abraço de saudade, mesmo que Ronaldo ainda estivesse chateado com o amigo.