E-sports: jogos eletrônicos estão ganhando cada vez mais protagonismo.

E-sports: jogos eletrônicos estão ganhando cada vez mais protagonismo.

Por: Letícia Ribeiro

À medida que a tecnologia ganha espaço, com a inteligência artificial, realidade virtual, entre outras, os e-sports também começam a ganhar mais protagonismo, saindo de sua bolha. Os jogos virtuais, apesar de terem ganhado maior popularidade nos últimos anos, têm raízes há cerca de cinco décadas, especificamente, em outubro de 1972 – quando data a primeira disputa oficial de games: as Olimpíadas Intergalácticas de Spacewar, que aconteceram na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Entretanto, mesmo com esse start, a modalidade só ganhou reconhecimento global nos anos 2000, com games como Counter-Strike e Warcraft. Agora, os e-sports se espalharam pelo mundo.

O que são e-sports?

Abreviação do termo eletronic sports (esportes eletrônicos), os e-sports são jogos eletrônicos que possuem um ambiente competitivo organizado, ou seja, os jogadores competem uns com os outros. Entretanto, nem todo jogo com essas características torna-se um e-sport. Segundo a Confederação Brasileira de E-sports, são e-sports os games que possuem competição entre profissionais, comumente assistidas pelo público através de alguma plataforma de streaming – a Twitch, por exemplo, é a plataforma mais famosa de transmissão de jogos. 

Um jogo não nasce sendo um e-sport, critérios como jogabilidade e visibilidade, são fatores decisivos para torná-lo uma modalidade esportiva. No que tange à jogabilidade, é preciso que seja divertido e que, principalmente, seja atraente para os jogadores, como em League Of Legends, fenômeno no mundo dos games, que sempre têm coisas novas e as classificações, conhecidos como elos – que vão do ferro a grão-mestre. 

Imagem: Pexels/Alena Darmel

Jogos Olímpicos de E-sports

Às vésperas das Olimpíadas de Paris, o Comitê Olímpico Internacional (COI), por unanimidade de votos, aprovou a criação dos Jogos Olímpicos de E-sports. O evento voltado para os games, diferentemente da tradição esportiva, terá realização de dois em dois anos a partir de 2025, com a primeira edição já com local definido: Arábia Saudita. Segundo o COI, as Olimpíadas voltadas para os games terão três modalidades: esportes físicos disputados em plataforma virtual; simuladores de esportes e games de e-sports – o último alinhado aos valores olímpicos, nesse sentido, jogos de tiro, como o famoso Counter-Strike, até então, não serão incluídos. 

E-sports no Brasil

A indústria dos jogos eletrônicos cresce significativamente a cada ano, e países como Estados Unidos e Coreia do Sul investem arduamente nessa modalidade – cerca de 600 universidades norte-americanas incluíram equipes de esportes universitários e bolsas de estudo para os e-sports. No Brasil, o Campeonato Brasileiro de League Of Legends (CBLOL) conta com mais de 300 mil espectadores. 

Apesar da grandiosidade dos campeonatos, eles não costumam sair da bolha dos games. Em entrevista à AJ, Davi Castiel, jogador profissional de CS (Counter-Strike), campeão do Maricá Games, comenta sobre a expectativa dos e-sports serem mais conhecidos no Brasil: “Ainda existe um certo preconceito aqui, isso acaba fazendo com que os investimentos sejam escassos.”

“A comunidade sempre quis ver os e-sports como modalidade, sempre tivemos vontade de mostrar ao mundo que videogame também é um trabalho. O Brasil é recheado de excelentes jogadores, respeitados entre vários jogos, como CS, Valorant, R6, Fifa”, disse o jogador.

Orkut, a rede social sucesso da internet no Brasil nos anos 2000, volta em breve, garante criador Orkut Buyukkokten na Rio Innovation Week

Orkut, a rede social sucesso da internet no Brasil nos anos 2000, volta em breve, garante criador Orkut Buyukkokten na Rio Innovation Week

 

Revelação foi no evento de tecnologia e inovação Rio Innovation Week, mas sem data para retorno

Por: Vinícius Rodrigues

Fernando Souza/RIW/Divulgação

Anotar o e-mail de alguém para depois adicionar como amigo, caprichar no texto do perfil, tirar aquela foto que você nem sabia que era uma “selfie” para postar na sua galeria, mandar um “scrap”, entrar naquela comunidade que você adorava e ler os depoimentos dos seus amigos, tudo isso era possível no pai das redes sociais: o Orkut, sucesso da internet nos anos 2000, e que pode voltar em breve, alerta o seu criador, Orkut Buyukkokten.

Foi no evento de tecnologia e inovação Rio Innovation Week, que ocorreu de 13 a 16 de agosto de 2024, no Píer Mauá, zona central do Rio de Janeiro, que o dono de uma das redes sociais mais nostálgicas de todos os tempos, revelou que pretende trazê-la de volta em breve, mas sem data para o projeto acontecer.

“As redes sociais se transformaram em mídia social. Em vez de conectar pessoas, criar comunidades, é sobre profissionais de marketing, corporações e influenciadores. E como todo mundo, eu adoraria que o Orkut voltasse em breve”, disse o fundador da rede, ao G1, da Globo.com.

Já para o professor da Faculdade de Comunicação Social (FCS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Vinicius Andrade Pereira, a volta da rede, apostando no sucesso e nostalgia do passado não garante sua promoção nos dias atuais:

“Não é só por conta da questão da familiaridade, do grupo que você já se relaciona, mas também pela facilidade que você tem de manuseio da tecnologia. Pois, quando você usa um aplicativo, uma plataforma como o Instagram, Facebook, ou mesmo o YouTube, você já sabe os recursos, você sabe onde estão as ferramentas. Isso é uma relação cognitiva. E as perceptivas que se tem com a ferramenta que faz com que você fique acomodado, de uma maneira geral. E essas são as dificuldades que as pessoas têm em abraçar uma nova tecnologia, uma certa acomodação cognitiva e sensorial, um certo conforto”.

Orkut foi sucesso no Brasil nos anos 2000

Nos meados dos anos 2000, em janeiro de 2004, começava a história da rede social pioneira no Brasil, mas só no ano seguinte uma versão em português do nosso país chegaria ao site amado pelos brasileiros.

O nome Orkut vem do próprio desenvolvedor chefe, o turco Orkut Buyukkokten, que criou a rede social em parceria com a empresa de tecnologia norte-americana Google Inc.

A rede social foi um sucesso na internet no Brasil, que chegou a ter mais de 29 milhões de usuários, estimativa de agosto de 2011. Em seguida, a Índia dominava o pódio com a maioria dos usuários cadastrados, e em terceiro lugar, os Estados Unidos.

O Orkut deixou um legado de nostalgia, que ia desde adicionar amigos, tirar uma foto bacana para colocar no perfil, deixar aquele “textão” afetivo, os famosos “depoimentos” para amigos, familiares, ou aquela paquera. Mas bom mesmo eram as famosas “comunidades”, com seus fóruns de discussão, e até enquetes.

E uma das comunidades de maior sucesso do Orkut, que mais ilustrava um dos principais dilemas da vida de qualquer um: “Eu odeio acordar cedo”, que contou com mais de 6 milhões de membros, e tinha a foto de perfil do personagem de desenho animado Garfield deitado, enrolado no cobertor e parando um despertador. Nada mais ilustrativo, não é mesmo?

Para o técnico em edificações Jorge Rodrigues, que era adolescente no começo do sucesso do Orkut, mandar scraps e depoimentos para os amigos era divertido: “Entre as boas recordações, eu lembro dos depoimentos sobre as outras pessoas, do que você achava delas, dos scraps também, e das minhas fotos que foram perdidas quando foi desativado o Orkut”.

O Orkut chegou ao fim dez anos depois de sua criação: em setembro de 2014. Na época, outra rede social dominava o número de usuários: o Facebook.

Essa matéria matou saudades, não é mesmo? Agora é só aguardar a nova versão, e aguardemos que seja tão boa e duradoura quanto a anterior.

Como mandar sua proposta para os líderes do G20

Como mandar sua proposta para os líderes do G20

Plataforma oferece espaço para comentários, votações e até inscrição de atividades que poderão acontecer na Cúpula do G20 Social

Por Everton Victor e Julia Lima

  • Evento de lançamento do G20 Social Participativo. Foto: Leticia Santana

Sabia que você também pode mandar sugestões para o G20, o encontro de líderes mundiais que vai acontecer no Rio em novembro?

A plataforma G20 Social Participativo permite que qualquer cidadão do mundo participe de Consultas Públicas sobre o evento, envie e avalie propostas, além de inscrever atividades temáticas a serem realizadas durante a Cúpula do G20 Social, que vai de 14 a 16 de novembro. Um documento vai reunir as propostas enviadas pela população e será entregue ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

O lançamento da Plataforma G20 Social teve a participação de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), a Coalizão Negra por Direitos e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Estiveram presentes os ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome).

Ministro Márcio Macêdo durante o evento. Foto: Maria Eduarda Galdino

Renato Simões, secretário nacional de Participação Popular da Presidência da República, afirmou que a criação do G20 Social foi um pedido do presidente Lula para trazer as discussões que afetam a população e são esquecidas pelos líderes dos países para o centro do debate. Segundo Simões, os principais temas são “o combate à fome, a sustentabilidade ambiental e a reforma da governança global”, alinhadas com os eixos definidos pela presidência brasileira no G20. 

O governo não tem uma expectativa exata, mas espera que “dezenas de milhares” de pessoas participem das discussões na plataforma. Houve uma adaptação no site – que nesta área está disponível em português, inglês e espanhol -, e qualquer cidadão estrangeiro poderá se cadastrar apresentando seu passaporte e uma foto, enquanto os brasileiros devem apresentar CPF. O G20 Social Participativo está dentro do Brasil Participativo, que já reúne discussões da população brasileira sobre políticas públicas no país. 

Para facilitar o público, a área irá reunir os Communiqués dos 13 grupos de engajamento que compõem o G20. A ideia é com isso facilitar o acesso da população a informações sobre o que foi discutido nos comunicados finais dos grupos temáticos das 20 maiores do mundo. 

Para Maria Fernanda Marcelino, representante da Marcha Mundial das Mulheres, o aumento da sociedade civil representa na prática uma participação efetiva de reivindicações que existem há séculos. “A gente fala há muito tempo, é necessário vontade política para acabar com a miséria, sub-representação, desigualdade”. O desafio para ela é essa participação ser a regra e não apenas uma exceção. “Indica um desejo e talvez uma demanda reprimida de ampliar o debate sobre as desigualdades no Brasil, na América Latina e no mundo”, explica.

Como acessar a plataforma G20 Social Participativo

  • Acesse o site https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/processes/G20/ e clique em “entrar” no canto superior direito da página.Página inicial do G20 Social Participativo. Foto: Gov.br
  • Brasileiros deverão entrar com a conta do gov.br, enquanto estrangeiros devem entrar com o login feito a partir do número do passaporte.
    Página de login. Foto: Gov.br

Com o login realizado, o participante poderá votar em enquetes, enviar propostas dentro dos eixos temáticos do grupo e propor atividades geridas pela própria sociedade para a cúpula final.

 

Uma das perguntas da enquete disponível no site do G20 Social Participativo. Foto: Gov.
Página de envio de propostas. Foto: Gov.br.
Página de envio de atividades geridas pela sociedade civil. Foto: Gov.br

As participações públicas serão recolhidas até 9 de setembro para organizar tanto a síntese da contribuição popular, além da análise de quais atividades autogestionadas inscritas na plataforma irão acontecer. O G20 Social ocorrerá na região da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, entre os dias 14 e 16 do mês. 

O primeiro dia será dedicado às atividades sugeridas pela população, para que vozes de todo o mundo sejam ouvidas. O dia 15 contará com plenárias variadas. No último dia da Cúpula será apresentado o documento final, com as principais ideias vindas da sociedade, e que será entregue para os líderes das 20 maiores economias do mundo durante a Cúpula Final do G20, nos dias 18 e 19 de novembro.

Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)

Oficinas de Cabaré na Uerj

Oficinas de Cabaré na Uerj

Novas formas de fazer arte

 

Por Samira Santos

 

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), através da Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart),  está oferecendo uma oportunidade para os interessados em mergulhar no universo do “cabaré”. Com um formato inclusivo e dinâmico, as aulas visam proporcionar uma imersão completa nessa linguagem artística, permitindo que os participantes explorem e desenvolvam suas habilidades de forma livre, autoral e interativa.

Objetivos e Abordagem das Aulas

O principal objetivo das oficinas de cabaré é proporcionar aos participantes uma experiência prática nesse estilo artístico. Durante as aulas, os alunos são encorajados a criar de maneira livre e ativa, utilizando suas próprias bagagens artísticas e culturais. O processo culmina em uma apresentação ao público, onde cada um pode mostrar o que desenvolveu ao longo do curso.

Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)
Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)
 
 
 
 

As aulas de cabaré abrangem uma vasta gama de expressões artísticas, passando pelo canto, dança, improviso, burlesco, lipsync, entre outras formas de arte. O curso também oferece uma perspectiva histórica e teórica sobre o cabaré, tanto no contexto ocidental quanto no brasileiro, sempre com foco na interação direta com o público, característica central dessa arte.

O conteúdo do curso é estruturado em dois módulos. O primeiro, aberto a todos, não exige experiência prévia em artes cênicas, tornando-se uma excelente porta de entrada para iniciantes. Já o segundo módulo requer algum conhecimento prévio, sendo ideal para aqueles que já tiveram contato com o cabaré ou com outras formas de arte cênica. Ambos os módulos incluem aulas práticas e performances, proporcionando aos alunos a oportunidade de aplicar o que aprenderam em uma apresentação final.

O cabaré, por sua natureza, é uma forma de arte que desafia padrões e acolhe a diversidade, o que o torna um espaço seguro e inclusivo para todos, independentemente de sua experiência prévia. Como resultado, os instrutores esperam que mais pessoas, especialmente aquelas que nunca tiveram contato com essa arte, sintam-se encorajadas a participar.

 

Oficina de Cabaré no Auditório Cartola ( Foto: Leticia Guimarães)
Oficina de Cabaré no Auditório Cartola ( Foto: Leticia Guimarães)

As turmas ainda estão com vagas disponíveis, e as inscrições presenciais no Coart irão ocorrer até o dia 23 de agosto, com o curso começando no dia 27 de agosto.

Ciência e Tecnologia no centro das eleições 2024

Ciência e Tecnologia no centro das eleições 2024

Tentativas de regulamentar o ambiente digital, vacinas e inteligência artificial serão temas em discussão nas disputas deste ano

Por Everton Victor

Urna Eletrônica. Divulgação: TSE

A três meses do primeiro turno das eleições municipais, os desafios digitais marcam os debates entre os candidatos a prefeito e vereador. Temas como o uso de reconhecimento facial nas ruas, a implementação de câmeras nas fardas policiais, o acesso à internet nas escolas e a digitalização dos serviços públicos estão no centro das discussões. São temas da cultura digital e que impactam de modo decisivo o dia a dia dos brasileiros.

A pesquisa “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil” de 2023, realizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), junto com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), mostra que 60% declaram se interessar pelas áreas de ciência e tecnologia. Por outro lado, quando perguntado se conhece alguma instituição de pesquisa científica, menos de 83% citaram alguma, já sobre conhecer algum cientista brasileiro apenas 9,6% citaram um nome.

Pela primeira vez, a eleição brasileira vai contar com a atuação do Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia (CIEDDE), criado em março deste ano pelo TSE. O órgão vai funcionar como uma estrutura auxiliar do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais no combate às deepfakes (imagens ou sons humanos feita por IA), além de ser uma ferramenta educacional contra a desinformação. Em resolução publicada em fevereiro deste ano, o TSE endureceu o combate a fake news nas redes, responsabilizando também as big techs que não retirarem do ar posts de teor preconceituoso e/ou com informações falsas.

Outro tema de debate na campanha – as vacinas – também sofre o efeito do negacionismo científico. Recentemente, a Secretária Municipal da Saúde Rio emitiu um alerta sobre a baixa adesão à vacina da gripe na cidade. Ataques às instituições de pesquisas também ganharam força nas redes e no debate público. Em 2021 foi proposto na Assembleia Legislativa do Estado do Rio projeto Lei n°4.671/21, que pedia a extinção da Uerj. Após repercussão, o PL foi derrubado e considerado “inconstitucional”, nas palavras de André Ceciliano, então presidente da Casa. 

Semana da Ciência e Tecnologia. Foto: Agência Brasil

O professor Gerson Pech, diretor do Instituto de Física da Uerj, afirma que existe um longo trabalho para a uma cultura digitalizada plena, mas existe um caminho: aproximar o tema dos cidadãos. A cultura digital é a introdução, em menor ou maior grau, da tecnologia na sociedade e no cotidiano das pessoas. Na prática, ver em um aplicativo a hora que o ônibus passar, fazer uma transferência por Pix, documentos e exames digitalizados, tudo isso está inserido nessa cultura digital.

Na avaliação dele, é preciso explicitar que a cultura digital mexe diretamente com o cotidiano das pessoas. É central para a população reivindicar mais investimentos e ações no campo tecnológico e científico, de acordo com o professor.  Por isso, investir nestas áreas pode facilitar o cotidiano dos brasileiros e trazer uma maior eficiência para os serviços públicos. 

O linguajar difícil, a divulgação das produções de pesquisa restrita às revistas científicas, a pouca comunicação entre a academia e a população, tudo isso contribui para afastar a população da ciência. Para o professor da Uerj, é fundamental mostrar à população os avanços no campo da ciência e da tecnologia e o impacto deles na realidade. Tudo isso ajuda a  combater movimentos antivacina e a anticiência.

Para Pech, esses movimentos se enfraquecem quando são confrontados com o debate público, a sociedade compreende como  funciona a vacina e qual o papel da pesquisa e da universidade nesse contexto. “É preciso mostrar o papel da universidade e da ciência para, por meio da educação, desconstruir a intolerância”, afirma.

Fazendeiros atacam com armas grupos indígenas no MS

Fazendeiros atacam com armas grupos indígenas no MS

Povo Kaiowá-Guarani foram alvo de tiros e vigilância de drones e caminhonetes 

Por: Beatriz Araujo e Manoela Oliveira

Chamada de apoio do povo Kaiowá-Guarani / Fonte: Instagram da Aty Guasu

Centenas de famílias indígenas Guarani Kaiowá têm sofrido ataques armados por fazendeiros e latifundiários após iniciarem a autodemarcação de seu tekoha (“lugar onde se é”, em guarani) no dia 13 de julho. O território, localizado em Douradina, Mato Grosso do Sul (MS), ocupa mais de 9 mil hectares, o equivalente a aproximadamente 35,3% da área total do município. A Assembleia Geral dos Povos Indígenas Guarani e Kaiowá, a Aty Guasu, tem denunciado a situação da comunidade nas redes sociais. Em imagens divulgadas por eles, fazendeiros aparecem ateando fogo no campo, atirando com foguetes e armas de fogo nos indígenas. Além da reivindicação pelo território ancestral, a retomada também visa cessar o despejo de agrotóxicos nas proximidades das residências e das nascentes utilizadas para o consumo de água pelos produtores rurais. 

A retomada denominada Pyaru Yvyajere reinvindica a Terra Indígena Panambi Lagoa Rica, reconhecida em 2011 pelo Governo Federal, mas aguarda desde então a homologação do processo demarcatório. “A gente esperou demais e nada de resposta, então, como comunidade, nós conversamos e chegamos à conclusão de fazer a autodemarcação geral”, conta a indígena Daniela Jorge João. 

Terra Indígena Panambi Lagoa Rica / Fonte: Terras Indígenas no Brasil

Os produtores rurais, no entanto, alegam serem proprietários legais da área e reagiram à situação organizando acampamentos e um cerco de caminhonetes a poucos metros do local da retomada. Em um vídeo gravado por eles, frases em tom de ameaça como “o bambu vai envergar” e “a tropa de choque está chegando” foram veiculadas como forma de ataque à resistência. 

O conflito já deixou mais de 10 indígenas feridos por ataques e disparos de arma de fogo, entre eles um levou um tiro na cabeça e outro no pescoço. Kisa Aquino, indígena também presente na retomada, relata que helicópteros e drones rodam o local para identificar e perseguir os envolvidos na retomada. “A gente sabe que eles soltam os drones em cima da gente porque eles querem ver quantas pessoas, crianças e idosos estão aqui e planejar o ataque. É um terror saber que estamos sendo vigiados e não podemos fazer nada”, completa. 

Agentes do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) controlam o acesso à comunidade, fotografando documentos e placas dos veículos, além de coletar informações sobre a retomada, a quantidade de pessoas e as lideranças, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Para Mônica Cristina Lima, professora da Universidade Indígena Pluriétnica Aldeia Marakanã, a presença do Departamento reprime os indígenas e pessoas de outros movimentos sociais que vão ao local apoiar a retomada. Ela destaca também que o DOF, apesar de ser uma entidade policial da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), tem muita ligação com os latifundiários e isso gera uma desconfiança dos Guarani-Kaiowá com o departamento. “Todas às vezes em que eles retomam uma área, os policiais e os sargentos aposentados que estão presentes nesses grupos de pessoas que os atacam, também estão nas empresas de segurança”.

Resistência dos Guarani-Kaiowá no tekoha 

Cerca de 10 dias após o avanço da autodemarcação, os povos Guarani e Kaiowá receberam uma ordem de despejo dos latifundiários e dos fazendeiros para se retirarem do local em um prazo de cinco dias. Xaky Jovito, indígena presente na retomada, conta que, apesar da ameaça para sair do local, não está com medo, por ter certeza que a comunidade irá lutar pela resistência. “Se isso for acontecer mesmo, a gente vai enfrentar, morrer e se sacrificar pelas nossas terras”. Ela manifesta a preocupação da comunidade de que os ataques dos ruralistas se intensifiquem após o prazo da retirada. “Houve 4 feridos aqui no dia dos ataques, se houver esse despejo, vai ter mais pessoas se ferindo”, completa Xaky. 

Os responsáveis pelos ataques ao povo Guarani-Kaiowá divulgaram informações falsas nas redes sociais, alegando que a comunidade não é indígena e veio do Paraguai. Essas acusações foram feitas por uma fonte anônima em um vídeo publicado na página do Instagram do deputado federal Marcos Pollon. “Os latifundiários falam que a gente é do povo paraguaio, que estamos se fazendo de indígenas, negativo, eu nasci e cresci aqui”, diz Daniela. De acordo com ela, para evitar futuras invasões e violências é necessária a demarcação do tekoha Lagoa Rica, processo em andamento por 20 anos.

Em nota publicada em 20 de julho, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) afirmaram estar monitorando de perto os povos Guarani e Kaiowá a partir de uma equipe responsável por avaliar a situação e dialogar com as comunidades envolvidas. Após disparos de armas de fogo que resultaram em um indígena baleado e outros machucados com balas de borracha, a Funai busca apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). 

A Fundação também recebeu relatos de incêndios de grande escala e de monitoramento da área pelos fazendeiros e latifundiários com drones e caminhonetes. A Funai ressaltou seu objetivo em garantir segurança para os povos originários e em encontrar uma resolução para a retomada com todos os grupos envolvidos. 

Com a retirada das Forças Nacionais do local, em 3 de agosto, os ataques se intensificaram e cinco indígenas foram levados para emergência depois de disparos por armas de fogo. Na tarde da última segunda-feira (05), após mais de três semanas de conflitos entre latifundiários e povos indígenas no MS, o Tribunal Regional Federal da 3° Região (TRF3) suspendeu a ordem reintegração de posse, responsável por ordenar o despejo das comunidades Guarani e Kaiowá na região de Douradina. A suspensão da ordem, porém, não garante a segurança dos indígenas na retomada. “É preciso avançar nas demarcações como nos garante a Constituição Federal”, destaca Mônica Cristina. 

Segundo dados da Funai, até o momento, apenas 424 terras indígenas foram oficialmente demarcadas, representando menos de 14% do território brasileiro. No Brasil, embora o processo demarcatório tenha um número máximo de dias estipulado para cada etapa, a realidade está distante do previsto em lei. Um exemplo disso é o caso dos Guarani-Kaiowá, que aguardam desde 2011 a aprovação da demarcação de seu território.

Etapas no processo de demarcação / Fonte: Instituto Socioambiental

Mesmo com a criação do MPI pelo presidente Lula em 2023 e a nomeação de lideranças indígenas em cargos importantes, como Joênia Wapichana na presidência da Funai, a lentidão nos processos demarcatórios dificultam o avanço na garantia direitos indígenas previstos na constituição. “É uma questão preocupante porque na luta pela terra, 70% dos que estão debaixo de uma lona são crianças e mulheres. Elas estão na linha de frente correndo todo tipo de violações e risco.”, destaca a professora Mônica Cristina.

Em 2023, foram registrados 309 casos de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e outros conflitos relacionados à terra, conforme dados do CIMI. “O problema maior não é a legislação, pois a Constituição nos garante os direitos, mas como garantir e fazer valer esses direitos?”, questiona Mônica. Ela destaca que os interesses e a pressão da bancada ruralista, formada por parlamentares que são, em sua maioria, proprietários de terras e empresários rurais, possuem relação direta com o atraso nos processos de demarcação de terras indígenas. 

O relatório do CIMI mostra que houve um aumento crescente contra os povos originários entre os anos de 2019 e 2022. Durante esses quatro anos, foram registrados 795 indígenas mortos, 407 disputas por conflitos territoriais e cerca de 1133 casos de invasões possessórias, danos ao patrimônio e exploração ilegal de recursos naturais em terras indígenas. No Brasil, não ocorre punição para crimes contra as comunidades originárias, porque há uma conveniência do Estado, afirma Mônica. A professora apontou a organização “Invasão Zero” como um exemplo da impunibilidade desses criminosos, esse movimento é liderado por fazendeiros e proprietários de terra. O grupo é responsável por se organizar ilegalmente para ocupar áreas de trabalhadores de terras e de comunidades indígenas, com características semelhantes às milícias armadas. 

Desafios na demarcação de terras indígenas 

O Marco Temporal é uma tese jurídica criada com objetivo de restringir o direito de posse dos indígenas apenas às terras ocupadas ou disputadas antes de 5 de outubro de 1988, a data de publicação da Constituição vigente no Brasil. A proposta cria barreiras adicionais de demarcação de terras indígenas e aumenta os casos de violência contra essas comunidades, segundo Mônica Cristina. Para ela, o Marco Temporal, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2007, pode intensificar os conflitos entre povos originários e grupos dedicados à mineração e ao agronegócio. 

Entre os principais defensores do Marco estão parlamentares que compõem a bancada ruralista, afirmando que o projeto é necessário para dar “segurança jurídica” aos fazendeiros. Nunes Marques, ministro do STF, declara que a soberania do Brasil estaria em risco sem a aprovação do Marco Temporal, além de prejudicar o mercado imobiliário. De acordo com a professora, a tese jurídica é uma “ameaça significativa aos direitos e à integridade territorial das comunidades indígenas”, não reconhecendo terras ocupadas e protegidas por esses povos após 1988. 

O STF considerou o Marco Temporal inconstitucional em setembro de 2023, por validar ameaças e violências ocorridas contra os indígenas antes da proclamação da Constituição. Porém, o Congresso Nacional restabeleceu a proposta com a criação da lei 14.701/2023, negando o pedido de veto feito pelo presidente Lula.  

Para a professora Mônica, a sociedade civil, as comunidades internacionais e os órgãos públicos são responsáveis por determinar o futuro dos povos indígenas na promoção de inclusão social e de visibilidade. Ela conta que as invasões de terras e os casos de violência vão aumentar ou persistir nos próximos anos, sendo as mudanças climáticas e o desmatamento fatores de riscos contra essas comunidades. “Os modos de vida e cosmovisões dos povos originários e seu respeito e conexão com a Mãe Terra, a Grande Criadora, são a alternativa para solucionarmos os desafios climáticos que estamos sofrendo”, conclui a professora.  

Pontos de acolhimentos de alimentos e mantimentos / Fonte: Instagram da Aty Guasu

Desde o início da invasão, os fazendeiros estabeleceram acampamentos nas terras dos Guarani-Kaiowá, impedindo o acesso à comida e água para esses povos. As comunidades indígenas estão instalando pontos de coleta de alimentos e de itens de higiene, como papéis higiênicos e absorventes, para os residentes de Mato Grosso do Sul. Qualquer quantia pode ser doada através do endereço Pix: ms.unidadepopular@gmail.com

PL da regulação de inteligência artificial discute discriminação no ambiente digital 

PL da regulação de inteligência artificial discute discriminação no ambiente digital

Especialistas veem avanços com o projeto de lei, mas identificam um longo caminho para a fiscalização dos sistemas de inteligência artificial 

Por Everton Victor e Manoela Oliveira

 
Racismo algorítmico e os desafios da inteligência artificial / Imagem: Fractal Pictures (Shutterstock)

Racismo algorítmico é uma expressão nova para nomear como uma prática antiga, a discriminação, se reproduz no ambiente digital. É o que acontece, por exemplo, quando o aplicativo do banco não reconhece um rosto negro, buscas de pesquisas relacionam pessoas negras a pessoas feias ou imagens clareiam automaticamente a pele negra. Debates assim, que envolvem os vieses dos dados, a autorregulamentação por grandes empresas e a falta de segurança no ambiente digital, estão em curso hoje no mundo. No Brasil, a discussão passa pelo Projeto de Lei 2338/23, que institui um marco legal com mecanismos e orientações para regulamentar a inteligência artificial no Brasil. A votação do PL 2338/23 foi adiada três vezes e, até o momento, não foi definida uma nova data. 

O PL 2338/23 é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e tem relatoria do senador Eduardo Gomes (PL-TO). O texto preliminar que deu origem ao projeto foi sugerido por uma comissão de especialistas no tema, coordenada por Ricardo Villas Bôas, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As propostas apresentadas neste projeto agregam sugestões de outros nove PLs sobre regulamentação do ambiente digital.

Reunião da Comissão Temporária Interna do Senado que analisa o PL 2.338/2023 Foto: Lula Marques / Agência Brasil

O pesquisador Pablo Nunes, doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-Uerj), diz que o projeto chega num momento decisivo, porque não existe uma neutralidade nos dados. Eles  partem de um contexto e de um histórico ligados à realidade. “Esses bancos de dados nada mais são do que a história da sociedade humana materializada em números”, afirma. E isso tudo permite falar em racismo algorítmico, o que é, segundo o pesquisador, “a forma atualizada e repaginada do racismo se expressar, permitindo que o racismo estrutural consiga sobreviver neste mundo digital e tecnológico”.

Apesar do termo racismo algorítmico não aparecer na proposta inicial do PL, o projeto discorre sobre discriminação de raça, cor, etnia, gênero e origem geográfica. O documento reforça o combate a preconceitos como um dos fundamentos da implementação de inteligência artificial. Estudar racismo algorítmico permitiria não é só descobrir e analisar os impactos, mas também fornecer sugestões de políticas públicas para os danos serem mitigados, afirma Tarcízio Silva, doutorando em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e autor do livro Racismo Algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais.

Os efeitos do racismo algorítmico são sentidos, por exemplo, no tratamento de saúde de pessoas negras. Um estudo realizado em Boston, nos Estados Unidos, examinou cerca de 57 mil pacientes com doença crônica renal em centros médicos acadêmicos e clínicas comunitárias. E mostrou que, entre 2.255 pacientes negros, 743 seriam hipoteticamente realocados para o estágio de doença grave se fosse utilizado o mesmo algoritmo de pacientes brancos. 

Ao não serem classificados como pessoas que precisam de atendimento hospitalar emergencial, eles não têm prioridade no encaminhamento para transplantes e no acesso à diálise, procedimento de recuperação da função renal. Na avaliação de Pablo Nunes, esse caso é um exemplo de racismo algorítmico, que explicita os prejuízos sofridos pela população negra em comparação com outros grupos. 

Para o pesquisador, o desafio é equilibrar a utilização desses mecanismos, tendo em vista os bancos de dados já terem todos esses vieses. “As tecnologias, por serem frutos da história humana, não vão romper com o racismo, muito pelo contrário, elas vão procurar reproduzir”. Outro exemplo citado por ele vem da Bahia, onde a Polícia Militar utiliza uma ferramenta de inteligência artificial visando reconhecer pessoas com mandados de prisão decretados. Mas os casos de erro não são raros. Em 2023, um trabalhador foi identificado pela ferramenta e preso erroneamente por 26 dias em 2023. Sobre o caso, a Secretária de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) argumentou que as câmeras constataram 95% de similaridade entre ele e o verdadeiro infrator. “A gente tá falando de vidas humanas que são destroçadas”, reforça Pablo Nunes.

Para Tarcízio Silva, há uma divergência entre o que os legisladores consideram ser o desejo dos brasileiros com a inteligência artificial e a perspectiva real da população. Na análise do professor da XXX, a maioria dos brasileiros desconfia desses sistemas, especialmente no campo da segurança pública, área com grande utilização  de IA pelo governo. Uma pesquisa do Instituto IDEA com a colaboração do Brazil Forum UK conta que 73% de 1.073 entrevistados apoiam a criação de regras para o uso de IA no Brasil.

 
Gráfico interativo: Quem ou qual órgão os brasileiros acreditam que deveria regularizar a IA
Fonte: Reprodução de Manoela Oliveira, com dados do Instituto IDEA

O projeto de lei 2338/2023 prevê a supervisão e a fiscalização das inteligências artificiais pelo Poder Executivo, com base em critérios como a gravidade da infração, a condição socioeconômica e a cooperação do infrator. Caso uma empresa ou uma pessoa física não obedeça aos fundamentos de igualdade, não descriminação, proteção ao meio ambiente e privacidade no desenvolvimento de uma IA.

Até hoje (13), a Consulta Pública sobre o PL realizada pelo Senado acumulava mais de 66 mil votos, sendo 47,1% contra o projeto. Os debates de como regular o ambiente do tema não estão restritos apenas ao Brasil. Nos grupos de engajamento do G20, foi recomendado para os líderes das 20 maiores economias do mundo a criação de um grupo de governança global para dados, o Data20 (D20). Países da União Europeia, o Canadá e outras nações que participam do bloco já regulamentaram ou estudam como regulamentar.

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Mudanças podem colocar em risco a continuidade da política de inclusão na Universidade, dizem alunos

Por Samira Santos, Julia Lima e Beatriz Araujo

 
 
 

A Pró-reitoria de Políticas e Assistências Estudantis (PR4) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) anunciou na tarde de quinta-feira (25) uma série de alterações em seus critérios de elegibilidade de bolsas e auxílios para a comunidade universitária. Entre as novas medidas estão a reformulação do Auxílio Material Didático (AMD), o fim do auxílio alimentação para estudantes do campus Maracanã e a redução do valor da renda necessária para alunos de ampla concorrência receberem a Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social (BAVS). As mudanças geraram preocupações e indignação entre os alunos, que se movimentam para organizar um ato contra as novas regras.

 

Entrada da Uerj no portão 5 (Foto: Agência Brasil)

 

 

Uma das principais mudanças está no Auxílio Material Didático (AMD) que consiste no apoio financeiro destinado à aquisição de material didático para alunos do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) e dos cursos de graduação. O valor de R$ 600, antes pago em parcela única por semestre letivo, passa a ser anual, podendo ser pago em parcelas de R$ 300 ou menos, dependendo da disponibilidade orçamentária.

A implementação da tarifa zero no Restaurante Universitário (RU) anunciada no começo da semana, apesar de ser uma tentativa de melhoria na rotina dos estudantes cotistas, gerou controvérsias devido ao anúncio da suspensão do Auxílio Alimentação aos alunos dos campi Francisco Negrão de Lima (Maracanã) e Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ). A decisão diz que só poderão optar pelo recebimento de Auxílio Alimentação estudantes cujos cursos tenham sede em campi que ainda não possuam Restaurante Universitário. A tarifa zero, porém, não se estende aos alunos que ingressaram por ampla concorrência e nem aos que recebem BAVS, sendo assim, esses estudantes deverão arcar com os custos de alimentação.

A Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social, oferecida a alunos ingressantes por ampla concorrência que tenham comprovada a sua situação de baixa renda, também sofreu reformulações. A renda familiar per capita para elegibilidade, antes no valor de um salário mínimo e meio, foi reduzida para valor igual ou inferior a meio salário mínimo (R$ 706). Alunos da ampla concorrência com renda superior a esse limite não terão direito aos auxílios estudantis. 

A Reitoria, liderada pela reitora Gulnar Azevedo e pelo vice-reitor Bruno Deusdará, justificou essas mudanças como uma resposta às restrições orçamentárias pós-pandemia, ressaltando a necessidade de equilibrar investimentos em equipamentos, bolsas e políticas de assistência. 

 

Reações da comunidade acadêmica

O Ato Executivo de Decisão Administrativa 038/2024, que formaliza essas mudanças, entra em vigor em 1º de agosto.

Estudantes e membros de movimentos sociais acusam a Reitoria de “Destruir a política de assistência estudantil da Uerj, que um dia foi um exemplo de inclusão e suporte aos alunos”. “Eles estão acabando com a nossa universidade”, desabafaram nas redes sociais.  A sensação de desamparo é a principal reclamação, e muitos consideram registrar queixas formais para tentar reverter essas decisões. 

Em resposta às novas regras, um ato estudantil foi marcado para o dia 26 de julho, às 16h na Uerj. Intitulado “Tira a mão dos meus direitos!”, a manifestação reunirá estudantes da ampla concorrência, cotistas da graduação e pós-graduação com o objetivo de protestar contra os cortes nos auxílios e bolsas e exigir a revogação das medidas estabelecidas pela PR4 e pela atual Reitoria da Universidade.

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Proposta é que Data 20 ajude no esforço global para regulamentar mundo digital 

Por Everton Victor e Julia Lima

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O T20, equipe de trabalho do G20 com pesquisadores e think tanks, sugeriu em seu documento final a criação de um grupo para tratar de cooperação e segurança de dados. O Data20 (D20) trataria de temas como regulação e trabalho com dados, Inteligência Artificial e justiça climática, armazenando os dados das nações, e daria suporte para os outros grupos de trabalho.  

Proposta de criação do D20. (Reprodução: Communiqué do T20)

Num momento de apagões cibernéticos, vazamento de dados e avanço da Inteligência Artificial, a ideia da criação do grupo surgiu dos recentes desafios com a regulação de uso de dados pelas plataformas em âmbito brasileiro e mundial. Debates sobre o limite do uso da Inteligência Artificial e os impactos de algoritmos discriminatórios permeiam as discussões de como os governos devem intervir. Por isso, o grupo também teria o papel de promover discussões que reduzam os danos causados por essas tecnologias, imponham limites a elas e promovam penas para quem os desrespeitasse.

A criação do D20 foi uma das propostas surgidas nos encontros dos pesquisadores do T20, que aconteceram ao longo do ano, e levaram a criação do Communiqué, documento final com as 10 principais sugestões para as 20 maiores economias do mundo. O documento foi apresentado ao público nos dias 2 e 3 de julho durante o The T20 Brasil Midterm Conference.

O D20 também seria responsável por fiscalizar a implicação de cada política e dado criados pelos grupos de engajamento que compõem o G20. Denise Direito, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), afirma que ainda não há definição de como essa atividade aconteceria, já que o Communiqué apresenta apenas sugestões. O funcionamento seria definido de acordo com a evolução dos trabalhos do grupo.

Para Luciana Mendes, presidente do Ipea, a criação de uma força global sobre dados pode ser um aliado no debate de como os países devem lidar com a Inteligência Artificial. Ela destaca que a criação deste mecanismo pode trazer o debate da importância e um esforço de como regular as redes para todo o globo, aliado a outras frentes que o D20 possibilitaria. “Aprimora a cooperação de dados sobre temas transversais”, afirma.

No Brasil, o debate sobre a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) está em tramitação no Senado Federal. O Projeto de Lei (PL) 2338/23 reúne uma série de propostas de como regulamentar a IA no Brasil. Países da União Europeia, a Argentina e outras nações integrantes do G20 já regulamentaram ou estudam regulamentar a internet. Denise destaca que a criação do D20 pode ajudar os países do bloco a definirem consensos mínimos de qual seria a base de regulação sobre o tema.

Sobre o T20

O Ipea, junto com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais, compõem o comitê organizador do T20.  Apesar da predominância brasileira no grupo, Luciana reforça a diversidade de nos debates, reuniões e elaboração do grupo de engajamento. Ao todo 170 think tanks nacionais e internacionais com representantes de 33 países participam do T20.

Presidente do Ipea na abertura da reunião do T20. (Reprodução: Julia Lima)

A gestão brasileira segue na presidência do G20 até novembro. No caso do  grupo de engajamento, após a entrega do Communiqué, o foco é “avançar em estratégias de implementação das recomendações”, de acordo com a presidente do Ipea. Os líderes das 20 maiores economias do mundo devem se reunir nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, capital do G20 nesta edição.

Corrida pelo ESG estimula fraude entre as empresas

Corrida pelo ESG estimula fraude entre as empresas

Discursos de sustentabilidade socioambiental convive com denúncias da prática de greenwashing (lavagem verde) 

Por: Beatriz Araujo

A urgência do debate sobre mudanças climáticas e crises ambientais levou muitas empresas nos últimos anos a adotarem uma estratégia conhecida mundialmente pela sigla em inglês ESG (Meio Ambiente, Social e Governança). A ESG reúne um conjunto de princípios e ações focadas em promover boas práticas. Esforço para se apresentarem como instituições preocupadas com o desenvolvimento responsável, contudo, tem sido acompanhado de denúncias sobre discursos sustentáveis que não correspondem a ações efetivas de mudanças no modo de produção e circulação das empresas. Conhecido como greenwashing, ou seja, a ação de enganar investidores e consumidores, a prática pode ser considerada crime ambiental e ter consequências legais contra empresas, segundo especialistas.

O ESG surgiu em 2004, no relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado “Who Cares Wins” (“Ganha quem se importa”, em português). O documento foi criado para estabelecer diretrizes que buscam determinar se uma empresa é socialmente consciente, sustentável e possui uma gestão adequada. O professor Carlos Milani do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), explica que o ESG é uma maneira de avaliar o desempenho de sustentabilidade de um negócio, baseando-se em três pilares: Ambiental, Social e Governança. “Essa sigla é uma nova etiqueta para algo anterior, que é essa dinâmica das empresas voluntariamente afirmarem que respeitam os direitos climáticos, ambientais, sociais, e a transparência em suas práticas, gestão de fornecedores e modo de produção de seus produtos e serviços.”

ESG está relacionado às práticas ambientais, sociais e de governança / Foto: Freepik

O pilar Ambiental avalia quais impactos ambientais as organizações promovem, tanto positivamente quanto negativamente. O pilar compreende as ações da empresa voltadas para o meio ambiente, abrangendo comportamentos relacionados ao consumo de recursos naturais em sua cadeia de produção, emissões de gases poluentes e do efeito estufa, eficiência energética, gestão de resíduos, poluição da água, entre outros. O Ambiental considera também ações, projetos e políticas de promoção a preservação e melhoramento ambiental. 

No pilar Social, é avaliado o relacionamento de uma empresa com fatores sociais como a inclusão, a diversidade, relações de trabalho com seus fornecedores e clientes, respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas. Um exemplo são as  condições do local de trabalho que fornecem respeito pela saúde e segurança dos funcionários. O último pilar, de Governança, refere-se às esferas administrativas e de gestão da empresa como a política de remuneração dos cargos, transparência e ética da instituição.

O peso do ESG repercute nos negócios e na imagem das instituições. Os indicadores Ambiental, Social e Governança já são utilizados por empresas de investimento para ajudar a identificar corporações posicionadas para um forte desempenho a longo prazo. De acordo com a pesquisa “ESG Market Navigator”, conduzida pela Bloomberg Intelligence, 84% dos executivos entrevistados acreditam que os fatores ESG contribuem para uma estratégia corporativa mais sólida, melhoram a reputação da empresa e facilitam o acesso a capital e expressam interesse em investimentos sustentáveis. Além disso, à medida que a consciência ambiental e social cresce, os consumidores estão cada vez mais atentos às escolhas das marcas que irão consumir, preferindo produtos mais sustentáveis.

A certificação de ESG em empresas é realizada por certificadoras especializadas do próprio setor de mercado, baseando-se no princípio de que a maioria das práticas e soluções são adotadas voluntariamente, mas, para o professor Carlos Milani, é preciso atenção ao grau de autonomia e independência dos certificadores. “Existem inúmeras denúncias dentro do setor corporativo, sobretudo transnacional, de empresas e corporações que se dizem agentes de acordo com os critérios de ESG ou de responsabilidade socioambiental, mas é um agente que pratica violações de direitos humanos e uma série de práticas que são muito degradantes do ponto de vista socioambiental”, observa.

Algumas práticas não são tão sustentáveis quanto parecem

Além do problema da independência dos certificadores, muitas empresas passaram a praticar uma espécie de “lavagem verde” ou “maquiagem verde”, o greenwashing. Esse tipo de fraude corresponde em adotar uma série de estratégias para tentar construir uma imagem favorável de produtos e serviços que são vendidos como sustentáveis e socialmente responsáveis quando, na verdade, são fruto de um processo de práticas que não atende critérios de mitigação de impactos socioambientais.

“Lave o seu crime climático” / Foto: Istock

A lista dos “Sete Pecados do Greenwashing”, elaborada pela consultoria canadense TerraChoice em 2007, criou uma tipologia das principais práticas de greenwashing que ajuda a identificar melhor práticas problemáticas. Entre elas está a irrelevância. “Por exemplo, você fez um projeto socioambiental com uma comunidade no interior ou na costa do Rio de Janeiro para proteger uma comunidade de marisqueiras, que vivem de manguezal. Mas suas emissões de poluentes estão em uma escala estratosférica, então o que você faz em termos de prática de ESG torna-se irrelevante”, explica Milani. 

A imprecisão e o custo camuflado, como o caso da multinacional Walmart em 2015 onde toalhas e lençóis fabricados com rayon, material sintético foram comercializados como sendo feitos de bambu ecológico, são alguns dos outros fatores presentes na lista. “Existem práticas que correspondem a uma narrativa, a um discurso de ESG. Mas existem também muitas práticas que, infelizmente, dentro do sistema econômico que a gente está inserido não correspondem a esse discurso”, observa o professor.

Em alguns casos, o greenwashing pode ser considerado uma prática ilegal. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), publicidades enganosas que omitem ou passam informações falsas sobre um produto configuram uma infração. Quando as alegações afetam o meio ambiente, a empresa pode estar sujeita a sanções e multas caso configure descumprimento de leis previstas na legislação brasileira, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece diretrizes para a redução, reutilização, reciclagem e tratamento correto desses resíduos no país.

A pesquisa “Mentira Verde” realizada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), além de fornecer dados sobre práticas de greenwashing no mercado brasileiro, apresenta informações úteis para os consumidores que desejam entender e identificar essas práticas no seu consumo pessoal. O guia alerta para o uso de termos como “ecológico”, “sustentável” ou “amigo do meio ambiente”. Termos amplos e vagos como esses não podem ser usados nas embalagens dos produtos de acordo com a Norma ABNT ISO 14021. Outro fator destacado são os selos presentes em embalagens que, muitas vezes, são criados pela própria empresa para passar uma imagem equivocada de certificação. O ideal é que o  consumidor pesquise sobre o símbolo para confirmar sua autenticidade. Dicas como essas mostram a necessidade da cautela diante dos produtos que se encontram no mercado.

Fonte: Ideal Verde