UERJ recebe a “II Semana de Jornalismo da ABI”

UERJ recebe a “II Semana de Jornalismo da ABI”

Texto: Mariana Dâmaso e Pedro Rubim*

 

 

A II Semana de Jornalismo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) teve um de seus debates realizados na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no dia 4 de abril, em  parceria com a Faculdade de Comunicação Social (FCS). Com o tema “60 anos do golpe de 64”,  o encontro recebeu o professor e jornalista Chico Otávio (PUC-Rio), a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, o médico, professor e sindicalista Luiz Roberto Tenório, a historiadora Andrea Queiroz, membro da Comissão da Memória e Verdade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a jornalista e pesquisadora Rejane Nogueira (UFRJ).

A diretora da FCS, Patricia Miranda, mediou o debate e iniciou a mesa, citando a importância da Semana da ABI estar passando pelas universidades, contando e recontando uma história de luta e resistência de uma época dolorosa para o país, referindo-se ao período da ditadura militar brasileira, instaurada em 1964. 

“Estamos aqui para revisitar essas violências para que elas não mais se repitam. Para isso, precisamos contar aos jovens que não viveram esse período a história viva da ditadura. Uma história contada pelas vítimas, pelas testemunhas, pelos jornalistas, pelos pesquisadores que se debruçam em diferentes dimensões desse tema. Precisamos recontar essa história para que não venham dizer a vocês que o golpe foi uma revolução, que a ditadura não aconteceu”, enfatizou a diretora.

Nesse sentido, os participantes deram seus testemunhos pessoais de como o golpe de 1964 os afetou, partilhando histórias pessoais da ditadura e de como foi ser universitário e compor os movimentos estudantis durante o período.

O médico Luiz Roberto Tenório contou sobre seu histórico como estudante de Medicina da Uerj e sua participação no Centro Acadêmico Sir Alexander Fleming (Casaf), que lutou política e ativamente contra a ditadura cívico-militar de 64, junto de outras universidades, como a UFRJ. “Falar que o golpe foi apenas um golpe militar é um equívoco. Foi um golpe militar com o apoio significativo da classe média”, destacou.

Em sua fala, o jornalista Chico Otávio reforçou a importância da mobilização social e do jornalismo sobre os crimes da ditadura. “Quando eu vejo que tem gente na imprensa europeia até hoje debruçada sobre os casos da Segunda Guerra Mundial, eu vejo que nunca é tarde para a nova geração de jornalistas revisitar os crimes da ditadura militar“, opina.

A historiadora Andrea Queiroz, diretora da Divisão de Memória Institucional e membro da Comissão da Memória e da Verdade, ambos da UFRJ, apontou a urgência em se falar sobre como o autoritarismo e seus agentes políticos e sociais, em diferentes épocas, atuaram dentro da Universidade e deixaram marcas de sua trajetória até os dias atuais.

“Estamos tocando na ferida, mas ao mesmo tempo, estamos tocando nas memórias que estão cristalizadas dentro da instituição, personagens que vão dar nome de auditório e de prédio, e que representam as marcas desse período autoritário na UFRJ. O contraponto que fazemos é o levantamento da memória de professores e alunos cassados, presos e exilados, que puderam voltar para a instituição posteriormente, como o professor Alberto Luiz Coimbra, fundador da Coppe, que só retornaria na década de 1980.”

Rejane Nogueira, ex-aluna do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da Uerj (CAp-Uerj) e pesquisadora sobre negros no movimento estudantil contra ditadura, na UFRJ, comentou sobre o racismo no regime militar de 1964, compartilhando a história de seu pai, Ailton Benedito de Sousa, militante negro e ex-estudante de Direito da, agora, Uerj. Nogueira, ainda, se debruça sobre suas vivências como filha de um pai perseguido pelo regime:

“Sou a terceira filha de acadêmicos e militantes negros e vivenciei a ditadura a partir desse lugar de filha. Eu e meus irmãos experimentamos todas as mazelas que a tortura, o encarceramento, a exclusão promovem em pessoas que são vítimas de tamanha opressão (…). Como pesquisadora negra, vou tentar dar voz e lamento a essas narrativas silenciadas quando se trata da memória da ditadura”, declara Rejane.

A reitora Gulnar Azevedo e Silva finalizou ao apontar sobre a história que, ainda que dolorosa, precisa ser contada. “São feridas que não foram cicatrizadas, é nosso papel recuperá-las (…). Os jovens não conhecem a história. Nós vivemos, de algum lugar e em algum momento, essa história, e a gente vê que ela ainda repercute. E isso tem que ser falado com muito cuidado e carinho, com muita atenção, mas a gente não pode esconder”, acentua.

Os debates foram transmitidos ao vivo pelo canal da ABI no YouTube. A mesa da Uerj foi transmitida também pelo canal FCS na plataforma. 

*Alunos do Curso de Relações Públicas da Uerj. Texto revisado pela professora doutora Renata Monty.

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