O desafio de conquistar vozes da juventude em defesa do clima

O desafio de conquistar vozes da juventude em defesa do clima

Amanda Costa, jovem embaixadora da ONU, diz que, em um cenário de crise climática, aprender a comunicar é desenvolver estratégias para criar futuros sustentáveis

Por: Sofia Inerelli

Amanda Costa – Foto: Mapa Fotografia/Rogério von Krüger

Chamada para o evento Central da Cop (Foto: instagram)

Combater a mudança climática e desinformação é um desafio que cada jovem pode encarar, usando seu celular como instrumento. Em síntese, foi esse o recado de Amanda Costa, jovem embaixadora do clima junto à ONU,  durante o evento Vozes pelo Clima: Mídia, Ciência e Educação no Combate à Desinformação, realizado no último dia 11 de agosto. Amanda convocou a juventude a atacar as fake news, um problema mencionado por especialistas presentes ao evento como algo muito prejudicial diante da atual crise climática.

 

O evento, organizado pelo Programa de Pós Graduação em Mídias Criativas (PPGMC) da UFRJ em parceria com o projeto “Climate Talks” da Embaixada da Alemanha e o DAAD (Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão), contou com palestras feitas por jornalistas, cientistas, professores e ativistas que eexplicaram o que significa desinformação, quais são os tipos de negacionismo e em quais sites conferir a veracidade da informação. 


Em consenso, comunicadores e líderes ambientais falaram da importância de questionar a desinformação. Mostraram que ela muitas vezes é utilizada por grupos com interesses econômicos e políticos para obter influência, dinheiro e poder. Destacaram que, no momento de crise climática, a desinformação atrapalha ações concretas e reais de apoio a vítimas de desastres, por exemplo, e atrapalha a compreensão real do problema.

Amanda Costa reiterou o papel dos jovens como aliados para combater fake news. “Hoje cada um de vocês tem um celular, cada um de vocês podem promover informações. É nossa responsabilidade verificar notícias e criar novas narrativas. Entender que a gente tem a possibilidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável, que não é parte apenas de determinado grupo que está na política, economia ou universidade o dever de pensar estrategicamente sobre o nosso mundo sustentável”. 

Ao ser questionada sobre o motivo pelo qual a juventude não se mostra tão engajada nas discussões a respeito da defesa do meio ambiente, Amanda disse que muitos jovens se sentem cansados ao ter que conciliar trabalho, escola ou faculdade, com tempos longos de percursos entre um e outro. Lembrou que, historicamente, a juventude sempre se associou a revoluções, passeatas, greves e manifestações, mas hoje sofre com uma espécie de apatia. A mudança nesse comportamento, para Amanda, está relacionada ao sistema capitalista. “Nesse projeto, lutas coletivas cada vez passam a ser estruturalmente invisibilizadas, prevalecendo lutas individuais que alcançam menos visibilidade e possuem menos força para alterar o sistema.”

A ativista exibiu vídeos e destacou a necessidade de inovar a linguagem para se aproximar  desta geração que vem crescendo desde cedo na internet. Um deles, em tom irônico, mostrou como seria viver em Marte, apresentado como a “nova Terra”. Os jovens riram diante da sátira e discutiram a mensagem proposta: não há outro planeta, então a saída é lutar e se engajar para salvar o planeta em que vivemos.

Parque Nacional da Tijuca tem fauna ameaçada por matilhas de cães

Parque Nacional da Tijuca tem fauna ameaçada por matilhas de cães

Espécies invasoras são a segunda maior causa de extinção de faunas em escala global 

Por: Maria Eduarda Galdino

 
Cão caramelo no Parque Natural da Tijuca (Foto/Fonte: Acervo Refauna)
 
 
 
 

Ataques de espécies invasoras em florestas e parques naturais já se tornaram a segunda maior causa de extinção de espécies no planeta. segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). E entre esses invasores estão inclusive plantas e animais domésticos  – que, ao circular em ambientes naturais, acabam ameaçando espécies nativas. No Parque Nacional da Tijuca, por exemplo, uma ameaça frequente são os cachorros.

 O Ecos Urbanos conversou com o pesquisador e biólogo Matheus de Souza Louzada, que estuda a atividade de cães na Floresta da Tijuca. Ele afirma que os ataques têm aumentado. “A gente consegue perceber que a presença dos cães tem sido muito frequente no parque, isso vem aumentando justamente pela pressão urbana que vem apertando o parque cada vez mais”, disse.

 Além disso, o biólogo explicou que os seres humanos também possuem influência no aumento dos ataques, pois os cães podem entrar em contato com o parque tanto por situações de abandono ou soltura dos donos. A falta de educação ambiental dos visitantes também é um fator que contribui para o aumento da circulação e violência dos animais por conta da alimentação não autorizada.

 Matheus acrescenta que as espécies nativas mais afetadas por ataques no parque até agora são animais de pequeno porte, como cutias e jabutis. “A gente tem visto casca de jabutis com marcas de unha de cachorro, isso tem sido bem registrado nos monitoramentos”. 

Setores de conservação do Parque Nacional da Tijuca. Foto: Imagem © Google. Mapa elaborado por Matheus Louzada (2025)

Existe solução ?

O biólogo Louzada afirma que os programas de castração, vacinação e dispositivos de contenção ajudam a combater o aumento de superpopulação de cães e o surgimento de patologias no parque. Porém, diz que os ataques de matilha são um problema complexo e difícil de controlar de forma imediata por conta do tamanho do parque. “A gente precisa integrar diferentes estratégias de manejo para lugares de conservação, como a instalação de barreiras físicas de microchipagem para cachorros e gatos”, destaca.

A organização do parque também é fundamental para o combate à circulação de cães e gatos. Segundo o biólogo, é necessário que a infraestrutura do parque seja monitorada frequentemente para conter o rompimento de grades e entradas irregulares de visitantes com seus animais. “O parque é enorme, é fácil falar na teoria, mas na prática é complexo, precisamos de ajuda de todos os lados”.

E o poder público ? 

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO)  reconhece o Parque Nacional da Tijuca como área ameaçada na Lista de Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Federais. Caso a administração do parque deseje fazer a retirada de espécies invasoras no local, é possível solicitar autorização de manejo de espécie exótica, desde que a prática esteja enquadrada no Roteiro de manejo do ICMBIO. Ao fazer o pedido, a unidade precisa listar as as espécies invasoras e os impactos que elas causam na unidade de conservação ou sobre as espécies nativas do local.

No site da instituição, também é possível encontrar cartilhas de conscientização para profissionais de turismo, turistas e moradores que habitam em locais próximos a parques naturais. 

A Prefeitura do Rio de Janeiro aprovou o Decreto Municipal n° 33,814 em maio de 2011 que institui o Programa Municipal de Controle de Espécies Exóticas Invasoras com objetivo de controlar as invasões, restaurar e manter ecossistemas de áreas naturais através do reconhecimento das espécies invasoras e protocolos operacionais de remoção dos animais não nativos. Louzada afirma que algumas ações feitas pelo poder público poderiam ser mais divulgadas, como as campanhas de vacinação e microchipagem animal.

 

Quer ser voluntário da COP30?

Quer ser voluntário da COP30?

Edital oferece novas vagas para quem quiser ajudar na realização da Conferência do Clima,  que será realizada em em novembro deste ano em Belém 

Por: Maria Luísa Moura

 

Belém (PA), 06/06/2025 – Rio Guamá e a cidade de Belém ao fundo. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) liberou dia 26/06 o segundo edital para selecionar interessados no programa de voluntariado do evento. As inscrições começaram dia 1° de julho e terminam dia 11 do mesmo mês. 

Os voluntários selecionados serão responsáveis pela recepção dos convidados, pelo auxílio no credenciamento, pelo suporte logístico, dentre outras atribuições gerais. Os selecionados no primeiro edital já estão em fase  de capacitação. Ao todo, serão escolhidos 3.946 voluntários.

 Eles não recebem pagamento, mas terão alguns benefícios:

  • Alimentação e espaço próprio para se alimentar;
  • Livre circulação em transporte coletivo ou próprio do evento;
  • Uniforme completo e acessórios de identificação da Conferência;
  • Seguro de vida, ao serem contratados pela SECTET (Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará) .

Veja os pré-requisitos para quem quiser se candidatar:

  • Residir na região metropolitana de Belém (PA);
  • Boa comunicação, habilidade para trabalhar em equipe, proatividade, organização e capacidade de resolver problemas;
  • Experiência prévia em atendimento público ou organização de eventos;
  • Conhecimento da língua inglesa, com comprovação de teste de proficiência;
  • Disponibilidade para atuar nos horários específicos da COP 30;
  • Ter, no mínimo, 16 anos (menores de idade precisam ser formalmente autorizados a participar através de um Termo de Adesão assinado pelos responsáveis legais);
  • Nível de escolaridade: ao menos Ensino Médio completo ou em andamento.

Além desses requisitos, o candidato deverá passar por duas etapas antes de ser escolhido: o recrutamento e a seleção. A primeira parte envolve uma análise de currículo e das conexões dos candidatos com temas e das atividades abordados à COP 30, como mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, a ONU, a Conferência das Partes para a Mudança do Clima e turismo. Em seguida, os voluntários em melhor classificação passam pelo cadastro de checagem do governo federal e, caso sejam aprovados, são contratados e direcionados de acordo ao seu perfil de atuação. 

Segundo o edital, 400 vagas estão reservadas a candidatos de 16 e 17 anos, sempre para atuação no período diurno; 5% das vagas irão para pessoas com deficiência e 20% para integrantes de povos originários.

As inscrições são feitas apenas pelo link da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará: www.sectet.pa.gov.br. O candidato deverá preparar os seguintes documentos:

  • RG;
  • CPF;
  • Comprovante de residência;
  • Título de Eleitor e declaração de quitação da Justiça Eleitoral;
  • Certificado de reservista ou Dispensa de Incorporação, para candidatos do sexo masculino;
  • Documento(s) de comprovação de escolaridade:
  1. Nível Médio: Certificado ou comprovante de matrícula;
  2. Graduação em andamento: comprovante de matrícula válido;
  3. Graduação: Diploma.
  • Currículo Lattes/Vitae do candidato;
  • Certidão Negativa de Antecedentes Criminais.

Para mais informações, acesse o edital do Processo Seletivo: https://www.sectet.pa.gov.br/sites/default/files/EDITAL%20COMPLEMENTAR%20N%C2%B0%20007.2025_SELE%C3%87%C3%83O%20DE%20VOLUNT%C3%81RIOS%20PARA%20ATUAR%20NA%20COP30_26.06.2025%20%281%29_0.pdf 

 
 
 

 

 
 
 
 

Em ano de COP30, projetos de tecnologia apostam em inovação e sustentabilidade

Em ano de COP30, projetos de tecnologia apostam em inovação e sustentabilidade

Empresas voltadas para ações ambientais marcaram a terceira edição do Web Summit Rio 

Por: Maria Eduarda Galdino

 

Tarciana Medeiros, Bianca Andrade e Adiana Barbosa no palco principal Web Summit Rio Foto: Maria Eduarda Galdino

Diversos empreendimentos ambientados no Brasil usam a tecnologia para combater a crise climática, e a aliança entre inovação e sustentabilidade foi um dos temas do Web Summit Rio, encerrado no último dia 30 de maio. O último painel do evento reuniu três referências do empreendedorismo feminino: Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, Bianca Andrade, CEO da Boca Rosa Beauty, e a diretora executiva da Feira Preta, Adriana Barbosa, conversaram sobre tendências no empreendedorismo brasileiro e sustentabilidade.

Tarciana Medeiros disse que o Norte do Brasil é referência em negócios que priorizam a sustentabilidade no modelo de produção. Segundo ela, o fortalecimento de propósitos entre organizações desse ramo é essencial. “Junta empreendedores principalmente de agroecologia, agroeconomia,  de biotecnologia e diversos empreendimentos que a gente entende o potencial na rede como um todo”, disse. 

Diversas empresas com foco na sustentabilidade participaram do encontro. O Ecos Urbanos conversou com representantes de algumas dessas empresas. Breno Veiga, CEO da Ekonavi, uma plataforma gratuita que potencializa soluções baseadas na natureza, explicou que sua empresa desenvolveu um aplicativo que conecta grupos de trabalho rural com investidores globais, tornando ações ecológicas comunitárias possíveis em escala global. É uma espécie de Linkedin para grupos que querem manter seus projetos sustentáveis visíveis no meio digital. “A nossa motivação é produzir alimentos de qualidade, gerar mais sustentabilidade no planeta e fortalecer as redes de produtores que estão produzindo de maneira orgânica e agroflorestal”, disse.

 
 
Bruno Veiga, CEO da Ekonavi, e Veber Alvez, advogado na  Ekonavi no Stand Beta 3  (Foto: Maria Eduarda Galdino)
 
Os grupos de campo que podem utilizar a plataforma são diversos. A Ekonavi abriga projetos ecológicos na agricultura,  propostas de reciclagem, sistemas agroflorestais e outras propostas ecológicas no campo.  “É um projeto gratuito  para esse grupos que atuam no campo e funciona de forma similar ao Linkedin, então você profissionaliza o seu projeto de campo tornando ele mais visível para investidores.”

Já Ângelo Coelho é diretor da Brinquedo Livre, uma empresa que promove a sustentabilidade no universo infantil. A empresa funciona como um marketplace colaborativo, conectando vendedores que querem descartar brinquedos usados e compradores, com uma curadoria sustentável. “Unimos sustentabilidade com economia circular e tecnologia para criar uma plataforma onde brinquedos usados, seminovos e colecionáveis ganham uma nova vida.”

O diretor afirma que a empresa foi criada devido a pesquisas em relação ao impacto ambiental que os brinquedos fazem na natureza. “Um dos dados que mais nos impactou foi do Instituto Akatu, que aponta que 60% dos brinquedos descartados no Brasil ainda poderiam ser reutilizados”, disse. A Brinquedo Livre possui um núcleo de pesquisas voltado para a economia circular no mercado infantil. Além disso, a empresa se encontra em um processo de desenvolvimento de selos que identificam produtos com maior potencial de reutilização e durabilidade. 

                                                                                        Logo da empresa Brinquedo Livre. Foto: brinquedolivre.com.br
 
 
 
A pesquisa Panorama de Sustentabilidade Corporativa 2025, feita pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) e a Humanizadas, concluiu que 76% das empresas brasileiras adotam práticas sustentáveis nos negócios, um aumento de 5% em relação ao ano de 2024. Entre os que responderam à pesquisa, 77% acham que incluir a sustentabilidade nos negócios aumenta as vantagens competitivas e que existe uma relação positiva na demanda de novos grupos e mercados.
 
O estudo também afirma que acrescentar a sustentabilidade a performance financeira, que é uma avaliação ampla de métricas da empresa, pode acelerar ganhos significativos. O estudo evidenciou que medidas como a implementação da IFRS S1/ S2, que são padrões internacionais relacionados a transparência das informações sobre sustentabilidade das empresas oferecem alto retorno financeiro. 
 

 

 
 
 
 

Calor intenso e turismo desordenado ameaçam corais na costa brasileira

Calor intenso e turismo desordenado ameaçam corais na costa brasileira

Pesquisadores destacam que 90% desses organismos estão em risco; projetos de conservação investem em educação ambiental 

Por: Maria Luísa Moura Fontes 

 

 

Coral branqueado. Foto: Thales Vidal/PELDTAMS/Via Agência Brasil

O aumento da temperatura dos oceanos, resultado das ondas de calor em todo o mundo, tem provocado o branqueamento de diversos corais na costa brasileira. Esses organismos são extremamente sensíveis às mudanças climáticas e, com temperaturas mais altas, acabam expulsando as zooxantelas – microalgas com as quais vivem em simbiose. Sem algas, os corais ficam brancos. 

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirma que, se não houver redução significativa da emissão de carbono para frear o aquecimento global, todos os corais do planeta passarão pelo branqueamento até o final do século. A situação se torna mais preocupante porque – mesmo que os países consigam atingir a meta do Acordo de Paris, que limita o aumento da temperatura a 1,5°C – estima-se ainda que 70% a 90% dos recifes coralíneos morram.

Segundo o PNUMA, os corais fazem parte de 25% da vida marinha de todo planeta, mesmo ocupando apenas 1% do oceano. A construção rochosa dos recifes comporta até 800 espécies diferentes de corais, que dispõem da maior biodiversidade de todo ecossistema global. Além da importância biológica desses seres, os corais também são fundamentais para o turismo ecológico, sem danos ao meio ambiente. De acordo com a Fundação Grupo Boticário, organização sem fins lucrativos de proteção da natureza, o turismo em recifes de corais na costa do Nordeste arrecada cerca de 7 bilhões por ano, o equivalente a 5% do PIB turístico brasileiro.

O professor Rodrigo Leão Moura, pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração em Abrolhos, estuda as causas e os desdobramentos do branqueamento de corais. Em Abrolhos foi criado o primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil. Essa região possui a maior extensão de recifes mais biologicamente diversos de todo Atlântico Sul, e sua preservação é fundamental para a proteção de espécies endêmicas – encontradas apenas nesse local.

De acordo com Leão Moura, as últimas descobertas científicas invalidaram a teoria de que os corais brasileiros seriam mais resistentes ao calor. “Mesmo sendo mais resistentes ao branqueamento, os corais brasileiros têm morrido após as ondas de calor. Essa característica dificultou o entendimento do processo de declínio dos corais brasileiros, uma vez que os monitoramentos geralmente se concentram nos períodos anômalos e são descontinuados após esses eventos”, explica o especialista.

Diante das adversidades climáticas cada vez mais graves, o cenário atual em Abrolhos é de perda generalizada da qualidade ambiental dos recifes coralíneos. Segundo o professor da UFRJ, com a morte dos corais, os recifes passam a sustentar menos biodiversidade e, consequentemente, a armazenar menos biomassa de peixes para a produtividade local. 

Em 2003 foi criado no Brasil o Projeto Coral Vivo, para proteger os recifes de corais. Do projeto surgiu em 2013 o Instituto Coral Vivo, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que atua na conservação e sustentabilidade do ecossistema marinho. Vice-presidente do Instituto, o oceanógrafo Miguel Mies, professor da USP, ressalta que a perda da biodiversidade marinha, neste caso, afeta não só a costa brasileira, mas todos os ecossistemas do planeta, já que os recifes são interligados e se apoiam um no outro.

Segundo Mies, mais de 50% dos corais morreram nos últimos 30 anos. “É difícil você encontrar hoje um recife que a gente chama de prístino. Prístino é aquele que praticamente não sofreu nenhum impacto relevante, tá em uma condição de saúde excelente, é raríssimo encontrar isso”, reflete o pesquisador.

Além disso, ele alerta para o fato de não ser possível reverter completamente a degradação sofrida e de, no momento, não haver possibilidade de recuperação da cobertura coralínea original, pois não existem medidas efetivas para a redução das temperaturas globais, assim como pontua o professor Leão Moura, também especialista no tema.

Já na Ilha Grande, na costa carioca, o professor Luís Felipe Skinner, doutor em Biologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, acredita que é possível reverter alguns impactos ambientais com mudanças básicas de atitude, como a conscientização de turistas sobre contato indevido com os corais.

Skinner revela que a elevação da temperatura atmosférica no Brasil, nos últimos tempos, provocou alterações diferentes no litoral do Rio de Janeiro. Por exemplo, a Baía de Ilha Grande recebeu ondas de calor mais fortes por ter águas mais confinadas, chegando à temperatura de quase 30°C, enquanto na Região dos Lagos – em Cabo Frio, Búzios e Arraial do Cabo – o impacto foi aparentemente menor. 

Com relação ao processo de degradação das colônias coralíneas, os pesquisadores relatam um problema em comum: o turismo desorganizado que prejudica a qualidade da água e agride organismos marinhos como os corais. O que se observa frequentemente nos litorais mais procurados pelos turistas é a promoção de atividades que contribuem para a destruição de habitats marinhos, como lançamento de âncoras para atracar barcos, pisoteio de corais e descarte de lixos. Com a chegada das ondas de calor nessas costas, as consequências da degradação são intensificadas, especialmente em período de El Niño, quando a temperatura do mar é elevada por semanas ou meses. 

Nesse cenário, são necessários investimentos que viabilizem fiscalizações constantes e ações de preservação dos corais, descreve Skinner: “Há uma necessidade de monitoramento frequente, e, para isto, há uma demanda de equipe e logística muito grande. Estas demandas significam recursos financeiros aos quais não temos tido acesso, o que limita muito nossa atividade”. 

 
 
 

Coral Montastraea cavernosa no recife Pirambu, na APA Costa dos Corais. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 
 
 
 

Regiões mais pobres do Rio de Janeiro são mais afetadas pelo calor

Regiões mais pobres do Rio de Janeiro são mais afetadas pelo calor

Pesquisadora da Uerj explica por que a desigualdade tem a ver com a crise climática 

Por: Maria Eduarda Galdino

 

Cidade de Nilópolis. Foto: Maria Eduarda Galdino 

O Rio de Janeiro atingiu o terceiro nível do Protocolo de Calor (CALOR 3)  na última Terça-feira (02/04) às 14h10. O calor de nível 3 é comunicado pela Prefeitura do Rio quando são registradas temperaturas de 36ºC a 40ºC, com previsão de permanência ou aumento de, ao menos, três dias consecutivos. Além das temperaturas elevadas, outra coisa chama atenção: o contraste de temperatura em diferentes regiões do Estado.

Às 14h10, o bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio, atingiu a temperatura de 29ºC, enquanto a cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, atingiu 34ºC no mesmo horário. Mariana Castro, doutoranda em Ciência Política pelo IESP-UERJ e pesquisadora no Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (IMC), explica que a diferença significativa nos termômetros tem explicação histórica. “Durante décadas a gente vê que as populações  mais pobres e racializadas foram empurradas para as áreas com menos infraestrutura, menos serviços, menos proteção ambiental, e tudo isso resulta no que estamos vivenciando agora, o impacto das ondas de calor estão muito mais severas para quem vive em situação de vulnerabilidade.”

Além do histórico de reclusão da população mais vulnerável, a pesquisadora aponta outras questões que aumentam os efeitos do calor extremo em regiões mais pobres, como a falta de orçamento nas cidades para investir em soluções ecológicas, o crescimento urbano desordenado e a falta de gestões governamentais comprometidas com a permanência de projetos voltados para o ambiente urbano. “Essas medidas acabam ficando em segundo plano, outro problema é a questão da desigualdade social territorial, as áreas mais pobres são as que mais sofrem com calor e muitas vezes elas não são priorizadas na hora de construir e colocar em prática as políticas públicas. Enquanto isso, os bairros mais ricos têm mais infraestrutura e acabam recebendo mais investimento “, disse.

Segundo a Plataforma AdaptaBrasil,  do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), os municípios da Baixada Fluminense possuem níveis altos de exposição às mudanças climáticas, como desastres geo-hidrológicos, inundações (Índice 0,89 de 1,00) e demanda de resfriamento devido às ondas de calor intensas (Índice 1,00 de 1,00). A pesquisadora Mariana Castro afirma que os grupos que residem em áreas mais pobres sem adaptação às temperaturas elevadas  estão mais expostos ao risco de morte por conta do fenômeno das ilhas de calor. “A forma como o próprio bairro foi estruturado é diferente, as comunidades são muito mais próximas umas das outras, com material de baixa qualidade que intensifica o calor, isso impede a circulação do ar e aumenta o fenômeno das ilhas de calor por exemplo

Demanda de resfriamento na cidade de Nilópolis. Foto: AdaptaBrasil /Eduarda Galdino

Em fevereiro deste ano, durante o Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, o governo brasileiro apresentou uma estratégia inédita chamada Adapta Cidades, iniciativa do Programa Cidades Verdes Resilientes e coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). O objetivo é orientar e auxiliar cidades com capacitações técnicas de planejamento ambiental e acesso a investimento. Representantes de onze estados – Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins e Pará – estiveram presentes e sinalizaram interesse em participar da iniciativa.

A iniciativa é parte dos compromissos ecológicos do Brasil formalizados na 29 ºConferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 29, em 2024 pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, em cooperação com a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), pacto do Brasil assinado no Acordo de Paris para combater a instabilidade ambiental em 2015.

A pesquisadora Mariana Castro reitera que diversas práticas ecológicas podem ser implementadas nas políticas públicas para mitigar os efeitos das ondas de calor, como investimentos em materiais de construção que são mais resistentes às temperaturas elevadas e plantações de áreas verdes nos centros urbanos. “É importante a gente mexer nas infraestruturas da cidade por exemplo criar a calçadas permeáveis, investir em telhados verdes, plantar mais árvores nos bairros mais quentes,trocar telhas por materiais que isolam melhor o calor e pintar os telhados com tintas que refletem o sol e garantir ponto de água potável em locais públicos.”