Bate papo com o ator Gilson Barros ( Foto: Lafepe)

Viver é perigoso: a psicologia e a palavra em Guimarães Rosa

Viver é perigoso: a psicologia e a palavra em Guimarães Rosa

Lafepe é onde pensamento encontra a dor e a palavra cura

Por Samira Santos

No coração do Instituto de Psicologia da Uerj, no campus Maracanã, um grupo de pesquisadores, estudantes e professores se reúne semanalmente com um objetivo que transcende a técnica: compreender o ser humano em sua profundidade. Trata-se do Laboratório de Fenomenologia e Estudos em Psicologia Existencial (Lafepe), coordenado pela professora e pesquisadora Ana Maria Feijoo. Vinculado ao programa de extensão Uerj Pela Vida, o Lafepe tem se consolidado como um espaço de referência nacional no estudo da fenomenologia e das filosofias da existência, com uma atuação que vai do campo teórico ao atendimento clínico especializado.

Formado por integrantes da graduação ao pós-doutorado, o laboratório é mais do que um ambiente acadêmico: é um território de escuta, reflexão e cuidado. Por meio do Núcleo de Atendimento Clínico (NAC), o Lafepe oferece psicoterapia com foco especial em pessoas em risco de suicídio e enlutadas, ampliando suas ações especialmente durante a pandemia de Covid-19, quando criou também um núcleo de apoio voltado para enlutados por perdas associadas à doença.

Além da prática clínica, o Lafepe promove grupos de estudo, discussões de casos, supervisões e eventos interdisciplinares que conectam psicologia, filosofia e arte. Um dos exemplos dessa atuação foi o evento realizado em abril, “Viver é muito perigoso: lições de Guimarães Rosa para um modo de pensar não colonizado”, que reuniu mais de 200 pessoas para refletir sobre o impacto da literatura no pensamento clínico e existencial.

Dia do evento com auditório lotado (Foto: Lafepe)
Dia do evento com auditório lotado (Foto: Lafepe)

Segundo a professora Ana Maria Feijoo, o laboratório busca, através da fenomenologia, compreender o sofrimento psíquico sem reduzi-lo a diagnósticos simplistas. Em suas palavras: “A fenomenologia nos ensina a escutar antes de interpretar. É nesse espaço de abertura que encontramos a singularidade do outro”.

Essa escuta também atravessa a literatura. Feijoo, que há anos estuda autores como Clarice Lispector, Lima Barreto e Manoel de Barros, atualmente se dedica à obra de Guimarães Rosa, especialmente ao romance Grande Sertão: Veredas. Em sua leitura, Riobaldo, protagonista do livro, traz à tona questões existenciais profundas — como o conflito interno entre o bem e o mal — que ressoam diretamente com os dilemas vividos na clínica. “A questão do ‘diabo existe ou não existe?’ que atravessa toda a narrativa de Riobaldo é, para mim, uma pergunta fundamental da psicologia clínica. Trata-se de uma busca por sentido, por compreensão da própria experiência, que culmina em uma resolução epifânica: o diabo não existe, o que existe é o homem humano”, afirma Feijoo.

Essa intersecção entre literatura e psicologia existencial é a marca registrada do Lafepe. Para a professora, os autores brasileiros oferecem uma chave de leitura do sofrimento humano que foge às classificações rígidas da psicologia tradicional, e por isso são fundamentais na construção de um pensamento não colonizado — ou seja, enraizado na realidade e na cultura brasileira.

Bate papo com o ator Gilson Barros ( Foto: Lafepe)
Bate papo com o ator Gilson Barros ( Foto: Lafepe)

O evento com o ator Gilson de Barros, que interpreta Riobaldo em uma trilogia teatral baseada no romance, exemplificou esse esforço. Na ocasião, Gilson trouxe trechos da peça à Uerj e participou de uma conversa com o público mediada por Feijoo, promovendo um encontro sensível entre arte e psicologia. Para a professora, iniciativas assim abrem espaço para uma formação clínica mais crítica e sensível à complexidade do ser humano.

O evento, ocorrido em abril, representa apenas uma das muitas ações realizadas pelo Lafepe. A rotina do laboratório segue intensa, com pesquisas em andamento, atendimentos à comunidade, supervisões clínicas e encontros interdisciplinares. O grupo também compartilha conteúdos e reflexões em seus canais virtuais, fortalecendo sua atuação como um centro de produção e disseminação de conhecimento sobre psicologia fenomenológica e existencial.

O mural de Lélia Gonzalez transforma os prédios cinzas da Uerj

O mural de Lélia Gonzalez transforma os prédios cinzas da Uerj

Por Samira Santos

A Uerj carrega, em seus corredores e salas de aula, a história de diversas personalidades que transformaram o pensamento acadêmico e social do Brasil. Entre elas, destaca-se Lélia Gonzalez, uma intelectual, professora e ativista negra, cuja trajetória inspirou gerações e segue ecoando até os dias atuais. Em homenagem a essa figura emblemática, o evento “Ânima 2025” trouxe uma nova forma de resistência para dentro da Universidade: um mural vibrante e simbólico que, através da arte, ressignifica os espaços da instituição.

Mural da Lelia e a artista J.Lo (Foto: Equipe Coart)
Mural da Lelia e a artista J.Lo (Foto: Equipe Coart)

O legado de Lélia

 Nascida em 1935, em Belo Horizonte, Lélia Gonzalez conquistou seu espaço na academia em uma época em que a presença de mulheres negras no ensino superior era praticamente inexistente. Graduou-se em História e Filosofia na então Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Uerj, e prosseguiu seus estudos na PUC-Rio, onde fez mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia Política. Sua produção intelectual foi marcada pela interseção entre gênero e raça, culminando no conceito de “Amefricanidade”, que destaca as experiências negras na América Latina como um elo essencial para compreender as estruturas raciais do continente.

A professora Leda Costa, especialista no pensamento de Lélia Gonzalez, destaca a importância de sua obra: “O pensamento de Lélia é um pensamento riquíssimo para entender o racismo no Brasil, para entender o sexismo no Brasil. E é um pensamento muito inovador também, já que Lélia recorre à psicanálise e tem um papel muito atuante. Ela foi uma pensadora militante da causa do feminismo negro, uma militante contra o racismo, alguém que conseguiu conciliar uma vida acadêmica com uma intensa atuação política”.

Sobre o conceito de “Amefricanidade”, a professora Leda acrescenta: “Lélia desenvolveu muitos debates no Colégio Freudiano e teve contato com psicanalistas como Carlos Magno, que a influenciou bastante. Além disso, ela estava muito antenada com pensadores como Frantz Fanon e Paul Gilroy, que já apontavam para a necessidade de repensar a relação entre a África e a América. Daí surge a ideia de “Amefricanidade”, que propõe uma matriz africana essencial para compreender as dinâmicas do continente americano, diferente da concepção de afro-americano centrada nos Estados Unidos”.

 
Livro da Lélia sobre feminismo negro (Foto: Reprodução)
Livro da Lélia sobre feminismo negro (Foto: Reprodução)

 

Seu ativismo se expandiu para o Movimento Negro Unificado (MNU), no qual desempenhou papel fundamental na luta contra o racismo no Brasil. Inspirados por esse legado, a Coart se reuniu para transformar as paredes cinzentas da Universidade em um manifesto visual. O mural criado no evento “Ânima 2025” transcende a estética e se torna um símbolo de resiliência e empoderamento.

A iniciativa para a criação do mural partiu da artista visual J.Lo Borges, que grafitou um retrato de Lélia Gonzalez sorrindo, com sua característica faixa no cabelo. O mural foi composto por cores quentes para transmitir aconchego, criando um espaço de memória dentro da Uerj. J.Lo Borges, que atualmente cursa mestrado em relações étnico-raciais, ressaltou a importância do mural não apenas como uma homenagem, mas como um lembrete constante do pensamento crítico de Lélia Gonzalez.

A professora Leda Costa também reforça essa necessidade: “Lélia não era uma mulher somente de gabinete, ela mantinha contato constante com a realidade das mulheres negras marginalizadas no Brasil. Ela questionava a concepção tradicional do feminismo, que priorizava uma visão ocidental e branca da mulher, e reivindicava a centralidade da mulher negra nesse debate. Isso precisa ser estudado e discutido amplamente dentro da universidade”.

A intervenção artística não passou despercebida. Alunos, professores e funcionários da Uerj rapidamente transformaram o mural em ponto de encontro e reflexão. Para muitos estudantes negros, a imagem de Lélia representa a possibilidade de pertencimento em um espaço historicamente excludente. A arte, que se impõe sobre a paisagem cinzenta da Universidade, também provoca debates sobre a permanência de intelectuais negros nos currículos acadêmicos.

A criação do mural marca um momento simbólico na Uerj, mas também levanta questões sobre o compromisso da universidade em valorizar efetivamente o legado de Lélia Gonzalez. Professores e estudantes seguem mobilizados para garantir que seu pensamento não seja apenas homenageado, mas incorporado ao debate acadêmico de forma estruturada.

Lélia Gonzalez enxergava a educação como ferramenta de emancipação e transformação social. Seu legado é um convite para que a Universidade se torne, de fato, um espaço plural, onde diferentes vozes possam ser ouvidas e valorizadas. E, agora, esse chamado está gravado, em cores vivas, nos muros da Uerj, resistindo ao tempo e inspirando novas gerações.

Assédio nas universidades e seus impactos

Assédio nas universidades e seus impactos

Um retrato da violência silenciada em espaços acadêmicos

 

Por Samira Santos

O ambiente universitário, frequentemente idealizado como um espaço de aprendizado e transformação, tem sido palco de uma problemática séria: o assédio. Dados da Controladoria-Geral da União (CGU) revelaram 557 denúncias de assédio em instituições públicas federais em 2024, o que equivale a uma média de duas por dia. Esses números expõem a persistência de uma cultura de silenciamento e impunidade em relação a essa prática, que afeta professores, funcionários e, principalmente, estudantes, especialmente mulheres.

Assédio moral e sexual no estágio (Foto: Pexels)
Assédio moral e sexual no estágio (Foto: Pexels)

 O silêncio das denúncias e subnotificações

Apesar da gravidade do problema, pesquisas apontam que a maioria dos casos de assédio não chega ao conhecimento das autoridades. Um levantamento realizado em 2022 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicou que apenas 10% das ocorrências são formalmente registradas. A subnotificação é reflexo de uma série de fatores, como medo de represálias, falta de apoio institucional e a burocracia envolvida nos processos de denúncia.

Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, em uma década, apenas seis processos administrativos foram abertos relacionados ao tema, e apenas um resultou em punição. Recentemente, um professor da instituição foi suspenso por 15 dias após ser acusado de assédio sexual por duas colegas, gerando críticas sobre a falta de penalidades aplicadas.

Assédio e suas várias formas

O assédio nas universidades pode se manifestar de diferentes formas. O assédio moral envolve condutas abusivas reiteradas, como humilhações e ameaças, que degradam o ambiente acadêmico e afetam a saúde mental das vítimas. Já o assédio sexual inclui desde comentários inapropriados até exigências explícitas de favores sexuais, muitas vezes por pessoas em posições hierárquicas superiores, como professores ou orientadores.

A legislação brasileira tem avançado no enfrentamento a essas práticas. Desde 2001, o Código Penal inclui o assédio sexual como crime, com pena de detenção de um a dois anos. Em 2018, o artigo 215-A ampliou a abrangência para incluir a importunação sexual. Contudo, lacunas permanecem, especialmente na proteção de estudantes em relação a seus orientadores, onde o poder hierárquico é muitas vezes utilizado como instrumento de coerção.

O impacto na saúde mental

O assédio não afeta apenas o desempenho acadêmico, mas também a saúde mental das vítimas. A professora de psicologia Anna Uziel explica que a queda no rendimento, isolamento e desinteresse estão entre os sinais que podem indicar sofrimento psicológico. A professora sugere abordagens que vão além do suporte individual. “Grupos de acolhimento são importantes para fortalecer os estudantes e criar espaços de troca, onde possam compartilhar experiências e encontrar soluções coletivas”.

“Um primeiro ponto que acho muito importante é que, quando falamos de assédio, estamos falando de relações de poder”, afirma Uziel. Ela destaca que a universidade, muitas vezes, apresenta relações hierárquicas e verticalizadas que podem gerar conflitos. “Talvez agora, com o uso desse termo [assédio], estejamos conseguindo falar sobre essas questões e tratar dessas relações de poder que já causam sofrimento”.

O ambiente acadêmico deveria ser um espaço de incentivo e crescimento, mas para muitas mulheres torna-se um local de medo e retraimento. Dados do Instituto Avon,  em 2015, apontam que 67% das universitárias já sofreram algum tipo de violência no ambiente universitário, sendo o assédio sexual a forma mais recorrente, com 56% das alunas relatando experiências desse tipo. “A cultura do silêncio é ainda mais grave do que a da impunidade. Quando não podemos falar ou não encontramos escuta, perpetuamos o ciclo de violência”, explica a professora.

A face extrema da violência de gênero

O feminicídio, expressão máxima da violência de gênero, é um alerta de como práticas abusivas podem evoluir para consequências trágicas. Desde a sanção da Lei do Feminicídio, em 2015, pelo governo Dilma Rousseff, mais de 10 mil mulheres foram vítimas desse crime no Brasil. Em 2024, a Lei 14.994 aumentou a pena para 40 anos de reclusão para feminicídios, demonstrando a gravidade desse tipo de violência.

O discurso de Dilma ao sancionar a lei permanece atual: “Se mete a colher sim, principalmente se resultar em assassinato”. Essa fala ressalta a importância da denúncia e do apoio de familiares e amigos para evitar desfechos fatais.

A cultura do silêncio e a impunidade

A universidade, reflexo da sociedade, reproduz as mesmas opressões de gênero, classe e raça que estruturam a vida social. Pesquisas revelam que mulheres negras e indígenas estão ainda mais vulneráveis a violências, como o racismo interseccional. A escritora Grada Kilomba descreve essas experiências como “cicatrizes históricas que se perpetuam nas estruturas sociais e acadêmicas”.

Além disso, a falta de preparo institucional agrava a situação. Em 2022, apenas 25% das universidades possuíam políticas específicas para enfrentar o assédio, segundo pesquisa da professora Neiva Furlin da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Os Movimentos como o #MeToo e denúncias públicas têm pressionado por mudanças, mas a resistência à implementação de protocolos efetivos ainda é um desafio.

O silenciamento das vítimas (Foto: Freepik)
O silenciamento das vítimas (Foto: Freepik)

Caminhos para a transformação

A aprovação da Lei 14.540/2023, que institui o Programa de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Sexual em instituições públicas, é um passo importante. Ela obriga universidades e órgãos públicos a criar mecanismos de prevenção, acolhimento e responsabilização. Contudo, especialistas alertam que políticas só serão eficazes se acompanhadas de mudanças culturais profundas.

Iniciativas como a Comissão Permanente de Combate aos Assédios da Uerj mostram as estratégias integradas para enfrentar o problema. A Uerj implementou um fluxo institucional para acolher denúncias, apurar casos e promover ações educativas. Embora tenha criado uma cartilha sobre o combate do assédio sexual e moral, a universidade ainda encara dificuldades no acolhimento em sua Ouvidoria. Apesar dos avanços, a universidade ainda enfrenta desafios, como a sobrecarga de trabalho de membros da comissão e a falta de adesão de alguns setores. 

Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)

Empreendedorismo feminino: transformando realidades nas comunidades

Empreendedorismo feminino: transformando realidades nas comunidades

Instituto Dona de Si capacita a mulher, desenvolvendo sua autoestima e sua confiança 

 

Por Samira Santos

Nos últimos anos, a iniciativa de empoderamento feminino tem se mostrado uma ferramenta poderosa de transformação social, especialmente em comunidades e favelas do Rio de Janeiro. Entre os exemplos está o Instituto Dona de Si, fundado pela atriz Suzana Pires, em parceria com a Fundação Casas Bahia, que oferece capacitação gratuita e acolhimento para mulheres de várias regiões do Brasil, promovendo mudanças profundas na vida das participantes.

 

Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)
Premiação da Jornada Casas Bahia 2024 na Rocinha (Foto: Reprodução)

A Jornada Transformadora

 

O Instituto Dona de Si, em colaboração com a Fundação Casas Bahia, lançou um programa de capacitação em empreendedorismo focado no desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres. As participantes, residentes em locais como a Rocinha e o Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro, e em comunidades de São Paulo, Porto Alegre e Salvador, têm acesso a cursos que abordam desde a gestão de negócios e organização financeira até comunicação e marketing. O diferencial dessa formação está no acolhimento e na proximidade, com aulas presenciais e online, facilitando o acesso ao aprendizado, mesmo para aquelas com limitações de deslocamento ou com filhos pequenos, como destacou Semirames Santana, uma das alunas do Instituto.

 

Além da parceria com a Fundação Casas Bahia, responsável por apoiar a jornada de capacitação mencionada, o Instituto Dona de Si conta com outros parceiros de peso, como Animale e Prio, que ampliam as oportunidades de formação para as participantes. As educadoras do Instituto, conhecidas como “Educadonas”, orientam as alunas, chamadas de “Aceleradas”, ao longo do processo de desenvolvimento pessoal e profissional. A parceria com Animale, por exemplo, permite a realização de um desfile na Comunidade dos Prazeres, onde as alunas do laboratório de moda criam e apresentam suas próprias roupas, mostrando as habilidades adquiridas e conquistando visibilidade. O Instituto também oferece suporte psicológico, por meio do SAS Brasil, e jurídico, através das Justiceiras, reforçando o compromisso com o bem-estar integral e a autonomia das participantes.

 

“Participar dessas aulas perto de casa mudou tudo para mim. Com uma filha pequena, conseguir me capacitar sem me distanciar da minha rotina foi essencial. Hoje, trabalho em eventos como costureira e sou independente financeiramente”, comenta Semirames, que também compartilhou sobre o impacto do autocuidado em sua vida, tema abordado nos encontros. O apoio psicológico oferecido por meio da parceria com o SAS Brasil ajudou-a no autoconhecimento e autoestima, valores que ela leva para seu negócio.

 

Um dos grandes diferenciais do programa é o foco na saúde e no bem-estar emocional das mulheres, áreas que historicamente recebem pouca atenção nas comunidades. Janice Delfim, gestora do Instituto, enfatiza a importância dessas disciplinas, que vão muito além de ensinar sobre empreendedorismo. “A capacitação trabalha com a mulher como um todo, permitindo que ela se priorize, cuide de sua saúde emocional e compreenda seu valor. O empoderamento feminino começa dentro de cada uma e, a partir disso, elas conseguem cuidar melhor de seus negócios e de suas famílias”.

 

Aluna do Instituto Dona de Si (Foto: Reprodução)
Aluna do Instituto Dona de Si (Foto: Reprodução)

A abordagem integrada proporciona uma visão mais ampla de autoconhecimento e cuidado pessoal, e é esse diferencial que Janice destaca como transformador. A gestora menciona que as participantes, muitas vezes, chegam ao Instituto desgastadas emocionalmente e sem confiança. Com o tempo, elas aprendem a se valorizar e a lidar com as próprias inseguranças. Esse apoio permite que muitas mulheres saiam de situações de dependência emocional e financeira, desenvolvendo a autoestima e a confiança necessária para assumir a liderança de seus negócios.

 

Desafios e Superações 

 

A implementação das aulas presenciais e online encontrou desafios significativos, principalmente no início, como conta Janice Delfim. Convencer as mulheres de que o programa era uma oportunidade genuína de crescimento e totalmente gratuito foi uma barreira inicial, pois a desconfiança é comum em locais onde poucos recursos são oferecidos sem contrapartida. “As mulheres se perguntavam: ‘Será que é verdade? Será que é gratuito?’. Mas, com o depoimento das participantes da primeira turma, a adesão cresceu rapidamente”, explica Janice.

 

Esse processo de construção de confiança foi essencial para o sucesso da iniciativa. Hoje, o programa é procurado por mulheres de várias regiões, e o impacto positivo é notório nas comunidades atendidas. Além disso, a presença de educadoras locais que acompanham de perto as alunas reforça os laços e cria uma rede de apoio.

 

O Desfile dos Prazeres: Uma Passarela de Sonhos

 

Ao final da jornada, as alunas do laboratório de moda do Instituto participam de um desfile na Comunidade dos Prazeres, onde apresentam suas próprias criações. Esse evento é um marco de celebração, permitindo que as empreendedoras mostrem suas habilidades e conquistem o reconhecimento que muitas vezes lhes é negado.

 

Para Semirames Santana, desfilar com as roupas que ela mesma desenhou, modelou e costurou é a realização de um sonho. “A sensação de ver meu trabalho valorizado e de me ver reconhecida como profissional é incrível. Esse evento é muito mais que um desfile; é uma demonstração de tudo o que conseguimos alcançar com dedicação e aprendizado”.

 

O futuro promete novas capacitações, incluindo técnicas específicas como o macramê, tranças e confecção de itens em cetim, visando expandir o portfólio das empreendedoras e gerar novas fontes de renda. Janice Delfim destaca que o objetivo é, eventualmente, criar uma marca coletiva, unindo as participantes em uma rede de apoio para que possam participar de feiras e eventos, solidificando a marca Dona de Si como símbolo de empoderamento e transformação.

 

As histórias das mulheres que participam do Instituto Dona de Si revelam a importância do empreendedorismo feminino como ferramenta de transformação social e de emancipação. Como conclui Ana Cristina Oliveira, uma das alunas da Fundação Casas Bahia: “O curso nos ensina que somos protagonistas de nossa história e que, com apoio e conhecimento, podemos superar desafios e construir uma vida melhor”. Essas trajetórias inspiradoras nos lembram que o empoderamento feminino não é apenas um conceito, mas uma prática diária que transforma vidas e gerações. 

 

Inteligência Artificial e a luta contra o câncer de mama: desafios, potenciais e realidade brasileira

Inteligência Artificial e a luta contra o câncer de mama: desafios, potenciais e realidade brasileira

Outubro passou, mas a prevenção ao câncer de mama deve ser feita ao longo do ano todo, alertam especialistas

Por Samira Santos

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre mulheres em todo o mundo, representando cerca de 28% dos novos casos de câncer em mulheres no Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Embora raro em homens, a doença também afeta o sexo masculino, correspondendo a menos de 1% dos casos. Com aumento na incidência após os 50 anos e diversos fatores de risco associados, como idade e obesidade, a luta contra o câncer de mama enfrenta desafios que vão desde a falta de conscientização até limitações tecnológicas no diagnóstico precoce.

 

Exame de mamografia (Foto: Agência Brasil)
Exame de mamografia (Foto: Agência Brasil)

 

A nova fronteira: Inteligência Artificial no diagnóstico de câncer do mama

Com a evolução das tecnologias de diagnóstico por imagem, como mamografias e ultrassonografias, uma das inovações mais promissoras é a inteligência artificial (IA). A aplicação de IA no campo da medicina, especialmente no diagnóstico de câncer de mama, promete transformar a detecção precoce. Para entender melhor como a IA pode ajudar no combate ao câncer de mama, entrevistamos o Dr. Luiz Fernando Amaral, mastologista e chefe do Ambulatório de Mastologia do Hupe-Uerj. Com experiência acumulada desde 1997, ele compartilha os benefícios e as limitações do uso de IA no Brasil, trazendo uma visão prática e realista sobre o tema.

 

Questionado sobre as vantagens da IA no diagnóstico precoce do câncer de mama, o Dr. Luiz destaca que o uso representa “um grande avanço, principalmente na leitura de mamografias, ultrassons e ressonâncias magnéticas”. Ele explica que a tecnologia ajuda a identificar padrões complexos e sutis no tecido mamário que podem indicar a presença de um tumor em estágio inicial, o que seria impossível de detectar pelo olho humano.

 

Ainda assim, o Dr. Luiz alerta para a realidade dos mamógrafos no Brasil: “Apenas 60% dos mamógrafos no Sistema Único de Saúde (SUS) são digitais. Então, temos que ter cautela com o entusiasmo pela IA, pois essa tecnologia ainda não é amplamente acessível e enfrenta desafios estruturais”. Esse cenário revela um desafio importante: enquanto países desenvolvidos avançam rapidamente no uso de IA, o Brasil ainda precisa enfrentar a falta de equipamentos modernos.

 

Embora a mamografia digital seja uma ferramenta central, o Dr. Luiz reforça a importância de métodos complementares, como ultrassonografia e ressonância magnética. “Na maior parte do Brasil, a acessibilidade a esses exames ainda é limitada”, observa. Segundo ele, a detecção precoce é possível com mamografia anual, especialmente para mulheres a partir dos 50 anos. Ele destaca a necessidade de melhorar a cobertura e acesso ao exame, inclusive recomendando o início do rastreamento aos 40 anos, conforme indica a Sociedade Brasileira de Mastologia.

 

Com modelos de IA desenvolvidos em instituições como o MIT, hoje é possível prever o câncer de mama com até cinco anos de antecedência. Esses sistemas analisam um vasto banco de dados e identificam padrões associados ao risco de câncer. “A IA pode sinalizar alertas em casos onde há histórico familiar, aumentando as chances de detectar o câncer em estágios iniciais. Entretanto, a aplicabilidade é limitada no Brasil, onde o sistema de saúde ainda carece de mamógrafos digitais em grande parte do país”, explica o Dr. Luiz.

 

Ele ressalta que, embora os algoritmos sejam promissores para auxiliar na avaliação de risco, uma boa anamnese e a integração com bancos de dados específicos de cada país são cruciais para adaptar a tecnologia à realidade local. Esse tipo de IA pode ser especialmente útil para identificar padrões de risco em pacientes que apresentam histórico familiar de câncer.

 

O avanço da IA poderia impactar a frequência e tipo de exames recomendados, mas, segundo Dr. Luiz, “antes de implementar a IA em grande escala, o Brasil precisa assegurar que todas as mulheres tenham acesso à mamografia”. Com o rastreamento adequado, mesmo antes do uso da IA, já seria possível aumentar significativamente a taxa de detecção precoce e reduzir a mortalidade. Para ele, o uso da IA pode ser um ganho importante no futuro, mas que ainda está distante da realidade brasileira.

 

Limitações e realidade brasileira

A prevenção continua sendo uma arma fundamental contra o câncer de mama. Dr. Luiz Fernando explica que, no caso das mulheres, fatores como a gravidez entre os 20 e 30 anos e o aleitamento materno reduzem o risco. Após a menopausa, manter uma rotina de atividade física e evitar o sobrepeso são medidas eficazes para prevenir a doença. “A falta de conscientização sobre o rastreamento é um desafio. Ainda há muitas mulheres que nunca fizeram uma mamografia, e muitos não sabem que homens também podem ter câncer de mama”.

 

Mesmo em países de primeiro mundo, a IA para o diagnóstico de câncer ainda está em fase inicial. O Dr. Luiz alerta para o problema estrutural de base no Brasil, onde o acesso a equipamentos modernos é uma barreira significativa. “Se conseguirmos garantir que todos os mamógrafos do SUS sejam digitais, já seria um avanço importante. A IA é promissora, mas ainda não é uma realidade para a maioria das localidades do país, que carecem de infraestrutura adequada”.

 

Importância da prevenção no outubro rosa (Foto: Canva)
Importância da prevenção no outubro rosa (Foto: Canva)

Ele finaliza com uma visão cautelosa, enfatizando que a inteligência artificial, embora revolucionária, ainda precisará de muito tempo e investimentos para estar plenamente acessível em um sistema de saúde tão desigual quanto o brasileiro.

 

A inteligência artificial surge como uma das principais promessas na luta contra o câncer de mama. Contudo, sua implementação no Brasil esbarra em limitações tecnológicas e estruturais. Como destaca o Dr. Luiz Fernando Amaral, a IA será uma grande aliada na medicina, mas é preciso garantir que o básico — como mamógrafos digitais acessíveis em todo o país — esteja ao alcance de todos.

 

“Rompendo Barreiras” corre risco de acabar, segundo coordenadora

“Rompendo Barreiras” corre risco de acabar, segundo coordenadora

Programa que busca igualdade e inclusão para estudantes com deficiência da Uerj enfrenta o desafio de preservar sua memória e legado

 

Por Samira Santos

Um dos mais importantes programas de inclusão de pessoas com deficiência da Uerj está enfrentando uma dura realidade: o Rompendo Barreiras, criado há 36 anos, está sob ameaça de desmonte, segundo Valeria de Oliveira, coordenadora do programa.

“A PR4 quer acabar com o projeto. Porque ela não vê a gente como um departamento de ajuda. O Rompendo Barreiras não tem 36 dias. Eu digo, tem 36 anos. Querem apagar essa história”, relata Flávio Gomes, estudante de Direito e colaborador do programa.

Entrevista na sala do Rompendo Barreira no 10º andar (Foto: Leticia Santana)

Uma Jornada de Superação

Flávio Gomes da Silva, 54 anos, é uma das figuras marcantes do Rompendo Barreiras. Ele perdeu a visão aos 33 anos, mas isso não o impediu de continuar perseguindo seus sonhos. Estudante de Direito na Uerj, ele é um exemplo vivo de como o Rompendo Barreiras faz a diferença na vida de pessoas com deficiência, Flávio fez o pré-vestibular com o apoio do PRB-UERJ “Perdi a visão, mas não me abalei. A vida não terminou por aí”, compartilha Flávio.

Frequentador do programa há mais de 16 anos, ele conta que o Rompendo Barreiras foi essencial para seu ingresso e permanência na Universidade. O programa oferece apoio acadêmico e tecnológico a estudantes com deficiência visual, como a leitura de textos, a aplicação de provas e a navegação por sites inacessíveis. “O programa auxilia não só deficientes visuais, mas também surdos, pessoas com deficiência motora, mental e intelectual”, explica.

Flávio conta que o Programa foi fundado pela professora de Faculdade de Educação Maria da Glória Schaper dos Santos, conhecida como Glorinha. Cadeirante, Glorinha viu a necessidade de melhorar a acessibilidade na Universidade e, com isso, criou o programa, em 1988, com um grupo de colaboradoresa maioria pessoas com deficiência.  

Ele também lembra com carinho o tempo em que o programa funcionava em uma pequena sala de 3×3 metros, no 12º andar da Uerj. Mesmo com espaço reduzido, chegavam a atender até 60 pessoas por dia. “Era um espaço pequeno, mas cheio de vida. Não só alunos da Uerj, mas também a comunidade externa nos procurava para resolver problemas, como imprimir contas ou acessar serviços online”,diz.

A luta de Flávio para manter o Rompendo Barreiras vivo não é só pessoal, mas coletiva. Ele acredita que o programa é essencial para que pessoas com deficiência possam estudar, se formar e se profissionalizar. “Eu sou um voluntário aqui. Mesmo durante as férias, eu venho para garantir que o espaço continue aberto. Não podemos deixar que feche”, afirma.

Post de divulgação do programa no Instagram da Uerj (Foto: Reprodução)

Desafios e Retrocessos

Segundo a professora Valeria de Oliveira, coordenadora do Rompendo Barreiras há mais de 20 anos, o principal objetivo do programa é garantir a acessibilidade e a inclusão de estudantes com deficiência e neurodivergencias, promovendo sua permanência e conclusão dos cursos.

Desde a sua criação, o PRB-UERJ oferece uma ampla gama de serviços, desde a leitura de textos para pessoas com deficiências visuais até o uso de tecnologias assistivas para pessoas em diferentes condições. “Auxiliamos na organização das disciplinas para estudantes neurodivergentes, transcrevemos áudios para alunos surdos e formatamos trabalhos acadêmicos para quem tem dificuldade em operar programas de edição”, explica Valeria. Além disso, o Programa representa a UERJ no Conselho Estadual de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência (CEPDE-RJ) e no Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro (COMDef-Rio), onde, inclusive, na época das Conferências, propõe avanços nas legislações de acessibilidade. 

Contudo, Valeria está preocupada com as recentes mudanças impostas pela administração da Uerj. Segundo ela, “a PR4 (Pró-Reitoria de Políticas e Assistência Estudantil) começou a desmantelar o PRB-UERJ em 2024, ao extinguir a Coordenadoria (AEDA 048/Reitoria/2024) e tentar fazer com que o Programa seja, apenas, um projeto”. “Estão tentando deixar o PRB-UERJ sem a estrutura conquistada depois de muitas reivindicações. Desde o início de 2024, quando perdemos cinco bolsistas, estamos sentindo o abalo das nossas estruturas. Em junho, perdemos três servidores (uma Pedagoga, uma Psicóloga e uma Técnica Administrativa) e um contrato administrativo. Até perdas patrimoniais fazem parte desse processo. No momento, não sabemos se ou até quando permitirão que permaneçamos na sala construída para o Programa. É um retrocesso enorme para a inclusão na UERJ”, lamenta. 

Para Valeria, a decisão de extinguir a coordenadoria do Rompendo Barreiras e substituí-la pela coordenadoria de atenção psicossocial (AEDA 048/Reitoria/2024) é uma questão de escolha da gestão, sua luta e reivindicar pela permanência do PRB-UERJ que espera ser transferido para o Centro de Educação e Humanidades (CEH). “A PR4 está virando as costas para um programa que vem acolhendo e orientando milhares de estudantes ao longo de quase quatro décadas. Eles estão priorizando um modelo elitista, onde pessoas com deficiência e cotistas são marginalizados”, afirma a coordenadora. 

Ela também destaca o papel crucial que o PRB-UERJ desempenhou em tornar a Uerj mais acessível. “Existem documentos que registram a participação do Rompendo Barreiras nas construções das rampas externas da UERJ e a rampa localizada na saída da Rua São Francisco Xavier que leva o nome da Professora Glorinha, os banheiros adaptados há anos, também foi uma das articulações do PRB-UERJ com a prefeitura, tudo isso foi conquistado com a nossa participação ativa”, lembra Valeria. 

 

 Futuro do Rompendo Barreiras 

Para Flávio e Valeria, o Rompendo Barreiras não é apenas um programa de assistência, mas um espaço institucional de garantia de direitos segundo a Lei Brasileira de Inclusão. “Eu conheci o projeto em 2007, através de um amigo. Desde então, o Rompendo Barreiras se tornou o meu lugar”, conta Flávio.  

Apesar das dificuldades, tanto Flávio quanto Valeria estão empenhados em fazer com que o Programa Rompendo Barreiras continue garantindo a acessibilidade e a inclusão de estudantes com deficiência e neurodivergentes na Uerj. “Nós, que temos deficiência aparente, lutamos pelos nossos direitos. Mas, como eu sempre digo, todos têm uma deficiência. Alguns apenas não a enxergam. E é por isso que precisamos lutar juntos”, conclui Flávio. 

Procurada, a PR4 não quis se pronunciar sobre o assunto até a publicação da matéria. Segundo a Professora Valeria, ela foi informada pela assessora da PR4 que foram procurados, mas que indicaram seu nome para essa matéria. 

 

 
 
Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)

Oficinas de Cabaré na Uerj

Oficinas de Cabaré na Uerj

Novas formas de fazer arte

 

Por Samira Santos

 

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), através da Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart),  está oferecendo uma oportunidade para os interessados em mergulhar no universo do “cabaré”. Com um formato inclusivo e dinâmico, as aulas visam proporcionar uma imersão completa nessa linguagem artística, permitindo que os participantes explorem e desenvolvam suas habilidades de forma livre, autoral e interativa.

Objetivos e Abordagem das Aulas

O principal objetivo das oficinas de cabaré é proporcionar aos participantes uma experiência prática nesse estilo artístico. Durante as aulas, os alunos são encorajados a criar de maneira livre e ativa, utilizando suas próprias bagagens artísticas e culturais. O processo culmina em uma apresentação ao público, onde cada um pode mostrar o que desenvolveu ao longo do curso.

Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)
Apresentação do Cabaré (Foto: Leticia Guimarães)
 
 
 
 

As aulas de cabaré abrangem uma vasta gama de expressões artísticas, passando pelo canto, dança, improviso, burlesco, lipsync, entre outras formas de arte. O curso também oferece uma perspectiva histórica e teórica sobre o cabaré, tanto no contexto ocidental quanto no brasileiro, sempre com foco na interação direta com o público, característica central dessa arte.

O conteúdo do curso é estruturado em dois módulos. O primeiro, aberto a todos, não exige experiência prévia em artes cênicas, tornando-se uma excelente porta de entrada para iniciantes. Já o segundo módulo requer algum conhecimento prévio, sendo ideal para aqueles que já tiveram contato com o cabaré ou com outras formas de arte cênica. Ambos os módulos incluem aulas práticas e performances, proporcionando aos alunos a oportunidade de aplicar o que aprenderam em uma apresentação final.

O cabaré, por sua natureza, é uma forma de arte que desafia padrões e acolhe a diversidade, o que o torna um espaço seguro e inclusivo para todos, independentemente de sua experiência prévia. Como resultado, os instrutores esperam que mais pessoas, especialmente aquelas que nunca tiveram contato com essa arte, sintam-se encorajadas a participar.

 

Oficina de Cabaré no Auditório Cartola ( Foto: Leticia Guimarães)
Oficina de Cabaré no Auditório Cartola ( Foto: Leticia Guimarães)

As turmas ainda estão com vagas disponíveis, e as inscrições presenciais no Coart irão ocorrer até o dia 23 de agosto, com o curso começando no dia 27 de agosto.

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Mudanças podem colocar em risco a continuidade da política de inclusão na Universidade, dizem alunos

Por Samira Santos, Julia Lima e Beatriz Araujo

 
 
 

A Pró-reitoria de Políticas e Assistências Estudantis (PR4) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) anunciou na tarde de quinta-feira (25) uma série de alterações em seus critérios de elegibilidade de bolsas e auxílios para a comunidade universitária. Entre as novas medidas estão a reformulação do Auxílio Material Didático (AMD), o fim do auxílio alimentação para estudantes do campus Maracanã e a redução do valor da renda necessária para alunos de ampla concorrência receberem a Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social (BAVS). As mudanças geraram preocupações e indignação entre os alunos, que se movimentam para organizar um ato contra as novas regras.

 

Entrada da Uerj no portão 5 (Foto: Agência Brasil)

 

 

Uma das principais mudanças está no Auxílio Material Didático (AMD) que consiste no apoio financeiro destinado à aquisição de material didático para alunos do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) e dos cursos de graduação. O valor de R$ 600, antes pago em parcela única por semestre letivo, passa a ser anual, podendo ser pago em parcelas de R$ 300 ou menos, dependendo da disponibilidade orçamentária.

A implementação da tarifa zero no Restaurante Universitário (RU) anunciada no começo da semana, apesar de ser uma tentativa de melhoria na rotina dos estudantes cotistas, gerou controvérsias devido ao anúncio da suspensão do Auxílio Alimentação aos alunos dos campi Francisco Negrão de Lima (Maracanã) e Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ). A decisão diz que só poderão optar pelo recebimento de Auxílio Alimentação estudantes cujos cursos tenham sede em campi que ainda não possuam Restaurante Universitário. A tarifa zero, porém, não se estende aos alunos que ingressaram por ampla concorrência e nem aos que recebem BAVS, sendo assim, esses estudantes deverão arcar com os custos de alimentação.

A Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social, oferecida a alunos ingressantes por ampla concorrência que tenham comprovada a sua situação de baixa renda, também sofreu reformulações. A renda familiar per capita para elegibilidade, antes no valor de um salário mínimo e meio, foi reduzida para valor igual ou inferior a meio salário mínimo (R$ 706). Alunos da ampla concorrência com renda superior a esse limite não terão direito aos auxílios estudantis. 

A Reitoria, liderada pela reitora Gulnar Azevedo e pelo vice-reitor Bruno Deusdará, justificou essas mudanças como uma resposta às restrições orçamentárias pós-pandemia, ressaltando a necessidade de equilibrar investimentos em equipamentos, bolsas e políticas de assistência. 

 

Reações da comunidade acadêmica

O Ato Executivo de Decisão Administrativa 038/2024, que formaliza essas mudanças, entra em vigor em 1º de agosto.

Estudantes e membros de movimentos sociais acusam a Reitoria de “Destruir a política de assistência estudantil da Uerj, que um dia foi um exemplo de inclusão e suporte aos alunos”. “Eles estão acabando com a nossa universidade”, desabafaram nas redes sociais.  A sensação de desamparo é a principal reclamação, e muitos consideram registrar queixas formais para tentar reverter essas decisões. 

Em resposta às novas regras, um ato estudantil foi marcado para o dia 26 de julho, às 16h na Uerj. Intitulado “Tira a mão dos meus direitos!”, a manifestação reunirá estudantes da ampla concorrência, cotistas da graduação e pós-graduação com o objetivo de protestar contra os cortes nos auxílios e bolsas e exigir a revogação das medidas estabelecidas pela PR4 e pela atual Reitoria da Universidade.