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Conheça os BRICS - o encontro das economias emergentes do Sul Global
Encontro de líderes acontecerá no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho
Por Everton Victor e Julia Lima

O Brasil irá presidir neste ano o encontro dos BRICS – o grupo de países do Sul Global integrantes da chamada economia emergente. Os BRICS surgiram em 2006, inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia, e, na III Cúpula do bloco em 2011, a África do Sul também passou a compor o bloco econômico.
A reunião dos líderes dos BRICS acontecerá na cidade do Rio durante os dias 6 e 7 de julho, mas antes disso, já estão previstas mais de 100 reuniões em diferentes estados brasileiros.
O surgimento dos Brics está relacionado com o estudo “Building Better Global Economic BRICs”, publicado em 2001 pelo britânico Jim O’Neil, economista-chefe do banco multinacional Goldman Sachs. O estudo reunia dados que mostravam o rápido crescimento dessas economias emergentes no início dos anos 2000, especialmente da China. Ao longo do estudo, o economista aponta como isso representa o surgimento de novas potências e poderia representar a necessidade da reforma da governança global para incluir essas nações.
Além dos fundadores, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã também integram o foro. Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão, e, mais recentemente, Nigéria, irão participar de algumas reuniões como convidados, após consulta aos países membros e decisão por consenso.
Inicialmente, o BRICS surge com a aproximação dessas nações sem um caráter formal de acordos unificados entre os países, decisões em nome do bloco, nem mecanismos que representem o grupo. Ao longo das Cúpulas, realizadas anualmente, as nações integrantes firmaram acordos e diferentes meios cooperativos que se intensificaram ao longo dos anos. Hoje, o fórum dos Brics é um dos principais encontros de articulação político-diplomática do Sul Global.
De acordo com a professora Fernanda Nanci, do Departamento de Relações Internacionais da Uerj, a liderança do Brasil no agrupamento este ano será estratégica, colocando-o como porta-voz do Sul Global. “A presidência pode ajudar a reforçar uma agenda de cooperação entre os países do BRICS, em um momento de expansão do agrupamento, como facilitação do comércio e investimentos entre os países, financiamento para enfrentar as mudanças climáticas e projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde pública”.
Meses antes de sediar a Cúpula, o Brasil trouxe algumas novidades para os BRICS, como é o caso da plataforma BRICS P2P, destinada a sociedade civil e órgãos não governamentais dos países membros. O objetivo é trazer para o público os diferentes temas que serão discutidos este ano e disponibilizar fóruns, conselhos e reuniões. O modelo é parecido com o G20 Social Participativo, plataforma criada pelo Brasil durante sua gestão do G20 em 2024.
Sobre a posição esperada do Brasil na condução do agrupamento, a professora destaca a possibilidade de um ativismo diplomático com foco em retomar um papel de protagonismo do Brasil entre os países em desenvolvimento. Com o lema: Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável, a presidência brasileira pretende pautar uma série de temas de interesses comuns das nações integrantes com acordos sobre financiamento climático, maior integração comercial e cooperação em diferentes setores da saúde. Discussões sobre inteligência artificial e desenvolvimento institucional do grupo também são algumas das prioridades brasileiras a serem discutidas durante as mais de 100 reuniões previstas do grupo em 2025.
Os olhos do mundo este ano não estarão voltados apenas para os BRICS. O Brasil também presidirá a COP30, a conferência mundial do clima, encontro que acontecerá entre 10 e 21 de novembro em Belém, capital paraense. Mas a capacidade do país em pautar ações concretas sobre a temática ambiental será testada antes mesmo da Cúpula da COP. O que for firmado nos BRICS no âmbito ambiental poderá ser termômetro da capacidade do Brasil liderar a temática ambiental. “Certamente se o Brasil falha ao engajar suas contrapartes dos BRICS em uma discussão mais engajada sobre meio ambiente, sua liderança perde força na temática ambiental. Isso prejudica a projeção internacional do país em um ano que é central, com Belém sendo sede da COP30”, explica Nanci.
O BRICS tem ganhado cada vez mais relevância no cenário mundial. Um dos principais mecanismos é o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado na IV Cúpula do bloco, em julho de 2014, em Fortaleza, e que entrou em vigor anos depois. Seu foco é a representatividade do desenvolvimento sustentável do Sul Global. O banco é responsável por financiar projetos de infraestrutura em diferentes países. Paralelamente, o Arranjo Contingente de Reservas (CRA), é um dos principais mecanismos de proteção do grupo que, através de uma reserva financeira, ajuda as nações integrantes a protegerem suas economias, como um instrumento de liquidez frente a eventuais pressões financeiras que surjam.
Apesar da responsabilidade, não é a primeira que o Brasil pautará em um bloco internacional a questão ambiental. Durante o último, o país presidiu o G20 e a formulação da Declaração dos Líderes do bloco. Entre os consensos presentes na Carta, o compromisso de limitar o aumento da temperatura média global para menos de 2°C. As nações também sinalizaram um esforço para uma outra meta, ainda mais ousada, de limitar o aumento a 1,5°C – o que, segundo o documento, teria efeitos “significativamente melhores”.
Além do modelo tradicional de participar dos BRICS (como nação integrante ou convidada), um país pode ser convidado para o encontro por meio do modelo “BRICS Outreach” – para nações próximas regionalmente do país que está presidindo o foro. O BRICS plus destinado ao país que preside convida qualquer país independente da proximidade regional. México, Colômbia e Uruguai foram convidados pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para participar dos BRICS neste ano.
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