Oficina de voguing na Uerj traz visibilidade para a cena

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Oficina de voguing na Uerj traz visibilidade para a cena ballroom

Demonstrações e ensinamentos acerca do vogue reuniram jovens no décimo andar da Universidade
para aprenderem mais sobre a cultura ballroom

Por: Hyndra Lopes 

Sensei Theuse Luz D’Pavuna na oficina de Voguing no hall do 10º andar do bloco F, Campus Maracanã 

A décima nona edição da Mostra de Artes e Carpintaria de Comunicação Social da Uerj (MACACOS) contou com a participação da Sensei Theuse Luz D’Pavuna, pesquisadora e fundadora da “Brazilian Kiki House of Bushido”, para ministrar a oficina de voguing. Pavuna criou uma experiência imersiva no vogue, ensinando e explicando a simbologia dos elementos da performance. Além disso, a artista concedeu uma entrevista ao Aconteceh, na qual comenta sobre o acolhimento de pessoas marginalizadas pela comunidade ballroom, o papel do vogue no empoderamento destas e a importância de se discutir sobre essa subcultura na universidade.

A cultura Ballroom, nos moldes conhecidos atualmente, surge no Harlem (bairro do subúrbio de Nova Iorque) durante a década de 1970, quando Crystal Labeija, drag queen e mulher trans negra, se revolta com o racismo nos desfiles e concursos de beleza voltados à comunidade. Ela se junta com Lottie Labeija, drag queen também negra, para fundar a primeira House (“House of Labeija”) e dar um baile exclusivo para as queens negras e latinas, consolidando a cena Ballroom como movimento de luta e resistência negro, periférico e LGBTQIAPN+. Já no Brasil, ela surge oficialmente apenas em 2015, quando é datado o primeiro baile em Brasília.

Oficina de Voguing no 10º andar do Bloco F, Campus Maracanã 

As Houses, pilares da cultura Ballroom, surgiram como um coletivo que se assemelha aconcepção familiar, reproduzindo as suas hierarquias, e foi continuado na cena brasileira, com“papis”, “mamas”, “filhos” e “baba” (fazendo referência ao orixá do candomblé). Este é umespaço de acolhimento para pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ que são expulsas de casa pelas suas famílias, como diz Pavuna: “Infelizmente ainda sofremos das mesmas máculas queas pessoas lá atrás sofriam, porque nem todo mundo é aceito pelos seus pais ou progenitores. Meu pai e minha mãe são pastores, então eles têm uma relação meio densa comigo. Hoje emdia eles compreendem mais e entendem que eu tenho uma família fora da minha família”.

Além das Houses, outro símbolo da cultura Ballroom é o vogue – categoria de dança inspirada nas poses de modelos das capas de revista – representando a expressividade e liberdade de corpos LGBTQIAPN+. O vogue é dividido em 5 elementos – o catwalk, o duckwalk, a hands performance, o floor performance e os spins and dips – e, a partir deles, uma história é contada, com a criação do movimento dos cabelos, seios, unhas etc. A Sensei Pavuna salienta a importância dessa performance para o empoderamento da comunidade: “O vogue, especificamente, fala sobre a autoestima, porque é sobre poses, é sobre se imaginar numa revista de moda. Então é muito interessante pensar o quanto você consegue se imaginar como uma pessoa potente, bonita, interessante… É muito louco, porque várias pessoas não se imaginam nesse lugar de “eu posso ser uma pessoa sensual”, “eu posso ser uma pessoa bonita” ou “eu posso ser uma artista” e na Ballroom elas se descobrem enquanto potência”.

Apesar de ter maior visibilidade atualmente, a Ballroom ainda é uma cultura marginalizada e pouco estudada. Pavuna explica que a cena chegou no Brasil por uma veia acadêmica, mas não academicista, pois foi por meio de estudantes universitários, na busca por reproduzir aqui o que viam do vogue e do lugar de comunidade do movimento, e não por intelectuais. A discussão sobre o assunto no ambiente universitário e ações para tornar a cena Ballroom ativamente presente nesses espaços mostram-se de suma importância, pois criam possibilidades de retirar essa cultura e a sua comunidade das margens da sociedade. “Se lá atrás a gente via as pessoas dessas categorias (negras e LGBTQIAPN+) pensando em se tornar executivas e estudantes de universidades é essa a possibilidade de pensar: “eu posso me imaginar nesse lugar, com esse poderio” (…) Então acessar isso (a universidade) e usar o nosso conhecimento (sobre a cultura ballroom), que não é assimilado totalmente nesses espaços, é muito importante”, declara Pavuna.

A Sansei também aponta para a luta da comunidade em tornar a cultura Ballroom Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil – em janeiro deste ano, a deputada Erika Hilton (PSOL) apresentou este projeto de lei à Câmara (PL n°183/2025) – e para a necessidade de pensar políticas públicas através da cena, que, historicamente, contribuiu para salvar a vida desses jovens marginalizados. “Eu acredito que não estaria viva até aqui se não fosse por essa comunidade. Então é sobre como a gente consegue construir realidades e, graças a elas, outras possibilidades de existência. Eu tenho muito orgulho de ver o que a juventude negra, LGBT, periférica, originária e corpos travestis generis consegue construir”.

Oficina de voguing na Uerj traz visibilidade para a cena

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