‘É possível até 2026 tirar o Brasil do mapa da fome’, afirma Wellington Dias

‘É possível até 2026 tirar o Brasil do mapa da fome’, afirma Wellington Dias

Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, liderada pelo Brasil como parte dos eventos do G20, está aberta à adesão de outros países

Por Everton Victor e Julia Lima

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, afirmou que o Brasil sairá do mapa da fome até o final desta gestão do governo Lula. Dias participou nesta quarta (23/07), no Rio de Janeiro, de um evento do G20 para o pré-lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. O encontro aconteceu no Galpão da Cidadania, Centro do Rio de Janeiro, com participação de representantes de mais de 30 países.

Ministro Wellington Dias no lançamento do relatório da FAO (Foto: Everton Victor)

No evento foi lançado o relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024”, produzido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) com dados sobre o assunto. O estudo também discute formas de financiamento para acabar com a fome, a insegurança alimentar e má nutrição. Foi a primeira vez que o relatório foi lançado fora do eixo Nova York-Roma, onde ficam as sedes da ONU e da FAO.

O relatório mostra que a América Latina foi a única região do mundo em que houve diminuição da fome, de 5,9% em 2022 para 5,4% em 2023. O destaque vai para a América do Sul, onde a proporção da população em situação de fome caiu de 5,9% para 5,2%. Apesar da melhora na região, o mundo conta com mais de 733 milhões em insegurança alimentar, e a América Latina continua sendo a 3° região com a maior concentração de pessoas nesta condição.

Evento de lançamento do relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024” (Reprodução: Julia Lima)
 
 
 
No Brasil, a insegurança alimentar severa – quando a pessoa passa mais de um dia sem ter acesso a comida e sem comer – caiu de 8% (17,2 milhões de pessoas) para 1,2% (2,5 milhões) da população, o que significa que 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país de 2022 para 2023. “Se a gente compara com outros países, foi um grande resultado”, afirmou o ministro.
 

Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

Tendo em vista o aumento de pessoas em situação de fome e pobreza desde 2019, o Estado brasileiro assumiu, no final da cúpula do G20 do ano passado, a responsabilidade de criar uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. No dia 24, depois do lançamento dos dados do ano passado sobre o tema, a Aliança foi aprovada por unanimidade durante reunião de ministros do G20 e aberta para adesões. Poucas horas depois, Brasil e Bangladesh já haviam aderido à iniciativa. 

De acordo com Thiago Lima da Silva, coordenador da força tarefa da Aliança pelo Ministério da Fazenda, Portugal, Espanha e Noruega já se comprometeram a ajudar no financiamento dos trabalhos, e, consequentemente a participar do grupo.

Reunião Ministerial de Abertura da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza (Reprodução:Ricardo Stuckert/PR)

Todas as ações do G20 precisam ter consenso, ou seja, todos precisam concordar para que qualquer projeto ou recomendação seja lançado. No caso da Aliança, apesar de endossarem e concordarem com a relevância desta iniciativa, os países não precisam necessariamente aderir a ela. A atuação da Aliança pretende se estender para além dos países do G20.

As nações aderem de acordo com suas necessidades, seja financiando projetos, pedindo colaboração para adotá-lo em seu território ou os dois, como é o caso do Brasil. O investimento dos países será apenas no funcionamento dos escritórios da Aliança, em Roma e no Brasil, orçado em cerca de 18 milhões de dólares até 2030. O Brasil, por ser o fundador, arcará com 50% desse valor.

“A aliança não precisa ter um fundo, porque vai ajudar a conectar os fundos que existem com os países que querem fazer cooperação internacional, isso diminui os riscos para os doares pois eles vão doar para políticas que são testadas e aprovadas”, explica Thiago.

A ideia é implementar ações de combate à fome e à pobreza, adaptando o projeto e sua implementação para as necessidades de cada país, reunindo ações econômicas e políticas. A iniciativa não prevê mecanismos de vigilância e fiscalização dos investimentos direcionados para essa aliança, eles serão de responsabilidade dos países, cabendo às legislações e órgãos de justiça de cada país. 

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve presente ao evento e parabenizou a liderança do Brasil e o esforço dos demais países na elaboração da proposta. “É o momento mais relevante dos meus 18 meses de mandato, nenhum tema é mais atual e desafiador do que a fome. A fome é um atentado à vida, um atentado à liberdade”. A temática da fome e o enfrentamento à pobreza é um dos três eixos assumidos pela presidência brasileira no G20. O país vai apresentar para o público a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza na Cúpula dos Líderes, nos dias 18 e 19 de novembro na cidade do Rio.

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Proposta é que Data 20 ajude no esforço global para regulamentar mundo digital 

Por Everton Victor e Julia Lima

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O T20, equipe de trabalho do G20 com pesquisadores e think tanks, sugeriu em seu documento final a criação de um grupo para tratar de cooperação e segurança de dados. O Data20 (D20) trataria de temas como regulação e trabalho com dados, Inteligência Artificial e justiça climática, armazenando os dados das nações, e daria suporte para os outros grupos de trabalho.  

Proposta de criação do D20. (Reprodução: Communiqué do T20)

Num momento de apagões cibernéticos, vazamento de dados e avanço da Inteligência Artificial, a ideia da criação do grupo surgiu dos recentes desafios com a regulação de uso de dados pelas plataformas em âmbito brasileiro e mundial. Debates sobre o limite do uso da Inteligência Artificial e os impactos de algoritmos discriminatórios permeiam as discussões de como os governos devem intervir. Por isso, o grupo também teria o papel de promover discussões que reduzam os danos causados por essas tecnologias, imponham limites a elas e promovam penas para quem os desrespeitasse.

A criação do D20 foi uma das propostas surgidas nos encontros dos pesquisadores do T20, que aconteceram ao longo do ano, e levaram a criação do Communiqué, documento final com as 10 principais sugestões para as 20 maiores economias do mundo. O documento foi apresentado ao público nos dias 2 e 3 de julho durante o The T20 Brasil Midterm Conference.

O D20 também seria responsável por fiscalizar a implicação de cada política e dado criados pelos grupos de engajamento que compõem o G20. Denise Direito, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), afirma que ainda não há definição de como essa atividade aconteceria, já que o Communiqué apresenta apenas sugestões. O funcionamento seria definido de acordo com a evolução dos trabalhos do grupo.

Para Luciana Mendes, presidente do Ipea, a criação de uma força global sobre dados pode ser um aliado no debate de como os países devem lidar com a Inteligência Artificial. Ela destaca que a criação deste mecanismo pode trazer o debate da importância e um esforço de como regular as redes para todo o globo, aliado a outras frentes que o D20 possibilitaria. “Aprimora a cooperação de dados sobre temas transversais”, afirma.

No Brasil, o debate sobre a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) está em tramitação no Senado Federal. O Projeto de Lei (PL) 2338/23 reúne uma série de propostas de como regulamentar a IA no Brasil. Países da União Europeia, a Argentina e outras nações integrantes do G20 já regulamentaram ou estudam regulamentar a internet. Denise destaca que a criação do D20 pode ajudar os países do bloco a definirem consensos mínimos de qual seria a base de regulação sobre o tema.

Sobre o T20

O Ipea, junto com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais, compõem o comitê organizador do T20.  Apesar da predominância brasileira no grupo, Luciana reforça a diversidade de nos debates, reuniões e elaboração do grupo de engajamento. Ao todo 170 think tanks nacionais e internacionais com representantes de 33 países participam do T20.

Presidente do Ipea na abertura da reunião do T20. (Reprodução: Julia Lima)

A gestão brasileira segue na presidência do G20 até novembro. No caso do  grupo de engajamento, após a entrega do Communiqué, o foco é “avançar em estratégias de implementação das recomendações”, de acordo com a presidente do Ipea. Os líderes das 20 maiores economias do mundo devem se reunir nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, capital do G20 nesta edição.

Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência

Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência

Estereótipos, apagamento e sobrecarga fazem parte da rotina de mulheres cientistas, mostra trabalho de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira

Por Everton Victor

Reprodução: Julia Koblitz / Agência Brasil
 

Da entrevista de emprego ao cotidiano do trabalho, o dia a dia das mulheres cientistas é marcado pela desigualdade. É este o tema de Mulheres na Ciência, livro de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira. Em lançamento realizado na Uerj no dia 17 de junho, as autoras discutiram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no campo científico com relatos, dados e entrevistas. O evento foi organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Desigualdades Contemporâneas e Relações de Gênero da universidade.

“A representação feminina não é suficiente, mas ela é absolutamente necessária. Sem isso, a gente não tem como começar”, afirmou Leticia de Oliveira, neurocientista e coordenadora da Comissão de Equidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Leticia destaca a importância do livro por debater a necessidade de ter uma ciência diversa. “Na medida que eu vejo mulheres e negros em espaços de tomada de decisão, isso passa a ser espaço de pertencimento. E aí aquele estereótipo de  baixa eficiência e baixa competência vai sendo desfeito”.

Contracapa do livro. Reprodução: Arquivo Pessoal

A obra assinada em parceria por Letícia e Tatiana Roque, professora da UFRJ e ex-secretária de Ciência e Tecnologia do município do Rio, também discute os estereótipos que cercam a mulher cientista. O livro, dividido em cinco capítulos, apresenta sugestões para enfrentar o preconceito. Entre elas, se ater aos critérios estabelecidos no edital sem perguntas pessoais, estabelecer comissões de diversidade e principalmente trazer as mulheres para espaços de poder sem estarem sub-representadas no debate.

Dados da ciência hoje

Desde a primeira edição do Prêmio Nobel, em 1901, até 2016, apenas 3% dos ganhadores da honraria nas áreas de ciências foram mulheres. Mas aos  poucos isso vem mudando. Desde 2018 ao menos uma mulher é laureada em uma das premiações da Fundação. Para a neurocientista, desconstruir estereótipos passa por garantir representatividade: “Você não precisa falar para uma menina que ela não vai ser astrofísica, isso já está dito na medida que ela não se vê naquele espaço”.

O cenário não é exclusivo do prêmio Nobel. No Brasil, apenas 12% das mulheres compõem academias científicas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Ainda segundo o relatório, somente 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências são de mulheres, apesar de representarem 51,5% da população do país. 

Nas áreas STEM, termo em inglês que reúne os campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, a disparidade é ainda maior. Apenas 35% dos estudos relacionados a essas áreas são feitos por mulheres no mundo, segundo a Unesco. No mercado de trabalho a discrepância aumenta, sendo uma mulher para cada quatro homens. No capítulo seis do livro Mulheres na Ciência, as autoras explicam o dado e abordam as causas e as nuances disso na prática.

Efeito Matilda

Na obra, Tatiana e Leticia também abordam alguns termos que por vezes estão presentes no cotidiano das mulheres, como o efeito Matilda – expressão usada para designar o apagamento de mulheres no campo científico. Se uma cientista contribuiu para um artigo e não recebeu o devido reconhecimento no texto,  ela sofreu o Efeito Matilda. Tal efeito pode ser sutil, diminuindo intencionalmente ou não a contribuição daquela mulher, ou mesmo apagá-la por completo de alguma contribuição que ela fez. 

Nomes que contribuíram para a Ciência como Jane Wrigh, mulher negra oncologista que ajudou a desenvolver tratamentos contra o câncer ou mesmo as contribuições da física, e matemática Mileva Einstein, esposa de Albert Einstein, são por vezes esquecidos dos livros de história. “É como se tivesse uma barreira transparente que ela não parece existir, mas ela existe e você não consegue passar”, reforça Leticia.

Maternidade vista como empecilho para produtividade das cientistas

Outra realidade enfrentada pelas cientistas são os estereótipos da maternidade. Em dezembro de 2023, o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) negou uma bolsa de Produtividade em Pesquisa para a professora da UFABC Maria Carlotto. Na justificativa, o órgão citou que “provavelmente as gestações atrapalharam” as iniciativas da docente. Após a repercussão negativa, o Conselho emitiu uma nota reconhecendo que essa justificativa “expressa juízo preconceituoso”. O caso também está presente no livro.

Denúncia da pesquisadora no X, antigo Twitter

 

As autoras detalham a necessidade considerar, nas análises de produtividade, o período de gestação ou de recuperação pós-parto. É comum que mulheres nessas condições tirem licença, mas, quando retornam, são julgadas por não estarem sendo produtivas em termos científicos. “É muito inóspito, você tem que ser mãe como se não fosse cientista, e cientista como se não fosse mãe”, aponta a neurocirurgiã.

O livro está disponível gratuitamente nas redes sociais das autoras, mas você também pode consultá-lo aqui. A ideia delas é continuar a pesquisa e ter a colaboração de mais cientistas.

Instituições de pesquisa listam fome e crise climática como prioridades para líderes mundiais

Instituições de pesquisa listam fome e crise climática como prioridades para líderes mundiais

Documento reúne propostas de think tanks a serem entregues aos chefes de estado no encontro do G20 em novembro no Rio

Por Everton Victor e Julia Lima

Divulgação: G20 Brasil
 

Medidas para promover transições energética, financeira e digital justas e ações para evitar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas estão entre as propostas da sociedade civil para os líderes das 20 maiores economias do mundo, o G20. O chamado T20, grupo de think tanks (instituições que geram pesquisas e discussões sobre políticas públicas e questões socioeconômicas), se reuniu no Rio nos dias 2 e 3 de julho para apresentar o resultado das reuniões de trabalho, que está disponível no Communiqué, um documento de 68 páginas com sugestões para serem discutidas na Cúpula de Líderes do bloco e incorporadas na declaração final.

O documento reúne 10 recomendações principais e reforça que todas as propostas devem ser pautadas na troca de experiência e projetos já implementados entre as nações, sempre com um olhar mais atento aos países carentes. Entre as sugestões estão a criação de uma aliança global contra a fome e a pobreza, junto com uma cooperação multilateral com financiamento e uma política fiscal que promova justiça climática. Além disso, a declaração é a primeira do T20 que inclui o subtópico de Igualdade Étnico-Racial nas recomendações.

T20, subgrupo de think tanks do chamado G20 Social, reúne instituições e a sociedade civil. O Brasil, atual presidente do G20, é pioneiro na criação dessa esfera de debate. O G20 Social reúne 13 grupos de trabalho: C20, para sociedade civil, Y20, para a juventude e o L20 para sindicatos. Cada um deles, assim como o T20, liberou ou ainda irá liberar um Communiqué com suas propostas

Ao todo, o T20 reúne mais de 120 pessoas divididas em 6 forças-tarefa – que neste ano apresentaram mais de 300 policy briefs (instruções). Apesar de as discussões acontecerem com protagonismo brasileiro neste ano, empresas de todo o mundo foram convidadas a participar da elaboração dos trabalhos. A representatividade feminina também é destaque nesta edição: as três líderes do T20 Brasil são mulheres, enquanto nas co-lideranças elas representam 60%. 

O Communiqué do T20 é construído assim: cada força-tarefa produz suas instruções e libera uma declaração. Um grupo superior fica encarregado de analisar e criar as 10 recomendações principais do documento, que unem demandas de vários ou todos os grupos de trabalho. O trabalho de cada uma também é apresentado em instruções específicas individualizadas.

Capa do Communiqué (Reprodução: T20)

O Comitê Organizador do T20 é composto por duas instituições governamentais e uma não governamental. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e também o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), compõem a comissão. 

Uma das inovações que o comitê fez nesta edição foi entregar as propostas antes da Cúpula final do G20. Para Fábio Veras Soares, diretor de Estudos Internacionais do Ipea, é estratégica essa iniciativa, pois, durante os cinco meses que o Brasil ainda tem na presidência do bloco, o foco deve ser o debate sobre implementação das recomendações que foram elaboradas. 

Na prática, apesar de o T20 não poder efetivar as orientações, pode pressionar e influenciar os debates da Declaração de Líderes, transformando o Communiqué em políticas públicas em todo o globo. A reunião com as lideranças das principais economias do mundo vai acontecer nos dias 18 e 19 de novembro na cidade do Rio de Janeiro.

Conferência do T20 Brasil no BNDES (Foto: Everton Victor)

A formulação de cada proposta presente no Communiqué está sempre alinhada às prioridades definidas pela presidência brasileira no G20, com estudos e dados que fundamentam as sugestões. Fábio acrescenta que a diversidade de think tanks discutindo problemas e soluções vai além de ajudar países emergentes, mas pensar as desigualdades também no Norte Global. “Os países desenvolvidos têm que olhar suas políticas públicas e tentar melhorá-las, o que pode ser aprendido com o Sul Global”, conclui.

Poucos dias antes da reunião dos líderes mundiais do bloco, todos os grupos do G20 Social vão se reunir para discutir os trabalhos e as sugestões desenvolvidas durante todo o ano. O evento será na cidade do Rio entre os dias 14 e 16 de novembro.

Para especialistas, lobbies e concentração midiática ameaçam a existência do jornalismo

Para especialistas, lobbies e concentração midiática ameaçam a existência do jornalismo

Mesa do Festival 3i debate alternativas para o fomento da atividade jornalística e levanta desafios para o futuro

Por: Davi Guedes

Mesa de debates de modelo de política pública no jornalismo; Festival 3i. Créditos: Davi Guedes

Como exercer jornalismo em tempos de tantas mudanças e incertezas? Uma das mesas do Festival 3i tratou desse tema, discutindo a influência de lobbies internacionais e a concentração intensa de veículos de mídia pelo mundo – questões que, para as participantes, chegam mesmo a ameaçar a existência do jornalismo tal como conhecemos.  A palestra, realizada no dia 16 de junho, também discutiu alternativas para fazer frente a essas ameaças.

Participaram do debate Laura Becanna, coordenadora auxiliar do Global Forum of Media Development (GFMD), organização supranacional de pesquisa e suporte ao jornalismo, Anna Burgman, do Rebuild Local News, instituto de fomento ao jornalismo local dos EUA, e Giovana Tiziani, da Secretaria de Políticas Digitais da Secom (Secretaria de Comunicação Social).

Laura Becanna alertou para a presença de lobbies de grandes companhias e interesses, que, em sua avaliação, capturam grandes veículos de mídia. Defendeu também a descentralização midiática como forma de diluição dessa influência. Ela argumentou que é impossível produzir um jornalismo de interesse público, quando este está preso a interesses externos. No caso da organização em que trabalha, a GFMD na Europa, ela destaca a importância do investimento em pesquisas para entender mais precisamente os riscos e influências que o jornalismo enfrenta, e recomenda que essas ações sejam tomadas em cada região do planeta, para o entendimento das suas questões particulares.

“São muitos os elementos que ameaçam a existência do jornalismo para o futuro”, afirma Laura. Segundo ela, o investimento em educação midiática é importante num cenário marcado pelo aumento da circulação de conteúdos de desinformação. Ela afirmou que países nórdicos, como a Dinamarca, já investem nessa proposta, com o objetivo de salientar a importância do jornalismo e do uso correto das ferramentas de acesso à informação a fim de garantir qualidade informacional – tudo isso em um futuro no qual a forma do jornalismo e o avanço tecnológico ainda são incertos.

Anna Burgman observou que, nos Estados Unidos, o processo de produção de notícias de portais independentes está se tornando algo cada vez mais de interesse da esfera estadual norte-americana. Ela defendeu que, com órgãos públicos estaduais investindo em jornalismo local, os processos de fomento tendem a ser mais capacitados e estimulados, pela proximidade maior com questões locais. Anna disse ainda que, no começo de um portal, o maior desafio é a obtenção de leitores para sustentar um jornal, e afirmou que  trabalhar com pautas locais pode ser um meio de contornar esse problema.

Para o Brasil, Giovana Tiziane, da Secom, criticou a concentração midiática e defendeu a importância da descentralização. O último relatório do Media Ownership Monitor, órgão internacional que faz levantamentos sobre o mercado de mídia, apontou que 4 emissoras concentram 70% da audiência nacional. Vale ressaltar que o Brasil não tem uma regulação sobre o fato de uma mesma companhia possuir diversos canais (jornal, portal, canal, rádio, etc.) jornalísticos de uma vez, como há em outros países, a exemplo dos EUA.

Ainda que reconhecendo a importância da descentralização, a especialista da Secom falou da dificuldade na obtenção de fomento, tanto público, quanto privado, para promover iniciativas independentes de modo satisfatório. E complementou dizendo ser muito importante que o governo brasileiro ancore suas leis e propostas em modelos internacionais, aderindo ao que for cabível nacionalmente, a fim de estimular a promoção de um jornalismo mais plural e livre.

 

Parceria IBGE-Uerj pela soberania de dados

Parceria IBGE-Uerj pela soberania de dados

Instituições buscam aproximar população mais jovem do uso de informações públicas e vão realizar conferência para discutir assunto

Por Julia Lima

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) firmaram um acordo para estudos e produção de dados. Um dos pontos centrais da parceria é a realização da Conferência Era Digital, que acontecerá no campus Maracanã entre os dias 29 de julho e 2 de agosto. Estão na programação palestras do presidente Lula, da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, e do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. 

A conferência vai discutir a soberania brasileira sobre os dados aqui gerados, como é possível lidar com o domínio das big techs nessa área e como consolidar o Sistema Nacional de Geociências, Estatística e Dados (Singed). As inscrições são gratuitas e cada inscrito ganhará um mapa-múndi produzido pela instituição, com o Brasil no centro.

O anúncio da parceria, no último dia 25, contou com a presença do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, e da reitora Gulnar Azevedo. Durante o evento, foi inaugurado também um totem interativo ao lado da Livraria EdUerj, que permite que o usuário acesse 1,5 bilhão de dados e 1 trilhão de variáveis de pesquisas do Instituto.

 

Lançamento do totem com Daniel Castro (IBGE), Marcio Pochmann (IBGE) e Gulnar Azevedo (Uerj) (Reprodução: Uerj)
 

A ideia da parceria surgiu de Adair Rocha, professor do departamento de Relações Públicas da Uerj, em uma tentativa de homenagear Pedro Geiger, ex-geógrafo do IBGE e professor da Uerj, que recebeu o título de Doutor Honoris Causa aos 101 anos. No final, passou a ser uma colaboração em que o IBGE produz dados e a Uerj, a partir de seus pesquisadores e estudantes, produzirá pesquisas e estudos que ajudarão na formulação de novas políticas públicas, tendo sempre como centro o combate às desigualdades.

Segundo Daniel Castro, coordenador-geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informação e Coordenação de Comunicação Social do IBGE, a parceria aproxima o Instituto das universidades e dos mais jovens e, consequentemente, o espaço acadêmico da gestão pública. Para tal, além do totem, será inaugurada uma sala interativa, onde serão disponibilizados dados sobre a juventude, com recortes como gênero, raça e localização, e também estágios para a comunidade uerjiana. O local contará com funcionários do IBGE para auxiliar os visitantes.

Daniel Castro (IBGE) e Adair Rocha (Uerj) (Reprodução: Everton Victor)

Mapa mundi para o G20 com o Brasil no centro (Reprodução: IBGE)

Castro afirma que o Brasil não pode mais ser apenas um fornecedor de dados para empresas internacionais, sem que nem mesmo o governo do país tenha tantas informações sobre seus próprios habitantes; e ainda mais, que esses dados não deveriam ser utilizados para gerar lucros tão exorbitantes. Para ele, o país deve sair da posição de apenas consumidor para se tornar produtor e soberano quanto às informações de seus habitantes.

Mulheres se destacam em projetos de jornalismo comunitário

Mulheres se destacam em projetos de jornalismo comunitário

Produção local busca novas abordagens sobre regiões periféricas e contesta “jornalismo de helicóptero”

Por: Davi Guedes

 

Mesa de lideranças femininas no jornalismo comunitário, 3i.  Reprodução: Freepik

O jornalismo comunitário está se tornando cada vez mais um mecanismo de divulgação de informação sobre locais que não recebem cobertura dos veículos tradicionais. Em 2023, de acordo com os dados do Atlas da Notícia, 227 municípios passaram a ser informados ativamente sobre questões internas graças a portais criados e mantidos pela própria comunidade que ele busca atender.

Em palestra no Festival 3i, realizado no Rio de Janeiro, três lideranças femininas de veículos comunitários trataram do assunto. Ana Cipriano, do PPG Informativo, Martiene Oliveira, do Sargento Perifa,  e Gabrielle Guide, do Entre Becos, falaram de dificuldades e conquistas no cotidiano do jornalismo comunitário.

Para as três comunicadoras, a produção de conteúdo local é fundamental na construção de uma imagem de comunidade que não esteja atrelada às conotações usuais de violência e pobreza. As três concordam que seus portais trazem como diferencial não o “jornalismo de helicóptero”, que produz a notícia muitas vezes de forma  afastada e incompleta, mas sim uma apuração interna, feita por pessoas que vivem nesses espaços.

O portal Sargento Perifa, coordenado por Martiene, localizado em Córrego do Sargento, na capital Recife, é um veículo de notícias desta comunidade, escrito por moradores da própria. Segundo ela, o fato do morador da comunidade se enxergar na notícia é imprescindível para a captação e fidelização do público leitor. “Se eu estou falando da história de dona Luiza, uma idosa de 82 anos que mora no Córrego do Sargento, logo a sua filha vai ver, que vai compartilhar para as netas e assim por diante.”

Martiene defende que a mídia não deve fazer as pessoas se enxergarem em um retrato de violência, para que assim elas possam buscar consumir e se identificar com um conteúdo diferente do que é apresentado na grande mídia.

As relações construídas entre jornais comunitários são importantes para a sua existência mútua. Os portais de notícia comunitários devem formar um “ecossistema” de trocas e de informação de incentivo mútuo, defende Martiene. “Através dessa relação que nós nos fortalecemos”, afirmou ela. A jornalista defende que essa é uma das formas para subsistir com um financiamento limitado.

Ana Cipriano, jornalista do PPG Informativo, situado na zona sul do RJ, na comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho defendeu que a existência de jornais periféricos é importante inclusive para a própria grande mídia. Segunda ela, os jornais locais são um dos meios pelo qual os grandes portais são capazes de penetrar nas comunidades para a produção de reportagens. “Eles também precisam de nós”, argumenta ela.

 

Jornalismo de território ganha força para combater desertos de notícia

Jornalismo de território ganha força para combater desertos de notícia

Metade dos municípios brasileiros não conta com veículos locais, e região Nordeste é proporcionalmente a mais afetada

Por: Davi Guedes

                                                                                          Reprodução: Freepik

Quase metade dos municípios brasileiros são desertos de notícia, aponta o levantamento de 2023 do Atlas da Notícia. Desertos de notícia são regiões onde não há veículos de imprensa locais, em nenhum formato, para cobrir acontecimentos regionais. Por se tratarem de localidades com baixa população e, muitas vezes, afastadas das capitais, grandes veículos praticamente nunca fazem cobertura dessas regiões.

O Festival 3i, realizado semana passada no Rio, destacou experiências valiosas para combater os desertos de notícias: as iniciativas de jornalismo local, com projetos realizados fora dos grandes centros, por jornalistas independentes.

Algumas dessas iniciativas foram apresentadas na mesa “Ambiente Informacional da Amazônia”, do festival 3i . Vanessa Vieira, palestrante da mesa e idealizadora do jornal digital Correio do Lavrado, de Roraima – onde dois terços dos municípios em situação de deserto de notícias –  afirmou que a falta de cobertura midiática na maior parte do estado abre espaço para práticas ilegais passarem impunes. Disse também que a ausência de jornalismo local afeta a própria percepção dos cidadãos dessas regiões de si próprios. Segundo  Vanessa, sem portais locais específicos, mesmo a produção de reportagens de veículos maiores exteriores, quando raramente acontecem, é muito dificultada, pela falta de apurações básicas preexistentes.

Vanessa relata que há muitas dificuldades em manter jornais independentes, e a maior delas é financeira. Com a falta de incentivos, faltam também iniciativas, ainda que essa seja a modalidade dominante no número absoluto de veículos regionais. 

“A gente não consegue se manter financeiramente sendo jornalista independente, estamos sempre atrás de editais”, completa.

Mais dados sobre deserto de notícia

A região Nordeste lidera o ranking dos desertos de notícia, com  56,7% dos seus municípios nessa situação. Os estados do Piauí e do Rio Grande do Norte encontram-se nas piores situações, com mais de 70% dos municípios sem cobertura local.

O Rio de Janeiro tem 7 de seus 92 municípios nessa situação, sendo o estado com o menor índice de desertos no Brasil. Em todo o país, em números brutos, há 26,7 milhões de pessoas vivendo em desertos de notícias (13,2% da população).

O Atlas da Notícia também propõe a classificação de “quase desertos de notícia”, que diz respeito a locais com até dois veículos regionais, os quais muitas vezes são mais vulneráveis a serem fechados ou a passarem por uma interferência política ou empresarial externa. Somando-se desertos e quase desertos, 77,48% dos municípios brasileiros estão em uma dessas duas situações.

A boa notícia, apesar dos números ainda expressivos, é que o total de municípios sem portais locais vem em contínua queda. Pela primeira vez desde o início do levantamento (2017),  a proporção de não-desertos é maior que a de desertos.

                                                                                        Fonte: Atlas da Notícia

                                                       Gráfico comparativo dos últimos quatro levantamentos

Os principais motivos para a redução dos desertos de notícia são a catalogação de portais não mapeados anteriormente, além do surgimento de veículos digitais e de iniciativas na área do rádio, como podcasts. Ambas as modalidades são dominantes numericamente no total de veículos locais de comunicação.

Cinza, verde e azul: as cores da reconstrução do Rio Grande do Sul

Cinza, verde e azul: as cores da reconstrução do Rio Grande do Sul

Especialista da Uerj destaca conjunto de medidas que incluem obras, mas também preocupação com águas e vegetação

Por Julia Lima

(Reprodução: Agência Brasil/Ricardo Stuckert/Presidência da República)
 

Há um mês o Rio Grande do Sul enfrenta a maior tragédia climática da sua história. O Rio Guaíba chegou à altura de 5,25 metros; em 1941, data da última cheia recorde, subiu até 4,76 metros. Os efeitos do fenômeno climático El Niño, agravados pelas mudanças climáticas, ajudaram a tornar este o maior desastre do estado e um dos maiores do Brasil.

Segundo Antônio Carlos da Silva Oscar Júnior, professor de Geografia Física da Uerj, o El Niño, fenômeno natural e cíclico de aquecimento das águas do Oceano Pacífico, criou uma espécie de redoma de calor na região Sudeste. Isso elevou as temperaturas de abril e impediu que as frentes frias se movessem da região Sul para o resto do país. 

O domo de calor também impede que a umidade vinda da Amazônia chegue à região Sudeste. Juntam-se a isso as frentes de ar frio vindas da Antártida e da Patagônia, e assim o volume de chuvas na região aumenta ainda mais.

 

Bacia hidrográfica contribuiu para a cheia

Além dos fenômenos atmosféricos, a configuração dos rios e seus afluentes no Rio Grande do Sul foi importante para o grande alcance da cheia. Todos receberam grande quantidade de chuva e acabaram desaguando em um mesmo ponto, no Rio Guaíba, em Porto Alegre e, posteriormente, na Lagoa dos Patos.

A capital do estado possui um amplo sistema de drenagem, que, segundo Antônio, seria capaz de diminuir os efeitos da chuva. No entanto, segundo ele, sucessivas gestões da cidade negligenciaram o reparo das bombas de drenagem, mesmo após diversos relatórios apontarem o risco de enchentes.

 

 
Parte do sistema de drenagem da cidade de Canoas – RS (Reprodução: Prefeitura de Canoas)
 
 

Além disso, frentes frias normalmente exercem influência no oceano, aumentando o nível do mar. Por conta disso, os rios não conseguem desaguar na velocidade normal, ficando represados nas bacias e, consequentemente, nas cidades banhadas por eles. Esse acontecimento também foi um dos responsáveis para que as áreas atingidas no sul do país continuem por tanto tempo embaixo da água.

 

O que deve ser feito para evitar novos desastres

Para Antônio Carlos, a reconstrução do estado gaúcho deve ser “orientada pela emergência climática”. Segundo ele, o governo tem a “oportunidade de fazer o novo” e precisa fazer deste um processo participativo, ouvindo principalmente àqueles mais afetados pelas mudanças climáticas.

O professor chama atenção para as três principais medidas que devem ser tomadas na reparação das cidades: cinzas, verdes e azuis. As cinzas envolvem as medidas de engenharia, como a reconstrução de avenidas, pontes e prédios – principalmente escolas e hospitais – que sejam capazes de resistir a novos eventos extremos. Apesar destas serem necessárias, maior atenção deve ser dada às medidas verdes e azuis. Elas são “alternativas mais baratas que a medida cinza e que combinadas a ela, podem potencializar o enfrentamento a essas emergências climáticas que vão se tornar cada vez mais recorrentes”. As verdes dão conta da preservação do meio ambiente, que envolve a recuperação de florestas, mangues, da mata ciliar que cerca os rios e da permeabilidade do solo. Já as azuis tratam de ações relacionadas à água, como a restauração do curso natural do rios, desassoreamento e a recuperação de áreas úmidas – pântanos –, que funcionam como um espaço de transição entre o ambiente terrestre e aquático.

O batizado de Tietasaura

O batizado de Tietasaura

Como cientistas da Uerj misturaram literatura e paleontologia para nomear novo dinossauro

Modelo de Tietasauro derbyana, criado a partir dos fósseis. Créditos: Kamila Bandeira

Cientistas da Uerj identificaram uma nova espécie de dinossauro que viveu na região do atual recôncavo baiano, cuja descoberta é especialmente relevante no campo da paleontologia. A espécie foi denominada Tietasauro derbyana. O achado foi anunciado no periódico Historical Biology.

O nome do dinossauro faz referência a Tieta, protagonista do romance “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, ambientado na região na mesma região onde foi identificado o dinossauro. O nome do animal também alude ao geólogo Orville A. Derby, um dos pioneiros da paleontologia brasileira. Com isso, o nome do novo dinossauro homenageia ao mesmo tempo a literatura e a ciência brasileiras.                          

Kamila Bandeira e Valéria Gallo, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), coordenaram a equipe responsável por essa descoberta. Os fósseis foram identificados por Kamila ao final do seu mestrado, no Museu de História Natural de Londres em 2016. Em 2020, após uma análise minuciosa dos registros, percebeu-se que eles podiam se tratar de exemplares perdidos, coletados entre 1859 e 1906. Por meio de uma análise comparativa com fósseis semelhantes, os pesquisadores constataram que eles continham particularidades biológicas, o que indica a descoberta de uma nova espécie. 

O achado também comprova a existência de dinossauros do tipo Ornithischia – uma ordem de herbívoros – nas Américas. Antes disso, somente evidências indiretas, como pegadas, indicavam a existências desse grupo nessa região. Com o achado dos fósseis confirma-se que eles efetivamente habitavam o continente. 

Segunda as pesquisadoras, os registros também são especialmente raros, pois datam de cerca de 130 milhões de anos atrás, época de uma era geológica conhecida como Pré-Barremiano. O achado de novas espécies desse período é bastante incomum. A pesquisa recebeu financiamento de instituições como a Capes, CNPQ e Faperj.