O que a educação tem a ver com as mudanças climáticas
Relatório do Banco Mundial mostra que cada ano a mais de estudo aumenta em 8,6% a conscientização sobre questões ambientais
Por Vinicius Rodrigues
“Cada ano de educação está associado a um aumento de 8,6% na conscientização sobre as mudanças climáticas. Também vemos que a relação entre educação e conscientização é mais forte para países com sistemas educacionais de maior qualidade. Isso sugere que as características do aprendizado escolar contribuem para o aumento da conscientização”, diz a economista Marla Spivack, uma das autoras do relatório, em entrevista à Agenc.
Além dela, o relatório “Choosing Our Future: Education for Climate Action (Escolhendo Nosso Futuro: Educação para Ação Climática)” tem como autores Shwetlena Sabarwal, Sergio Venegas Marin e Diego Ambasz.
Alunos pobres são os mais atingidos pelas mudanças climáticas
O documento mostra que os estudantes das regiões brasileiras mais pobres são os mais atingidos pelas mudanças climáticas: cerca de 1% da aprendizagem é perdida devido ao aumento da exposição ao calor durante o período escolar, pois há escolas com péssimas condições estruturais, que não têm salas ou ambientes climatizados para os alunos assistirem às aulas em épocas de altas temperaturas.
Um aluno que está entre os 50% mais pobres pode perder até 0,5 ano de aprendizagem devido às mudanças climáticas, aponta o relatório.
No primeiro semestre do ano de 2024, o estado do Rio Grande do Sul sofreu com as grandes enchentes que perduraram por mais de um mês na região, deixando mortos e desabrigados. Mais de 500 escolas foram afetadas, deixando mais de 200 mil alunos matriculados sem aulas, segundo relatório feito pelo governo do estado. Pelo menos 80 escolas foram utilizadas como ponto de abrigo para os desabrigados.
Eventos climáticos extremos, como os que atingiram o Rio Grande do Sul, exigem preparação dos governos, afirma Carolina Maciel, bióloga e analista do Instituto Alana, uma ONG voltada para a defesa dos direitos das crianças.
Segundo Carolina, mesmo que o mundo parasse com as emissões de gases do efeito estufa hoje, ainda sofreria com eventos climáticos extremos resultantes dos anos anteriores. O Instituto tem trabalhado com o estímulo às chamadas boas práticas, que criam rotinas positivas para prevenir eventos extremos e reduzir seu impacto.
“A primeira boa prática é conhecer as particularidades dos nossos territórios. As ações e soluções não podem ser simples incorporações do que acontece em outros países, principalmente do Norte Global. Precisam ser soluções que façam sentido para as comunidades, para a estrutura da cidade e para o próprio meio ambiente daquele local”, afirma.
É importante que o governo e a população se envolvam. “Isso aumenta nosso senso de pertencimento com o bioma onde nossa cidade está inserida e passamos a ter, inconscientemente, escolhas mais responsáveis. A gente não cuida do que não conhece. Então explorar e conhecer é o primeiro passo dessa jornada”.
E a segunda boa prática seria não só utilizar as escolas como espaços para desabrigados em eventos climáticos extremos, mas educar os estudantes para fortalecerem a relação com a natureza. Isso inclui medidas como:
- adaptar os espaços escolares, contribuindo com a mitigação das mudanças climáticas e com o seu funcionamento durante eventos extremos;
- adotar estratégias de educação que fomentem o acesso e o fortalecimento do vínculo da comunidade escolar com a natureza;
- desenvolver conhecimento crítico, habilidades e competências sobre o enfrentamento à emergência climática, valorizando o protagonismo dos estudantes na resolução de problemas em seus territórios.
Para os governos, algumas medidas recomendadas são:
- aumentar o conforto térmico das cidades, principalmente das escolas, incorporando e ampliando ambientes azuis e verdes;
- apoiar a naturalização de espaços, principalmente escolas;
- trabalhar em planos de adaptação para suas cidades;
- trabalhar em planos relacionados à qualidade do ar;
- investir em sistemas de monitoramento climático (inclusive com instituições científicas);
- priorizar a proteção de áreas naturais e a recuperação de ecossistemas degradados, como matas ciliares e encostas de rios.