O que educação tem a ver com as mudanças climáticas

O que a educação tem a ver com as mudanças climáticas

Relatório do Banco Mundial mostra que cada ano a mais de estudo aumenta em 8,6% a conscientização  sobre questões ambientais

Por Vinicius Rodrigues

Soldados do Exército fazem limpeza na Escola Municipal de Ensino Fundamental Thiago Wurth, em Canoas (RS), que foi atingida pelas enchentes. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Um novo relatório do Banco Mundial detalha como a crise no clima impacta estudantes em todo mundo e coloca a educação como um dos pontos principais para que as pessoas tomem consciência do problema. A pesquisa ressalta que pessoas com maior nível educacional são mais propensas a ver as mudanças climáticas como grande ameaça se comparadas com as que têm menor nível educacional. E põe o Brasil no mapa: segundo o documento, 84% dos brasileiros com ensino médio ou superior estão mais atentos à gravidade das mudanças climáticas, enquanto, entre os que têm nível educacional mais baixo, a taxa é de apenas 62%.

“Cada ano de educação está associado a um aumento de 8,6% na conscientização sobre as mudanças climáticas. Também vemos que a relação entre educação e conscientização é mais forte para países com sistemas educacionais de maior qualidade. Isso sugere que as características do aprendizado escolar contribuem para o aumento da conscientização”, diz a economista Marla Spivack, uma das autoras do relatório, em entrevista à Agenc.

Além dela, o relatório “Choosing Our Future: Education for Climate Action (Escolhendo Nosso Futuro: Educação para Ação Climática)” tem como autores Shwetlena Sabarwal, Sergio Venegas Marin e Diego Ambasz.

Alunos pobres são os mais atingidos pelas mudanças climáticas

O documento mostra que os estudantes das regiões brasileiras mais pobres são os mais atingidos pelas mudanças climáticas: cerca de 1% da aprendizagem é perdida devido ao aumento da exposição ao calor durante o período escolar, pois há escolas com péssimas condições estruturais, que não têm salas ou ambientes climatizados para os alunos assistirem às aulas em épocas de altas temperaturas.

Um aluno que está entre os 50% mais pobres pode perder até 0,5 ano de aprendizagem devido às mudanças climáticas, aponta o relatório.

No primeiro semestre do ano de 2024, o estado do Rio Grande do Sul sofreu com as grandes enchentes que perduraram por mais de um mês na região, deixando mortos e desabrigados. Mais de 500 escolas foram afetadas, deixando mais de 200 mil alunos matriculados sem aulas, segundo relatório feito pelo governo do estado. Pelo menos 80 escolas foram utilizadas como ponto de abrigo para os desabrigados.

Eventos climáticos extremos, como os que atingiram o Rio Grande do Sul, exigem preparação dos governos, afirma Carolina Maciel, bióloga e analista do Instituto Alana, uma ONG voltada para a defesa dos direitos das crianças. 

Segundo Carolina, mesmo que o mundo parasse com as emissões de gases do efeito estufa hoje, ainda sofreria com eventos climáticos extremos resultantes dos anos anteriores. O Instituto tem trabalhado com o estímulo às chamadas boas práticas, que criam rotinas positivas para prevenir eventos extremos e reduzir seu impacto.

“A primeira boa prática é conhecer as particularidades dos nossos territórios. As ações e soluções não podem ser simples incorporações do que acontece em outros países, principalmente do Norte Global. Precisam ser soluções que façam sentido para as comunidades, para a estrutura da cidade e para o próprio meio ambiente daquele local”, afirma.

É importante que o governo e a população se envolvam. “Isso aumenta nosso senso de pertencimento com o bioma onde nossa cidade está inserida e passamos a ter, inconscientemente, escolhas mais responsáveis. A gente não cuida do que não conhece. Então explorar e conhecer é o primeiro passo dessa jornada”.

E a segunda boa prática seria não só utilizar as escolas como espaços para desabrigados em eventos climáticos extremos, mas educar os estudantes para fortalecerem a relação com a natureza. Isso inclui medidas como:

  • adaptar os espaços escolares, contribuindo com a mitigação das mudanças climáticas e com o seu funcionamento durante eventos extremos;
  • adotar estratégias de educação que fomentem o acesso e o fortalecimento do vínculo da comunidade escolar com a natureza;
  • desenvolver conhecimento crítico, habilidades e competências sobre o enfrentamento à emergência climática, valorizando o protagonismo dos estudantes na resolução de problemas em seus territórios.

Para os governos, algumas medidas recomendadas são:

  • aumentar o conforto térmico das cidades, principalmente das escolas, incorporando e ampliando ambientes azuis e verdes;
  • apoiar a naturalização de espaços, principalmente escolas;
  • trabalhar em planos de adaptação para suas cidades;
  • trabalhar em planos relacionados à qualidade do ar; 
  • investir em sistemas de monitoramento climático (inclusive com instituições científicas);
  • priorizar a proteção de áreas naturais e a recuperação de ecossistemas degradados, como matas ciliares e encostas de rios.

Como os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro pretendem lidar com a questão ambiental 

Como os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro pretendem lidar com a questão ambiental

Em meio a mudanças climáticas e catástrofes ambientais, cariocas podem decidir como mudar cenário ambiental através das eleições 

Por Maria Eduarda Galdino e Julia Lima

As eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro acontecem neste domingo, 6 de outubro. Todos os candidatos à prefeitura apresentaram à Justiça Eleitoral propostas de governo.  Atualmente, um dos temas prioritários para a discussão é a crise climática: enchentes, queimadas e desabamentos são frequentes e impactam a vida de milhares de cariocas todos os anos.

Da esquerda para a direita: Eduardo Paes (PSD), Alexandre Ramagem (PL), Tarcísio Motta (PSOL) e Rodrigo Amorim (União Brasil). Reprodução: TSE

A Agenc analisou os programas de governo dos 4 candidatos mais bem colocados nas últimas pesquisas, sendo eles Eduardo Paes (PSD), Alexandre Ramagem (PL), Tarcísio Motta (PSOL) e Rodrigo Amorim (União Brasil). A seguir, você encontra as propostas de cada um deles para a questão ambiental na cidade:

Eduardo Paes

Eduardo Paes traz propostas que englobam não só a preservação ambiental, mas também planejamentos para lidar com as mudanças climáticas, como as ilhas de calor e enchentes. 

Paes pretende criar o “Projeto ZN Verde” que visa produzir mudas que tem o objetivo de produzir mudas em grande escala para arborizar e reduzir as ilhas de calor na Zona Norte.

Em relação às mudanças climáticas, o candidato à reeleição propõe o projeto “Jardim maravilha”, que tem por objetivo expandir e melhorar os sistemas de drenagem para que o Rio de Janeiro possa estar mais resiliente a mudanças climáticas. 

Logo mais, ele propõe estabelecer um plano de controle de enchentes na Bacia do Rio Acaraí, onde aconteceu uma enchente que atingiu a casa de 20 mil cariocas no começo desse ano, o controle promete estabilizar os trechos 1 e 2. 

Outro projeto apresentado no plano é construção de habitações para o reassentamento de populações ribeirinhas em áreas de baixadas, propensas a inundações ordinárias, agravadas pela mudança climática. Ainda citando a problemática das enchentes, Paes deseja ampliar o sistema de sirenes para as comunidades suscetíveis a enchentes ordinárias.

Alexandre Ramagem

O plano do deputado federal cita um “conjunto de ações estratégicas e integradas para tratar a poluição, a gestão de resíduos, a proteção de áreas verdes, de nossas águas e a conscientização da população no que tange ao descarte inadequado do lixo em toda a cidade”, sem maiores detalhes, salientando que utilizará de concessões e parcerias público-privadas onde for possível. 

No programa há a promessa de programas de reflorestamento de áreas degradadas e criação e manutenção de parques e áreas verdes para a população.

Tarcísio Motta

Uma das propostas do deputado federal é o Plano Municipal de Transformação Ecológica. Os três principais objetivos descritos no plano são a redução da emissão de gases de efeito estufa, a redução do consumo e descarte de isopor e plástico na cidade e a garantia de água limpa e comida saudável para a população da cidade.

Também há o projeto do sistema municipal de proteção socioambiental, que envolve a atualização do plano de contingência de emergências e a criação do Agente Comunitário de Proteção Socioambiental, que avaliará vulnerabilidades dos territórios e terá o trabalho de conscientização da população.

Tarcísio propõe também o Plano de Arborização Produtiva Urbana, no qual as árvores das vias públicas serviriam para produzir alimentos para a população.

Rodrigo Amorim 

Em relação ao meio ambiente, Rodrigo Amorim traz propostas de combate às enchentes por meio de projetos de escoamento e o levantamento de obras com prazo de 3 anos que previnam as enchentes, e a comunicação com a associação de moradores, visando o combate a construções irregulares que agravam as enchentes.

O candidato também prometeu trabalhar a favor da sustentabilidade. Rodrigo quer implantar o sistema de energia solar que é feito na cidade de Vancouver, no Canadá, com o objetivo da diminuição de carbono. Ainda com a missão de combater as grandes emissões de carbono, Rodrigo Amorim quer investir em transportes públicos e criar polos de emprego próximo às residências, para que não haja grande deslocamento por meio de veículos particulares. 

Descoberta de novo dinossauro brasileiro amplia debates sobre expropriação de fósseis nacionais

Descoberta de novo dinossauro brasileiro amplia debates sobre expropriação de fósseis nacionais

Achados arqueológicos brasileiros estão em vários museus do mundo; pesquisadores cobram valorização do patrimônio

Por: Davi Guedes

Reprodução de Tiamat valdecci, com base nos fósseis descobertos. Créditos: Ilustração criada por Luciano Vidal – Cedida pela pesquisadora Kamila Bandeira

Pesquisadores da Uerj, UFRJ e UFG descobriram uma nova espécie de dinossauro que habitou a região hoje equivalente à Caatinga nordestina. O animal, do  gênero saurópode, foi batizada de Tiamat valdecii, em homenagem a uma deusa da mitologia babilônica, semelhante a um dragão.O grupo dos saurópodes inclui  dinossauros com corpos robustos, pescoços e caudas longas e cabeças achatadas, como o tiranossauro ou o brontossauro

Os fósseis foram encontrados na região fronteiriça dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A descoberta foi publicada no periódico Zoological Journal of the Linnean Society, da Universidade de Oxford, e foi assinada por Paulo Pereira, Kamila Bandeira, Luciano Vidal, Theo Ribeiro, Carlos Candeiro e Lilian Bergqvist.

 

Ossos de Tiamat valdecii desenterrados no estudo. Créditos: Kamila Bandeira

Em maio deste ano, Kamila Bandeira, pós-graduanda em paleontologia da Uerj, participou da pesquisa responsável pela descoberta da espécie Tietassauro, que teve repercussão em publicações estrangeiras. Em um intervalo de três meses, o dinossauro da caatinga é a segunda descoberta de relevância internacional oriunda de pesquisas das quais ela participou. Os achados são responsáveis por trazer um destaque ao Brasil no cenário internacional nessa área, o que leva a outras discussões sobre o que fazer com outros fósseis brasileiros hoje no exterior.

O Brasil conta com algumas peças nativas em exposição no exterior. Esse tópico vem sendo alvo de discussões sobre a soberania que o país deveria ter sobre as suas peças arqueológicas e sobre seu direito de construção de conhecimento e identidade em cima desses achados. Um levantamento feito no Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, indicou a existência de ao menos 90 fósseis retirados ilegalmente do Brasil ao longo do tempo e que compõem o acervo desse museu. Em julho do ano passado, um dos fósseis foi devolvido.

O professor Alex Gonçalves, do Departamento de História da Uerj, especialista em história da geociência, afirma que descobertas dessa natureza são importantes para dar destaque ao Brasil não somente em relevância científica, mas também para demonstrar a robustez e a preciosidade das peças e das pesquisas nacionais.

Gonçalves defende que o Brasil crie um acervo tipicamente nacional e que obtenha peças do exterior, porém alerta que isso envolve responsabilidades. “Se o Estado tem recursos e o direito de reivindicar uma peça nacional do exterior, acho legal que o faça, mas ele deve se comprometer a mantê-la preservada”.

Com ajuda da IA, pesquisadores criam plataforma que reúne programas de governo dos candidatos a prefeito de todo o país

Com ajuda da IA, pesquisadores criam plataforma que reúne programas de governo dos candidatos a prefeito de todo o país

Vota Aí! permite que eleitores consultem gratuitamente mais de 60.000 planos de governo desde 2012

Por Everton Victor e Julia Lima

 

Reprodução: Site Vota Aí!

De olho nas eleições municipais no dia 6 de outubro, pesquisadores da Uerj e da Unicamp lançaram a plataforma Vota Aí!, com os planos de governo dos candidatos a prefeito em todo o país. A plataforma, criada com ajuda da IA, também permite comparar os planos dos candidatos. O projeto é uma criação do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa) Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Iesp-Uerj) e do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp (Cesop-Unicamp) 

O Vota Aí, que tem acesso livre e gratuito,  foi criado pela cientista política Nara Salles durante as eleições de 2020. Salles inicialmente era pesquisadora da Uerj, mas agora está no Cesop, o que possibilitou a parceria. A plataforma usa o banco de dados do TSE para obter os programas de governo. Com ajuda de IA, faz a raspagem dos dados e possibilita as comparações entre candidatos e períodos eleitorais. 

Segundo Flávia Bozza, uma das pesquisadoras do Vota Aí! no Rio de Janeiro, o objetivo é que a plataforma seja utilizada fora do ambiente acadêmico, por eleitores comuns, que não teriam tempo de buscar nem ler os programas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A pesquisadora diz que, embora haja algumas limitações na ferramenta, o grande auxílio da IA foi ler os documentos dos mais de 5000 municípios brasileiros. 

Além de agregar os documentos com as propostas, o site conta com algumas ferramentas para ajudar o eleitor:

  • Temas presentes: com ajuda da Inteligência Artificial, a plataforma mostra os temas presentes em cada plano de governo.
  • Nuvem de palavras: mostra as palavras que mais aparecem no programa. Quanto maior a palavra, maior a recorrência dela.
  • Palavras frequentes: ao invés de medir a frequência pelo tamanho da palavra, é feito um gráfico em barras.
  • Análise de contexto: ao buscar uma palavra, é mostrado o que vem antes e depois dela para que o contexto possa ser compreendido.
  • Rede de palavras: mostra quais são as palavras mais relacionadas com a que foi buscada. Exemplo: Busca-se “educação”. Junto dela aparecem mais “pública”, “privada”, etc.

O Vota Aí! não faz nenhum tipo de análise de dados para servir ao eleitor, nem mesmo sobre a possível presença de fake news nos projetos. 

Reprodução: Site Vota Aí!

Flávia ressaltou o papel da plataforma de aliar tecnologia com o trabalho dos pesquisadores. O Quiz “De quem é essa proposta?” traz diferentes projetos e logo em seguida sugere nomes de candidatos que apresentam aquela declaração em seu programa de governo. As temáticas são variadas e os nomes dos candidatos também.  Ao fim das perguntas, o eleitor sabe de quem realmente é cada proposta. 

Esta ferramenta específica do Quiz por enquanto está disponível para 21 capitais, incluindo a cidade do Rio, e em breve será estendida para as demais. Para a pesquisadora, todos esses mecanismos têm, sobretudo, o foco de levar  a informação ao eleitor por meio da pesquisa científica realizada na universidade. “Uma ferramenta de informação para o eleitorado, para que ele possa fazer ao final uma escolha mais informada”.

Vota Ai! como detentor de dados históricos e meio de fiscalização

Reprodução: Vota Aí!

No site estão disponíveis mais de 60 mil documentos de planos de governo desde o ano de 2012. Segundo Flávia, isso permite que o eleitor possa fazer comparações de longo prazo e até comparar mudanças dentro das propostas de um mesmo candidato nesse intervalo.

Já para além do período eleitoral, Bozza afirma que o banco de dados é um bom meio de pesquisa para a mídia e para pesquisadores da área, já que há uma grande compilação de dados. Diz que o site é um bom meio de o eleitor mais interessado fiscalizar o cumprimento das propostas do mandatário eleito durante os 4 anos seguintes – e cobrar caso elas não estejam sendo cumpridas adequadamente.

Clique para conhecer o Vota Aí

Crise climática é pauta prioritária do 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental

Crise climática é pauta prioritária do 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental

Evento acontece em Fortaleza e reúne 18 palestrantes de todo o país e cerca de 900 inscritos 

 

Por: Maria Eduarda Galdino

 

Em meio ao recorde de queimadas no país, acontece esta semana em Fortaleza o 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental. O evento reunirá profissionais  de todas as regiões do Brasil para um debate amplo, discutindo a situação climática atual e o papel dos jornalistas nas causas ambientais. Esta edição será realizada na Universidade de Fortaleza (Unifor), o evento conta com 900 inscritos e acontecerá entre os dias 19 e 21 de setembro. 

O Congresso é realizado pela Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA),  que há 19 anos vem promovendo encontros com profissionais que acompanham o tema.

“Os jornalistas são essenciais, principalmente num momento em que o negacionismo se espalha. Esse negacionismo ganha força fazendo oposição à informação qualificada e embasada na ciência, mas também por causa da inação da maioria da população, de governantes e empresários que estão assistindo passivamente à deterioração das condições de vida no mundo inteiro”, diz Maristela Crispim, professora de jornalismo na Unifor e criadora da Agência Nordeste, um dos veículos organizadores do congresso.

Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Maristela afirma que o congresso vai ser uma grande possibilidade de aprendizado e compartilhamento de experiências entre profissionais e estudantes. 

Todas as palestras e mesas de debates serão transmitidas pelo canal do Youtube da TV Unifor e permanecerão gravadas. Você pode acompanhar aqui:  8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA)

 

Brasil em chamas: os impactos para o meio ambiente e a saúde

Brasil em chamas: os impactos para o meio ambiente e a saúde

Dicas para compreender a crise das queimadas e proteger sua saúde

Por Julia Lima

Céu com fumaça, clima seco e o sol laranja. Todos esses fenômenos dos últimos dias têm uma só causa: as queimadas e incêndios que estão acontecendo em todo o país. A região amazônica é a mais afetada, e Mato Grosso é o estado que apresenta o maior número de focos de fogo do país: 11335 apenas no último mês.

Sol laranja por conta da fumaça. Reprodução: Agência Brasil

As causas do fogo, de acordo com as autoridades policiais dos estados e estudiosos, são as queimadas utilizadas para a limpeza do terreno na agricultura e, em maior parte, os incêndios criminosos. Só em Mato Grosso – estado mais afetado -, até o dia 12, 14 pessoas já foram presas por atear fogo à vegetação.

Desde o final de agosto, a situação de queimadas e incêndios passou a alarmar as autoridades. As ocorrências mais críticas se anteciparam em cerca de dois meses, já que o período mais seco é esperado a partir de outubro. Segundo a ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas, Marina Silva, os ventos fortes, aliados à baixa umidade do ar, são responsáveis por perpetuar o fogo.

O professor Leandro Beser de Deus, do Departamento de Geografia Física da Uerj, e o Negeo – Núcleo de Estudos Geográficos/UERJ  afirmam que os rios voadores da Amazônia, responsáveis por carregar a umidade da floresta para o resto do país, ajudaram a espalhar a fumaça das queimadas e incêndios para outras partes do país, cobrindo 25 estados. 

Consequências

Beser de Deus conversou com a Agenc sobre uma viagem que fez nos últimos dias para a Amazônia: “Voltando agora de lá. Caos, muito difícil de respirar. Crise de asma, tosse seca. Um horror.”  Os principais sintomas decorrentes das queimadas nos humanos são as crises de doenças respiratórias e o aumento da chance de episódios cardíacos, como infarto e AVC.

Os atendimentos por sintomas semelhantes explodiram em todo o país, chegando ao aumento de 190% no Tocantins, segundo o Ministério da Saúde. A ministra Nísia Trindade mostrou preocupação com a sobrecarga do sistema de saúde, relatando que há capacidade de atendimento, mas que ela é cada vez mais testada com os eventos climáticos extremos.

Para a natureza, as consequências são a perda de fauna e flora, redução da cobertura vegetal, desequilíbrio ecológico, piora da qualidade do ar e perda de nutrientes do solo. Indiretamente, a seca causada pelos fenômenos influencia nos níveis dos rios, que baixam substancialmente e isolam comunidades ribeirinhas. 

Combate ao fogo

O combate ao fogo no país tem sido feito por terra e pelo ar, com helicópteros e aviões de lançamento de água. Além dos corpos de bombeiros dos estados, estão na ação o Exército, as polícias militares, brigadistas contratados em situação de emergência e voluntários.

De acordo com Beser de Deus, as técnicas de combate ao fogo têm sido adequadas, ao menos na região de São Paulo. Na Amazônia, há maior dificuldade por se tratar de uma região de difícil acesso e com combates locais. 

 Combate a um foco de incêndio na Amazônia. Reprodução: Mayangdi Inzaugarat/Ibama

Além disso, ele destaca que outro desafio significativo é a disponibilidade de tecnologia aérea nos estados do Norte para auxiliar no combate ao fogo. “A utilização de aviões e helicópteros para lançar água e retardantes é uma técnica importante no combate aos incêndios. No entanto, a quantidade de aeronaves disponíveis e o acesso aos recursos hídricos necessários é frequentemente insuficiente para lidar com grandes incêndios”, afirma.

Segundo a ministra Marina Silva, duas pessoas já perderam a vida no combate ao fogo. Um era voluntário e outro de uma brigada de incêndio. Não foram dados detalhes sobre a identidade deles.

Como se proteger

Para amenizar o efeito das queimadas na saúde, a Agenc reuniu alguma dicas:

  • Manter janelas e portas fechadas em áreas de maior circulação de ar poluído
  • Estender toalhas molhadas ou manter baldes com água no ambiente
  • Use umidificadores de ar
  • Evite atividades físicas ao ar livre entre 10h e 17h 
  • Se puder, mantenha-se em ambientes com ar condicionado
  • Use máscara ao transitar por áreas mais poluídas
  • Mantenha-se hidratado com água e líquidos em geral
  • Hidrate também as narinas e os olhos com soro fisiológico

Como mandar sua proposta para os líderes do G20

Como mandar sua proposta para os líderes do G20

Plataforma oferece espaço para comentários, votações e até inscrição de atividades que poderão acontecer na Cúpula do G20 Social

Por Everton Victor e Julia Lima

  • Evento de lançamento do G20 Social Participativo. Foto: Leticia Santana

Sabia que você também pode mandar sugestões para o G20, o encontro de líderes mundiais que vai acontecer no Rio em novembro?

A plataforma G20 Social Participativo permite que qualquer cidadão do mundo participe de Consultas Públicas sobre o evento, envie e avalie propostas, além de inscrever atividades temáticas a serem realizadas durante a Cúpula do G20 Social, que vai de 14 a 16 de novembro. Um documento vai reunir as propostas enviadas pela população e será entregue ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

O lançamento da Plataforma G20 Social teve a participação de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), a Coalizão Negra por Direitos e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Estiveram presentes os ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome).

Ministro Márcio Macêdo durante o evento. Foto: Maria Eduarda Galdino

Renato Simões, secretário nacional de Participação Popular da Presidência da República, afirmou que a criação do G20 Social foi um pedido do presidente Lula para trazer as discussões que afetam a população e são esquecidas pelos líderes dos países para o centro do debate. Segundo Simões, os principais temas são “o combate à fome, a sustentabilidade ambiental e a reforma da governança global”, alinhadas com os eixos definidos pela presidência brasileira no G20. 

O governo não tem uma expectativa exata, mas espera que “dezenas de milhares” de pessoas participem das discussões na plataforma. Houve uma adaptação no site – que nesta área está disponível em português, inglês e espanhol -, e qualquer cidadão estrangeiro poderá se cadastrar apresentando seu passaporte e uma foto, enquanto os brasileiros devem apresentar CPF. O G20 Social Participativo está dentro do Brasil Participativo, que já reúne discussões da população brasileira sobre políticas públicas no país. 

Para facilitar o público, a área irá reunir os Communiqués dos 13 grupos de engajamento que compõem o G20. A ideia é com isso facilitar o acesso da população a informações sobre o que foi discutido nos comunicados finais dos grupos temáticos das 20 maiores do mundo. 

Para Maria Fernanda Marcelino, representante da Marcha Mundial das Mulheres, o aumento da sociedade civil representa na prática uma participação efetiva de reivindicações que existem há séculos. “A gente fala há muito tempo, é necessário vontade política para acabar com a miséria, sub-representação, desigualdade”. O desafio para ela é essa participação ser a regra e não apenas uma exceção. “Indica um desejo e talvez uma demanda reprimida de ampliar o debate sobre as desigualdades no Brasil, na América Latina e no mundo”, explica.

Como acessar a plataforma G20 Social Participativo

  • Acesse o site https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/processes/G20/ e clique em “entrar” no canto superior direito da página.Página inicial do G20 Social Participativo. Foto: Gov.br
  • Brasileiros deverão entrar com a conta do gov.br, enquanto estrangeiros devem entrar com o login feito a partir do número do passaporte.
    Página de login. Foto: Gov.br

Com o login realizado, o participante poderá votar em enquetes, enviar propostas dentro dos eixos temáticos do grupo e propor atividades geridas pela própria sociedade para a cúpula final.

 

Uma das perguntas da enquete disponível no site do G20 Social Participativo. Foto: Gov.
Página de envio de propostas. Foto: Gov.br.
Página de envio de atividades geridas pela sociedade civil. Foto: Gov.br

As participações públicas serão recolhidas até 9 de setembro para organizar tanto a síntese da contribuição popular, além da análise de quais atividades autogestionadas inscritas na plataforma irão acontecer. O G20 Social ocorrerá na região da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, entre os dias 14 e 16 do mês. 

O primeiro dia será dedicado às atividades sugeridas pela população, para que vozes de todo o mundo sejam ouvidas. O dia 15 contará com plenárias variadas. No último dia da Cúpula será apresentado o documento final, com as principais ideias vindas da sociedade, e que será entregue para os líderes das 20 maiores economias do mundo durante a Cúpula Final do G20, nos dias 18 e 19 de novembro.

No Science20, cientistas defendem regulação do uso de IA

No Science20, cientistas defendem regulação do uso de IA

Grupo de engajamento do G20 discute como lidar com avanços e riscos da inteligência artificial 

Por Everton Victor e Julia Lima

O Science20 – grupo de engajamento do G20 para discutir a Ciência e Tecnologia- deste ano focou suas atenções na Inteligência Artificial, e especialmente no uso desenfreado da tecnologia com pouca ou nenhuma regulamentação ao redor do mundo. O Science20 divulgou no último dia 31 de julho um documento sobre o tema, assinado pelos representantes de academias de ciências dos países-membros. 

Entre as principais medidas sugeridas pelo S20 estão:  a proteção dos empregos alinhada com o desenvolvimento tecnológico; um esforço global para regulamentar a Inteligência Artificial; e a criação de uma governança internacional para dados.  O documento reúne 10 recomendações sobre a força-tarefa de IA. Todas as propostas foram definidas em consenso pelos países integrantes do G20 e pelas nações convidadas. E estão no Comunicado divulgado pelo Science20. Dos países-membros do S20, apenas Arábia Saudita não assinou o Comunicado.

Países signatários do Comunicado do S20. Foto: S20

Medidas para criar regras no ambiente digital não estão restritas apenas ao Science20. O T20, grupo de engajamento do G20 para Think Tanks, em seu Communiqué, também propôs a criação de um novo grupo do G20 focado nas discussões sobre Inteligência Artificial e dados, o Data20. Além desses, o debate sobre Inteligência Artificial está presente em outros grupos de engajamento que compõem o G20.

Apesar de os integrantes salientarem que “a IA é um motor crítico para o desenvolvimento, especialmente na saúde, educação e enfrentamento das mudanças climáticas”, eles alertam que o mau uso da tecnologia pode trazer malefícios à população e ao meio ambiente. De acordo com o relatório ambiental de 2023 emitido pelo Google, as  emissões de efeito estufa da empresa aumentaram 48% por conta do crescimento do uso da Inteligência Artificial. Outra preocupação de especialistas que acompanham o tema é que a utilização incorreta da tecnologia reforce estereótipos de gênero e raça, aprofundando o que hoje se chama de “racismo algorítmico”.

As discussões do S20, como reforça o preâmbulo do Comunicado, estão alinhadas com as metas da agenda global acordadas por representantes de 193 países em 2015 a serem alcançadas até 2030. Ao todo são 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas acordadas entre os países signatários, entre elas a erradicação da fome e da pobreza, além do desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável em todo o globo. Para o Science20, manter uma cooperação internacional no campo científico se coloca como “mecanismo-chave” no planejamento e elaboração de um futuro alinhado com a agenda global.

Virgílio Almeida, coordenador da força- tarefa de Inteligência Artificial do S20, afirmou que a discussão começou ainda na cúpula do ano passado, e que o monopólio da tecnologia de IA, junto com sua capacidade de uso militar, trouxeram o tema para o centro do debate deste ano.  Além da força-tarefa comandada por Virgílio, o Science20 neste ano também tem mais 4 grupos: Bioeconomia;  Desafios da Saúde; Justiça Social; e Processo de Transição Energética. Todos formularam suas respectivas recomendações ao encontro de líderes. 

Representantes dos países-membros do S20 durante a cúpula. Foto: Júlio Cesar Guimarães/S20

O Comunicado foi entregue às Trilhas de Sherpas e Finanças do G20. Elas serão as responsáveis por apresentar os projetos para os líderes que estarão no Rio de Janeiro para a Cúpula Final do G20, nos dias 18 e 19 de novembro.

Panorama Brasileiro

No Brasil, antes mesmo da cúpula final do G20, já estão em curso algumas ações sobre Inteligência artificial. No Congresso, está em tramitação o Projeto de Lei 2338, de 2023, que trataria de estabelecer as diretrizes do funcionamento dessa tecnologia no país. De acordo com o projeto, cabe ao Poder Executivo fiscalizar o cumprimento das regras pelas empresas que fornecem o serviço e também das pessoas físicas que o utilizam.

Ainda em julho o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou em Brasília o Programa Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). Ele propõe ações para implementar a IA em áreas como saúde e educação, com o orçamento proveniente dos ministérios, de fundos públicos, de estatais e de investimentos privados. Além disso, ele prevê uma parte do orçamento voltada apenas para contribuir nas ações de regulamentação, cerca de R$103,25 milhões. A maior parte dos mais de R$23 bilhões indicados no plano estão direcionados para o uso da IA para a inovação empresarial – R$ 13,79 bilhões.

Apresentação do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. Reprodução: Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação

Para a saúde, foram pensados sistemas para melhorar a detecção de doenças, direcionar melhor o uso do orçamento e automatizar a transcrição de consultas. Na educação, as ações estão voltadas para monitoramento de frequência dos alunos e tutoria de matemática.

O PBIA recebeu algumas críticas de  especialistas. Para eles, as ações estão pouco detalhadas, e falta detalhar como elas seriam implementadas e fiscalizadas. Raquel Lobão, professora da Faculdade de Comunicação Social da Uerj  e especialista no uso de IA, afirmou que “as informações estão no documento,  mas não estão detalhadas o suficiente para que todos adotem as ações e recomendações presentes no PBIA.”

Para ela,  um dos exemplos sobre os quais faltam informações é o uso de chatbots. Apesar de ter a função de melhorar a experiência do usuário com informações personalizadas e respostas ágeis,  diz ela, esse tipo de IA funciona sem a devida regulamentação. “Imagina um idoso que é atendido por um chatbot numa empresa de financiamento de concessão de crédito. Ele tem dificuldade no entendimento de cláusulas, que aparecem muitas vezes no contrato, e ele é atendido por um assistente virtual que passa uma série de informações para ele muitas vezes num pop-up ou numa tela de telefone. Esse idoso, por não estar atento e porque a sua educação midiática não é igual talvez à de uma pessoa mais jovem, aceita aquela proposta que está sendo vendida e não leva em consideração uma série de observações pequenas que estavam ali.” 

Renata Mielli, diretora do comitê gestor da Internet do MCTI, disse à Agenc que o projeto é um plano de trabalho e investimento, cabendo a cada um dos ministérios indicar a finalidade aos planos, adaptando-os às especificidades das diferentes áreas e realidades.

Quanto à fiscalização do plano, Renata afirmou que um comitê de governança seria criado para garantir que as ações estariam sendo aplicadas de forma adequada, mas que o processo regulatório compete exclusivamente ao Congresso Nacional.

Em encontro do Y20, jovens cobram educação universal e redução das desigualdades

Em encontro do Y20, jovens cobram educação universal e redução das desigualdades

Juventudes de todo o globo se reuniram no Rio de Janeiro para definir propostas a serem levadas aos líderes mundiais no G20 em novembro

Por Everton Victor e Julia Lima

Cerimônia de encerramento da Cúpula do Y20 2024 no Galpão da Cidadania, Centro do Rio. Foto: Julia Lima

Jovens de todo o mundo se reuniram entre os dias 10 a 17 de agosto na Cúpula do Youth20 (Y20), no Rio de Janeiro, para discutir temas como reforma do sistema financeiro global, desigualdades, enfrentamento à pobreza e à fome, além das mudanças climáticas. A cidade do Rio abrigou o evento das Juventudes do G20, do qual participaram delegações das 19 maiores economias do mundo, da União Africana e da União Europeia, além de países convidados. Jovens de escolas públicas e projetos sociais puderam acompanhar algumas das reuniões durante a semana do Y20.

Com o Brasil na presidência do G20, o ponto central para a delegação brasileira foi apresentar necessidades e diferentes contextos das juventudes ao redor do mundo. Philippe Silva, chefe da delegação brasileira no Y20, detalhou para a Agenc algumas dessas propostas. Entre elas, a garantia de uma educação de qualidade universal, garantia de direitos para jovens que têm seus direitos violados, remodelagem da taxação de riquezas, pautas ambientais e um reconhecimento do território da favela como uma experiência de coletividade que pode ser levada para outros países. “As soluções para resolver os conflitos no mundo já existem, estão dentro das comunidades, das aldeias indígenas e dos quilombos. A sociedade civil é onde as políticas acontecem”.

O grupo de juventudes já existia no G7, que reúne as sete maiores economias do mundo, e a partir de 2010 tornou-se um dos grupos de engajamento do G20 Social com sociedade civil. Esses grupos se reúnem, discutem diferentes temas no contexto mundial e geram um Communiqué, um documento com as recomendações decididas em consenso e que será apresentado na reunião de líderes do G20.

Inclusão de jovens periféricos no debate

As desigualdades entre os jovens foram um tema recorrente no encontro do Rio. Embora a participação da juventude esteja crescendo nos debates públicos, como é o caso do Y20, parte da juventude continua sem participar de discussões em seu próprio país. Adolescentes e jovens somam hoje 1,8 bilhão de pessoas na faixa etária de 10 a 24 anos – um quarto da população mundial, de acordo com Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Maria Nascimento e Adriana Araújo, alunas do primeiro ano do ensino médio em escola pública são um exemplo disso. Elas contam que a experiência de estar em um espaço de discussão e participação dos jovens na elaboração de propostas e reflexões de tornar o mundo melhor é oportunidade que nunca tiveram antes.

Maria Nascimento e Adriana Araújo (da esquerda para a direita) estudantes de ensino médio em escola pública durante Y20. Foto: Letícia Santana

“É uma experiência nova, porque a gente nunca chegou a participar desse tipo de coisa. Não chega muita oportunidade assim para a gente, que é de escola pública”, afirma Adriana. A oportunidade, ou mesmo a falta dela, é um fator decisivo na participação do jovem na própria sociedade, apontou a OIT (Organização Internacional do Trabalho) em seu relatório divulgado este mês. Em 2023, segundo a OIT, 20,4% dos jovens em todo o mundo não estudam e nem trabalham. A perspectiva da OIT é diminuir esse percentual nos próximos anos, atingindo aproximadamente 12,8% em 2024 e 2025. O levantamento ressalta que a desigualdade no acesso à educação é uma das que mais dificultam o exercício efetivo da cidadania.

Encontro dos delegados nacionais e internacionais durante o último dia do Y20 Brasil. Foto: Julia Lima

Legado da delegação brasileira no Y20 para as demais delegações 

Shinan Yuanshinan, integrante da delegação chinesa no Y20, disse à Agenc que os debates explicitam a diversidade de ideias e países, que podem juntos influenciar decisões globais. Apesar de nenhum grupo de engajamento do G20 ter o poder de implementar ações, eles podem pressionar e contribuir para as recomendações se tornarem políticas públicas em seus países e em todo o globo. Yuanshinan também destacou a diversidade cultural do Brasil e a receptividade do povo brasileiro, no acolhimento dele e dos demais jovens.

Curtleigh Alaat, chefe da delegação sul africana no Y20 Brasil. Foto: Everton Victor

Curtleigh Alaat, representante da delegação sul-africana, afirmou que a principal experiência que ele levará da reunião brasileira para a de seu país, ano que vem, é a habilidade dos brasileiros de sempre procurar fazer o melhor para si mesmos e para quem é recebido no país. Para ele, isso cria a vontade de visitar o país como turista, e não só como delegação. Alaat disse que no evento do G20 no ano que vem, a ser realizado na África do Sul, onde vive, gostaria de replicar tanto a receptividade que a delegação brasileira teve presidindo o grupo.

O Y20 ainda não divulgou seu Communiqué. O que se espera é que as propostas dos jovens sejam entregues à Trilha de Sherpas (lideranças do G20) e de Finanças para pressionar a incorporação delas à Declaração dos Líderes dos países integrantes do G20. 

As propostas, além de incorporar outras temáticas, estarão alinhadas aos três eixos propostos pela presidência brasileira no G20. São eles o combate à fome, pobreza e desigualdade; o desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável e também a reforma da governança internacional. 

Para Ronald Sorriso, secretário nacional de Juventude, o legado do Brasil na presidência do G20 é a participação social direta com jovens de escolas públicas, movimentos sociais e outros que estiveram presentes durante a Cúpula do Y20. O grupo também realizou 30 diálogos regionais em todo o Brasil para trazer as demandas e reunir os anseios das múltiplas juventudes brasileiras. “Quando o jovem coloca a sua opinião, ele não está pensando na riqueza que vai ser aferida para ele e para seu país amanhã, ele quer saber se essa riqueza será sustentável ao longo do tempo”.

De acordo com Sorriso, a marca que o Brasil quer deixar no G20 vai muito além deste ano. “Nós queremos que no ano que vem, na África do Sul, e nos anos seguintes, nós tenhamos a permanência do G20 Social (criado pelo Brasil). Esse é o grande legado que o país quis passar”, afirma.

Projetos apostam em games para inovar em sala de aula

Projetos apostam em games para inovar em sala de aula

Na RiW, especialistas discutem formas de usar tecnologia como aliada do ensino

Por: Davi Guedes

Palestra no RiW sobre ensino e tecnologia, com o educador Jones Brandão. Reprodução: Davi Guedes

 

Como fazer da tecnologia uma aliada da educação? Quem foi à Rio Innovation Week (RiW) de 2024, realizada na semana passada no Centro da cidade, pôde conhecer debates e projetos sobre o ensino e os novos paradigmas tecnológicos. A principal questão foi sobre como conciliar esses dois universos que, por muitas vezes, são tratados como antagônicos.

Um debate central foi como fazer do ambiente digital um local seguro e produtivo ao estudante, lidando com as novas tecnologias. O professor de matemática Jones Brandão, fundador da Catalise Educação, empresa focada no desenvolvimento de gestão e estratégias educacionais, afirmou que o uso de celulares e dispositivos deve passar a ser encarado com naturalidade e maturidade e não com represália e afastamento. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma das competências necessárias para os alunos de nível fundamental é justamente a fluência em meios digitais. Então, na avaliação dele, a proibição do uso do celular é de pouca valia.

Brandão acredita que cabe aos alunos aproveitar dos benefícios que as novas tecnologias trazem. Ele defende que processos como o de letramento digital devem ser estimulados em sala de aula, com atividades dinâmicas que mirem um domínio do ambiente digital, ao mesmo tempo que dialogam com as disciplinas ministradas.

O professor dá um exemplo dentro do seu campo: “Em uma aula de matemática, por exemplo, é possível passar uma habilidade em que o aluno precise fazer uma planilha ou gráficos, e realize cálculos em programas como o Excel”. Ele defende também que, para além do domínio das habilidades digitais já requeridas pela BNCC, o uso adequado dos meios digitais pode aprimorar o desenvolvimento de outras competências previstas, como raciocínio e comunicação.

Brandão afirma, contudo, que é necessário impor limites ao uso diário de telinhas, e que famílias e docentes precisam ser ativos nesse processo. 

A Sociedade Brasileira de Pediatria conta com um manual que estipula os seguintes limites no uso diário, a depender da idade:

Menores de 2 anos: evitar a exposição às telas, mesmo que passivamente;

Entre 2 e 5 anos: no máximo uma hora por dia, sempre com supervisão de adultos;

Entre 6 e 10 anos: no máximo de 1 a 2 horas por dia, sempre com supervisão de responsáveis;

Entre 11 e 18 anos: limitar o tempo de telas (o que inclui os videogames) a 2-3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando.

Para Brandão, a tecnologia jamais entrará como substituto da atividade dos professores, mas sim como mediadora e ampliadora dos horizontes educacionais. “Cabe à pedagogia adaptar-se ao avanço técnico. Na medida em que eu nego a tecnologia como um agente, eu estou negando ao meu aluno uma visão de mundo ampla”, complementa.

Em parceria com startups e associações, a RiW também abriu espaço para a divulgação de projetos que levam tecnologias contemporâneas para a sala de aula, de maneira pedagógica. Um deles é o projeto Engenhoka, uma realização do Instituto Burburinho Cultural, núcleo de produção cultural e gestão criativa, que busca explorar as potencialidades do desenvolvimento de jogos eletrônicos com crianças a partir dos 10 anos. O projeto é uma parceria do Google e de empresas de tecnologia com a rede pública de ensino de seis cidades, incluindo o Rio de Janeiro.

O Engenhoka aborda dois principais eixos com os estudantes: instruir o aluno a um letramento digital desde cedo, por meio das habilidades requeridas na produção dos jogos; usar aprendizados da criação de videogames na formação de saberes importantes na juventude, como história da arte, design e narrativa.

O projeto NAVE (Núcleo Avançado em Educação) também marcou presença no festival. O projeto atua como um laboratório integrado para alunos do ensino médio, em parceria com escolas, em parceria com a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. E usa a criação de games para ampliar o repertório cultural, tecnológico e social dos estudantes. 

Participaram da mesa o professor Igor Moreno, a gestora de comunicação do NAVE, Aline Almeida, e o presidente da ACJOGOS-RJ (Associação dos Criadores de Jogos do Rio de Janeiro), Marcio Filho. Eles afirmaram que o mercado de games é o segundo mais rentável da indústria de entretenimento (receita estimada em 396 bilhões de dólares em 2023, segundo o Statista). E também estimula habilidades sociais e digitais desenvolvidas durante o processo de criação.