Oceanos, o pulmão azul do mundo, precisam de ajuda ​

Oceanos, o pulmão azul do mundo, precisam de ajuda

Voz dos Oceanos velejou pelo litoral brasileiro em parceria com o G20 para colher relatos da sociedade civil sobre a necessidade da preservação dos oceanos; grupo organiza Manifesto Popular a ser apresentado na COP 30

Por Everton Victor, Julia Lima e Leticia Santana

Vilfredo Schurmann no veleiro Vitória Régia. Foto: Leticia Santana
Vilfredo Schurmann no veleiro Vitória Régia. Foto: Leticia Santana

A Amazônia é chamada de pulmão do mundo, mas você sabia que ela só produz 12% do oxigênio que respiramos? Os oceanos, muitas vezes esquecidos, são responsáveis por 34% dessa produção e estão cada vez mais poluídos. A Voz dos Oceanos, organização liderada pelo economista e velejador Vilfredo Schurmann, se uniu ao G20 para levar aos governantes as preocupações da população sobre o que pode ser feito para salvar e preservar esses espaços.

O convite surgiu da própria organização do G20. Desde então Thamys Trindade (36), André Calonnis Souza (27), Tatiana Aguiar (27), Jessyca Lopes (32) e o capitão Vilfredo Schurmann (75) estão há mais de dois meses percorrendo parte do litoral brasileiro para colher manifestações da sociedade civil em defesa dos mares. Segundo Vilfredo, o documento tem mais de 50 metros e será digitalizado para que possa ser levado à COP 30, em Belém do Pará, e para a próxima reunião do G20, na África do Sul, ambos no ano que vem. O texto serviria para apoiar e indicar ações dos líderes para a causa.

Manifesto Popular com mais de 50 metros com manifestações da sociedade civil em defesa dos mares. Foto: Leticia Santana

Nessa viagem, a tripulação utiliza o veleiro Vitória Régia, construído há 30 anos em Belém. Ele é equipado com gerador de energia solar, dessalinizador de água e tratamento de esgoto. O Voz dos Oceanos conta ainda com outra embarcação (Kat), que está na Nova Zelândia com Wilhelm Schurmann. Os dois seguirão viajando e se encontrarão em Belém, em novembro de 2025, para participarem da COP 30.

À Agenc, o capitão da expedição adiantou em primeira mão que pretende instalar 5 containers na capital do Pará. Esses espaços serviriam para ajudar na compactação do lixo produzido pela cidade. Já estão ocorrendo conversas com o governo federal e estadual para possibilitar a iniciativa.

Participação popular é grande, mas falta incentivo

Segundo Vilfredo, a consciência ecológica e a vontade de participar na preservação dos oceanos por parte da população é enorme. Tendo passado por 13 cidades, ele e Tatiana afirmam que viram projetos locais excelentes, que poderiam ser ainda mais significativos caso houvesse investimento público e privado. 

Um exemplo de como o financiamento pode ajudar os mares ocorreu em São Paulo. De acordo com o capitão, ele se encontrou com uma moradora da cidade, que trabalha catando lixo há 18 anos – 12 pessoas da família trabalham com ela – e perguntou o que aconteceria caso ela possuísse uma compactadora de lixo. A máquina custa cerca de R$30 mil reais, mas segundo a catadora ela seria de grande ajuda e traria uma economia considerável em diesel e pneus. Vilfredo entrou em contato com a vereadora Cris Monteiro (NOVO-SP), que conseguiu o investimento para o grupo. Com isso, mais lixo é recolhido e compactado, evitando que vá para os mares.

O tema tem estado cada vez mais presente no debate público, mas de acordo com ele ainda não é o suficiente. “A iniciativa pública tem que ajudar nisso, hoje o plástico reciclável paga mais imposto que o plástico in natura, como que você vai concorrer vendendo o plástico reciclável se ele paga mais impostos”. No Brasil, paga-se o mesmo valor de imposto no material reciclado e o in natura, e por isso, em 2023, surgiu o debate a respeito de incluir o plástico de uso único no imposto seletivo, criado na Reforma Tributária, que visa desestimular o consumo de bens e serviços prejudiciais à saúde ou meio ambiente. 

Veleiro Vitória Régia. Foto: Leticia Santana.

A participação civil é parte fundamental do projeto, que busca ampliar as vozes da população com o intuito de levar as propostas daqueles que são mais influenciados pelas decisões tomadas em eventos como o G20. “Essa é nossa bandeira, a Voz dos Oceanos é isso, você é a voz, não é só a família Schurmann. Nós somos só o suporte, estamos há 40 anos no mar e estamos presenciando essas mudanças”.

Vilfredo sonha que iniciativas como essa se repitam no próximo G20, que será presidido pela África do Sul. Para ele, o projeto não deve se limitar só a esta edição do evento. Com essa parceria, o Brasil amplifica essas vozes e leva ao mundo uma mensagem sobre a preservação dos oceanos – bandeira a ser replicada no G20 do ano que vem, na África do Sul.

Taxação de super-ricos, fim das guerras e metas ambientais urgentes: conheça a Declaração dos Líderes do G20

Taxação de super-ricos, fim das guerras e metas ambientais urgentes: conheça a Declaração dos Líderes do G20

Texto final foi aprovado pelos líderes das maiores economias do mundo ainda durante o primeiro dia da Cúpula; documento reforça acordos já previstos e se compromete com prazos para implementar medidas

Por Everton Victor e Julia Lima

Rio de Janeiro(RJ), 18/11/2024 – Fotografia oficial Aliança global contra a fome e a pobreza G20 Brasil. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com o compromisso de taxar os super-ricos, unir esforços pelo fim das guerras, combater as desigualdades e enfrentar as mudanças climáticas, a Declaração dos Líderes do G20 expressa preocupações com um mundo em transformação. O texto final foi divulgado na segunda-feira (18). 

Todas as decisões do texto foram definidas em consenso entre os países, já que essa é uma determinação da Cúpula.  A promoção da igualdade de gênero, alvo de críticas do presidente argentino, Javier Milei, também foi aprovada.

Os dois últimos encontros, na Indonésia e na Índia, não tiveram um documento oficial por não haver concordância entre os países. 

A seguir, alguns tópicos da declaração do G20:

  • Fim de conflitos armados

Os membros do grupo afirmaram que todos devem evitar ameaças e uso de forças para tomar território e soberania de outro Estado. O documento cita nominalmente a guerra na Ucrânia e seus efeitos negativos para todas as nações envolvidas. Também ressalta que todos os esforços para evitar o sofrimento humano são bem-vindos.

As nações integrantes do G20 também declararam a confiança na convivência pacífica entre o Estado da Palestina e o Estado de Israel, unanimemente, e se comprometeram novamente em avançar no esforço pelo fim das armas nucleares.

  • Taxação de super-ricos

Alvo de impasse com Javier Milei, a taxação dos super-ricos foi aceita pelos membros. Os países cooperarão compartilhando experiências positivas em seus países, promovendo debates sobre o tema e criando políticas contra a evasão de divisas. 

Os líderes mundiais concordaram em continuar debatendo a criação de uma Convenção-Quadro na ONU para cooperação tributária entre os países. Além disso, a tributação progressiva – quem tem mais dinheiro paga mais tributos -, recomendada pela Declaração Ministerial do G20 do Rio de Janeiro, foi endossada pelos líderes.

  • Mudanças climáticas

Para o enfrentamento às mudanças climáticas, as nações propuseram ações  urgentes e reforçaram acordos já existentes. A respeito do Acordo de Paris, o documento reforça o compromisso de limitar o aumento da temperatura média global para menos de 2°C. E, apesar de não garantirem, as nações sinalizam um esforço para uma outra meta, ainda mais ousada, de limitar o aumento a 1,5°C – o que, segundo o documento, teria efeitos “significativamente melhores”. 

O Consenso também abrangeu as emissões líquidas dos gases do efeito estufa. A expectativa do grupo é que até 2050 esse poluente não seja mais usado pelos países integrantes do G20. Também foi apresentada uma meta para o fim da poluição plástica até o final deste ano.

Para o financiamento, o grupo se comprometeu em promover e incentivar investimentos públicos e privados para Soluções Baseadas em Natureza. O presidente Lula conclamou os países a fazerem mais ações concretas. “Todos podem fazer mais”, afirmou o presidente.

O documento também endossou propostas das COPs (sigla de quê) 29 e 30. O presidente Lula afirmou que esta será a última chance para ações efetivas capazes de diminuir os efeitos das mudanças climáticas. “Conto com todos para fazer a COP de Belém ser a COP da Virada”, declarou o presidente.

  • Combate à fome e à pobreza e inclusão social

O principal projeto nesta área é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada na segunda (18). Vão participar 82 países, 2 blocos continentais, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais, que se comprometeram a fazer ações locais e contribuir para ações em outros lugares do mundo com financiamento ou experiências. Destacou-se que os países que estão em situação mais grave devem ser os que receberão maior ajuda, garantindo que “ninguém seja deixado para trás”.

As desigualdades foram reconhecidas pelos países-membros do G20 como um problema “intergeracional”,  que vai muito além de uma pessoa, mas afeta todo o seu conjunto familiar e suas próximas gerações. 

  • Saúde universal

A declaração firma um compromisso pelo avanço da abordagem “One Health”, que compreende as conexões entre as saúdes do meio ambiente e da humanidade e reconhece o potencial medicinal de práticas dos povos tradicionais. A erradicação de epidemias também está presente como prioridade dos países.

Ainda sobre Saúde, o grupo reiterou a legitimidade e a relevância da Organização Mundial da Saúde de coordenar uma “arquitetura global de Saúde” para a promoção de uma cobertura universal. O texto também reconhece a necessidade de se discutir a resistência antimicrobiana, que tem potencial de evoluir para novas pandemias.

  • Igualdade de gênero

Este ponto foi alvo de desacordo com o presidente argentino, Javier Milei, mas foi aprovado por unanimidade entre os líderes.

Além de destacar a criação do Grupo de Trabalho de Empoderamento Feminino, os líderes se comprometeram a indicar e apoiar mais mulheres em posições de poder, inclusive no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU.

  • Reforma da governança global

Os líderes destacaram que o modelo atual de governança não representa o mundo do século XXI, e que é necessária uma reforma para torná-la mais significativa, representativa, transparente e efetiva.

Foi proposta a reforma do Conselho de Segurança e do secretariado da ONU, a fim de incluir mais mulheres e países da Ásia, África, América Latina e Caribe. Também foi sugerida a criação da 25º cadeira no Fundo Monetário Internacional para que haja representação da África Sub-Saariana

  • Tecnologia

A necessidade de transparência e responsabilização das grandes plataformas também foi tema da Declaração. Segundo os líderes, haverá um trabalho conjunto com essas empresas para que sejam elaboradas políticas e estruturas legais capazes de suprir esse vácuo de legislação. 

A Inteligência Artificial foi reconhecida como um instrumento que pode ajudar a população, mas que tem o potencial de ser um risco para os empregos. A proposta dos países é uma regulamentação que possibilite que os usuários usufruam de todo o potencial da IA, mas que sejam protegidos dos riscos que ela pode oferecer.

“Omissão do Conselho de Segurança ameaça paz internacional”, afirma Lula no G20

“Omissão do Conselho de Segurança ameaça paz internacional”, afirma Lula no G20

Reforma da governança global está entre os três pilares estabelecidos pela presidência brasileira do G20; discussão dos líderes mundiais sobre o tema aconteceu na tarde do primeiro dia da Cúpula e pode ser uma das sugestões do documento final

Por Everton Victor e Julia Lima

Mesa de discussões do G20, no Rio de Janeiro. Foto: Isabela Castilho/G20

 

A urgência de uma reforma da governança global foi um dos eixos do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, (18) primeiro dia da Cúpula do G20. Na prática, isso significa dar mais espaço aos países em desenvolvimento nos órgãos de decisão da política internacional. O presidente Lula voltou a cobrar, por exemplo, mudanças no Conselho de Segurança da ONU: “A globalização neoliberal fracassou. A omissão do Conselho de Segurança tem sido, ela própria, uma ameaça à paz e à segurança internacional”, afirmou Lula.

Além de mudanças na ONU, a reforma da governança global teria o objetivo de mudar a composição e o funcionamento de outras organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Outros grupos de trabalho do G20 já vinham discutindo esse tema.

O entendimento de muitos membros do G20, o Brasil entre eles, é de que há no Conselho de Segurança uma concentração de poder que não reflete mais a geopolítica atual e não é eficiente no combate e encerramento de guerras. Uma das propostas é o aumento no número de membros permanentes e rotativos, que hoje são 5 e 10, respectivamente. Essa reformulação deveria assegurar a participação de países do Sul Global no grupo.

O Sul Global é composto por países em desenvolvimento – e o conceito, mais que geográfico, é político, relacionando-se ao contexto socioeconômico desses países. Toda a América Latina, todo o continente africano e grande parte dos países asiáticos compõem esse bloco.

Sob liderança do Brasil, Aliança contra a Fome reúne esforços de 82 países

Sob liderança do Brasil, Aliança contra a Fome reúne esforços de 82 países

Argentina havia se recusado a aderir ao pacto, mas voltou atrás; países participantes precisam implementar medidas concretas para reduzir a insegurança alimentar e a pobreza

Por Everton Victor e Julia Lima

Mesa de abertura do G20, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Com a adesão de 82 países, a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza foi lançada hoje (18) pelo presidente Lula, durante o primeiro dia da Cúpula dos Líderes do G20. Além das nações, 2 blocos continentais, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais também assumiram um compromisso com a Aliança. Inicialmente, a Argentina não aderiu à proposta, mas voltou atrás depois do lançamento e assinou.

Para confirmar a adesão, os países tiveram que anunciar medidas concretas para combater fome e pobreza internamente e de forma global. A Aliança proposta e liderada pelo Brasil é uma forma de acelerar o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, segundo o governo. Entre os objetivos estão fome zero e agricultura sustentável, redução das desigualdades e erradicação da pobreza.

 

  • Impasses não impedem consenso

A recusa inicial da Argentina veio após sinalizações de que Milei impedirá consensos sobre igualdade de gênero e taxação de super-ricos na declaração final do grupo. Reportagem da Folha de S.Paulo indica que o Brasil manterá os temas no documento, apesar das restrições argentinas.

A falta de consenso da Argentina com os demais integrantes do bloco não impede a implementação de medidas nos países que já se comprometeram com a Aliança. Isso porque um país pode recusar um documento – o que, a depender da quantidade de recusas, enfraquece a força desse documento. Outra opção é o país não recusar o documento, mas não aceitar o consenso, o que obriga os demais países a fazerem modificações até que se chegue a um consenso.

Tampouco é inédito um país se recusar a assinar algum comunicado conjunto no G20, até que, com modificações, o conjunto de países chegue ao consenso ou então que o documento seja liberado mesmo com algumas oposições públicas.  Durante a Cúpula do G20 em 2023, na Índia, alguns países membros se opuseram a termos utilizados referentes à guerra que acontece na Ucrânia. 

 

  • Conselho dos Campeões

Além da Aliança Global, foi instituído o Conselho dos Campeões, formato de governança adotado pelo programa e que está vinculado ao G20 – mas não restrito a ele. Os escolhidos são os gestores da Aliança Global contra a Fome e Pobreza em diferentes lugares do mundo e atuam como conselheiros. Até que ele seja instituído completamente, haverá o Mecanismo de Apoio, em que o Brasil oferecerá suporte para a administração.

Os 18 primeiros campeões foram anunciados hoje. Para que sejam escolhidos, eles devem ser representantes reconhecidos em seus países ou organizações e ter o poder de implementar ações relacionadas ao tema da Aliança. O campeão escolhido pelo Brasil foi o ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. A escolha dos 18 conselheiros está relacionada à  sua participação na construção da Aliança em seus territórios e em suas atuações no G20. 

A primeira reunião do conselho acontecerá no primeiro trimestre de 2025, quando o órgão então será instituído oficialmente. Esses conselheiros têm a responsabilidade de acompanhar o andamento e o progresso efetivo das ações planejadas pelos países. Até a sua constituição completa, o conselho poderá ter até 50 membros, sendo 25 países e 25 organizações, e a ideia é que países que não compõem o G20, mas que se uniram à Aliança, também participem do Conselho. A África do Sul, próximo país a sediar o G20, também compõe o conselho.

O próximo passo da Aliança será implementar as medidas propostas. Cada país tem liberdade para aprimorar projetos já existentes, como é o caso de Serra Leoa, na África Ocidental, que pretende expandir a alimentação de 54% para 100% dos estudantes até 2030. Ou pode criar novos programas para diminuir a pobreza e a fome em seus territórios. Na prática, com a Aliança existirá uma coordenação global de 81 países integrada ao Conselho de Campeões. Uma das sedes do projeto será em Roma, onde já fica o escritório da FAO (órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), e a outra será no Brasil.

 

Declaração do G20 Social  cobra taxação dos super-ricos e proteção dos mais pobres

Declaração do G20 Social cobra taxação dos super-ricos e proteção dos mais pobres

Documento resultou do trabalho de 13 grupos de engajamento e da colaboração de movimentos sociais, sindicatos e organizações da sociedade civil; entre os temas principais estão combate à fome e à pobreza, sustentabilidade e transição energética justa

Por Leticia Santana e Maria Eduarda Galdino

Márcio Macedo durante entrevista coletiva. Foto: Leticia Santana

A declaração final do G20 Social,  entregue neste sábado ao presidente Lula, defendeu a taxação dos super-ricos e cobrou dos governos compromisso com o enfrentamento às mudanças climáticas – além de ações concretas para proteger as populações mais vulneráveis dos eventos extremos. O documento reúne as propostas de entidades da sociedade civil e será levado à cúpula de líderes mundiais, que acontece nos dias 18 e 19 de novembro.

“Nada disso seria possível sem a contribuição de todos vocês que estão aqui hoje. A presidência brasileira não teria avançado nas prioridades que escolheu se não fosse a participação decisiva das organizações e dos movimentos do G20 social”, afirmou Lula ao receber o documento. 

As propostas resultam das discussões realizadas nos grupos de trabalho durante todo o ano. Os temas incluíram combate à fome, pobreza e desigualdade, sustentabilidade, mudanças climáticas, transição justa e a reforma da governança global.  O G20 Social aconteceu nos dias 14, 15 e 16 de novembro, na praça Mauá, centro do Rio de Janeiro. Hoje, no encerramento do evento, o ministro Márcio Macedo, que coordenou o G20 Social, fez a entrega do documento ao presidente Lula.

A declaração foi escrita por movimentos sociais, sindicais e organizações da sociedade civil, com o intuito de promover a participação da população de forma efetiva. A ideia é que os grupos realmente afetados pelas decisões dos líderes possam ter parte no consenso. Uma das pautas mais debatidas foi a construção de uma agenda coletiva e a adesão de todos os países à iniciativa construída pela presidência brasileira: a Aliança Global contra Fome e a Pobreza.

Ana Tojal, participante do G20 social e membro da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social, acompanhou os debates nos grupos e a produção do  documento. Moradora de Maceió, lembrou o que tem acontecido na capital alagoana e cobrou providências. “Cinco bairros foram afundados, por causa do caso da Braskem, hoje conhecido como a maior tragédia urbana ambiental do país. As pessoas que lá viviam tiveram que fazer deslocamentos, e não é só uma perda material, mas também é uma perda emocional, das suas relações comunitárias e dos seus afetos.” 

Ana Tojal, assistente social, integrante do Fenasps. (foto: Maria Eduarda Galdino)

Outro destaque foi a reforma das governanças globais, para que as políticas públicas possam se conectar melhor com a realidade contemporânea e permitir a inclusão do Sul Global nas tomadas de decisão. 

No G20 Social, os movimentos realizaram as chamadas atividades autogestionadas, com o intuito de fomentar debates e propostas para serem apresentados ao governo federal. Regina Jeronimo, comunicadora do MTD (Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Por Direitos), esteve na atividade com o seu movimento para poder pensar alternativas para combater as crises climáticas com uma liderança de mulheres. 

Regina Jeronimo, comunicadora do MTD. (foto: Letícia Santana)

Participante do MTD do Rio Grande do Sul, Regina apresentou a proposta dos ‘pontos populares de trabalho’, coletivos que trabalham em prol da construção e limpeza de casas, com o funcionamento de cozinhas solidárias para as famílias que foram afetadas pelas enchentes. Esse projeto do MTD foi aprovado por lei no Rio Grande do Sul. “O nosso objetivo aqui é abrir os olhos do governo para essa alternativa tão importante, uma alternativa popular. E também buscar um respaldo para essas nossas atividades, fazer a defesa desse nosso trabalho como importante”, disse ela.

Sem clima para notícias falsas

Sem clima para notícias falsas

Propagação de desinformação sobre o clima no Brasil foi tema no último dia do CRIA G20; especialistas discutiram o negacionismo climático, os riscos de  disseminar notícias falsas sobre eventos extremos e por que isso atrapalha o socorro às vítimas 

Por Everton Victor e Julia Lima

Apresentação do Instituto Democracia em Xeque durante oficina do CRIA G20. Foto: Maria Eduarda Galdino

Você já ouviu dizer que a Madonna trouxe chuva para o Rio de Janeiro? Ou que as antenas HAARP são responsáveis pelas enchentes no Rio Grande do Sul no início deste ano? As duas são notícias falsas sobre o clima, e, assim como elas, muitos outros tipos de desinformação a respeito do assunto circulam diariamente nas redes sociais. Para discutir a gravidade dessa divulgação, o CRIA G20 realizou neste sábado (16) a oficina “Mapeando a desinformação sobre clima no Brasil”, com participação de pesquisadores da UniRio, da UFRJ e Conscious Advertising Network (CAN), organização britânica que estuda o tema.

Para Giulia Tucci, doutora em ciência da informação pela UFRJ, quem propaga desinformação sobre o clima costuma ter dois principais objetivos: negar os efeitos das mudanças climáticas e descredibilizar instituições e atores ambientais que alertam para os riscos do negacionismo. 

Segundo o Instituto Democracia em Xeque, presente no evento, o maior alvo de desinformação climática é a Amazônia, especialmente no que diz respeito ao trabalho das ONGs que atuam na região. A CPI das ONGs, instalada no Senado Federal em junho de 2023, foi apontada como um dos instrumentos utilizados para a propagação de notícias falsas sobre a região. E elas não vêm somente em formato de matérias jornalísticas; podem ser teorias da conspiração, manipulação de dados de pesquisas científicas, vídeos e áudios.

A propagação de desinformação durante as enchentes do Rio Grande do Sul também foi pauta do encontro. De acordo com o Democracia em Xeque, esse fenômeno interferiu e dificultou as ações de busca, salvamento, doação e direcionamento da população a abrigos; o episódio se repetiu na cidade de Valência, na Espanha, que está sendo atingida por fortes chuvas.

“Mad men fuelling the madness” (Homens loucos alimentando a loucura): frase de António Guterres, secretário-geral da ONU, se tornou um apelo contra a desinformação – Foto: Letícia Santana

Para Jake Dubbins, especialista britânico no tema do clima, o processo de desinformação ocorre de forma coordenada – e não é, como se costuma pensar, algo aleatório restrito a uma ou outra pessoa. Assim, aquele “Tio do Zap” pode até ser uma pessoa real e que você conhece – mas ele consome e compartilha informação falsa porque a “notícia” é manipulada para prender sua atenção.

Essas informações falsas ou distorcidas, além de gerar desinformação, são monetizadas e estão presentes em discursos políticos. A dinâmica das redes, com a busca de cliques e o uso de “cortes rápidos” para exibir apenas trechos dos discursos, muitas vezes descontextualiza o que é fato. Tribunais Eleitorais, veículos de comunicação e plataformas do mundo todo discutem hoje como regulamentar as redes e impedir que discursos como estes impactem a democracia.

Dubbins alertou especialmente para o risco da desinformação em regiões que não têm veículos de checagem nem de jornalismo local. E afirmou que os desertos de notícias são um elemento relevante no processo de desinformação, pois a população não tem como conferir os conteúdos que circulam nas redes. Esta realidade não está distante do Brasil: segundo levantamento do Atlas da Notícia, 26,7 milhões de pessoas vivem em desertos de notícias no país. Os dados, referentes ao ano de 2023, indicam que há 2.712 cidades brasileiras nessa situação. A desinformação não está restrita a estes territórios, quase 90% dos brasileiros admitem ter acreditado em informações falsas, de acordo com o levantamento do Instituto Locomotiva para a Agência Brasil.

“Jesus de camarão”, imagem gerada por inteligência artificial que se tornou exemplo de informação manipulada e difundida nas redes – Foto: Letícia Santana

A oficina realizada no último dia da Cúpula G20 Social faz parte dos debates do Fórum sobre como regulamentar as redes e como enfrentar a desinformação. O tema esteve presente em diferentes reuniões de diferentes dos Grupos de Trabalho do G20. A expectativa é que a desinformação e seus danos à democracia marquem também os debates das principais economias do mundo durante a Cúpula do G20 nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza será lançada pelo presidente Lula na Cúpula do G20

Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será lançada pelo presidente Lula na Cúpula do G20

Da distribuição de renda à melhora na merenda escolar, conheça as propostas dos países que aderiram publicamente ao pacto mundial contra a fome; a África do Sul, sede do próximo G20, se comprometeu manter o tema na cúpula do ano que vem

Por Everton Victor e Julia Lima

Ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, durante a entrevista coletiva sobre as ações da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Foto: Maria Eduarda Galdino

Reduzir a mortalidade materna e infantil, aumentar a distribuição de renda e melhorar a alimentação escolar. Esses são alguns dos compromissos da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, proposta lançada pelo Brasil no G20 e que já conquistou a adesão pública de  41 países. O anúncio final dos países e organizações que integram a Aliança será feito pelo presidente Lula, na próxima segunda (18), durante a Cúpula do G20. 

No evento de divulgação, nesta sexta (15), participaram o ministro de Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e a representante permanente da África do Sul na Agência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Nosipho Jezile.                                                                   

Até o momento, países como Alemanha, Estados Unidos e Bangladesh já aderiram à iniciativa proposta pela presidência brasileira para o enfrentamento à fome. A iniciativa une países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que para o ministro Wellington Dias é uma demonstração da urgência do tema não só no Brasil, mas no mundo. “Cresceu  a compreensão de que o problema da fome e da pobreza também é uma preocupação de quem já alcançou o bem-estar social”, afirmou o ministro à Agenc.

Só no Brasil, 8,4 milhões (3,9%) de pessoas convivem diariamente com a insegurança alimentar severa, segundo a FAO; ou seja, não existe qualidade e nem uma quantidade suficiente na alimentação desta pessoa. Hoje o Brasil integra o Mapa da Fome, lista em que estão nações que têm 2,5% ou mais de sua população em situação de  subalimentação. O ministro afirmou que o Brasil sairá do mapa da fome até 2026 e que o mundo terá com a Aliança Global uma coordenação efetiva na diminuição da fome. “Não se trata de levar apenas comida, nós estamos falando de um plano de desenvolvimento nos lugares que historicamente foram afetados pela fome e pobreza”.

 

Aliança contra fome não só do G20, mas de todo o planeta

A ideia é a Aliança não ficar restrita apenas ao G20, pelo fato de a liderança ser alternada a cada ano. A continuidade da Aliança Global Contra a Fome e Pobreza será acompanhada por uma governança própria, vinculada ao G20, mas não dependente dele. Todas as ações do G20 precisam ter consenso entre seus integrantes. No caso da Aliança, apesar de um país endossar e concordar com ela, ele não precisa necessariamente aderir. 

Cada país participante tem independência para implementar ações específicas ao seu contexto interno. Ou seja, um país pode investir em uma nova transferência de renda direta ou mesmo fortalecer as políticas de combate à fome existentes. A Aliança servirá para captar recursos e investimento – tanto de nações, quanto de organizações – para destinar aos países que precisam de socorro financeiro. A iniciativa não prevê mecanismos de vigilância e fiscalização dos investimentos destinados aos países, isso será de responsabilidade do detentor do recurso.

O Brasil assumiu o compromisso da criação de uma aliança mundial contra a fome e a pobreza ainda durante a Cúpula do G20 na Índia, em 2023. Hoje, após mais de 41 países terem aderido à proposta, o enfrentamento à fome continuará presente na próxima edição do G20. À Agenc, Nosipho Jezile, representante Permanente da África do Sul na Agência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) afirmou que o seu país “não deixará a bola cair”, em referência à manutenção da Aliança na próxima Cúpula.

 

Conheça algumas propostas

Os países que integram a aliança já apresentaram medidas de combate à fome que, através da ajuda financeira, poderão ser implementadas. Serra Leoa, país da África Ocidental, pretende expandir a alimentação escolar de 54% para 100% dos estudantes até 2030. A Indonésia, no sudeste asiático, comprometeu-se a atingir 78 milhões de estudantes com refeições nas escolas.

Com relação à promoção do bem-estar social, a Palestina assumiu o compromisso de oferecer tratamentos de emergência para 155 mil grávidas e lactantes, além de serviços médicos e sociais para aproximadamente 10 mil crianças que perderam seus responsáveis. Já a Tanzânia, na África Oriental, quer expandir os serviços para o desenvolvimento infantil para cobertura nacional até 2030.

A vida depois dos desastres climáticos

A vida depois dos desastres climáticos

Na Cúpula do G20 Social, ativistas discutiram impactos dos eventos climáticos extremos no Brasil; Movimento dos Atingidos por Barragens alertou para dificuldades de acesso a políticas públicas após tragédias como a de Mariana, em Minas Gerais

Por Everton Victor e Julia Lima

MAB discute consequências das mudanças climáticas no G20 Social. Foto: Letícia Santana

Na Cúpula do G20 Social, ativistas discutiram impactos dos eventos climáticos extremos no Brasil; Movimento dos Atingidos por Barragens alertou para dificuldades de acesso a políticas públicas após tragédias como a de Mariana, em Minas Gerais

Pior seca registrada dos rios da Bacia Amazônica, enchentes no Rio Grande do Sul, deslizamento em São Sebastião, tempestades de areia no interior de São Paulo. Todos esses fenômenos – cada vez mais intensos e recorrentes – estão relacionados a uma mesma crise: a climática. Este foi um dos temas discutidos durante a Cúpula do G20 Social, iniciada nesta quinta-feira (14) no Rio. O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) fez um alerta sobre as vítimas desses desastres. Segundo o MAB, não existe responsabilização dos culpados nem facilidade no acesso a políticas públicas emergenciais.

Sara Regina Cordeiro (46), residente há mais de 30 anos do município de São Sebastião, litoral de São Paulo, foi uma das vítimas dos deslizamentos e enchentes na cidade em fevereiro de 2023. Segundo ela, eventos como esses não são raros na região, a diferença é o aumento da intensidade, com a repetição dessas catástrofes.  “Em 2009, 2016, 2019, houve deslizamentos, enchentes e mortes”, afirma. A diferença desses desastres para o de 2023 é o tamanho da destruição: no ano passado foram 65 mortos, sendo 64 apenas no município de São Sebastião.

Quase dois anos depois, a tragédia ainda deixa marcas na cidade. Apesar da construção de mais de 500 moradias pelo governo de São Paulo para os atingidos pelas enchentes, Sara diz que as ações foram insuficientes e que os efeitos perduram até hoje. Segundo ela, os vizinhos que se deslocaram para os apartamentos populares oferecidos pelo governo ainda continuam sofrendo com enchentes em seus apartamentos.

Sara Regina Cordeiro, uma das atingidas pela tragédia em São Sebastião (SP) em 2023. Foto: Letícia Santana

Os efeitos de eventos como esses não estão restritos ao litoral paulista, nem ao Brasil. De acordo com levantamento realizado pela ONU em 2021, desastres climáticos já mataram mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 91% das vítimas viviam em países em desenvolvimento – grupo do qual o Brasil faz parte.

O MAB se inscreveu no G20 Social por meio da plataforma oferecida para a sociedade civil  e realizou uma atividade sobre os desafios das populações atingidas por desastres. A mesa discutiu a responsabilidade dos mais ricos – países, mas também pessoas – na produção de gases de efeito estufa. Pesquisa da instituição britânica Oxfam aponta que, em 90 minutos, um bilionário produz a quantidade de gás carbônico que uma pessoa “normal” levaria uma vida inteira para produzir. 

O Brasil não foi isento de sua responsabilidade: o país é o 6º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Cerca de 50% dessa emissão provém do desmatamento, e 25% da agropecuária.

Atingidos por barragens

A mesa também discutiu a situação de pessoas atingidas por barragens. Apesar de não serem desastres climáticos por si só, os rompimentos de barragens causam desequilíbrios ambientais extremos, como “morte” dos rios, impossibilidade do consumo de água e contaminação do solo. Há também os efeitos na população, como perda de moradias e fontes de renda, além de mortes. 

O movimento criticou a falta de punição para os responsáveis pelas barragens rompidas e pela não-adaptação à nova realidade climática. E anunciou que recorrerá da decisão judicial que absolveu as empresas BHP, Samarco e Vale pelo rompimento da barragem em Mariana (MG) em 2015 – quando 19 pessoas morreram.  “Tem famílias que continuam na área de risco, continuam sofrendo e não tiveram indenizações ou apoio psicológico”, exemplifica Sara.

A Cúpula do G20 Social termina no dia 16 de novembro, sábado.

Solmáforo, um semáforo para meio ambiente


Solmáforo, um semáforo para meio ambiente

Equipamento mede condições atmosféricas, como temperatura e nível de dióxido de carbono

Por Everton Victor e Julia Lima

Uma mistura de sinal de trânsito com alerta meteorológico. É mais ou menos assim que funciona o Solmáforo, um equipamento exibe a temperatura, umidade do ar, quantidade de raios UV e, especialmente, o nível de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera. Projetado por técnicos das empresas Itaipu Binacional e Itaipu Parquetec, o Solmáforo foi oficialmente lançado em 3 de outubro durante a reunião ministerial de Energia Limpa do G20, em Foz do Iguaçu, única cidade não-capital a receber um evento do grupo.

Unidade do Solmáforo lançada na Reunião Ministerial. (Reprodução: Kiko Sierich/Itaipu Parquetec)

A iniciativa do Solmáforo surgiu em julho deste ano, por conta da realização do encontro das 20 maiores economias do mundo no Brasil. O propósito era informar de modo acessível a quem estivesse por perto as condições atmosféricas. 

O equipamento lembra uma espécie de caixa colorida, e nos quatro lados estão disponíveis as informações sobre as condições atmosféricas. A ideia é a mesma de um semáforo: verde para condições boas, amarelo para estado de alerta e vermelho para atenção. A preocupação dos criadores era que o Solmáforo fosse visual, ou seja, compreensível pelas cores, e personalizável, para ser adaptado a diversos momentos e eventos.

Iggor Gomes Rocha, diretor administrativo da Itaipu, afirma que os Solmáforos foram projetados de modo que pudessem servir para comparar lugares distintos. “A gente queria demonstrar a diferença de localidades. Então eu colocando um Solmáforo no Parque Nacional das Cataratas, em Foz do Iguaçu, e colocando o outro no centro, numa mesma cidade, vai dar a diferença. Sobretudo em temperatura, porque a área verde consegue manter a temperatura mais baixa, e na concentração de dióxido de carbono.”

Para José Alberto Pereira Santos, coordenador de Tecnologias Aplicadas da Itaipu Parquetec, a presença de dados sobre raios UV e dióxido de carbono, além de gerar curiosidade, auxilia nos cuidados da saúde das pessoas que passam em torno do Solmáforo. A exposição excessiva ao sol, que emite raios ultravioletas, pode causar envelhecimento precoce, danos oculares, como cataratas e câncer de pele. Só no Brasil, são estimados 704 mil novos casos de câncer de pele no triênio 2023-2025, de acordo com o último levantamento do Instituto Nacional de Câncer.

Até o momento, foram produzidos três equipamentos, que serão instalados no Parque de Itaipu, no Centro de Recepção de Visitantes da Itaipu Binacional e na Ponte da Amizade, que une Brasil e Paraguai. O pedido de patente do equipamento já foi feito, mas a intenção não é gerar lucro para as empresas. Segundo Iggor, “se outras entidades tiverem interesse em replicar esse equipamento, nós temos todo o interesse que seja feito”.

O que o G20 decidiu sobre bioeconomia – e o que isso tem a ver com a sua vida

O que o G20 decidiu sobre bioeconomia - e o que isso tem a ver com a sua vida

Países definiram princípios para conciliar desenvolvimento com sustentabilidade

 

Por Everton Victor, Julia Lima e Letícia Santana

4° reunião da iniciativa do G20 sobre Bioeconomia. Foto: Leticia Santana

Temperaturas recordes, queimadas, clima seco, inundações – os efeitos das mudanças climáticas estão cada vez mais próximos do cotidiano global. Buscar soluções baseadas na própria natureza, com uma coordenação global para aplicá-las, é um dos temas centrais das diferentes reuniões do G20. Entre eles, a iniciativa de Bioeconomia, que reúne representantes das 20 maiores economias do mundo.

Bioeconomia é um conceito que pensa o desenvolvimento econômico aliado à proteção ambiental. Imagine uma economia que não é dependente apenas do uso de fontes de energia fósseis, ou que aposta em energia limpa e minimiza os danos causados à natureza. Em síntese, um desenvolvimento com sustentabilidade, com a utilização de  recursos biológicos renováveis ao invés de combustíveis fósseis e outros recursos que degradam o meio ambiente. 

Na prática, se você está reciclando uma embalagem, reutilizando uma garrafa ou utilizando uma roupa biodegradável, já está contribuindo com a Bioeconomia. 

No encontro do G20 sobre Bioeconomia, realizado em 11 de setembro no Rio de Janeiro, os participantes apresentaram os Dez Princípios de Alto Nível sobre Bioeconomia, voluntários e não vinculativos”. Entre as propostas estão a inclusão de povos indígenas no debate, compartilhamento de boas práticas entre os países, criação de metodologias “comparáveis, mensuráveis e contextualizadas para avaliar a sustentabilidade em todas as cadeias de valor” e a promoção da restauração e regeneração de áreas e ecossistemas degradados. Apesar de um membro do G20 não ter a obrigatoriedade de aplicar estes princípios, por serem voluntários e não vinculativos, todos definiram em consenso que irão colocá-los em prática.

A bioeconomia representa hoje 25% de todo o Produto Interno Bruto Brasileiro, segundo um estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas). E o Brasil anunciou em agosto a criação de uma Estratégia Nacional Para a Bioeconomia, para formular diretrizes para o tema. Também está prevista a criação de um Plano Nacional para a Bioeconomia, com promoção à bioindustrialização, entre outras ações. 

No G20, as discussões sobre Bioeconomia são divididas em três eixos temáticos, sendo eles: Ciência, Tecnologia e Inovação para a bioeconomia; Uso sustentável da biodiversidade para a bioeconomia; O papel da bioeconomia para a promoção do desenvolvimento sustentável. As propostas buscam conciliar desenvolvimento, sustentabilidade, saberes ancestrais e parâmetros globais para o enfrentamento das mudanças climáticas. 

André Corrêa Lago, secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do MRE e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima durante a 4°reunião sobre Bioeconomia do G20 (da esquerda para a direita) . Foto: Leticia Santana

A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, ressaltou a necessidade de idealizar uma Bioeconomia transversal na prática, que atravesse várias partes da administração pública e não seja apenas uma responsabilidade dos Ministérios do Meio Ambiente dos países.

De acordo com Marina, a falta de parâmetros internacionais dificulta um esforço global coordenado sobre um tema que tem muito a contribuir com um “novo modelo de desenvolvimento”, pautado na transição ecológica. Para a ministra, ações que promovam a Bioeconomia devem acontecer também a partir dos governos, com cooperação e parâmetros globais para um novo modelo de desenvolvimento.