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Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Uerj anuncia cortes em auxílios estudantis

Mudanças podem colocar em risco a continuidade da política de inclusão na Universidade, dizem alunos

Por Samira Santos, Julia Lima e Beatriz Araujo

 
 
 

A Pró-reitoria de Políticas e Assistências Estudantis (PR4) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) anunciou na tarde de quinta-feira (25) uma série de alterações em seus critérios de elegibilidade de bolsas e auxílios para a comunidade universitária. Entre as novas medidas estão a reformulação do Auxílio Material Didático (AMD), o fim do auxílio alimentação para estudantes do campus Maracanã e a redução do valor da renda necessária para alunos de ampla concorrência receberem a Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social (BAVS). As mudanças geraram preocupações e indignação entre os alunos, que se movimentam para organizar um ato contra as novas regras.

 

Entrada da Uerj no portão 5 (Foto: Agência Brasil)

 

 

Uma das principais mudanças está no Auxílio Material Didático (AMD) que consiste no apoio financeiro destinado à aquisição de material didático para alunos do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) e dos cursos de graduação. O valor de R$ 600, antes pago em parcela única por semestre letivo, passa a ser anual, podendo ser pago em parcelas de R$ 300 ou menos, dependendo da disponibilidade orçamentária.

A implementação da tarifa zero no Restaurante Universitário (RU) anunciada no começo da semana, apesar de ser uma tentativa de melhoria na rotina dos estudantes cotistas, gerou controvérsias devido ao anúncio da suspensão do Auxílio Alimentação aos alunos dos campi Francisco Negrão de Lima (Maracanã) e Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ). A decisão diz que só poderão optar pelo recebimento de Auxílio Alimentação estudantes cujos cursos tenham sede em campi que ainda não possuam Restaurante Universitário. A tarifa zero, porém, não se estende aos alunos que ingressaram por ampla concorrência e nem aos que recebem BAVS, sendo assim, esses estudantes deverão arcar com os custos de alimentação.

A Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social, oferecida a alunos ingressantes por ampla concorrência que tenham comprovada a sua situação de baixa renda, também sofreu reformulações. A renda familiar per capita para elegibilidade, antes no valor de um salário mínimo e meio, foi reduzida para valor igual ou inferior a meio salário mínimo (R$ 706). Alunos da ampla concorrência com renda superior a esse limite não terão direito aos auxílios estudantis. 

A Reitoria, liderada pela reitora Gulnar Azevedo e pelo vice-reitor Bruno Deusdará, justificou essas mudanças como uma resposta às restrições orçamentárias pós-pandemia, ressaltando a necessidade de equilibrar investimentos em equipamentos, bolsas e políticas de assistência. 

 

Reações da comunidade acadêmica

O Ato Executivo de Decisão Administrativa 038/2024, que formaliza essas mudanças, entra em vigor em 1º de agosto.

Estudantes e membros de movimentos sociais acusam a Reitoria de “Destruir a política de assistência estudantil da Uerj, que um dia foi um exemplo de inclusão e suporte aos alunos”. “Eles estão acabando com a nossa universidade”, desabafaram nas redes sociais.  A sensação de desamparo é a principal reclamação, e muitos consideram registrar queixas formais para tentar reverter essas decisões. 

Em resposta às novas regras, um ato estudantil foi marcado para o dia 26 de julho, às 16h na Uerj. Intitulado “Tira a mão dos meus direitos!”, a manifestação reunirá estudantes da ampla concorrência, cotistas da graduação e pós-graduação com o objetivo de protestar contra os cortes nos auxílios e bolsas e exigir a revogação das medidas estabelecidas pela PR4 e pela atual Reitoria da Universidade.

‘É possível até 2026 tirar o Brasil do mapa da fome’, afirma Wellington Dias

‘É possível até 2026 tirar o Brasil do mapa da fome’, afirma Wellington Dias

Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, liderada pelo Brasil como parte dos eventos do G20, está aberta à adesão de outros países

Por Everton Victor e Julia Lima

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, afirmou que o Brasil sairá do mapa da fome até o final desta gestão do governo Lula. Dias participou nesta quarta (23/07), no Rio de Janeiro, de um evento do G20 para o pré-lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. O encontro aconteceu no Galpão da Cidadania, Centro do Rio de Janeiro, com participação de representantes de mais de 30 países.

Ministro Wellington Dias no lançamento do relatório da FAO (Foto: Everton Victor)

No evento foi lançado o relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024”, produzido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) com dados sobre o assunto. O estudo também discute formas de financiamento para acabar com a fome, a insegurança alimentar e má nutrição. Foi a primeira vez que o relatório foi lançado fora do eixo Nova York-Roma, onde ficam as sedes da ONU e da FAO.

O relatório mostra que a América Latina foi a única região do mundo em que houve diminuição da fome, de 5,9% em 2022 para 5,4% em 2023. O destaque vai para a América do Sul, onde a proporção da população em situação de fome caiu de 5,9% para 5,2%. Apesar da melhora na região, o mundo conta com mais de 733 milhões em insegurança alimentar, e a América Latina continua sendo a 3° região com a maior concentração de pessoas nesta condição.

Evento de lançamento do relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024” (Reprodução: Julia Lima)
 
 
 
No Brasil, a insegurança alimentar severa – quando a pessoa passa mais de um dia sem ter acesso a comida e sem comer – caiu de 8% (17,2 milhões de pessoas) para 1,2% (2,5 milhões) da população, o que significa que 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país de 2022 para 2023. “Se a gente compara com outros países, foi um grande resultado”, afirmou o ministro.
 

Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

Tendo em vista o aumento de pessoas em situação de fome e pobreza desde 2019, o Estado brasileiro assumiu, no final da cúpula do G20 do ano passado, a responsabilidade de criar uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. No dia 24, depois do lançamento dos dados do ano passado sobre o tema, a Aliança foi aprovada por unanimidade durante reunião de ministros do G20 e aberta para adesões. Poucas horas depois, Brasil e Bangladesh já haviam aderido à iniciativa. 

De acordo com Thiago Lima da Silva, coordenador da força tarefa da Aliança pelo Ministério da Fazenda, Portugal, Espanha e Noruega já se comprometeram a ajudar no financiamento dos trabalhos, e, consequentemente a participar do grupo.

Reunião Ministerial de Abertura da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza (Reprodução:Ricardo Stuckert/PR)

Todas as ações do G20 precisam ter consenso, ou seja, todos precisam concordar para que qualquer projeto ou recomendação seja lançado. No caso da Aliança, apesar de endossarem e concordarem com a relevância desta iniciativa, os países não precisam necessariamente aderir a ela. A atuação da Aliança pretende se estender para além dos países do G20.

As nações aderem de acordo com suas necessidades, seja financiando projetos, pedindo colaboração para adotá-lo em seu território ou os dois, como é o caso do Brasil. O investimento dos países será apenas no funcionamento dos escritórios da Aliança, em Roma e no Brasil, orçado em cerca de 18 milhões de dólares até 2030. O Brasil, por ser o fundador, arcará com 50% desse valor.

“A aliança não precisa ter um fundo, porque vai ajudar a conectar os fundos que existem com os países que querem fazer cooperação internacional, isso diminui os riscos para os doares pois eles vão doar para políticas que são testadas e aprovadas”, explica Thiago.

A ideia é implementar ações de combate à fome e à pobreza, adaptando o projeto e sua implementação para as necessidades de cada país, reunindo ações econômicas e políticas. A iniciativa não prevê mecanismos de vigilância e fiscalização dos investimentos direcionados para essa aliança, eles serão de responsabilidade dos países, cabendo às legislações e órgãos de justiça de cada país. 

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve presente ao evento e parabenizou a liderança do Brasil e o esforço dos demais países na elaboração da proposta. “É o momento mais relevante dos meus 18 meses de mandato, nenhum tema é mais atual e desafiador do que a fome. A fome é um atentado à vida, um atentado à liberdade”. A temática da fome e o enfrentamento à pobreza é um dos três eixos assumidos pela presidência brasileira no G20. O país vai apresentar para o público a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza na Cúpula dos Líderes, nos dias 18 e 19 de novembro na cidade do Rio.

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Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Pesquisadores recomendam ao G20 criação de grupo de governança global para dados

Proposta é que Data 20 ajude no esforço global para regulamentar mundo digital 

Por Everton Victor e Julia Lima

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O T20, equipe de trabalho do G20 com pesquisadores e think tanks, sugeriu em seu documento final a criação de um grupo para tratar de cooperação e segurança de dados. O Data20 (D20) trataria de temas como regulação e trabalho com dados, Inteligência Artificial e justiça climática, armazenando os dados das nações, e daria suporte para os outros grupos de trabalho.  

Proposta de criação do D20. (Reprodução: Communiqué do T20)

Num momento de apagões cibernéticos, vazamento de dados e avanço da Inteligência Artificial, a ideia da criação do grupo surgiu dos recentes desafios com a regulação de uso de dados pelas plataformas em âmbito brasileiro e mundial. Debates sobre o limite do uso da Inteligência Artificial e os impactos de algoritmos discriminatórios permeiam as discussões de como os governos devem intervir. Por isso, o grupo também teria o papel de promover discussões que reduzam os danos causados por essas tecnologias, imponham limites a elas e promovam penas para quem os desrespeitasse.

A criação do D20 foi uma das propostas surgidas nos encontros dos pesquisadores do T20, que aconteceram ao longo do ano, e levaram a criação do Communiqué, documento final com as 10 principais sugestões para as 20 maiores economias do mundo. O documento foi apresentado ao público nos dias 2 e 3 de julho durante o The T20 Brasil Midterm Conference.

O D20 também seria responsável por fiscalizar a implicação de cada política e dado criados pelos grupos de engajamento que compõem o G20. Denise Direito, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), afirma que ainda não há definição de como essa atividade aconteceria, já que o Communiqué apresenta apenas sugestões. O funcionamento seria definido de acordo com a evolução dos trabalhos do grupo.

Para Luciana Mendes, presidente do Ipea, a criação de uma força global sobre dados pode ser um aliado no debate de como os países devem lidar com a Inteligência Artificial. Ela destaca que a criação deste mecanismo pode trazer o debate da importância e um esforço de como regular as redes para todo o globo, aliado a outras frentes que o D20 possibilitaria. “Aprimora a cooperação de dados sobre temas transversais”, afirma.

No Brasil, o debate sobre a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) está em tramitação no Senado Federal. O Projeto de Lei (PL) 2338/23 reúne uma série de propostas de como regulamentar a IA no Brasil. Países da União Europeia, a Argentina e outras nações integrantes do G20 já regulamentaram ou estudam regulamentar a internet. Denise destaca que a criação do D20 pode ajudar os países do bloco a definirem consensos mínimos de qual seria a base de regulação sobre o tema.

Sobre o T20

O Ipea, junto com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais, compõem o comitê organizador do T20.  Apesar da predominância brasileira no grupo, Luciana reforça a diversidade de nos debates, reuniões e elaboração do grupo de engajamento. Ao todo 170 think tanks nacionais e internacionais com representantes de 33 países participam do T20.

Presidente do Ipea na abertura da reunião do T20. (Reprodução: Julia Lima)

A gestão brasileira segue na presidência do G20 até novembro. No caso do  grupo de engajamento, após a entrega do Communiqué, o foco é “avançar em estratégias de implementação das recomendações”, de acordo com a presidente do Ipea. Os líderes das 20 maiores economias do mundo devem se reunir nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, capital do G20 nesta edição.

Concurso para professor adjunto: Depto de Relações Públicas (FCS) – acompanhe o processo

Acompanhe o processo aqui

A Faculdade de Comunicação Social (FCS/UERJ) estará com inscrições abertas, a partir de 29/04/2024, para 1 (uma) vaga de professor adjunto, na área de Relações Públicas, subárea Mídias Digitais.

CRONOGRAMA DO CONCURSO

Calendário para Isenções da Taxa de Inscrição:
a) Período para Solicitação da Isenção da Taxa de Inscrição: 28/04/2024 a 10/05/2024.
b) Período de Análise dos Pedidos de Isenção: 10/05/2024 a 17/05/2024.
c) Divulgação do Resultado dos Pedidos de Isenção: 17/05/2024, a partir das 17:00.
d) Período de Recursos sobre o Resultado dos Pedidos de Isenção: de 17/05/2024, a partir das 18:00, até
21/05/2024, às 23:59.
e) Período de Análise dos Recursos para Isenções: 22/05/2024 a 24/05/2024.
f) Divulgação do Resultado das Análises dos Recursos para Isenções: 24/05/2024, a partir das 14h.

Calendário Geral do Concurso:
a) Divulgação da composição da Comissão Examinadora – 14/06/2024, às 18h.
b) Sorteio do ponto para a prova escrita – 01/07/2024, às 9h.
c) Prova escrita – 01/07/ 2024, às 10h.
d) Leitura da prova escrita – 01/07/2024, às 14h30min.
e) Resultado da prova escrita e início do período de recurso da prova escrita – 02/07/2024, às 18h.
f) Término do período de recurso da prova escrita – 03/07/2024, às 18h.
g) Resultado do recurso da prova escrita – 04/07/2024, às 8:30min.
h) Divulgação da lista de pontos para a prova de aula – 04/07/2024, às 9h.
i) Sorteio do ponto para a prova de aula – 04/07/2024, às 9h30.
j) Prova de aula – 05/07/2024, às 9h30.
k) Resultado da prova de aula – 08/07/2024 às 18h.
l) Entrega de Títulos e Trabalhos – 09/07/2024, às 10h.
m) Divulgação do resultado final – 18/07/2024, às 18h.

O edital está disponível aqui.

Jornalista lança livro sobre o “7 a 1”: confira entrevista com Marcelo Resende, egresso da FCS

Marcelo Resende é jornalista formado pela FCS, onde atualmente cursa o doutorado no PPGCom/UERJ.

Marcelo Resende é jornalista formado pela FCS/UERJ. Apaixonado por futebol, o tema foi um passo natural para o seu trabalho de conclusão de curso. A monografia, defendida em 2021, rendeu frutos. Consolidou sua jornada pelos corredores acadêmicos, onde tornou-se mestre e atualmente é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom) da FCS, e levou seu nome às páginas abertas pela Editora Corner. Acaba de ser lançado “7 a 1 nos jornais do Brasil”, que traz o relato científico construído na monografia sobre aquela que é considerada por diversas vozes da imprensa esportiva como “a maior vergonha da seleção brasileira”, ocorrida há 10 anos. Em entrevista ao site da FCS, ele fala sobre memórias pessoais e coletivas que têm no jornalismo um extenso campo para reflexão e pesquisa sobre o esporte.

Faculdade de Comunicação Social – Por que você decidiu pesquisar narrativas jornalísticas sobre a derrota do Brasil para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014? A escolha de um tema não costuma ser por acaso e espelha inquietações e anseios do próprio pesquisador…
Marcelo Resende –
Em primeiro lugar, é importante mencionar que o livro é fruto da minha pesquisa de monografia na Graduação. O trabalho acabou sendo volumoso, com 120 páginas, um ponto fora da curva para esse estágio acadêmico. Eu fiz uma oferta à editora Corner que, de início, não mostrou interesse. Com a aproximação dos 10 anos da derrota na Copa de 2014, o diálogo foi retomado.

O tema, de fato, não foi por acaso. Sou apaixonado por futebol desde muito pequeno, um frequentador nato de estádios. Minhas primeiras memórias são do pentacampeonato, conquistado em 2002, que me deixou a impressão de que o Brasil seria sempre campeão.

FCS – A impressão não se materializou, não é? Como esse elemento da memória influenciou a condução da pesquisa?
MR –
Sim, a impressão não se concretizou. A questão da memória foi determinante, porque eu busquei situar a análise da goleada para Alemanha diante de outras derrotas também marcantes na história da seleção. O Maracanazo de 1950, com o vice-campeonato para o Uruguai, e a tragédia do Sarriá, que decretou a eliminação da seleção de 1982, são resgates que fiz para contextualizar e narrar o 7 a 1.

FCS – Sua pesquisa analisa as narrativas dos jornais O Globo e Folha de São Paulo. E como o 7 a 1 está situado nesse rastro histórico? Que elementos você destacaria?
MR – O 7 a 1 é descrito como a maior derrota da seleção. Estamos falando de dois dos principais jornais do país, portanto há um peso social e cultural na produção de imaginário e representações. Eu analisei a cobertura do mês em que o torneio aconteceu. No início, havia uma confiança muito grande na experiência do Felipão [Luiz Felipe Scolari foi o técnico em 2014]. A derrota para os alemães arrasou com as expectativas. As reações passaram pelas ideias de “vergonha”, “vexame” e “humilhação”.

FCS – Para além dessa abordagem da vergonha, há algo que te surpreendeu nas narrativas pesquisadas?
MR – O olhar histórico é um aspecto central da pesquisa. Os próprios jornais se encarregaram de fazer as comparações. Um dado muito interessante foi o fato de alguns periódicos terem “perdoado” e “parabenizado” os jogadores de 1950 – o goleiro Barbosa, em especial, que durante décadas foi considerado o principal culpado pela derrota para os uruguaios. A relação com a seleção de 1950 é marcante nas narrativas imediatas ao 7 a 1. Por mais que comparações sejam comuns no futebol, a dramaticidade empregada foi acentuada. A narrativa de que os atletas do maracanazo estariam libertos do trauma 1950 me impactou muito.

FCS – Você consegue avaliar os legados do 7 a 1 para o imaginário futebolístico do país? Que mudanças é possível ver na forma como a imprensa encara a seleção?
MR –
O primeiro e imediato impacto foi o Felipão sendo tratado como vilão, mesmo tendo sido campeão em 2002 [e continua na condição de último treinador campeão mundial com a seleção, que caminha para um jejum de 24 anos sem a taça]. Outro legado, e que ganhou novos sentidos, veio com o Tite, que assumiu em 2016 e construiu uma equipe competitiva, pelo menos na América do Sul. A imprensa deu bastante notoriedade ao Tite, projetando nele um profissional capaz de levar a seleção ao hexacampeonato. A imprensa confiou muito nele, tanto que ele foi mantido no comando mesmo após a eliminação na Copa de 2018.

Para além desse aspecto individual em algumas figuras de liderança, já temos pesquisas, como as do professor Ronaldo Helal (FCS/UERJ), que apontam que o Brasil deixou de ser a “pátria de chuteiras”. Isso é curioso porque, após o 7 a 1, a própria Folha de São Paulo publicou editorial com o título “Pátria sem chuteiras”. Uma ideia que também começa a ser percebida pela imprensa, além da academia. Cabe à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) agir para resgatar o prestígio e devolver a seleção ao pódio das principais competições internacionais. A seleção precisa ser aproximada da população.

Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência

Livro mapeia disparidades entre homens e mulheres na Ciência

Estereótipos, apagamento e sobrecarga fazem parte da rotina de mulheres cientistas, mostra trabalho de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira

Por Everton Victor

Reprodução: Julia Koblitz / Agência Brasil
 

Da entrevista de emprego ao cotidiano do trabalho, o dia a dia das mulheres cientistas é marcado pela desigualdade. É este o tema de Mulheres na Ciência, livro de Tatiana Roque e Letícia de Oliveira. Em lançamento realizado na Uerj no dia 17 de junho, as autoras discutiram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no campo científico com relatos, dados e entrevistas. O evento foi organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Desigualdades Contemporâneas e Relações de Gênero da universidade.

“A representação feminina não é suficiente, mas ela é absolutamente necessária. Sem isso, a gente não tem como começar”, afirmou Leticia de Oliveira, neurocientista e coordenadora da Comissão de Equidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Leticia destaca a importância do livro por debater a necessidade de ter uma ciência diversa. “Na medida que eu vejo mulheres e negros em espaços de tomada de decisão, isso passa a ser espaço de pertencimento. E aí aquele estereótipo de  baixa eficiência e baixa competência vai sendo desfeito”.

Contracapa do livro. Reprodução: Arquivo Pessoal

A obra assinada em parceria por Letícia e Tatiana Roque, professora da UFRJ e ex-secretária de Ciência e Tecnologia do município do Rio, também discute os estereótipos que cercam a mulher cientista. O livro, dividido em cinco capítulos, apresenta sugestões para enfrentar o preconceito. Entre elas, se ater aos critérios estabelecidos no edital sem perguntas pessoais, estabelecer comissões de diversidade e principalmente trazer as mulheres para espaços de poder sem estarem sub-representadas no debate.

Dados da ciência hoje

Desde a primeira edição do Prêmio Nobel, em 1901, até 2016, apenas 3% dos ganhadores da honraria nas áreas de ciências foram mulheres. Mas aos  poucos isso vem mudando. Desde 2018 ao menos uma mulher é laureada em uma das premiações da Fundação. Para a neurocientista, desconstruir estereótipos passa por garantir representatividade: “Você não precisa falar para uma menina que ela não vai ser astrofísica, isso já está dito na medida que ela não se vê naquele espaço”.

O cenário não é exclusivo do prêmio Nobel. No Brasil, apenas 12% das mulheres compõem academias científicas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Ainda segundo o relatório, somente 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências são de mulheres, apesar de representarem 51,5% da população do país. 

Nas áreas STEM, termo em inglês que reúne os campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, a disparidade é ainda maior. Apenas 35% dos estudos relacionados a essas áreas são feitos por mulheres no mundo, segundo a Unesco. No mercado de trabalho a discrepância aumenta, sendo uma mulher para cada quatro homens. No capítulo seis do livro Mulheres na Ciência, as autoras explicam o dado e abordam as causas e as nuances disso na prática.

Efeito Matilda

Na obra, Tatiana e Leticia também abordam alguns termos que por vezes estão presentes no cotidiano das mulheres, como o efeito Matilda – expressão usada para designar o apagamento de mulheres no campo científico. Se uma cientista contribuiu para um artigo e não recebeu o devido reconhecimento no texto,  ela sofreu o Efeito Matilda. Tal efeito pode ser sutil, diminuindo intencionalmente ou não a contribuição daquela mulher, ou mesmo apagá-la por completo de alguma contribuição que ela fez. 

Nomes que contribuíram para a Ciência como Jane Wrigh, mulher negra oncologista que ajudou a desenvolver tratamentos contra o câncer ou mesmo as contribuições da física, e matemática Mileva Einstein, esposa de Albert Einstein, são por vezes esquecidos dos livros de história. “É como se tivesse uma barreira transparente que ela não parece existir, mas ela existe e você não consegue passar”, reforça Leticia.

Maternidade vista como empecilho para produtividade das cientistas

Outra realidade enfrentada pelas cientistas são os estereótipos da maternidade. Em dezembro de 2023, o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) negou uma bolsa de Produtividade em Pesquisa para a professora da UFABC Maria Carlotto. Na justificativa, o órgão citou que “provavelmente as gestações atrapalharam” as iniciativas da docente. Após a repercussão negativa, o Conselho emitiu uma nota reconhecendo que essa justificativa “expressa juízo preconceituoso”. O caso também está presente no livro.

Denúncia da pesquisadora no X, antigo Twitter

 

As autoras detalham a necessidade considerar, nas análises de produtividade, o período de gestação ou de recuperação pós-parto. É comum que mulheres nessas condições tirem licença, mas, quando retornam, são julgadas por não estarem sendo produtivas em termos científicos. “É muito inóspito, você tem que ser mãe como se não fosse cientista, e cientista como se não fosse mãe”, aponta a neurocirurgiã.

O livro está disponível gratuitamente nas redes sociais das autoras, mas você também pode consultá-lo aqui. A ideia delas é continuar a pesquisa e ter a colaboração de mais cientistas.