Assédio nas universidades e seus impactos

Assédio nas universidades e seus impactos

Um retrato da violência silenciada em espaços acadêmicos

 

Por Samira Santos

O ambiente universitário, frequentemente idealizado como um espaço de aprendizado e transformação, tem sido palco de uma problemática séria: o assédio. Dados da Controladoria-Geral da União (CGU) revelaram 557 denúncias de assédio em instituições públicas federais em 2024, o que equivale a uma média de duas por dia. Esses números expõem a persistência de uma cultura de silenciamento e impunidade em relação a essa prática, que afeta professores, funcionários e, principalmente, estudantes, especialmente mulheres.

Assédio moral e sexual no estágio (Foto: Pexels)
Assédio moral e sexual no estágio (Foto: Pexels)

 O silêncio das denúncias e subnotificações

Apesar da gravidade do problema, pesquisas apontam que a maioria dos casos de assédio não chega ao conhecimento das autoridades. Um levantamento realizado em 2022 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicou que apenas 10% das ocorrências são formalmente registradas. A subnotificação é reflexo de uma série de fatores, como medo de represálias, falta de apoio institucional e a burocracia envolvida nos processos de denúncia.

Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, em uma década, apenas seis processos administrativos foram abertos relacionados ao tema, e apenas um resultou em punição. Recentemente, um professor da instituição foi suspenso por 15 dias após ser acusado de assédio sexual por duas colegas, gerando críticas sobre a falta de penalidades aplicadas.

Assédio e suas várias formas

O assédio nas universidades pode se manifestar de diferentes formas. O assédio moral envolve condutas abusivas reiteradas, como humilhações e ameaças, que degradam o ambiente acadêmico e afetam a saúde mental das vítimas. Já o assédio sexual inclui desde comentários inapropriados até exigências explícitas de favores sexuais, muitas vezes por pessoas em posições hierárquicas superiores, como professores ou orientadores.

A legislação brasileira tem avançado no enfrentamento a essas práticas. Desde 2001, o Código Penal inclui o assédio sexual como crime, com pena de detenção de um a dois anos. Em 2018, o artigo 215-A ampliou a abrangência para incluir a importunação sexual. Contudo, lacunas permanecem, especialmente na proteção de estudantes em relação a seus orientadores, onde o poder hierárquico é muitas vezes utilizado como instrumento de coerção.

O impacto na saúde mental

O assédio não afeta apenas o desempenho acadêmico, mas também a saúde mental das vítimas. A professora de psicologia Anna Uziel explica que a queda no rendimento, isolamento e desinteresse estão entre os sinais que podem indicar sofrimento psicológico. A professora sugere abordagens que vão além do suporte individual. “Grupos de acolhimento são importantes para fortalecer os estudantes e criar espaços de troca, onde possam compartilhar experiências e encontrar soluções coletivas”.

“Um primeiro ponto que acho muito importante é que, quando falamos de assédio, estamos falando de relações de poder”, afirma Uziel. Ela destaca que a universidade, muitas vezes, apresenta relações hierárquicas e verticalizadas que podem gerar conflitos. “Talvez agora, com o uso desse termo [assédio], estejamos conseguindo falar sobre essas questões e tratar dessas relações de poder que já causam sofrimento”.

O ambiente acadêmico deveria ser um espaço de incentivo e crescimento, mas para muitas mulheres torna-se um local de medo e retraimento. Dados do Instituto Avon,  em 2015, apontam que 67% das universitárias já sofreram algum tipo de violência no ambiente universitário, sendo o assédio sexual a forma mais recorrente, com 56% das alunas relatando experiências desse tipo. “A cultura do silêncio é ainda mais grave do que a da impunidade. Quando não podemos falar ou não encontramos escuta, perpetuamos o ciclo de violência”, explica a professora.

A face extrema da violência de gênero

O feminicídio, expressão máxima da violência de gênero, é um alerta de como práticas abusivas podem evoluir para consequências trágicas. Desde a sanção da Lei do Feminicídio, em 2015, pelo governo Dilma Rousseff, mais de 10 mil mulheres foram vítimas desse crime no Brasil. Em 2024, a Lei 14.994 aumentou a pena para 40 anos de reclusão para feminicídios, demonstrando a gravidade desse tipo de violência.

O discurso de Dilma ao sancionar a lei permanece atual: “Se mete a colher sim, principalmente se resultar em assassinato”. Essa fala ressalta a importância da denúncia e do apoio de familiares e amigos para evitar desfechos fatais.

A cultura do silêncio e a impunidade

A universidade, reflexo da sociedade, reproduz as mesmas opressões de gênero, classe e raça que estruturam a vida social. Pesquisas revelam que mulheres negras e indígenas estão ainda mais vulneráveis a violências, como o racismo interseccional. A escritora Grada Kilomba descreve essas experiências como “cicatrizes históricas que se perpetuam nas estruturas sociais e acadêmicas”.

Além disso, a falta de preparo institucional agrava a situação. Em 2022, apenas 25% das universidades possuíam políticas específicas para enfrentar o assédio, segundo pesquisa da professora Neiva Furlin da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Os Movimentos como o #MeToo e denúncias públicas têm pressionado por mudanças, mas a resistência à implementação de protocolos efetivos ainda é um desafio.

O silenciamento das vítimas (Foto: Freepik)
O silenciamento das vítimas (Foto: Freepik)

Caminhos para a transformação

A aprovação da Lei 14.540/2023, que institui o Programa de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Sexual em instituições públicas, é um passo importante. Ela obriga universidades e órgãos públicos a criar mecanismos de prevenção, acolhimento e responsabilização. Contudo, especialistas alertam que políticas só serão eficazes se acompanhadas de mudanças culturais profundas.

Iniciativas como a Comissão Permanente de Combate aos Assédios da Uerj mostram as estratégias integradas para enfrentar o problema. A Uerj implementou um fluxo institucional para acolher denúncias, apurar casos e promover ações educativas. Embora tenha criado uma cartilha sobre o combate do assédio sexual e moral, a universidade ainda encara dificuldades no acolhimento em sua Ouvidoria. Apesar dos avanços, a universidade ainda enfrenta desafios, como a sobrecarga de trabalho de membros da comissão e a falta de adesão de alguns setores. 

Caravana da Coca-Cola chega ao Rio e passará pela Grande Tijuca

Caravana da Coca-Cola chega ao Rio e passará pela Grande Tijuca

Por Alice Moraes

                                        Imagem: G1 – Lening Abdala/Divulgação

Faltando poucos dias para o Natal, as ruas dos bairros da Grande Tijuca já estão bastante movimentadas, e uma das atrações natalinas da região será a Caravana de Natal da Coca-Cola. O site oficial da  empresa disponibilizou o itinerário da Caravana no estado do Rio de Janeiro. Um dos destinos é a Grande Tijuca, onde a Caravana passará nesta sexta, dia 13, começando às 19h.

Os desfiles natalinos no Brasil percorrerão aproximadamente 50 cidades em 15 estados. A Caravana, neste ano, se iniciou dia 27 de outubro, em Crato (CE), e está prevista para finalizar no dia 22 de dezembro, em Natal (RN). 

Além de oferecer lazer para a população, o evento garante diversão para as crianças, oferecendo interação com o Papai Noel. Com a intenção de promover o espírito natalino entre as famílias, os veículos iluminados e enfeitados são uma oportunidade para o morador da Grande Tijuca tirar belas fotos para serem exibidas nas redes sociais.

A partir das 19h desta sexta (13), a Caravana de Natal passará pelos seguintes pontos de referência: Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Essa é a parte 1 da Caravana na Grande Tijuca. A parte 2, no mesmo dia, terá os mesmos pontos de referência, mas o trajeto ocorrerá em ruas diferentes. 

Confira as ruas do primeiro trajeto, desde o ponto de início até a última parada: Rua Mariz e Barros, Rua Almirante Cochrane, Rua Santo Afonso, Rua Major Ávila, Avenida Maracanã, Rua Barão de Mesquita, Rua Agostinho Menezes, Rua Maxwell, Rua Teodoro da Silva, Boulevard 28 de Setembro, Rua Barão de Cotegipe, Rua Mendes Tavares, Rua Barão de São Francisco e Rua Barão de Mesquita, onde a caravana se despede da população no primeiro percurso. 

Para mais informações sobre a rota da Caravana de Natal na Grande Tijuca, acesse o site oficial da Coca-Cola: https://www.coca-cola.com/br/pt/offerings/christmas/coca-cola-truck

Peça usa mito de Sherazade para falar de violência contra mulher

Peça usa mito de Sherazade para falar de violência contra mulher

Em cartaz no Teatro Municipal Ziembinski, na Tijuca, a adaptação do livro da escritora Libanesa Joumana Haddad critica uma das personagens mais famosas da literatura oriental

Por Vinicius Rodrigues

           Poster de divulgação da peça Eu Matei Sherazade. Foto: Instagram Teatro Municipal Ziembinski

No último dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher,  foi divulgado que uma mulher é morta por feminicídio a cada 10 minutos no mundo. Em meio a este cenário, uma peça de teatro tem chamado a atenção para este grave problema enfrentado pelas mulheres: “Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria”.

A peça é a adaptação livre do livro de Joumana Haddad em solo brasileiro, idealizada e protagonizada pela atriz Carol Chalita, com direção de Miwa Yanagizawa e trilha sonora original de Beto Lemos. O monólogo aproxima a realidade da mulher árabe da mulher brasileira, e está em cartaz até 15 de dezembro no Teatro Municipal Ziembinski, próximo à estação de metrô São Francisco Xavier, na Tijuca, Zona Norte do Rio, às sextas, 20h, e aos sábados e domingos, às 19h. Os ingressos custam entre R$25 e R$50, e podem ser comprados na bilheteria do teatro ou online no site  Teatro Municipal Ziembinski

A peça tem valor promocional para estudantes e servidores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj): R$20, na bilheteria do teatro, só é necessário informar que veio pela Uerj.

O conto clássico árabe As Mil e uma noites, muito famoso no Oriente Médio, conta a história de um rei que foi traído por uma de suas esposas, e como punição, a mata. Além disso, rancoroso pela traição, ele passa a se casar com moças virgens do seu reino e matá-las ao amanhecer, como forma de vingança. Então, entra Sherazade, a moça que irá quebrar esta corrente de violência contra as mulheres. Ela casa-se com o rei assassino, e para evitar ser morta, passa a contar histórias a ele, e as interrompe antes do amanhecer, tática que se estica por mil e uma noites. Dessa forma, Sherazade consegue fazer o assassino se afeiçoar a ela, que desfaz o rito das mortes e salva as mulheres do reino.

A personagem Sherazade foi cultuada como uma figura de força feminina por tempos ao redor do mundo, algo que a escritora, ativista e jornalista libanesa Joumana Haddad discorda, e critica em seu livro Eu matei Sherazade, confissões de uma árabe em fúria, que visa desmistificar esta

personagem clássica, através do olhar de uma mulher no mundo árabe, em que a morte de Sherazade simboliza o fim da submissão das mulheres diante do patriarcado.

O Notícias da Vila conversou com a atriz Carol Chalita sobre a adaptação da obra e a sua importância no Brasil:

Qual a importância da peça Eu Matei Sherazade no Brasil?

É entender que a relação da mulher e da formação do feminino independe de qualquer cultura, pois a cultura patriarcal é globalizada. Então, trazer o texto de uma mulher árabe, libanesa, que carrega em si um monte de preconceitos em ser uma mulher árabe, como se a mulher árabe não tivesse uma objetividade ou liberdade, não tivesse nenhum tipo de revolta sobre a cultura patriarcal opressora, já é um erro. E trazer esse texto para o Brasil significa aproximar a realidade da mulher árabe para a da mulher brasileira, e dizer que os problemas de lá são os mesmo daqui. É alarmante que o Brasil é o quarto país em feminicídios do mundo, e se aproxima do Afeganistão com a lei antiaborto que os políticos querem aprovar. Logo, a verdade é aproximar as realidades e questionar, desvelar os véus da sociedade brasileira sobre o problema crônico que é a violência contra as mulheres no Brasil.

Como foi adaptar o livro Eu Matei Sherazade para teatro?  Houve muitas mudanças para o contexto brasileiro?

Na verdade, a gente selecionou o que fazia sentido para mim, como artista, o que eu queria, o que eu tinha desejo de falar, e eram muitas coisas. A gente se surpreendeu muito como se aproxima da nossa realidade, de ser mulher no Brasil. A gente acrescentou o mito de Sherazade, inicialmente na peça, que não está no livro da Joumana, para poder mostrar quem é ela, e do maior arquétipo feminista árabe, que, na verdade a Joumana oferece um novo olhar sobre arquétipo, que, na verdade, ela não subverte a lógica da submissão, mas com seus dotes e inteligência, ela ainda precisa subornar o homem com as suas histórias intermináveis das mil e uma noites para sobreviver. Então, ela não pode viver a vida que ela escolheu ser, ela ainda está presa como subalterna de um homem. Logo, nós colocamos esse mito inicial para poder mostrar o quão não queremos negociar nenhum tipo de liberdade, nenhum tipo de vontade, pois isso é uma sobrevida. A mulher não tem que agradar um homem para ela sentir que está salva. Ela não tem que dar para ele nada do que a gente tem que ele queira para se sentir segura. A gente tem que se sentir segura por simplesmente se existir mulher. A questão de matar Sherazade é que não queremos mais esse arquétipo de subornar um homem para sobreviver. Não temos que subornar ninguém para sobreviver. Nós temos que simplesmente existir.

Para você, como atriz, houve algum desafio para fazer esta peça no Brasil?

É um projeto que tem 11 anos que ele foi concebido e idealizado, que só agora, depois desses 11 anos, eu consegui fazer sem patrocínio, sem nada, a não ser na pandemia, que conseguimos fazer um experimento online pela lei Aldir Blanc. Mas as empresas não têm muito interesse em falar sobre a liberdade feminina. Até mesmo as empresas com bandeiras sobre o feminismo, eu senti uma resistência. Até porque, nós trazemos uma árabe falando de uma forma crua e sem pudor, e colocando o dedo em feridas muito nevrálgicas da nossa sociedade brasileira, ela escancara uma hipocrisia brasileira, apesar de estar falando da realidade árabe, que muitas empresas não tinham o interesse no tema. A liberdade feminina ainda é um tabu, a liberdade sexual feminina, a liberdade de mulheres no poder, de liderança feminina ainda tem uma força muito oposta para que a gente fique no apagamento. Existe um medo muito grande de mulheres estarem em liderança, pois nós temos muito poder. E isso assusta os homens. A gente lida agora com uma sociedade na minha cabeça que é o tempo das Valkírias: são mulheres independentes, mulheres que têm sua vida, sua vida financeira, sua liberdade sexual e é por isso que o feminicídio tem aumentado tanto. Os homens não estão sabendo lidar com a liberdade feminina. Logo, eu acho que vivemos os tempos das Valkírias, e essa repreensão violenta sobre os nossos corpos têm tudo a ver com a gente estar aumentando o nosso espaço de liberdade.

Recentemente, na Câmara de deputados, foi aprovada uma PEC que pode acabar com o aborto legal no Brasil. Diante disso, qual o papel da arte, da peça, para debater e ajudar a compreender as necessidades e direitos das mulheres no país?

Essa PEC que estão tentando aprovar só reforça essa cultura patriarcal opressora e assassina que está se sentindo ameaçada, e eles precisam ter poder sobre os nossos corpos, e o aborto é uma das formas. Eu acho que a Joumana Haddad deixa um legado para nós no Brasil: ela foi eleita pelo voto direto para exercer um cargo no parlamento libanês e os homens não deixaram ela exercer o cargo. E ela manteve a força de resistência. Então, ela criou um programa, ela não para de escrever, ela não para de falar sobre o assunto, e ela disse: “me perguntam muitas vezes porque eu continuo escrevendo livros? Será que isso tem eficácia?. Quanto mais eu escrevo, quanto mais eu falo, maior poder eu tenho de entrar na mentalidade das pessoas”. Logo, esse é o nosso papel na arte, a gente combater de forma lúdica, trazendo sempre polêmicas e tirando do conforto a nossa realidade. Cada vez mais fazer essa peça, a gente está levantando essa bandeira de conscientização para homens e mulheres dos nossos deveres, e ressignificar os padrões de relação. Pois, os padrões de relação que estão aí não funcionam, são padrões assassinos. Então, nós trazemos através da arte uma provocação que fique dentro de cada um que assistir à peça, uma possibilidade de refazer seus pactos dentro do seu ambiente, seja na sua casa, na sua família ou no seu trabalho.

Como você espera que o público saia após assistir à peça Eu Matei Sherazade?

O que eu espero já está acontecendo, pois as pessoas estão saindo arrebatadas da peça, elas estão repensando suas vidas, elas repensam seus relacionamentos, tanto homens, quanto mulheres sobre como essa formação patriarcal tem sido nociva para gente construir o imaginário social de que homens e mulheres tenham equidade de gênero, que tenham direitos parecidos, direitos que não oprimam uns aos outros, mas que sejam complementares, que sejam uma troca, que sejam uma relação absolutamente frutífera que some, não que elimine um para o outro existir. O que a gente vê, na verdade, a violência doméstica não só fere a mulher que é vítima, mas toda uma família, toda uma sociedade, e inclusive os serviços de saúde, pois é uma destruição em massa. Imagina o psicológico de uma criança que vê o pai assassinando a mãe. Enfim, eu acho que a peça traz à tona esse lugar, essa construção, essa mentalidade patriarcal que precisa ser absolutamente desconstruída e revista. E o lugar da mulher onde ela tenha coragem de querer ser o que ela quiser ser na hora que ela quiser e quando ela quiser. É um estado de impermanência, ela pode ser tudo o que ela quiser na hora que ela quiser, ela pode mudar completamente da água  para o vinho quando ela quiser. É um lugar de estado de liberdade mesmo. Eu espero que a peça provoque isso, e ela está provocando, e mais do que isso. Que a gente fique em cartaz por muitos anos, para estar trazendo esse tipo de discussão, e pensar de que forma nós influenciamos as próximas gerações, para que daqui a alguns anos, a gente não precise fazer essa peça, que sejam novas discussões. É isso que eu espero. Que o público cada vez vá mais ao teatro, ampliando cada vez mais as possibilidades de transformações em suas vidas.

Derek Rabelo, único surfista cego que pega as maiores ondas do mundo

Derek Rabelo, único surfista cego que pega as maiores ondas do mundo

Capixaba, de 33 anos, é exemplo de superação e persistência.

Por: Livia Bronzato

Já se imaginou surfando a maior onda do mundo de Nazaré, em Portugal? E se isso tivesse que ser feito sem enxergar nada? Seria uma tarefa completamente assustadora para a maioria das pessoas, mas não para Derek Rabelo. Ele é o único capaz de pegar as ondas de Nazaré que chegam aos 30 metros, assim como as de Pipeline no Havaí e as de Teahupoo no Taiti.

 

Instagram /Reprodução

Derek Rabelo, surfista profissional cego, na Surf Land.


Derek nasceu em Guarapari (ES) com um glaucoma congênito e, em seus primeiros dias de vida, perdeu a visão. Mas, inspirado pelo pai e por seus tios, ele se interessou pelo surfe desde pequeno. Assim, desenvolveu sua forma única de surfar – ele escuta o barulho das ondas e do vento batendo no mar, sente as ondulações – e, utilizando os seus sentidos, compreende pelo feeling o momento certo de entrar na onda. Para além da prancha no mar, ele já demonstrou que possui também habilidades no skate downhill (modalidade em que o skatista desce uma ladeira em alta velocidade).

Desde então desafia a todos que desacreditam de sua competência e, hoje, além de ser um surfista profissional, palestra em grandes eventos para motivar outras pessoas a seguirem suas batidas nas ondas seus ouvintes. Abordando temas relacionados a superação e motivação, Derek já palestrou para grandes companhias e eventos pelo mundo afora, contando como vive diariamente superando seus próprios limites.


Instagram/Reprodução

Na Rio 2016, o surfista foi escolhido para carregar a Tocha Olímpica no encontro da terra com o mar.


Sua história é tão bonita que foi tema do documentário Além da visão, lançado em 2014 com direção de Bryan S. Jennings e de Bruno Lemos. Além disso, Derek possui sua bibliografia Beyond these eyes: The biography of blind surfer Derek Rabelo, escrita pela editora e jornalista Lynn Goldsmith, que conta em detalhes sua trajetória inspiradora carregada de resiliência.


Instagram/Reprodução

O surfista no mar de Teahupoo.


Confira as redes sociais do surfista: Instagram/DerekRabeloOfficial

Oceanos, o pulmão azul do mundo, precisam de ajuda ​

Oceanos, o pulmão azul do mundo, precisam de ajuda

Voz dos Oceanos velejou pelo litoral brasileiro em parceria com o G20 para colher relatos da sociedade civil sobre a necessidade da preservação dos oceanos; grupo organiza Manifesto Popular a ser apresentado na COP 30

Por Everton Victor, Julia Lima e Leticia Santana

Vilfredo Schurmann no veleiro Vitória Régia. Foto: Leticia Santana
Vilfredo Schurmann no veleiro Vitória Régia. Foto: Leticia Santana

A Amazônia é chamada de pulmão do mundo, mas você sabia que ela só produz 12% do oxigênio que respiramos? Os oceanos, muitas vezes esquecidos, são responsáveis por 34% dessa produção e estão cada vez mais poluídos. A Voz dos Oceanos, organização liderada pelo economista e velejador Vilfredo Schurmann, se uniu ao G20 para levar aos governantes as preocupações da população sobre o que pode ser feito para salvar e preservar esses espaços.

O convite surgiu da própria organização do G20. Desde então Thamys Trindade (36), André Calonnis Souza (27), Tatiana Aguiar (27), Jessyca Lopes (32) e o capitão Vilfredo Schurmann (75) estão há mais de dois meses percorrendo parte do litoral brasileiro para colher manifestações da sociedade civil em defesa dos mares. Segundo Vilfredo, o documento tem mais de 50 metros e será digitalizado para que possa ser levado à COP 30, em Belém do Pará, e para a próxima reunião do G20, na África do Sul, ambos no ano que vem. O texto serviria para apoiar e indicar ações dos líderes para a causa.

Manifesto Popular com mais de 50 metros com manifestações da sociedade civil em defesa dos mares. Foto: Leticia Santana

Nessa viagem, a tripulação utiliza o veleiro Vitória Régia, construído há 30 anos em Belém. Ele é equipado com gerador de energia solar, dessalinizador de água e tratamento de esgoto. O Voz dos Oceanos conta ainda com outra embarcação (Kat), que está na Nova Zelândia com Wilhelm Schurmann. Os dois seguirão viajando e se encontrarão em Belém, em novembro de 2025, para participarem da COP 30.

À Agenc, o capitão da expedição adiantou em primeira mão que pretende instalar 5 containers na capital do Pará. Esses espaços serviriam para ajudar na compactação do lixo produzido pela cidade. Já estão ocorrendo conversas com o governo federal e estadual para possibilitar a iniciativa.

Participação popular é grande, mas falta incentivo

Segundo Vilfredo, a consciência ecológica e a vontade de participar na preservação dos oceanos por parte da população é enorme. Tendo passado por 13 cidades, ele e Tatiana afirmam que viram projetos locais excelentes, que poderiam ser ainda mais significativos caso houvesse investimento público e privado. 

Um exemplo de como o financiamento pode ajudar os mares ocorreu em São Paulo. De acordo com o capitão, ele se encontrou com uma moradora da cidade, que trabalha catando lixo há 18 anos – 12 pessoas da família trabalham com ela – e perguntou o que aconteceria caso ela possuísse uma compactadora de lixo. A máquina custa cerca de R$30 mil reais, mas segundo a catadora ela seria de grande ajuda e traria uma economia considerável em diesel e pneus. Vilfredo entrou em contato com a vereadora Cris Monteiro (NOVO-SP), que conseguiu o investimento para o grupo. Com isso, mais lixo é recolhido e compactado, evitando que vá para os mares.

O tema tem estado cada vez mais presente no debate público, mas de acordo com ele ainda não é o suficiente. “A iniciativa pública tem que ajudar nisso, hoje o plástico reciclável paga mais imposto que o plástico in natura, como que você vai concorrer vendendo o plástico reciclável se ele paga mais impostos”. No Brasil, paga-se o mesmo valor de imposto no material reciclado e o in natura, e por isso, em 2023, surgiu o debate a respeito de incluir o plástico de uso único no imposto seletivo, criado na Reforma Tributária, que visa desestimular o consumo de bens e serviços prejudiciais à saúde ou meio ambiente. 

Veleiro Vitória Régia. Foto: Leticia Santana.

A participação civil é parte fundamental do projeto, que busca ampliar as vozes da população com o intuito de levar as propostas daqueles que são mais influenciados pelas decisões tomadas em eventos como o G20. “Essa é nossa bandeira, a Voz dos Oceanos é isso, você é a voz, não é só a família Schurmann. Nós somos só o suporte, estamos há 40 anos no mar e estamos presenciando essas mudanças”.

Vilfredo sonha que iniciativas como essa se repitam no próximo G20, que será presidido pela África do Sul. Para ele, o projeto não deve se limitar só a esta edição do evento. Com essa parceria, o Brasil amplifica essas vozes e leva ao mundo uma mensagem sobre a preservação dos oceanos – bandeira a ser replicada no G20 do ano que vem, na África do Sul.

Saúde mental em foco: especialista explica importância do cuidado

Saúde mental em foco: especialista explica importância do cuidado

Atendimentos gratuitos são oferecidos pelo Serviço de Psicologia Aplicada da Uerj.

Por Alice Moraes

                                             Imagem: Blog AmorSaúde

De acordo com o Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, 68% dos brasileiros relatam sentimentos de nervosismo, ansiedade e tensão. A pesquisa, divulgada em junho deste ano, também mostrou que 55,8% das pessoas não buscam ajuda profissional.

A pesquisa “Panorama da Saúde Mental” foi realizada com intuito de mostrar dados para chamar atenção sobre a saúde mental da população brasileira. Ela foi feita de forma representativa: 3.266 pessoas foram ouvidas entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. Esses participantes são brasileiros acima de 16 anos e moradores das cinco regiões do país. Os autores do estudo reforçam que é importante ampliar práticas de prevenção e promoção de saúde mental para a população em geral.

O psicólogo clínico Pedro Casarim apontou quais são os sinais de problemas na saúde mental: “O sinal mais claro de que algo não está legal na saúde mental é quando isso compromete as tarefas do cotidiano”. Ou seja, a pessoa não tem mais interesse em atividades que a interessava antes. 

Além disso, a pessoa tende a ficar mais isolada, afastada dos  ambientes sociais. “Esses são indícios muito fortes de que a depressão pode estar acontecendo”, pontua o psicólogo. Quando algo começa a incomodar, “já é motivo para procurar tanto um médico clínico geral quanto um psicólogo”, ele alerta. 

 

Qual a importância de cuidar da saúde mental? 

Segundo o especialista, muitos indivíduos tendem a cuidar mais da saúde física, negligenciando a saúde mental. A qualidade de vida, na verdade, se baseia em tratar tanto da saúde física quanto da saúde mental. Sobre isso, o psicólogo orientou: “A saúde física e a mental andam lado a lado. Eu vejo que ainda existe esse estigma com relação à saúde mental, mas, depois da pandemia, tivemos um aspecto positivo: as pessoas passaram a enxergar a saúde mental da maneira que ela precisa ser enxergada”.

Segundo Pedro, a resistência em cuidar da  saúde mental pode vir não só por influência alheia, mas também por pensamentos da própria pessoa. “Se a pessoa percebe que não está legal, e ela não procura ajuda, muito provavelmente essa resistência parte mais dela do que de outro alguém. Eu acho importante furar esse bloqueio, sair da zona de conforto. Procurar ajuda pro campo da saúde mental vale a pena, porque vai trazer qualidade de vida”.

A falta de cuidado com a saúde mental pode levar a consequências graves, como alcoolismo e dependência química. É essencial buscar ajuda especializada antes que esses comportamentos se tornem problemas irreversíveis.

 

Quais são os benefícios da psicoterapia? 

O psicólogo Pedro Casarim gostaria que todos tivessem a oportunidade de passar  por terapia. “Acho que seria muito importante que todos tivessem pelo menos um contato com a terapia, se fosse possível. Antes mesmo da adolescência, num sentido de prevenção”. 

De acordo com ele, um dos benefícios da terapia é ajudar o paciente a conseguir lidar de forma consciente com suas questões pessoais. O autoconhecimento também pode ser listado como um dos benefícios oferecidos pela psicoterapia. “Saber quem a gente é, isso é libertador”, finaliza o psicólogo. 

Pedro Casarim, de 30 anos, é psicólogo clínico há três anos. Formado em psicologia pela Estácio, ele realiza atendimentos online com valores sociais e promocionais para estudantes da Uerj. Para agendar uma terapia, encaminhe mensagem para seu contato: (21) 97291-4075. 

 

Serviços oferecidos pelo SPA 

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), localizado no bloco D do décimo andar da Uerj, no Campus Maracanã, oferece atendimento gratuito tanto para os alunos da Universidade quanto para o público de fora. Para realizar a inscrição, o perfil do Instagram @psicologiauerj disponibiliza o formulário uma vez por semestre. Para esclarecimento de dúvidas, entre em contato pelo e-mail acolhimentoeacompanhamento.spa@gmail.com

O Plantão Psicológico da Uerj fornece escuta psicológica gratuita. A escuta é um acolhimento emergencial e  não precisa de inscrição prévia. Aos interessados, a secretaria (sala 10.006) do bloco D do décimo andar direciona o paciente à sala que proporciona o serviço. Ele funciona às quartas, das 14h às 16h.

Novembro Azul: especialistas destacam a importância do diagnóstico precoce  na cura do câncer de próstata

Novembro Azul: especialistas destacam a importância do diagnóstico precoce na cura do câncer de próstata

Exames preventivos estão disponíveis gratuitamente no Hupe/ Uerj

Por: Gabriela Martin e Alice Moraes

 

Reprodução: Agência Gov

No último domingo (17) ocorreu o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, movimento que se estende para o restante do mês de novembro e que ficou conhecido como “Novembro Azul”. Com o intuito de diminuir os casos graves de câncer de próstata, a campanha busca conscientizar os homens sobre a importância do diagnóstico precoce da doença.

O movimento que chegou ao Brasil em 2011, graças ao Instituto Lado a Lado pela Vida, tem exercido uma função primordial de alerta e incentivo aos homens para buscarem cuidados médicos. Segundo pesquisas da Sociedade Brasileira de Urologia, o público masculino não possui o hábito de fazer exames médicos com a frequência ideal e estão bem atrás das mulheres quando o assunto é atenção à saúde.

 

O que é o câncer de próstata?

No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. O câncer ocorre quando as células da próstata se multiplicam de forma anormal, formando tumores. Alguns deles podem crescer de forma rápida e se espalhar para outros órgãos do corpo. De acordo com o Ministério da Saúde, um brasileiro morre a cada 38 minutos em decorrência dessa doença.

 

A importância do diagnóstico precoce

O doutor Danilo Souza Lima, urologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), ressalta que “quanto mais cedo se faz o diagnóstico do câncer de próstata, maiores as chances de cura em relação ao seu tratamento”.  Ele afirma que, quando se realiza um diagnóstico precoce, as chances de cura são de 80% a 90%. 

Por isso, é fundamental que o homem tenha sua rotina médica atualizada anualmente. Os principais exames preventivos recomendados são o de toque retal e o PSA (Antígeno Prostático Específico), que devem ser feitos a partir dos 50 anos ou em casos de fatores de risco. Esses exames estão disponíveis gratuitamente no Hupe, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Exercício físico, evitar o tabagismo e boa alimentação são hábitos recomendados pelo médico para a promoção e prevenção da saúde dos pacientes. Eles servem não só para a prevenção do câncer de próstata, mas para a imunidade de maneira geral. O médico ainda enfatiza que não existe nenhum alimento ou medicação, comprovado cientificamente, que evite ou cure o câncer de próstata.  

 

Como o Hospital Universitário Pedro Ernesto atua na campanha

O urologista explica que, nos anos anteriores, o hospital realizava uma ação em prol do Novembro Azul na Cinelândia. Ele ressalta que, embora em 2024 o hospital não tenha realizado essa campanha, eles buscam conscientizar os pacientes no consultório. 

Sobre a importância da conscientização, o doutor disse: “A conscientização é muito importante justamente para que a gente consiga fazer o diagnóstico precoce”. Por isso é necessário que os homens ajam de maneira preventiva, realizando os exames anualmente. O urologista acrescenta: “Assim, se houver alguma alteração nos exames, a gente consegue fazer o diagnóstico cedo e curar o paciente”.O doutor Danilo aconselha os homens a cuidarem da saúde e a realizarem os exames de toque e PSA. Ele enfatiza que “eles ajudam na prevenção e evitam com que a doença, se aparecer, venha de uma forma muito agressiva e já tardia”.

Taxação de super-ricos, fim das guerras e metas ambientais urgentes: conheça a Declaração dos Líderes do G20

Taxação de super-ricos, fim das guerras e metas ambientais urgentes: conheça a Declaração dos Líderes do G20

Texto final foi aprovado pelos líderes das maiores economias do mundo ainda durante o primeiro dia da Cúpula; documento reforça acordos já previstos e se compromete com prazos para implementar medidas

Por Everton Victor e Julia Lima

Rio de Janeiro(RJ), 18/11/2024 – Fotografia oficial Aliança global contra a fome e a pobreza G20 Brasil. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com o compromisso de taxar os super-ricos, unir esforços pelo fim das guerras, combater as desigualdades e enfrentar as mudanças climáticas, a Declaração dos Líderes do G20 expressa preocupações com um mundo em transformação. O texto final foi divulgado na segunda-feira (18). 

Todas as decisões do texto foram definidas em consenso entre os países, já que essa é uma determinação da Cúpula.  A promoção da igualdade de gênero, alvo de críticas do presidente argentino, Javier Milei, também foi aprovada.

Os dois últimos encontros, na Indonésia e na Índia, não tiveram um documento oficial por não haver concordância entre os países. 

A seguir, alguns tópicos da declaração do G20:

  • Fim de conflitos armados

Os membros do grupo afirmaram que todos devem evitar ameaças e uso de forças para tomar território e soberania de outro Estado. O documento cita nominalmente a guerra na Ucrânia e seus efeitos negativos para todas as nações envolvidas. Também ressalta que todos os esforços para evitar o sofrimento humano são bem-vindos.

As nações integrantes do G20 também declararam a confiança na convivência pacífica entre o Estado da Palestina e o Estado de Israel, unanimemente, e se comprometeram novamente em avançar no esforço pelo fim das armas nucleares.

  • Taxação de super-ricos

Alvo de impasse com Javier Milei, a taxação dos super-ricos foi aceita pelos membros. Os países cooperarão compartilhando experiências positivas em seus países, promovendo debates sobre o tema e criando políticas contra a evasão de divisas. 

Os líderes mundiais concordaram em continuar debatendo a criação de uma Convenção-Quadro na ONU para cooperação tributária entre os países. Além disso, a tributação progressiva – quem tem mais dinheiro paga mais tributos -, recomendada pela Declaração Ministerial do G20 do Rio de Janeiro, foi endossada pelos líderes.

  • Mudanças climáticas

Para o enfrentamento às mudanças climáticas, as nações propuseram ações  urgentes e reforçaram acordos já existentes. A respeito do Acordo de Paris, o documento reforça o compromisso de limitar o aumento da temperatura média global para menos de 2°C. E, apesar de não garantirem, as nações sinalizam um esforço para uma outra meta, ainda mais ousada, de limitar o aumento a 1,5°C – o que, segundo o documento, teria efeitos “significativamente melhores”. 

O Consenso também abrangeu as emissões líquidas dos gases do efeito estufa. A expectativa do grupo é que até 2050 esse poluente não seja mais usado pelos países integrantes do G20. Também foi apresentada uma meta para o fim da poluição plástica até o final deste ano.

Para o financiamento, o grupo se comprometeu em promover e incentivar investimentos públicos e privados para Soluções Baseadas em Natureza. O presidente Lula conclamou os países a fazerem mais ações concretas. “Todos podem fazer mais”, afirmou o presidente.

O documento também endossou propostas das COPs (sigla de quê) 29 e 30. O presidente Lula afirmou que esta será a última chance para ações efetivas capazes de diminuir os efeitos das mudanças climáticas. “Conto com todos para fazer a COP de Belém ser a COP da Virada”, declarou o presidente.

  • Combate à fome e à pobreza e inclusão social

O principal projeto nesta área é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada na segunda (18). Vão participar 82 países, 2 blocos continentais, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais, que se comprometeram a fazer ações locais e contribuir para ações em outros lugares do mundo com financiamento ou experiências. Destacou-se que os países que estão em situação mais grave devem ser os que receberão maior ajuda, garantindo que “ninguém seja deixado para trás”.

As desigualdades foram reconhecidas pelos países-membros do G20 como um problema “intergeracional”,  que vai muito além de uma pessoa, mas afeta todo o seu conjunto familiar e suas próximas gerações. 

  • Saúde universal

A declaração firma um compromisso pelo avanço da abordagem “One Health”, que compreende as conexões entre as saúdes do meio ambiente e da humanidade e reconhece o potencial medicinal de práticas dos povos tradicionais. A erradicação de epidemias também está presente como prioridade dos países.

Ainda sobre Saúde, o grupo reiterou a legitimidade e a relevância da Organização Mundial da Saúde de coordenar uma “arquitetura global de Saúde” para a promoção de uma cobertura universal. O texto também reconhece a necessidade de se discutir a resistência antimicrobiana, que tem potencial de evoluir para novas pandemias.

  • Igualdade de gênero

Este ponto foi alvo de desacordo com o presidente argentino, Javier Milei, mas foi aprovado por unanimidade entre os líderes.

Além de destacar a criação do Grupo de Trabalho de Empoderamento Feminino, os líderes se comprometeram a indicar e apoiar mais mulheres em posições de poder, inclusive no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU.

  • Reforma da governança global

Os líderes destacaram que o modelo atual de governança não representa o mundo do século XXI, e que é necessária uma reforma para torná-la mais significativa, representativa, transparente e efetiva.

Foi proposta a reforma do Conselho de Segurança e do secretariado da ONU, a fim de incluir mais mulheres e países da Ásia, África, América Latina e Caribe. Também foi sugerida a criação da 25º cadeira no Fundo Monetário Internacional para que haja representação da África Sub-Saariana

  • Tecnologia

A necessidade de transparência e responsabilização das grandes plataformas também foi tema da Declaração. Segundo os líderes, haverá um trabalho conjunto com essas empresas para que sejam elaboradas políticas e estruturas legais capazes de suprir esse vácuo de legislação. 

A Inteligência Artificial foi reconhecida como um instrumento que pode ajudar a população, mas que tem o potencial de ser um risco para os empregos. A proposta dos países é uma regulamentação que possibilite que os usuários usufruam de todo o potencial da IA, mas que sejam protegidos dos riscos que ela pode oferecer.

“Omissão do Conselho de Segurança ameaça paz internacional”, afirma Lula no G20

“Omissão do Conselho de Segurança ameaça paz internacional”, afirma Lula no G20

Reforma da governança global está entre os três pilares estabelecidos pela presidência brasileira do G20; discussão dos líderes mundiais sobre o tema aconteceu na tarde do primeiro dia da Cúpula e pode ser uma das sugestões do documento final

Por Everton Victor e Julia Lima

Mesa de discussões do G20, no Rio de Janeiro. Foto: Isabela Castilho/G20

 

A urgência de uma reforma da governança global foi um dos eixos do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, (18) primeiro dia da Cúpula do G20. Na prática, isso significa dar mais espaço aos países em desenvolvimento nos órgãos de decisão da política internacional. O presidente Lula voltou a cobrar, por exemplo, mudanças no Conselho de Segurança da ONU: “A globalização neoliberal fracassou. A omissão do Conselho de Segurança tem sido, ela própria, uma ameaça à paz e à segurança internacional”, afirmou Lula.

Além de mudanças na ONU, a reforma da governança global teria o objetivo de mudar a composição e o funcionamento de outras organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Outros grupos de trabalho do G20 já vinham discutindo esse tema.

O entendimento de muitos membros do G20, o Brasil entre eles, é de que há no Conselho de Segurança uma concentração de poder que não reflete mais a geopolítica atual e não é eficiente no combate e encerramento de guerras. Uma das propostas é o aumento no número de membros permanentes e rotativos, que hoje são 5 e 10, respectivamente. Essa reformulação deveria assegurar a participação de países do Sul Global no grupo.

O Sul Global é composto por países em desenvolvimento – e o conceito, mais que geográfico, é político, relacionando-se ao contexto socioeconômico desses países. Toda a América Latina, todo o continente africano e grande parte dos países asiáticos compõem esse bloco.

Sob liderança do Brasil, Aliança contra a Fome reúne esforços de 82 países

Sob liderança do Brasil, Aliança contra a Fome reúne esforços de 82 países

Argentina havia se recusado a aderir ao pacto, mas voltou atrás; países participantes precisam implementar medidas concretas para reduzir a insegurança alimentar e a pobreza

Por Everton Victor e Julia Lima

Mesa de abertura do G20, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Com a adesão de 82 países, a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza foi lançada hoje (18) pelo presidente Lula, durante o primeiro dia da Cúpula dos Líderes do G20. Além das nações, 2 blocos continentais, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais também assumiram um compromisso com a Aliança. Inicialmente, a Argentina não aderiu à proposta, mas voltou atrás depois do lançamento e assinou.

Para confirmar a adesão, os países tiveram que anunciar medidas concretas para combater fome e pobreza internamente e de forma global. A Aliança proposta e liderada pelo Brasil é uma forma de acelerar o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, segundo o governo. Entre os objetivos estão fome zero e agricultura sustentável, redução das desigualdades e erradicação da pobreza.

 

  • Impasses não impedem consenso

A recusa inicial da Argentina veio após sinalizações de que Milei impedirá consensos sobre igualdade de gênero e taxação de super-ricos na declaração final do grupo. Reportagem da Folha de S.Paulo indica que o Brasil manterá os temas no documento, apesar das restrições argentinas.

A falta de consenso da Argentina com os demais integrantes do bloco não impede a implementação de medidas nos países que já se comprometeram com a Aliança. Isso porque um país pode recusar um documento – o que, a depender da quantidade de recusas, enfraquece a força desse documento. Outra opção é o país não recusar o documento, mas não aceitar o consenso, o que obriga os demais países a fazerem modificações até que se chegue a um consenso.

Tampouco é inédito um país se recusar a assinar algum comunicado conjunto no G20, até que, com modificações, o conjunto de países chegue ao consenso ou então que o documento seja liberado mesmo com algumas oposições públicas.  Durante a Cúpula do G20 em 2023, na Índia, alguns países membros se opuseram a termos utilizados referentes à guerra que acontece na Ucrânia. 

 

  • Conselho dos Campeões

Além da Aliança Global, foi instituído o Conselho dos Campeões, formato de governança adotado pelo programa e que está vinculado ao G20 – mas não restrito a ele. Os escolhidos são os gestores da Aliança Global contra a Fome e Pobreza em diferentes lugares do mundo e atuam como conselheiros. Até que ele seja instituído completamente, haverá o Mecanismo de Apoio, em que o Brasil oferecerá suporte para a administração.

Os 18 primeiros campeões foram anunciados hoje. Para que sejam escolhidos, eles devem ser representantes reconhecidos em seus países ou organizações e ter o poder de implementar ações relacionadas ao tema da Aliança. O campeão escolhido pelo Brasil foi o ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. A escolha dos 18 conselheiros está relacionada à  sua participação na construção da Aliança em seus territórios e em suas atuações no G20. 

A primeira reunião do conselho acontecerá no primeiro trimestre de 2025, quando o órgão então será instituído oficialmente. Esses conselheiros têm a responsabilidade de acompanhar o andamento e o progresso efetivo das ações planejadas pelos países. Até a sua constituição completa, o conselho poderá ter até 50 membros, sendo 25 países e 25 organizações, e a ideia é que países que não compõem o G20, mas que se uniram à Aliança, também participem do Conselho. A África do Sul, próximo país a sediar o G20, também compõe o conselho.

O próximo passo da Aliança será implementar as medidas propostas. Cada país tem liberdade para aprimorar projetos já existentes, como é o caso de Serra Leoa, na África Ocidental, que pretende expandir a alimentação de 54% para 100% dos estudantes até 2030. Ou pode criar novos programas para diminuir a pobreza e a fome em seus territórios. Na prática, com a Aliança existirá uma coordenação global de 81 países integrada ao Conselho de Campeões. Uma das sedes do projeto será em Roma, onde já fica o escritório da FAO (órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), e a outra será no Brasil.